19/03/2012
IHU - Aumenta
a idade média dos padres: todos já sabiam disso, mas todas as vezes que
novos dados são publicados, busca-se alguma notícia que mostra uma
inversão de tendência, que não existe.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 15-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 15-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Franco Garelli nos informava há alguns dias, como sociólogo, no Boletim Salesiano de março, sobre os muitos porquês da queda das vocações sacerdotais e religiosas na Itália.
"Ao responder a essa pergunta, as pessoas não identificam um fator
determinante, mas põem em causa uma série de razões concomitantes. Entre
estas, duas se destacam com maior evidência: o fato de 'não poder se
casar e ter filhos' (ressaltado por 34,6% dos casos) e o fato de ter que
'renunciar a muitas coisas' (32,8%).
O rótulo da renúncia é, portanto, fortemente colado à condição do padre ou à vocação religiosa, seja pela norma da Igreja de Roma que
prevê o celibato do clero, seja pelo menor grau de liberdade e de
autonomia geralmente atribuído a quem faz essa opção de vida. A ideia de
sacrificar uma parte vital de si mesmo – quer seja renunciando a um
vínculo afetivo, a uma vida de um casal, à experiência da paternidade,
quer seja limitando-se às próprias possibilidades expressivas – é muito
hostil à sensibilidade atual, que visa a um modelo de realização variado
e articulado, orientado a não bloquear oportunidades em todos os campos
da existência".
Em perfeita continuidade, foi publicado no dia 14 de março, nos EUA, a última edição do National Catholic Reporter, com a apresentação do último estudo sobre a condição dos padres norte-americanos e algumas entrevistas por ocasião do 50º aniversário do Concílio Vaticano II.
Aumenta a idade média
As coincidências: se na Itália, ainda em 2003, a idade média era de 60 anos (dos quais 13% são compostos por padres com mais de 80 anos e apenas menos de 19% com idade inferior aos 40 anos), nos EUA hoje o envelhecimento é o dado mais chamativo do clero que já alcançou a idade média de 59 anos (em 1970 era de 45 anos, com um aumento de 31%). Sem os 8 por mil, o efeito do aumento dos padres idosos se reverte, portanto, sobre as dioceses e sobre as comunidades cristãs que devem se encarregar do seu cuidado. Em 1970, escreve Dan Morris, menos de 10% dos padres tinham mais de 65 anos. Hoje, são mais de 40%. O estudo evidencia como, nesse meio tempo, a idade média dos profissionais, como médicos ou advogados, aumentou só 3-5%.
Um estudo mais recente, feito pelo CARA (Centro para a Pesquisa Aplicada no Apostolado, na sigla em inglês), de Washington, Georgetown University, com um método de amostragem diferente, dá uma idade média ainda superior: 64 anos.
Os dados dessas pesquisas estão contidos em um livro que está para ser publicado e que tem por título: Same Call, Different Men: The Evolution of the Priesthood Since Vatican II (Um mesmo chamado, homens diferentes A evolução do sacerdócio desde o Vaticano II). "É difícil pensar em uma 'profissão' que tenha mudado tão radicalmente suas características nesses últimos 40 anos", escreveu Stephen J. Fichter, coautor da pesquisa e padre da Arquidiocese de Newark, Nova Jérsei. "Se é possível fazer uma comparação, a única profissão que mudou nessas dimensões, talvez mais, é a religiosa".
Muda a sensibilidade
O jornal norte-americano também antecipa algumas considerações contidas no texto. Aumenta a idade da ordenação: hoje, os jovens já se formaram ou têm experiência de trabalho antes de entrar no seminário.
Muda também a percepção do Concílio Vaticano II: os recém-ordenados tendem a considerá-lo como um "evento histórico" ao invés de algo para se viver em primeira pessoa.
Mas os recém-ordenados se percebem – ao contrário das gerações anteriores – à parte da sociedade. Os padres nascidos entre 1943 e 1960, chamados de "os do Concílio Vaticano II", foram fortemente encorajados em sua vocação por familiares e comunidades, que olhavam para o padre como um servo-líder na promoção dos últimos da sociedade. Os padres dos últimos 20-30 anos tendem a enfatizar a ortodoxia teológica, se consideram, talvez, mais felizes do que os padres do Vaticano II e expressam maior apreciação pela hierarquia.
A voz de alguns "padres do Concílio"
Para comentar os dados, particularmente com relação à sua percepção do Concílio, daquele "espírito do Vaticano II", como é comumente chamado, alguns padres norte-americanos ordenados naqueles anos tomam a palavra. O sentimento comum é uma preocupação com aquelas muitas portas e janelas que o Concílio tinha escancarado, mas que depois foram encostadas, fechadas ou trancadas. Especificamente, são citados o papel da liderança da Igreja, o impasse no diálogo ecumênico, o declínio da colegialidade episcopal, o papel das mulheres, a implementação da reforma litúrgica, e muito mais.
Uma voz de autoridade é a de Thomas Reese (ordenado em 1974, entrou para os jesuítas no ano da abertura do Concílio, foi diretor da revista America até 2005, quando renunciou): "Estávamos fechados no seminário sem ter notícias do que acontecia. Quando ouvimos falar do Concílio, fomos pedir ao nosso superior a permissão para ter cópias dos documentos. Foi necessário um encontro dos consultores para chegar ao acordo de nos permitir a permissão, excluindo a leitura de todos os outros seminaristas. Em um mês, haviam se tornado uma leitura obrigatória", explica ele, sorrindo. "Hoje, o medo não é tanto que tenha sido posto um freio, mas sim que tenha sido engatada a marcha à ré".
Severyn Westbrook (ordenado em 1962, da Diocese de Spokane, no Estado de Washington) é mais pessimista: "Parece que tudo já está resolvido, que as pessoas devem aprender acima de tudo a verdade, e pronto. Esse é o panorama dominante. Mas a Igreja deve ser algo vivo e vital. Somos um 'órgão' ou uma 'organização'?", questiona. Em 1982, lhe havia sido pedido um estudo sobre o celibato dos padres e sobre o fenômeno dos padres casados, mas o assunto nunca foi inserido na agenda da Conferência dos Bispos. "Eu não perdi a esperança, porque confio no Espírito Santo, mas o jogo parece estar manipulado".
Com relação aos seus "colegas" mais jovens, o que surge é a sua disponibilidade de se abrir aos leigos confiando-lhes também papéis de responsabilidade. "Somos os padres da Gaudium et Spes", disse Eric Hodgens em um ensaio há dois anos.
Gary Lombardi exerce o seu ministério em Petaluma, Califórnia, depois de ter dirigido por 16 anos a formação dos padres da diocese de Santa Rosa: "De muitas formas, tudo está voltando a ser hierárquico e autoritário, de cima para baixo. Tudo vem de Roma – os bispos são nomeados sem a consulta local. Há uma ênfase na ortodoxia e na fidelidade ao magistério – especialmente o do papa – assim como havia antes do Concílio. A ênfase está nas pessoas à medida da Igreja, ao invés da Igreja na medida das pessoas. Mas hoje há um clericalismo crescente por parte dos padres mais jovens".
Norbert Dlabal, pároco do Kansas depois de cinco anos de missão no Peru, concorda: "A nova geração de padres parece querer levantar um muro entre eles e os leigos", afirma. Ele salienta que a afirmação de que "a ordenação dá ao padre um novo status que o torna fundamentalmente diferente dos leigos dentro da Igreja" tem o consentimento de 48% dos padres pré e pós-Vaticano II, mas apenas de 36% dos padres do Vaticano II.
"Até mesmo as roupas fazem a diferença: hoje, se você usa um colarinho romano, você é dócil e confiável, mas se você escolhe uma camiseta colorida e deixa sua batina manto no armário, você já é considerado um traidor".
Além disso, os sacerdotes do Vaticano II parecem mais dispostos a discutir abertamente o papel das mulheres na Igreja, assim como outras questões, como a acolhida de gays e lésbicas, a questão da ciência.
"A Igreja ainda não levou em consideração a ideia de ter que lidar com um laicato aculturado e maduro", acrescentou Reese. "Ainda pensamos no Vaticano como um lugar que trata todos os outros como crianças ou adolescentes. Se você gritar bem alto, talvez eles lhe ouçam. Mas a Igreja precisa desenvolver um ensino que seja relevante para o século XXI – e não para o XIII".
Uma "teologia criativa" é o que Pettingill deseja, com relação a uma "exegese de documentos" papais. E o episódio da nova tradução inglesa do Missal Romano é um sinal de alerta: "Ela só queria mostrar-lhes quem é que manda. Ninguém perguntou às pessoas o que elas pensavam dela. Nem mesmo os bispos foram consultados sobre as alterações finais".
Finalmente, eles lembram o que foi afirmado por um jovem teólogo convidado ao Concílio chamado Joseph Ratzinger: "Para muitas pessoas, hoje, a Igreja tornou-se o principal obstáculo para a fé". E era 1963.
Em perfeita continuidade, foi publicado no dia 14 de março, nos EUA, a última edição do National Catholic Reporter, com a apresentação do último estudo sobre a condição dos padres norte-americanos e algumas entrevistas por ocasião do 50º aniversário do Concílio Vaticano II.
Aumenta a idade média
As coincidências: se na Itália, ainda em 2003, a idade média era de 60 anos (dos quais 13% são compostos por padres com mais de 80 anos e apenas menos de 19% com idade inferior aos 40 anos), nos EUA hoje o envelhecimento é o dado mais chamativo do clero que já alcançou a idade média de 59 anos (em 1970 era de 45 anos, com um aumento de 31%). Sem os 8 por mil, o efeito do aumento dos padres idosos se reverte, portanto, sobre as dioceses e sobre as comunidades cristãs que devem se encarregar do seu cuidado. Em 1970, escreve Dan Morris, menos de 10% dos padres tinham mais de 65 anos. Hoje, são mais de 40%. O estudo evidencia como, nesse meio tempo, a idade média dos profissionais, como médicos ou advogados, aumentou só 3-5%.
Um estudo mais recente, feito pelo CARA (Centro para a Pesquisa Aplicada no Apostolado, na sigla em inglês), de Washington, Georgetown University, com um método de amostragem diferente, dá uma idade média ainda superior: 64 anos.
Os dados dessas pesquisas estão contidos em um livro que está para ser publicado e que tem por título: Same Call, Different Men: The Evolution of the Priesthood Since Vatican II (Um mesmo chamado, homens diferentes A evolução do sacerdócio desde o Vaticano II). "É difícil pensar em uma 'profissão' que tenha mudado tão radicalmente suas características nesses últimos 40 anos", escreveu Stephen J. Fichter, coautor da pesquisa e padre da Arquidiocese de Newark, Nova Jérsei. "Se é possível fazer uma comparação, a única profissão que mudou nessas dimensões, talvez mais, é a religiosa".
Muda a sensibilidade
O jornal norte-americano também antecipa algumas considerações contidas no texto. Aumenta a idade da ordenação: hoje, os jovens já se formaram ou têm experiência de trabalho antes de entrar no seminário.
Muda também a percepção do Concílio Vaticano II: os recém-ordenados tendem a considerá-lo como um "evento histórico" ao invés de algo para se viver em primeira pessoa.
Mas os recém-ordenados se percebem – ao contrário das gerações anteriores – à parte da sociedade. Os padres nascidos entre 1943 e 1960, chamados de "os do Concílio Vaticano II", foram fortemente encorajados em sua vocação por familiares e comunidades, que olhavam para o padre como um servo-líder na promoção dos últimos da sociedade. Os padres dos últimos 20-30 anos tendem a enfatizar a ortodoxia teológica, se consideram, talvez, mais felizes do que os padres do Vaticano II e expressam maior apreciação pela hierarquia.
A voz de alguns "padres do Concílio"
Para comentar os dados, particularmente com relação à sua percepção do Concílio, daquele "espírito do Vaticano II", como é comumente chamado, alguns padres norte-americanos ordenados naqueles anos tomam a palavra. O sentimento comum é uma preocupação com aquelas muitas portas e janelas que o Concílio tinha escancarado, mas que depois foram encostadas, fechadas ou trancadas. Especificamente, são citados o papel da liderança da Igreja, o impasse no diálogo ecumênico, o declínio da colegialidade episcopal, o papel das mulheres, a implementação da reforma litúrgica, e muito mais.
Uma voz de autoridade é a de Thomas Reese (ordenado em 1974, entrou para os jesuítas no ano da abertura do Concílio, foi diretor da revista America até 2005, quando renunciou): "Estávamos fechados no seminário sem ter notícias do que acontecia. Quando ouvimos falar do Concílio, fomos pedir ao nosso superior a permissão para ter cópias dos documentos. Foi necessário um encontro dos consultores para chegar ao acordo de nos permitir a permissão, excluindo a leitura de todos os outros seminaristas. Em um mês, haviam se tornado uma leitura obrigatória", explica ele, sorrindo. "Hoje, o medo não é tanto que tenha sido posto um freio, mas sim que tenha sido engatada a marcha à ré".
Severyn Westbrook (ordenado em 1962, da Diocese de Spokane, no Estado de Washington) é mais pessimista: "Parece que tudo já está resolvido, que as pessoas devem aprender acima de tudo a verdade, e pronto. Esse é o panorama dominante. Mas a Igreja deve ser algo vivo e vital. Somos um 'órgão' ou uma 'organização'?", questiona. Em 1982, lhe havia sido pedido um estudo sobre o celibato dos padres e sobre o fenômeno dos padres casados, mas o assunto nunca foi inserido na agenda da Conferência dos Bispos. "Eu não perdi a esperança, porque confio no Espírito Santo, mas o jogo parece estar manipulado".
Com relação aos seus "colegas" mais jovens, o que surge é a sua disponibilidade de se abrir aos leigos confiando-lhes também papéis de responsabilidade. "Somos os padres da Gaudium et Spes", disse Eric Hodgens em um ensaio há dois anos.
Gary Lombardi exerce o seu ministério em Petaluma, Califórnia, depois de ter dirigido por 16 anos a formação dos padres da diocese de Santa Rosa: "De muitas formas, tudo está voltando a ser hierárquico e autoritário, de cima para baixo. Tudo vem de Roma – os bispos são nomeados sem a consulta local. Há uma ênfase na ortodoxia e na fidelidade ao magistério – especialmente o do papa – assim como havia antes do Concílio. A ênfase está nas pessoas à medida da Igreja, ao invés da Igreja na medida das pessoas. Mas hoje há um clericalismo crescente por parte dos padres mais jovens".
Norbert Dlabal, pároco do Kansas depois de cinco anos de missão no Peru, concorda: "A nova geração de padres parece querer levantar um muro entre eles e os leigos", afirma. Ele salienta que a afirmação de que "a ordenação dá ao padre um novo status que o torna fundamentalmente diferente dos leigos dentro da Igreja" tem o consentimento de 48% dos padres pré e pós-Vaticano II, mas apenas de 36% dos padres do Vaticano II.
"Até mesmo as roupas fazem a diferença: hoje, se você usa um colarinho romano, você é dócil e confiável, mas se você escolhe uma camiseta colorida e deixa sua batina manto no armário, você já é considerado um traidor".
Além disso, os sacerdotes do Vaticano II parecem mais dispostos a discutir abertamente o papel das mulheres na Igreja, assim como outras questões, como a acolhida de gays e lésbicas, a questão da ciência.
"A Igreja ainda não levou em consideração a ideia de ter que lidar com um laicato aculturado e maduro", acrescentou Reese. "Ainda pensamos no Vaticano como um lugar que trata todos os outros como crianças ou adolescentes. Se você gritar bem alto, talvez eles lhe ouçam. Mas a Igreja precisa desenvolver um ensino que seja relevante para o século XXI – e não para o XIII".
Uma "teologia criativa" é o que Pettingill deseja, com relação a uma "exegese de documentos" papais. E o episódio da nova tradução inglesa do Missal Romano é um sinal de alerta: "Ela só queria mostrar-lhes quem é que manda. Ninguém perguntou às pessoas o que elas pensavam dela. Nem mesmo os bispos foram consultados sobre as alterações finais".
Finalmente, eles lembram o que foi afirmado por um jovem teólogo convidado ao Concílio chamado Joseph Ratzinger: "Para muitas pessoas, hoje, a Igreja tornou-se o principal obstáculo para a fé". E era 1963.
Nenhum comentário:
Postar um comentário