05/03/2012
IHU - No dia 25 de janeiro de 1959, João XXIII anunciou a realização de um Concílio Ecumênico. O Concílio Vaticano II, que começou no dia 11 de outubro de 1962, terminaria no dia 08 de dezembro de 1965.
A reportagem é Laurence Desjoyaux e publicada pelo jornal La Croix, 24-02-2012. A tradução é do Cepat.
O que é um concílio ecumênico?
É um encontro de bispos cujo objetivo é precisar ou reorientar a
doutrina da fé e fortalecer ou reformar a organização da Igreja. Ao
contrário dos concílios regionais, um concílio ecumênico reúne os bispos
da oikumène, do mundo inteiro. Suas decisões devem ser
aplicadas pelos fiéis de todo o mundo. Já houve 21 concílios ecumênicos
na história da Igreja.
Quem convoca um concílio ecumênico?
Os primeiros oito Concílios Ecumênicos foram convocados por
imperadores romanos. Na época, a autoridade do Papa não era tão
universal como hoje e apenas o imperador podia impor suas leis do
Oriente ao Ocidente (1). Os treze Concílios seguintes foram convocados
pelos papas.
O Código de Direito Canônico é claro: “Compete
exclusivamente ao Romano Pontífice convocar o Concílio Ecumênico,
presidi-lo por si ou por meio de outros, transferir, suspender ou
dissolver o mesmo Concílio, e aprovar os seus decretos” (2). João XXIII convocou os bispos para o Concílio Vaticano II no dia 25 de dezembro de 1961, através da Bula Humanae Salutis.
Por quê?
O Concílio é convocado para examinar questões de doutrina ou de
organização da Igreja. Trata-se muitas vezes de resolver na unidade e na
cúpula conflitos que atravessam as comunidades locais. Assim, os
primeiros Concílios tiveram por objetivo definir dogmas, tais como a
natureza de Cristo ou da Trindade, enquanto diversas teorias se
alastravam pela Igreja. Outros aconteceram depois de cismas para tentar
resolver ou definir a posição da Igreja em relação ao ramo cismático.
Enfim, os Concílios Ecumênicos servem também para resolver problemas
pastorais e disciplinares desde o uso do vestuário litúrgico até a
prática de duelos passando pela publicação de admoestações de casamento.
O Concílio Vaticano II não respondeu especificamente a uma crise na Igreja. Nos diferentes discursos que precederam o Concílio, João XXIII
evocou mais a necessidade de um aggiornamento, de uma atualização da
mensagem da Igreja, para melhor transmiti-la aos homens contemporâneos.
Quem participou do Concílio Vaticano II?
2.850 “padres conciliares”, todos os bispos, patriarcas, superiores
de ordens e de comunidades religiosas, foram convidados. Em média, 2.400
deles estavam presentes em cada sessão. Eles vieram de 116 países e 64%
não eram europeus, ao passo que do Concílio Vaticano I, 40% dos bispos
eram italianos! Episcopados inteiros não puderam participar por terem
ficado presos em seus países pelos regimes comunistas da China, da
Coreia do Norte, do Vietnã ou da União Soviética.
Muitos outros atores participaram de perto ou de longe do Concílio. 487 peritos teólogos foram assim nomeados por João XXIII e Paulo VI
para aconselhar os bispos. A estes se devem acrescentar cerca de cem
observadores de outras Igrejas e 42 leigos ouvintes, incluindo sete
mulheres que puderam acompanhar os debates (3).
Como se desenvolveram as sessões?
Os temas abordados durante o Concílio Vaticano II
foram divididos em quatro sessões, de setembro a dezembro de 1962 a
1965. Durante essas sessões, houve 10 sessões plenárias públicas, sendo
as demais sessões, 168 ao todo, abertas a um público restrito de
observadores e ouvintes. Essas “congregações gerais” realizaram-se no
salão nobre, um anfiteatro composto de duas tribunas de 190 metros de
comprimento situado em frente à Basílica de São Pedro.
Elas começavam às 9 horas com a Eucaristia, depois os bispos debatiam
os esquemas elaborados pelas 10 comissões preparatórias. Sob condições
bem precisas, alguns tinham o direito de fazer o uso da palavra por 10
minutos e em latim para criticar estes textos ou defendê-los. Ao
meio-dia, os trabalhos eram interrompidos para dar lugar a encontros
oficiais ou semi-oficiais e para permitir aos peritos e às comissões
especializadas alterar os textos de acordo com os debates na parte da
manhã.
De que se fala no Concílio Vaticano II?
Os textos que resultaram do Concílio Vaticano II
abordam os temas mais diversos como as fontes da fé, a liturgia ou ainda
a liberdade religiosa e as relações com as outras religiões. Em geral,
podemos agrupar os temas tratados em três categorias: o que é a Igreja, o
que a Igreja faz e as relações da Igreja com o mundo (4).
Durante o Concílio, algumas matérias foram discutidas de forma
especial. Na primeira sessão, o esquema sobre a Revelação foi muito
criticado e João XXIII foi forçado a intervir no sentido de adiar o estudo do texto. Na segunda sessão, Paulo VI
se envolve diretamente na questão da colegialidade. Finalmente, a
elaboração de textos sobre o ecumenismo, a liberdade religiosa e os
judeus deram lugar a acalorados debates na aula conciliar.
Como votam os padres conciliares?
Uma vez corrigidos, os esquemas iniciais são submetidos à votação.
Dessa maneira, foram realizadas 538 votações durante as congregações
gerais das quatro sessões. Com uma média de 2.200 cédulas, foram, no
total, mais de um milhão de cédulas distribuídas. Enquanto um esquema
não era aprovado por uma maioria de dois terços, ele era novamente
modificado pelas respectivas comissões. Quando o texto era aprovado, ele
podia ser promulgado pelo Papa sob a forma de Constituição, decreto ou
declaração. Ao longo das quatro sessões do Concílio, foram promulgados
quatro Constituições, nove decretos e três declarações.
Quanto custou o Concílio?
De acordo com a L'Osservatore Romano (5), o
Concílio, incluindo a fase preparatória, custou 4,5 bilhões de liras
italianas, ou seja, entre 30 milhões e 40 milhões de euros no valor de
hoje. Os trabalhos exigiam diariamente o trabalho noturno de 200
trabalhadores durante quase cinco meses e teve que financiar a viagem e o
alojamento de muitos dos bispos presentes em Roma.
As Conferências Episcopais da Alemanha e da América do Norte foram particularmente generosas. O custo do Concílio Vaticano II,
no entanto, nunca foi abordado durante os trabalhos do Concílio para
não perturbar a agenda ou acelerar artificialmente os debates.
Notas:
1. CHIRON, Yves. Histoire des conciles, Éd. Perrin, 2011.
2. Código de Direito Canônico, c. 338, § 1.
3. O’MALLEY, John W. L’Événement Vatican II, Éd. Lessius, 2011.
4. POUPARD, Paul. Le Concile Vatican II, Éd. PUF, 1983.
5. Le Concile Vatican II, Synthèse historico-théologique des travaux et des documents, numéro spécial de L’Osservatore Romano, Éd. Apostolat des Éditions, 1966.
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