Do blog [fratres in unum]
Publicamos a “Mensagem ao Povo de Deus na Diocese de Assis, SP”, divulgada por seu bispo diocesano, Dom José Benedito Simão, que nas últimas semanas ganhou notoriedade por sua oposição à nova ministra da Secretaria das Mulheres.
* * *
“Eu vim para que todos tenham vida,
e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).
e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).
Na condição de bispo da Igreja de Jesus Cristo,
fui enviado por essa mesma Igreja a essa Igreja particular da Diocese
de Assis, a fim de prestar os devidos serviços em favor da obra
evangelizadora para o bem dessa porção do povo de Deus, segundo as
orientações da sã doutrina e do direito eclesial constituído da referida Igreja.
Por isso, escrevo aos cristãos católicos autênticos e também aos pseudos católicos que utilizam a Igreja como instrumento de oportunidades.
À todos tenho algo muito importante a dizer a respeito da doutrina
eclesial sobre a base da vida. Como é de praxe, aos católicos mais
interessados, recomendo uma leitura básica, porém atenta, do Catecismo
da Igreja Católica. É necessário que os cristãos católicos conheçam
melhor a sua Igreja. O grande problema atualmente, é que muitos católicos ou que se dizem católicos, não conhecem a Igreja, quando não a manipulam para extrair vantagens próprias.
Diante da constatação dos não poucos
ataques à vida que constantemente vem à tona por parte de pessoas e
entidades de todos os gêneros, em nível nacional e internacional,
através dos recursos das diversas modalidades de comunicação empregadas
na defesa da cultura de morte, como bispo dessa Diocese, confesso que
ultimamente estou muito preocupado diante das atitudes de grupos
e pessoas que revelam-se católicos, mas que demonstram pouco ou nenhum
conhecimento da doutrina que dizem pertencer, assim como quanto a participação de vida eclesial, quando não existe, pouco deixa a desejar.
A partir dessa preocupação, em resposta
aos tantos ataques aos direitos à vida humana que ultimamente têm
chegado ao meu conhecimento, venho a público em defesa da pessoa do inocente indefeso, ainda na condição de zigoto, embrião e feto.
Dirijo-me ao Povo de Deus da Diocese de Assis com essa reflexão sobre a
vida, que apesar de sua brevidade, a mesma encontra-se totalmente
fundamentada nas fontes da fé e na razão humana. O que lhes escrevo,
mais do que eu, é o que a Igreja pensa e reconhece como verdade.
1. A história da vida.
O aparecimento do ser humano na obra da
criação constitui um ponto de chegada. Nesse momento porém, inicia-se a
história propriamente dita, que é, em última análise, a história da
vida, de seu desenvolvimento, de sua vitória sobre os obstáculos. A vida
tende para a plenitude.
Também a vida de cada ser humano é um percurso desde o seu início com a “semente da vida”. O
óvulo fecundado já possui identidade. Já é uma pessoa portadora de
direitos, porém não de deveres. Já é totalmente um ser humano, pois, ele
não virá jamais a tornar-se humano, se não o for desde então.
(cf. AAS 66 (1974) p. 738, nn. 12 e 13). Do ponto de vista físico e do
ponto de vista espiritual, contém toda a potencialidade para o seu
desenvolvimento. É a maravilha do código genético.
O embrião não é parte integrante do corpo materno, mas membro da espécie humana. Não é um simples organismo biológico,
mas um novo sujeito de direitos. É uma vida em evolução. É um fim e não
um meio. Possui dignidade. A diferença entre o embrião e a pessoa já
nascida, situando-se no mundo como criança, adolescente, jovem, adulto e
ancião, deve-se a nutrição e ao tempo.
A vida constitui o fundamento mais
profundo da ética. O ser humano, ao tomar consciência de sua presença no
mundo, se percebe como alguém responsável por um dom recebido, isto é,
responsável pela sua vida e pela vida de outros seres, sobretudo, do ser
humano.
2. A vida é um dom sagrado.
Deus é o Ser Vivo por excelência. Não só
possui a vida em plenitude, mas é a própria fonte da vida. Ele vive
pelos séculos dos séculos (cf. Ap 10,6; 15,7). No areópago de Atenas,
Paulo ao anunciar o Deus verdadeiro aos pagãos, afirma: “N`Ele vivemos,
nos movemos e existimos” (At 17, 28). Jesus afirmou que “o Pai possui a
vida em si mesmo” (Jo 5,26). A história da vida começou com um sopro
divino sobre a matéria (cf. Gen 2,7). A vida é pois o primeiro dom de
Deus. Toda vida é participação na vida divina. Nós vivemos porque um
sopro divino nos tornou vivos. Deus, que é a fonte da vida,
gravou no coração humano e confirmou com sua revelação este mandamento:
“Não matarás!”(Ex 20,13). Trata-se do dever de respeitar e promover a
vida, ainda que incômoda, frágil ou deficiente.
3. Atitudes paradoxais diante do dom da vida.
A existência humana está cheia de
contradições sobretudo diante do dom da vida. De um lado, temos o
exemplo de mulheres que exultam de encanto e alegria quando percebem que
receberam o dom da maternidade. Exultam de encanto e alegria quando
tomam em seus braços a criança recém-nascida. Temos o exemplo de pessoas
que, cada dia, se consomem para salvar vidas em perigo. Exemplos de
pais que acolhem com carinho a vida que nasce com deficiências graves e
vai durar poucas horas ou semanas. A mídia anuncia nomes de pessoas que
se sacrificam, dia e noite, para salvar vítimas de tragédias de toda a
espécie.
Anuncia também descobertas da ciência
genética destinadas a melhorar a qualidade da vida e a prolongá-la. De
outro lado, existe também a postura daqueles que abandonam os filhos recém-nascidos ou destroem a vida antes do nascimento. Aqueles que destroem a vida através da violência, injustiça e guerras.Aqueles que fazem campanhas em favor do aborto e de outras formas de atentados contra a vida.
Tudo isso é conseqüência da grande desorientação no campo da moral.
Existem ameaças hediondas, que exigem uma tomada de posição em favor do
direito à vida de nossos nascituros.
• Há um programa internacional,
que se encontra elaborado no “Relatório Kissinger”, preparado pelo
Conselho de Segurança dos Estados Unidos da América em 1974 e mantido
secreto até 1989. Neste relatório, que trata de política demográfica,
planeja-se que para manter a dominação econômica do primeiro mundo sobre
os paises do terceiro mundo seria indispensável limitar o crescimento demográfico de 13 paises-chaves, entre os quais é citado o Brasil, e como meio mais eficaz para este controle demográfico é indicada a legalização do Aborto. Tudo isto é claramente uma ameaça e uma afronta à nossa soberania nacional. Nos últimos vinte anos, algumas fundações norte-americanas como a Ford, McArthur e Rockfeller têm financiado uma forte campanha contra a vida. Tal promoção, efetiva-se através de parcerias estabelecidas com diversas ONG’s espalhadas por todo o Brasil, que investem na proliferação de idéias e programas favoráveis ao aborto na sociedade. Calcula-se que devem entrar anualmente no Brasil, cerca de US$ 20.000.000 (vinte milhões de dólares), para o sustento do trabalho destas ONG’s. Dentre estas, destacamos as seguintes:
CFÊMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria)
Entidade que monitora e acompanha todos os Projetos de Lei que tramitam no Congresso a favor do aborto, esterilização, anticoncepção e os assim chamados “direitos sexuais e reprodutivos” e “questões de gênero”;
ANIS (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero)
Entidade que planejou e acompanhou todo o processo da Argüição
de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 54) para que o Supremo
Tribunal Federal (STF) libere o aborto em caso de anencefalia;
CDD (Católicas pelo Direito de Decidir)
Entidade oportunista, que de católica só usurpam o nome, conforme Declaração da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América. O propósito da atuação destas “falsas católicas” é confundir a opinião pública e a mídia, ao investir na difusão da notícia de que existem setores da Igreja favoráveis ao aborto. Calcula-se que elas recebam cerca de US$ 600.000 (seiscentos mil dólares) por ano para as suas atividades.
As ameaças contra a vida nascente demonstram intensificar-se para os próximos anos. É sintomática a vontade política dos governantes mundial que respondem por certas corporações e fundações multinacionais, quanto ao seu investimento em convencer a opinião pública que o aborto é uma questão de saúde pública,
que legalização do aborto é útil e necessária para a nação brasileira,
sobretudo em favorecimento dos mais pobres. Comprovadamente, a visão funcionalista
da Organização das Nações Unidas = ONU (visão que compreende e procura
resolver os problemas sociais sempre a partir dos efeitos de nunca das
causas) também trilha neste caminho em relação à questão demográfica do
mundo, querendo impor-se ideologicamente à todas as nações. A
questão da pobreza se resolve com uma política concretamente voltada à
distribuição justa e solidária dos bens de produção em favor dos mais
desfavorecidos, e não com a implantação do aborto legal. A descriminalização
do aborto corresponde à discriminação dos pobres, legalização do
homicídio decretado aos inocentes indefesos, uma espécie de
“nascituricídio”, é o inicio para descriminalização da eutanásia e de
tantos outros atentados à vida humana, que em outras palavras, significa
legalização do assassinato às diversas situações e condições da vida humana.
4. A defesa e a promoção da vida são valores suprapartidários e suprareligiosos.
Como a vida é dom fundamental e sagrado,
cada pessoa deve ser um servidor da vida, da vida sua e da vida de
qualquer ser humano. Servidor da vida que apenas está se iniciando e
também da vida em desenvolvimento. Servidor da vida que nasce plena e
forte, mas também servidor da vida que nasce frágil e com defeito.
Servidor da vida em seu início, mas também servidor da vida que está se
aproximando de seu fim natural. Servidor e defensor da vida devem ser os
agentes do Estado de direito, pois a essência do Estado é a defesa e a
promoção da vida. A defesa da vida é um valor suprapartidário, no
sentido de que deve inspirar qualquer política que esteja a serviço da
pessoa humana e da sociedade. É também um valor suprareligioso. A
inviolabilidade da vida humana, desde o seu início até o seu fim
natural, é uma questão de direito natural. Os cristãos
encontram em sua fé um motivo a mais para defender esse direito natural.
Não se trata pois de impor à sociedade ou a Estado laico uma convicção
religiosa, mas de levá-lo respeitar um direito do ser humano. A Igreja,
enquanto instituição da sociedade civil, não só pode mas tem também o
dever de assim crer e agir.
5. A Igreja, Povo da Vida e pela Vida.
A Igreja faz parte da novidade que a
ressurreição de Cristo provocou na história. Ela é o povo da vida e pela
vida. O Ressuscitado é o Vivente. Jesus morreu e ressuscitou para que
todos tenham vida em abundância. Por isso, a Igreja jamais será contra a vida.Se o fizesse, seria infiel à sua origem, à sua natureza e missão. A
sua doutrina contra a prática do aborto, inclusive dos anencéfalos,
contra o uso de células embrionárias para a pesquisa científica, contra a
eutanásia, além de ser a defesa de um direito natural é também a conseqüência daquilo que ela é: Povo da vida e pela vida. Chamar
de fundamentalismo, de golpismo, de machismo, de atraso, de atitude
anti-científica, a defesa corajosa que a Igreja faz da vida é inverter
as coisas. É chamar o bem de mal e o mal de bem. Quando isso acontece, a
sociedade entra em crise moral e começa a se destruir a partir de
dentro.
Fiéis ao Evangelho da vida, exorto o povo
de Deus em Assis que intensifique todo tipo de ação educativa em favor
da vida e seu acolhimento nas várias pastorais, confrontando a mentalidade antinatalista infiltrada também em nossas comunidades e organismos,
pois ela é a porta de entrada da mentalidade abortista, (Cf. EV 13).
Várias nações, como Argentina, Costa Rica, Nicarágua, Filipinas, México
etc. nos dão exemplo de posição pública antiabortista, apesar da pressão
que também sofrem por parte das Organizações e Fundações
multinacionais. Recentemente temos o exemplo da Hungria, nação
que vem do sistema socialista científico, com base nos avanços das
ciências sanitárias moderna, optou constitucionalmente em se opor ao
aborto. Tudo isso nos mostra, que a questão do aborto,
extrapola os níveis ideológico e religioso, não é uma questão de direita
ou esquerda, conservadora ou progressista, capitalista ou socialista, é
uma questão de reconhecimento do valor inegociável, indiscutível, sobre
a vida humana. A vida da pessoa humana vale por si mesma, é um valor
humano incondicional.
Às pessoas de boa vontade, especialmente
aos cristãos de todas confissões e demais seguidores de outras
confissões religiosas não cristãs, solicito que, em conjunto e não só
isoladamente, que denunciemos o dinheiro estrangeiro que está financiando o trabalho das ONG’s favoráveis ao aborto.
Que corajosamente se oponham aos projetos e às decisões que atentam
contra a vida. Nesse sentido, no tempo presente em que a Campanha da
Fraternidade de 2012 assume a saúde pública com o lema: “que a saúde se
difunda sobre a terra”, apoiemos a votação de leis que proíbam a
comercialização e o uso, no serviço público, de drogas abortivas, como a
chamada “pílula do dia seguinte. Gravidez não é doença, é vida,
é de interesse da saúde pública proteger a vida da mulher e de seu
filho quanto ao atendimento ágil, acompanhamento de qualidade e
medicamentos precisos às gestantes, sobretudo às mulheres pobres
sujeitas à gravidez de risco. Por sua vez, aborto não é questão de saúde pública, aborto é morte e tal prática é irreversível.
Por intercessão de Nossa Senhora que, com
seu “Sim”, colaborou na realização do plano de salvação, concebendo em
seu puríssimo seio o Filho de Deus, pedimos a Deus, autor da Vida, que
abençoe todos aqueles que acolhem, promovem e defendem a vida humana,
sua inviolável dignidade. Amado povo diocesano de Assis, que o Bom Deus
abençoe nossas famílias e proteja nossos nascituros e crianças da
cultura da morte.
“A vida é um presente gratuito de Deus,
dom e tarefa que devemos cuidar desde a concepção, em todas as suas
etapas, até à morte natural, sem relativismos”. (DA 464).
Em Cristo Jesus,
Paz e Esperança!
Paz e Esperança!
Dom José Benedito Simão
Bispo diocesano de Assis-SP
Bispo diocesano de Assis-SP
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