03/04/2012
IHU - Geoffrey Robinson , bispo emérito de Sydney, fez essa declaração em Baltimore, nos Estados Unidos, durante um simpósio de homossexuais católicos.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 30-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 30-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Que
a Igreja é muitas vezes vista como uma agência que pretende ensinar as
pessoas o que se deve ou não fazer, quase como um oásis de controle
dentro de uma cultura secular de "liberdade", já se sabia há muito
tempo. Uma imagem enganosa que encerra em si uma série de preconceitos a
serem desfeitos, mas em que ninguém talvez possa se declarar isento de
responsabilidade. Que o caminho que conduz à santidade não consiste em
uma superação de um exame de boa conduta, mas sim um entrar cada vez
mais em relação com Deus e a sua liberdade não é hoje uma concepção
muito difundida, nem entre os católicos, que, de fato – pelo menos
segundo os inúmeros estudos e pesquisas sobre o assunto – acabam, em
matéria de moral, no entanto, decidindo de acordo com as suas ideias.
Na área da moral sexual, a diferença é ainda mais evidente: nos EUA,
por exemplo, enquanto os bispos e alguns católicos invocam a liberdade
religiosa para combater a reforma da saúde – que também amplia a
cobertura para os anticoncepcionais – não há pesquisa que não indique o
seu uso por mais de mais de 98% das mulheres, sem nenhuma distinção de
confissão religiosa.
O recurso à liberdade de consciência e à
responsabilidade pessoal é uma das aquisições conciliares mais
utilizadas em matéria de pastoral familiar, e que diversos teólogos
morais preferem se pronunciar com extrema cautela, dada a complexidade
das questões de hoje, em que é cada vez mais difícil, senão impossível,
traçar uma linha nítida de demarcação, também é conhecido, como muitas
pequenas observações ditas em voz baixa por muitos, postas por escrito
por poucos.
Mas que um bispo indique, sem muitos rodeios, como a
doutrina moral da Igreja tem necessidade de uma bela revisão talvez
poucos imaginariam, antes do dia 15 de março passado, quando, em Baltimore, Dom Robinson, bispo emérito de Sydney,
declarou que é necessário "um novo estudo de tudo o que tem a ver com a
esfera da sexualidade para melhorar o ensino da Igreja em matéria de
relações tanto hetero quanto homossexuais". Na verdade, "todo o ensino
que disciplina todas as relações de tipo sexual deveria ser atualizado,
porque o sexo é uma modalidade importante para expressar o amor entre
duas pessoas". E, se a sociedade o banaliza, não é óbvio que a Igreja
deve continuar aceitando acriticamente as antigas concepções da moral
sexual que nos vêm da tradição.
Geoffrey Robinson fala com conhecimento de causa: australiano, nascido em 1937, títulos em filosofia, teologia e direito canônico em Roma,
foi pároco e professor de direito canônico, juiz do tribunal
eclesiástico para os matrimônios, além de ter trabalhado para escolas
católicas e no diálogo ecumênico. Em 1984, foi nomeado bispo auxiliar de
Sydney e, em 2002, o Papa João Paulo II o
chamou para fazer parte da comissão vaticana para o abusos por parte do
clero. Tendo se aposentado por causa do limite de idade, voa
frequentemente para os EUA para conferências e retiros em universidades e paróquias.
Em março deste ano, Dom Robinson visitou os EUA mais uma vez. Nos dias 15 e 16 de março, ele foi um dos oradores do VII Simpósio Nacional sobre Catolicismo e Homossxualidade – que ocorreu em Baltimore, Maryland,
com a presença de mais de 400 pessoas, incluindo gays, lésbicas e
transgêneros católicos –, um tema ao qual ele também dedicou estudos e
energia no passado.
No mesmo simpósio, discursou o governador do Estado, Martin O'Malley,
que havia assinado alguns dias antes a legalização do casamento gay, ao
qual os opositores ameaçam um recurso ao referendo (mas as pesquisas
indicam que a maioria ainda está a favor, ou até em crescimento).
Precisamente ao responder a questão sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, Robinson declarou
que a doutrina da Igreja sobre o matrimônio é clara e imutável, mas que
a abordagem das questões de moral sexual e a própria interpretação de
algumas passagens da Escritura sobre a homossexualidade precisam de uma
"profunda revisão".
Ele teria chegado a essa convicção –
confessou – analisando justamente as causas sobre os abusos do clero na
qualidade de presidente da Sociedade Australiana de Direito Canônico.
"Paradoxalmente, foi justamente o choque dos abusos que me convenceu
sobre a importância fundamental do sexo na vida das pessoas, e não
haverá nenhuma margem de mudança da doutrina da Igreja Católica sobre os
atos homossexuais enquanto não houver uma mudança sobre os atos
heterossexuais".
"Se o ponto de partida – como é hoje na moral
oficial – é que todo ato sexual individual deve ser necessariamente
tanto unitivo quanto procriativo, então nunca haverá qualquer
possibilidade de aprovação do menor ato homossexual".
"Durante
séculos, a Igreja ensinou que todo pecado sexual é pecado mortal. Hoje,
isso já não é mais proclamado aos quatro ventos como antigamente. Porém,
a doutrina nunca foi abolida e afetou muitas pessoas, favorecendo a
crença em um Deus irascível que condena ao inferno por um único instante
de prazer derivado de um desejo humano de ordem sexual". "Uma vida
moral – declarou – não é só fazer as coisas certas, mas também
compromisso para chegar a identificar qual é a coisa certa a fazer".
Robinson continuou a sua turnê de palestras em todos os EUA. No dia 30 de março, ele esteve na Santa Clara University, na Califórnia, para, depois, voar até San Francisco no sábado e assim retornar para Sydney.
Não houve relatos de reações por parte de seus coirmãos
norte-americanos, mas ele encontrou um notável apoio no editorial do
jornal National Catholic Reporter publicado no dia 27 de março.
"Estamos em perfeita consonância com Dom Robinson para
um reexame aprofundado e honesto do ensino da Igreja sobre a
sexualidade". Se a posição é clara, assim também é a motivação:
contribuir para fazer com que a Igreja não seja condenada à irrelevância
no panorama cultural de hoje.
Acolher o convite de Robinson para
abandonar a ideia do pecado sexual como um pecado contra Deus, para, ao
contrário, considerar a moral sexual em termos de bem ou mal com
relação às pessoas representaria um passo de grande liberdade. Ao invés
de ir em busca do bem ou do mal em atos objetivos individuais – é um ato
é unitivo e aberto à procriação? – o desafio é se esforçar para olhar
para as intenções e as circunstâncias. "Os atos sexuais são agradáveis a
Deus quando ajudam o crescimento das pessoas e melhoram as suas
relações. Mas não são agradáveis quando causam ofensa às pessoas e
pioram as suas relações".
O convite é o de não se concentrar na
leitura literal da Bíblia para compreender o significado mais profundo
nos termos da jornada espiritual do povo de Deus na história.
Robinson não
é o primeiro a pedir uma revisão da moral católica, escreve o
editorial, mas certamente a palavra de autoridade de um bispo irá se
juntar ao coro, acrescentando uma nova dimensão. Só com uma moral sexual
clara e compreensível hoje seremos capazes de desafiar a mensagem
martelante da cultura dominante na mídia: uma sexualidade egoísta que
idolatra a satisfação pessoal, o sexo separado do amor e que coloca em
primeiro lugar o "eu" ao invés do "você".
Não nos esqueçamos, escreve o NCR,
que uma sexualidade cristã genuína, centrada nas exigências dos outros,
responderia mais plenamente às expectativas mais profundas do coração
humano e seria capaz de promover de forma mais eficaz a relação entre as
pessoas.
Trata-se, no fim das contas, de assumir, sempre, a
própria responsabilidade pessoal no dia a dia, que é, além disso, o
primado conciliar da consciência.
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