15 Abril 2012
Os reais adversários do pluralismo e, portanto, da verdadeira liberdade humana, são, precisamente, aqueles que se afobam em proscrever do debate político quaisquer conceitos ou convicções que possam ser associados a alguma vertente religiosa.
Isso
ficou muito claro quando afirmou, textualmente, como argumento trazido
ao seu voto, que: 1º) "dogmas de fé não podem influenciar decisões do
Estado"; e que 2º) “a questão posta nesse processo (...) não pode ser
examinada sob os influxos de orientações morais religiosas”. Para o
ministro, portanto, as opiniões que guardem relação com moral de base
religiosa assemelham-se a "dogmas" e resultam impertinentes ao direito
positivo brasileiro. Não há como conceder ao ministro o benefício da
dúvida, supondo que ele talvez desconheça a diferença entre uma coisa e
outra. Trata-se de uma hipótese inconcebível. Ele sabe. Aceito, então,
sugestões que resguardem Sua Excelência de uma severíssima reprovação
junto à opinião pública brasileira. Eu não encontrei qualquer que sirva a
esse fim. Já vi muito tolo dizendo isso, mas o ministro não é um tolo.
Ainda
que eu estivesse solitário nas minhas convicções morais; ainda que não
houvesse dezenas de milhões de brasileiros que pensam como eu sobre
temas relacionados à vida, à família, à ordem social, à política, aos
direitos fundamentais; ainda que eu fosse o único brasileiro a perceber
que já estão impressos na Constituição da República os princípios que me
inspiram e os valores em que creio, jamais aceitaria que me fosse
recusado o direito de buscar civicamente, pelas vias institucionais, a
vigência social e jurídica do meu ponto de vista. O Estado Democrático
de Direito me assegura isso e mais: mesmo que a Constituição recusasse
todas as minhas convicções - coisa que ela não faz e por isso suscita
essas releituras tão em voga - ainda assim, ela me concederia o direito
de opinar e de tentar mudar o que a meu juízo devesse ser mudado,
segundo a ordem instituída. O ministro sabe que é assim. E isso nada tem
a ver com dogma. Tem a ver com democracia e com direitos fundamentais
dos cidadãos. Sobre o tema escreve com muita precisão o filósofo
espanhol e professor de Direito Andrés Ollero: "Ter em conta as
convicções de todos equivale, por outro lado, a reconhecer que todos têm
convicções".
Os
reais adversários do pluralismo e, portanto, da verdadeira liberdade
humana, são, precisamente, aqueles que se afobam em proscrever do debate
político quaisquer conceitos ou convicções que possam ser associados a
alguma vertente religiosa. No fundo de tais esforços vicejam o orgulho e
a vaidade, dois ingredientes que fermentam e estufam a massa de
rocambole do STF. Aliás, do ministro Marco Aurélio Mello ouvi, viva voz,
numa entrevista em foi questionado sobre certa indicação para aquela
corte: "O que mais quero é que apareça alguém para me fazer sombra". Que
respeito pode uma vaidade dessas conceder à opinião alheia?
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