23/04/2012
IHU - Em uma atmosfera crepuscular, Bento XVI entrou
nessa quinta-feira no oitavo ano do seu pontificado. "Assim como estou
diante de vocês – disse ele na segunda-feira ao governador da Baviera, Seehofer, e aos bispos bávaros, que festejavam o 85º aniversário –, um dia eu terei que me apresentar ao Senhor".
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 19-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 19-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A missa celebrada pelo pontífice na Capela Paulina, palavras textuais de Seehofer,
causaram "arrepios". O papa voltou a falar sobre o assunto. "Estou
diante da última parte da minha vida – exclamou ele – e não sei o que
está destinado a mim".
Nessas palavras, está o Ratzinger profundo.
Homem de fé, mas consciente de ter aceitado o pontificado pelo sentido
do dever, estimulado por outros e não por ambição própria. Durante a
oração da Via Crucis no Coliseu, o seu rosto absorto e pensativo lembrava aquelas cabeças de imperadores romanos do Império Tardio: olhar severo e desencantado.
Aos 85 anos, Ratzinger é
o pontífice mais velho do último século. Ele sabe muito bem que foi
aberta uma fase extremamente incerta. No Vaticano, a atenção oscila. Há
quem aponte para uma troca da guarda na cúpula da Cúria para superar o
mal-estar subterrâneo que explodiu com o Vatileaks, a publicação de documentos comprometedores fortemente críticos ao secretário de Estado, Bertone.
Os gradualistas apontam, por isso, para uma substituição de Bertone até o fim deste ano, quando o cardeal irá completar 78 anos. A ala realista, ao contrário, defende que Bento XVI,
tendo se tornado cada vez mais hesitante com o avançar dos anos, não se
privará do seu braço direito salesiano. Assim, começaram as primeiras
cautas manobras em vista do conclave.
Entre as finalidades do documento secreto sobre a "morte do papa" revelado pelo jornal Il Fatto Quotidiano (e entregue – não se esqueça – nas próprias mãos de Ratzinger),
havia também a denúncia da campanha subterrânea em andamento para
chegar a um "pontífice italiano". Com nome e sobrenome para
prejudicá-lo, de acordo com o costume curial: Angelo Scola, atual arcebispo de Milão.
Mas,
entre os cardeais do mundo, muitos não aceitam a ideia de um conclave
pré-preparado. Eles se recusam que seja interrompido o processo de
internacionalização do papado. Um candidato de todo o respeito é o
cardeal Marc Ouellet, canadense, ex-arcebispo de Quebec e agora à frente da influente Congregação para os Bispos. Ratzinger recém o nomeou como seu representante no Congresso Eucarístico Internacional, que se realizará em junho na Irlanda. Outros nomes começam a circular. Para a América do Sul, volta ciclicamente o nome do dinâmico e aberto cardeal hondurenho Óscar Maradiaga. Mas nada impede que a América Latina produza outros candidatos.
A novidade é o surgimento de dois purpurados norte-americanos: Timothy Dolan, arcebispo de Nova York e presidente da Conferência dos Bispos dos EUA, e Donald Wuerl, de Washington.
Uma novidade porque até o último conclave de 2005 sempre foi dado por
óbvio que um pontífice não poderia provir de um país que seja potência
mundial. É verdade, porém, que o século XXI, rotulado pelos ideólogos do
governo Bush como o "século norte-americano", revelou que os Estados Unidos não são capazes de ditar a sua vontade sobre o mundo, mesmo mantendo-se na cena internacional como o protagonista mais poderoso.
Olhando
para o futuro da Igreja, o problema não está nos nomes, mas sim na
plataforma dos candidatos. Quem está disposto a fazer reformas? E quais?
Entre o Natal e a Páscoa, Bento XVI voltou duas vezes
ao tema de uma Igreja a ser reformada. Colocando um ponto de
interrogação, que fique claro. Na Quinta-feira Santa, ele se referiu à Iniciativa dos Párocos Austríacos,
que prometem uma espécie de desobediência civil acerca das questões do
celibato e das ordenações femininas. Mas, como já é a práxis desse
pontificado, Ratzinger não deu respostas concretas.
Nascido como um pontificado de transição, o reinado de Bento XVI transformou-se em estagnação. É um "papa da palavra", defende o seu secretário particular, Mons. Gänswein,
e é verdade. O melhor está no seu papel de teólogo, pensador e
pregador. Mas, enquanto isso, o peso da Santa Sé no cenário mundial caiu
drasticamente, e no mundo da mídia internacional a atenção reservada ao
papado se rarefez. As relações ecumênicas são corteses, mas estão
bloqueadas. As relações com o Islã e o judaísmo são corteses, mas
inoperantes. A falta de padres nas paróquias e o declínio das ordens
religiosas femininas (que em seis anos perderam 50 mil unidades)
questões assuntos afastados. Sobre a ideia maluca do governo israelense
de lançar um ataque contra o Irã, o Vaticano se cala.
Desafiando a sua fragilidade (os problemas cardíacos, a artrose, os incômodos que parecem lhe afligir), Bento XVI começou novamente a fazer viagens intercontinentais, o que ele parecia ter arquivado depois da Austrália em 2008. Benin, México, Cuba, Líbano em setembro próximo e talvez o Brasil em 2013: quase preparando, com tais façanhas, a sua saída de cena, quando as forças tiverem que abandoná-lo.
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