sábado, 28 de abril de 2012

Da missa tridentina à reforma litúrgica do Vaticano II – Parte 1. Artigo de Enzo Bianchi

28/04/2012

IHU - Com uma forte marca autobiográfica, o prior de Bose relata como viveu a missa nos anos anteriores à reforma litúrgica. Palavras densas de memória e ricas de sugestões, que transparecem todo o afeto para com uma forma litúrgica que foi alimento espiritual imprescindível na primeira parte da sua vida. E, na passagem para a nova forma da missa, posterior ao Vaticano II, os seus inegáveis enriquecimentos – em particular a língua e o lecionário – e alguns defeitos – no canto litúrgico. Na reforma, enfim, reside "a continuidade, a tradição que cresce e se renova para não morrer ou decair, mas que sempre sabe conservar a si mesma, a mesma aliança entre Deus e seu povo".

Publicamos aqui a primeira parte da análise do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose. O artigo foi publicado na Revista do Clero Italiano, n°. 3, de março de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Introdução
Há muito tempo, eu sentia o dever de contar como eu vivi a missa por 20 anos, antes da reforma litúrgica desejada pelo Concílio Vaticano II. Eu sinto esse dever por diversas razões. Acima de tudo, porque em mim a recordação dessa missa permanece muito viva: dos meus seis aos 24 anos, ela foi, para mim, a missa cotidiana, uma missa em que eu "servia" como coroinha.
Essa missa era a principal fonte da minha vida espiritual, era a missa que me moldava todos os dias, era a liturgia de comunhão com o Senhor, na qual eu crescia e fazia discernimento sobre a minha vida e sobre a minha vocação.

Mas também há uma outra razão pela qual eu sinto esse dever de memória. Muitos dos que têm a minha idade ou são ainda mais velhos e, portanto, viveram como eu ou mais do que eu essa forma litúrgica, parecem não lembrar, não sabem mais falar a respeito, nem sabem lê-la: eu constatei isso mais de uma vez, ficando perturbado muitas vezes com tanto desmemoriamento...

Não se trata, porém, da transcrição de recordações pessoais, como se fossem minhas memórias, nem de nostalgia por parte de um senescente: é uma comparação entre duas formas de celebração, entre dois ritos capazes de celebrar o mistério de Cristo, mas um derivado do outro e gerado pelo mais antigo, na continuidade do crescimento da fé e da eloquência da fé que é a liturgia católica.

Ao escrever este testemunho, eu espero apenas ser verídico, honesto comigo mesmo dentro do possível, porque é verdade que a experiência da missa reformada pelo Concílio Vaticano II também me moldou, ou, melhor, muito mais, já que é a "minha" missa há mais de 40 anos, é a missa que eu vivo na minha comunidade, como monge que tenta ser cristão.

Espero não ferir ninguém e prestar um serviço àqueles que querem um testemunho sobre essa missa que hoje pode ser celebrada como rito extraordinário, concedido por Bento XVI àqueles que se sentem ligados e afeiçoados a essa forma pré-conciliar.

O leitor poderá, portanto, fazer uma comparação, poderá compreender ainda mais a continuidade entre os dois ritos e, ao mesmo tempo, discernir a "graça" que a reforma litúrgica contribuiu para a vida de toda a Igreja.

(Continua.)

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