comshalom
abril 20th, 2012
Quem
não se rejubila ao ver, nas solenidades litúrgicas, elevarem-se dos
turíbulos aquelas ondas que impregnam de suave perfume todo o recinto
sagrado? Perfeita imagem da oração que sobe como oblação de agradável odor até o trono de Deus,
nas Sagradas Escrituras incenso e prece são apresentados como termos
reversíveis um no outro: “Suba direita a minha oração como incenso na
tua presença” (Sl 140, 2).
Na
mesma linha, lê-se no livro do Apocalipse: “Depois veio outro anjo e
parou diante do altar, tendo um turíbulo de ouro. Foram-lhe dados muitos
perfumes, a fim de que oferecesse as orações de todos os santos sobre o
altar de ouro, que está diante do trono de Deus” (8, 3-4).
Uma história de mais de três mil anos
A
utilização dessa essência no culto divino provém de uma prescrição
feita pelo Senhor a Moisés, na mesma ocasião em que Este lhe entregou,
no Monte Sinai, as Tábuas da Lei. O próprio Deus lhe ditou como deveria
ser feito:
Os três Reis Magos ofereceram ao Menino-Deus ouro, incenso e mirra. |
“Toma
aromas: estoraque, ônix, gálbano de bom cheiro, incenso lucidíssimo,
tudo em peso igual. Farás um perfume composto segundo a arte de
perfumador, manipulado com cuidado, puro e digníssimo de ser oferecido.
E, quando tiveres reduzido tudo a um pó finíssimo, pô-lo-ás diante do
tabernáculo do testemunho, no lugar em que eu te aparecer. Este perfume
será para vós uma coisa santíssima” (Ex 30, 34-36).
Deus não deixa a menor dúvida de que essa essência odorífera deveria ser usada exclusivamente para o esplendor do culto divino: “Todo homem que fizer uma composição semelhante para gozar de seu cheiro, perecerá no meio do seu povo” (Ex 30,38).
Assim,
obedecendo ao que Deus determinou a Moisés, o povo eleito queimou
durante vários séculos, pela manhã e pela tarde, em homenagem ao Senhor
um incenso de suave fragrância.
No
Novo Testamento, ele surge já nos primeiros dias do Menino Jesus.
Entrando os Reis Magos na casa onde estava Ele com sua Mãe,
prostraram-se e O adoraram, em seguida abriram seus tesouros e lhe
ofereceram ouro, incenso e mirra. “O incenso era para Deus, a mirra para
o Homem e o ouro para o Rei”, diz São Leão Magno (Sermão n. 31).
Portanto, dos três dons oferecidos, o de maior valor simbólico era o
incenso.
A serviço do esplendor da Liturgia
A serviço do esplendor da Liturgia
Devido
ao fato de os povos pagãos costumarem queimar todo tipo de perfumes em
seus cultos idolátricos, por cautela a Igreja demorou certo tempo em
admitir seu uso nas cerimônias litúrgicas.
Logo,
porém, que a Liturgia começou a se desenvolver, ele fez seu
aparecimento. Assim, nas primeiras décadas do quarto século, o Imperador
Constantino ofereceu à Basílica de Latrão dois incensórios, feitos de
ouro puro, os quais provavelmente permaneciam fixos em seus lugares e
eram usados para perfumar o lugar santo.
O
Papa Sérgio I (687-701) mandou dependurar na igreja um grande
incensador de ouro para que, “durante as Missas solenes, o incenso e o
odor de suavidade se elevassem mais abundantemente para o Deus
Onipotente”.
Surgiu
depois o turíbulo, mas, de início, sua utilização consistia apenas em
ser levado pelo subdiácono à frente do cortejo litúrgico, perfumando o
percurso do celebrante na entrada e na saída da Missa, e na procissão do
Evangelho.
No
correr do tempo, com o aperfeiçoamento das celebrações, instituiu-se a
incensação no momento do Evangelho, depois no Ofertório e, por fim, no
séc. XIII, na elevação da hóstia e do cálice.
Atualmente
a incensação durante a Missa é facultativa, podendo ser feita durante a
procissão de entrada, no início da Celebração, na proclamação do
Evangelho, no Ofertório, e na elevação da hóstia e do cálice após a
Consagração (cf. IGrMR, 235).
Efeitos e finalidades
O
celebrante põe incenso no turíbulo e o benze com o sinal-da-cruz. Essa
bênção faz dele um sacramental, isto é, um “sinal sagrado” mediante o
qual, imitando de certo modo os sacramentos, “são significados
principalmente efeitos espirituais que se alcançam por súplica da
Igreja” (CIC nº 1166).
Um desses efeitos pode ser verificado no motivo da incensação do altar e das oferendas, na Missa. Incensa-se
o altar para purificá-lo de qualquer ação diabólica, e as oferendas
para torná-las dignas de serem usadas no Mistério Eucarístico.
O
incenso é primordialmente um ato de homenagem a Deus, a Nosso Senhor
Jesus Cristo, bem como aos homens e objetos consagrados ao culto divino.
Segundo
São Tomás de Aquino, a incensação tem duas finalidades. A primeira é
fomentar o respeito ao sacramento da Eucaristia, já que ela serve para
eliminar, com um perfume agradável, os maus odores que poderiam existir
no lugar. A segunda, representar a graça, da qual, como um bom aroma,
Cristo estava cheio.
Por
fim, o carvão aceso no turíbulo e o perfume que se evola servem também
para nos advertir que, se queremos ver nossas orações subirem assim até o
trono de Deus, devemos nos esforçar para ter o coração ardente com o
fogo da caridade e da devoção.
Por Irmã Angelis Ferreira, EP.
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