I Sessão
Veneráveis irmãos
I. Alegra-se a Santa Mãe Igreja, porque, por singular dom da Providência divina, amanheceu o dia tão ansiosamente esperado em que solenemente se inaugura o Concílio Ecumênico Vaticano II, aqui, junto do túmulo de São Pedro, com a proteção da Santíssima Virgem, de quem celebramos hoje a dignidade de Mãe de Deus.
II. Os Concílios Ecumênicos na Igreja
1. Todos os Concílios celebrados na história, tanto os 20 Concílios
Ecumênicos, como os inúmeros Provinciais e Regionais, também importantes,
testemunham claramente a vitalidade da Igreja Católica e constituem pontos
luminosos da sua história.
2. O gesto do mais recente e humilde sucessor de são Pedro que vos fala, de
convocar esta soleníssima reunião, pretendeu afirmar, mais uma vez, a
continuidade do magistério eclesiástico, para o apresentar, em forma
excepcional, a todos os homens do nosso tempo, tendo em conta os desvios, as
exigências e as possibilidades deste nosso tempo.
3. É bem natural que, inaugurando o Concílio Ecumênico, nos apraza contemplar
o passado, para ir recolher, por assim dizer, as vozes, cujo eco animador
queremos tornar a ouvir na recordação e nos méritos, tanto dos mais antigos,
como também dos mais recentes Pontífices, nossos predecessores: vozes solenes e
venerandas, elevadas no Oriente e no Ocidente, desde o século IV até à Idade
Média, e desde então até aos nossos dias, que transmitiram desde aqueles
Concílios o seu testemunho; vozes a aclamarem em perenidade de fervor o triunfo
da instituição divina e humana, a Igreja de Cristo, que recebe dele o nome, a
graça e o significado.
4. Mas, ao lado dos motivos de alegria espiritual, é também verdade que sobre
esta história se estende ainda, por mais de 19 séculos, uma nuvem de tristeza e
de provações. Não é sem motivo que o velho Simeão manifestou a Maria, Mãe de
Jesus, aquela profecia, que foi e permanece verdadeira:
« Este menino está posto para ruína e
para ressurreição de muitos, e será sinal de contradição
» (Lc 2, 34). E o próprio Jesus,
chegando à idade adulta, fixou bem claramente a atitude que o mundo havia de
continuar a tomar perante a sua pessoa através dos séculos, ao pronunciar
aquelas palavras misteriosas: « Quem vos
ouve, a mim ouve » (Lc 10, 16); e com
aquelas outras, citadas pelo mesmo evangelista: «
Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo,
desperdiça » (Lc 11, 23).
5. O grande problema, proposto ao mundo, depois de quase dois milênios,
continua o mesmo. Cristo sempre a brilhar no centro da história e da vida; os
homens ou estão com ele e com a sua Igreja, e então gozam da luz, da bondade, da
ordem e da paz; ou estão sem ele, ou contra ele, e deliberadamente contra a sua
Igreja: tornam-se motivo de confusão, causando aspereza nas relações humanas, e
perigos contínuos de guerras fratricidas.
6. Os Concílios Ecumênicos, todas as vezes que se reúnem, são celebração
solene da união de Cristo e da sua Igreja, e por isso levam à irradiação
universal da verdade, à reta direção da vida individual, doméstica e social; ao
reforço das energias espirituais, em perene elevação para os bens verdadeiros e
eternos.
7. Estão diante de nós, na sucessão das várias épocas dos primeiros 20
séculos da história cristã, os testemunhos deste magistério extraordinário da
Igreja, recolhido em vários volumes imponentes: patrimônio sagrado dos arquivos
eclesiásticos, tanto aqui em Roma como nas bibliotecas mais célebres do mundo
inteiro.
III. Origem e causa do Concílio Ecumênico Vaticano II
1. No que diz respeito à iniciativa do grande acontecimento que agora se
realiza, baste, a simples título de documentação histórica, reafirmar o nosso
testemunho humilde e pessoal do primeiro e imprevisto florescer no nosso coração
e nos nossos lábios da simples palavra «
Concílio Ecumênico ». Palavra pronunciada
diante do Sacro Colégio dos Cardeais naquele faustíssimo dia 25 de janeiro de
1959, festa da Conversão de são Paulo, na sua Basílica. Foi algo de inesperado:
uma irradiação de luz sobrenatural, uma grande suavidade nos olhos e no coração.
E, ao mesmo tempo, um fervor, um grande fervor que se despertou, de repente, em
todo o mundo, na expectativa da celebração do Concílio.
2. Três anos de preparação laboriosa, consagrados a indagar ampla e
profundamente as condições modernas da fé e da prática religiosa, e de modo
especial da vitalidade cristã e católica.
3. Pareceram-nos como um primeiro sinal, um primeiro dom de graça celestial.
4. Iluminada pela luz deste Concílio, a Igreja, como esperamos confiadamente,
engrandecerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias,
olhará intrépida para o futuro. Na verdade, com atualizações oportunas e com a
prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os homens, as
famílias e os povos voltem realmente a alma para as coisas celestiais.
5. E assim, a celebração do Concílio torna a ser motivo e singular obrigação
de grande reconhecimento ao supremo dispensador de todos os bens, por
celebrarmos com cânticos de exultação a glória de Cristo Senhor, Rei glorioso e
imortal dos séculos e dos povos.
IV. Oportunidade de celebrar o Concílio
1. Há ainda um argumento, veneráveis irmãos, que não é inútil propor à vossa
consideração. Para tornar mais concreta a nossa santa alegria, queremos, diante
desta grande assembléia, notar as felizes e consoladoras circunstâncias em que
se inicia o Concílio Ecumênico.
2. No exercício cotidiano do nosso ministério pastoral ferem nossos ouvidos
sugestões de almas, ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande
sentido de discrição e moderação. Nos tempos atuais, elas não vêem senão
prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com as
passadas, foi piorando; e portam-se como quem nada aprendeu da história, que é
também mestra da vida, e como se no tempo dos Concílios Ecumênicos precedentes
tudo fosse triunfo completo da idéia e da vida cristã, e da justa liberdade
religiosa.
3. Mas parece-nos que devemos discordar desses profetas da desventura, que
anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do
mundo.
4. No presente momento histórico, a Providência está-nos levando para uma
nova ordem de relações humanas, que, por obra dos homens e o mais das vezes para
além do que eles esperam, se dirigem para o cumprimento de desígnios superiores
e inesperados; e tudo, mesmo as adversidades humanas, dispõe para o bem maior da
Igreja.
5. É fácil descobrir esta realidade, se se considera com atenção o mundo
hodierno, tão ocupado com a política e as controvérsias de ordem econômica, que
já não encontra tempo de atentar em solicitações de ordem espiritual, de que se
ocupa o magistério da santa Igreja. Este modo de proceder não é certamente
justo, e com razão temos de desaprová-lo; não se pode, contudo, negar que estas
novas condições da vida moderna têm, pelo menos, esta vantagem de ter suprimido
aqueles inúmeros obstáculos, com os quais, em tempos passados, os filhos do
século impediam a ação livre da Igreja. De fato, basta percorrer mesmo
rapidamente a história eclesiástica, para verificar sem sombra de dúvida que os
próprios Concílios Ecumênicos, cujas vicissitudes constituíram uma sucessão de
verdadeiras glórias para a Igreja Católica, foram muitas vezes celebrados com
alternativas de dificuldades gravíssimas e de tristezas, por causa da
intromissão indevida das autoridades civis. Elas, é certo, propunham-se, às
vezes, proteger com toda a sinceridade a Igreja; mas, as mais das vezes, isto
não se dava sem dano e perigo espiritual, porque eles procediam segundo as
conveniências da sua política interesseira e perigosa.
6. A este propósito, confessamo-vos que sentimos dor vivíssima pelo fato de
muitíssimos Bispos, que nos são tão caros, fazerem hoje sentir aqui a sua
ausência, por estarem presos pela sua fidelidade a Cristo, ou detidos por outros
impedimentos; a sua lembrança leva-nos a elevar fervorosíssimas orações a Deus.
Porém, não sem grande esperança e com grande conforto para a nossa alma, vemos
que a Igreja, hoje finalmente livre de tantos obstáculos de natureza profana,
como acontecia no passado, pode desta Basílica Vaticana, como de um segundo
Cenáculo Apostólico, fazer sentir por vosso meio a sua voz, cheia de majestade e
de grandeza.
V. Fim principal do Concílio: defesa e difusão da doutrina
1. O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito
sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz.
2. Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e corpo, e a nós,
peregrinos nesta terra, manda-nos tender para a pátria celeste.
3. Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira que
cumpramos os nossos deveres de cidadãos da terra e do céu, e consigamos deste
modo o fim estabelecido por Deus. Quer dizer que todos os homens, tanto
considerados individualmente como reunidos em sociedade, têm o dever de tender
sem descanso, durante toda a vida, para a consecução dos bens celestiais, e de
usarem só para este fim os bens terrenos sem que seu uso prejudique a eterna
felicidade.
4. O Senhor disse: « Procurai primeiro o
Reino de Deus e a sua justiça » (Mt
6, 33). Esta palavra « primeiro
» exprime, antes de mais, em que direção devem mover-se os nossos
pensamentos e as nossas forças; não devemos esquecer, porém, as outras palavras
desta exortação do Senhor, isto é: « e todas
estas coisas vos serão dadas por acréscimo »
(Mt 6, 33). Na realidade, sempre existiram e existem ainda, na Igreja, os
que, embora procurem com todas as forças praticar a perfeição evangélica, não se
esquecem de ser úteis à sociedade. De fato, do seu exemplo de vida,
constantemente praticado, e das suas iniciativas de caridade toma vigor e
incremento o que há de mais alto e mais nobre na sociedade humana.
5. Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade
humana, que se referem aos indivíduos, às famílias e à vida social, é necessário
primeiramente que a Igreja não se aparte do patrimônio sagrado da verdade,
recebido dos seus maiores; e, ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente,
para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno, que
abriram novos caminhos ao apostolado católico.
6. Por esta razão, a Igreja não assistiu indiferente ao admirável progresso
das descobertas do gênero humano, e não lhes negou o justo apreço, mas, seguindo
estes progressos, não deixa de avisar os homens para que, bem acima das coisas
sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte de toda a sabedoria e beleza; e
eles, aos quais foi dito: « Submetei a terra
e dominai-a » (Gn 1, 28), não
esqueçam o mandamento gravíssimo: « Adorarás
o Senhor teu Deus, e só a ele servirás » (Mt
4, 10; Lc 4, 8), para que não suceda que a fascinação efêmera das coisas
visíveis impeça o verdadeiro progresso.
VI. Como deve ser promovida a doutrina
1. Isto posto, veneráveis irmãos, vê-se claramente tudo o que se espera do
Concílio quanto à doutrina.
2. O XXI Concílio Ecumênico, que se aproveitará da eficaz e importante soma
de experiências jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas, quer
transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios, que por
vinte séculos, apesar das dificuldades e das oposições, se tornou patrimônio
comum dos homens. Patrimônio não recebido por todos, mas, assim mesmo, riqueza
sempre ao dispor dos homens de boa vontade.
3. É nosso dever não só conservar este tesouro precioso, como se nos
preocupássemos unicamente da antiguidade, mas também dedicar-nos com vontade
pronta e sem temor àquele trabalho hoje exigido, prosseguindo assim o caminho
que a Igreja percorre há vinte séculos.
4. A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um
ou outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o
ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre bem
presente e familiar ao nosso espírito.
5. Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e
tranqüila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como
ainda brilha nas Atas Conciliares desde Trento até ao Vaticano I, o espírito
cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera um progresso na
penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta
doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e
exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a
substância do « depositum fidei
», isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação
com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo
alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário,
insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de
apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é
prevalentemente pastoral.
VII. Como se devem combater os erros
1. Ao iniciar-se o Concílio Ecumênico Vaticano II, tornou-se mais evidente do
que nunca que a verdade do Senhor permanece eternamente. De fato, ao suceder uma
época a outra, vemos que as opiniões dos homens se sucedem excluindo-se umas às
outras e que muitas vezes os erros se dissipam logo ao nascer, como a névoa ao
despontar o sol.
2. A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a
maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio
da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades
de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações. Não
quer dizer que faltem doutrinas enganadoras, opiniões e conceitos perigosos,
contra os quais nos devemos premunir e que temos de dissipar; mas estes estão
tão evidentemente em contraste com a reta norma da honestidade, e deram já
frutos tão perniciosos, que hoje os homens parecem inclinados a condená-los, em
particular os costumes que desprezam a Deus e a sua lei, a confiança excessiva
nos progressos da técnica e o bem-estar fundado exclusivamente nas comodidades
da vida. Eles se vão convencendo sempre mais de que a dignidade da pessoa
humana, o seu aperfeiçoamento e o esforço que exige é coisa da máxima
importância. E o que mais importa, a experiência ensinou-lhes que a violência
feita aos outros, o poder das armas e o predomínio político não contribuem em
nada para a feliz solução dos graves problemas que os atormentam.
3. Assim sendo, a Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio
Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos,
benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade também com os filhos dela
separados. Ao gênero humano, oprimido por tantas dificuldades, ela diz, como
outrora Pedro ao pobre que lhe pedia esmola: «
Eu não tenho nem ouro nem prata, mas dou-te aquilo que tenho: em nome de
Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda » (At
3, 6). Quer dizer, a Igreja não oferece aos homens de hoje riquezas caducas, não
promete uma felicidade só terrena; mas comunica-lhes os bens da graça divina,
que, elevando os homens à dignidade de filhos de Deus, são defesa poderosíssima
e ajuda para uma vida mais humana; abre a fonte da sua doutrina vivificante, que
permite aos homens, iluminados pela luz de Cristo, compreender bem aquilo que
eles são na realidade; a sua excelsa dignidade e o seu fim; e mais, por meio dos
seus filhos, estende a toda parte a plenitude da caridade cristã, que é o melhor
auxílio para eliminar as sementes da discórdia; e nada é mais eficaz para
fomentar a concórdia, a paz justa e a união fraterna.
VIII. Promover a unidade na família cristã e humana
1. A solicitude da Igreja em promover e defender a verdade, deriva disso que,
segundo o desígnio de Deus « que quer salvar
todos os homens e que todos cheguem ao conhecimento da verdade
» (1Tm 2,4), os homens não podem sem a ajuda de toda a doutrina
revelada conseguir uma completa e sólida união dos espíritos, com a qual andam
juntas a verdadeira paz e a salvação eterna.
2. Infelizmente, a família cristã, não atingiu ainda, plena e perfeitamente,
esta visível unidade na verdade. A Igreja Católica julga, portanto, dever seu
empenhar-se ativamente para que se realize o grande mistério daquela unidade,
que Jesus Cristo pediu com oração ardente ao Pai celeste, pouco antes do seu
sacrifício. Ela goza de paz suave, bem convicta de estar intimamente unida com
aquela oração; e muito se alegra depois, quando vê que essa invocação estende a
sua eficácia, com frutos salutares, mesmo àqueles que estão fora do seu seio.
Mais ainda, se consideramos bem esta mesma unidade, impetrada por Cristo para a
sua Igreja, parece brilhar com tríplice raio de luz sobrenatural e benéfica: a
unidade dos católicos entre si, que se deve manter exemplarmente firmíssima; a
unidade de orações e desejos ardentes, com os quais os cristãos separados desta
Sé Apostólica ambicionam unir-se conosco; por fim, a unidade na estima e no
respeito para com a Igreja Católica, por parte daqueles que seguem ainda
religiões não-cristãs.
3. Quanto a isso, é motivo de tristeza considerar como a maior parte do
gênero humano, apesar de todos os homens terem sido remidos pelo sangue de
Cristo, não partilhem daquelas fontes da graça divina que existem na Igreja
Católica. Por isso, à Igreja Católica, cuja luz tudo ilumina e cuja força de
unidade sobrenatural beneficia toda a humanidade, bem se adaptam as palavras de
São Cipriano: « A Igreja, aureolada de luz
divina, envia os seus raios ao mundo inteiro; é, porém, luz única, que por toda
a parte se difunde sem que fique repartida a unidade do corpo. Estende os seus
ramos sobre toda a terra pela sua fecundidade, difunde sempre mais e mais os
seus regatos: contudo, uma só é a cabeça, única é a origem, uma é a mãe
copiosamente fecunda; por ela fomos dados à luz, alimentamo-nos com o seu leite,
vivemos do seu espírito » (De Catholicae
Ecclesiae unitate, 5).
4. Veneráveis irmãos, isto se propõe o Concílio Ecumênico Vaticano II, que,
ao mesmo tempo que une as melhores energias da Igreja e se empenha por fazer
acolher pelos homens mais favoravelmente o anúncio da salvação, como que prepara
e consolida o caminho para aquela unidade do gênero humano, que se requer como
fundamento necessário para que a cidade terrestre se conforme à semelhança da
celeste « na qual reina a verdade, é lei a
caridade, e a extensão é a eternidade » (Cf.
Santo Agostinho, Epist. CXXXVIII, 3).
IX. Conclusão
1. E agora, « dirige-se a vós a nossa voz
» (2Cor 6, 11), Veneráveis Irmãos no Episcopado. Eis-nos,
finalmente, todos reunidos nesta Basílica Vaticana, onde está o eixo da história
da Igreja: onde o céu e a terra estão estreitamente unidos, aqui junto do túmulo
de Pedro, junto a tantos túmulos dos nossos Santos Predecessores, cujas cinzas,
nesta hora solene, parecem exultar com frémito arcano.
2. O Concílio, que agora começa, surge na Igreja como dia que promete a luz
mais brilhante. Estamos apenas na aurora: mas já o primeiro anúncio do dia que
nasce de quanta suavidade não enche o nosso coração! Aqui tudo respira
santidade, tudo leva a exultar! Contemplemos as estrelas, que aumentam com seu
brilho a majestade deste templo; aquelas estrelas, segundo o testemunho do
Apóstolo são João (Ap 1, 20) sois vós mesmos; e convosco vemos brilhar
aqueles candelabros dourados à volta do sepulcro do Príncipe dos Apóstolos, isto
é, as igrejas a vós confiadas (Ap 1, 20).
Vemos, ao vosso lado, em atitude de grande respeito e de expectativa cheia de
simpatia, essas digníssimas personalidades aqui presentes, chegadas a Roma dos
cinco continentes, para representarem as nações do mundo.
3. Pode dizer-se que o céu e a terra se unem na celebração do Concílio: os
santos do céu, para proteger o nosso trabalho; os fiéis da terra, continuando a
rezar a Deus; e vós, fiéis às inspirações do Espírito Santo, para procurardes
que o trabalho comum corresponda às esperanças e às necessidades dos vários
povos. Isto requer da vossa parte serenidade de espírito, concórdia fraterna,
moderação nos projetos, dignidade nas discussões e prudência nas deliberações.
4. Queira o céu que as vossas canseiras e o vosso trabalho, para o qual se
dirigem não só os olhares de todos os povos, mas também as esperanças do mundo
inteiro, correspondam plenamente às aspirações comuns.
5. Deus todo-poderoso, em vós colocamos toda a nossa esperança, desconfiando
das nossas forças. Olhai benigno para estes Pastores da vossa Igreja. A luz da
vossa graça sobrenatural nos ajude a tomar as decisões e a fazer as leis, e ouvi
todas as orações que vos dirigimos com unanimidade de fé, de palavra e de
espírito.
6. Ó Maria, auxílio dos cristãos, auxílio dos Bispos, de cujo amor tivemos
recentemente uma prova especial no vosso templo de Loreto, onde tivemos o prazer
de venerar o mistério da Encarnação, disponde todas as coisas para um feliz
resultado, e, juntamente com o vosso esposo são José, com os santos apóstolos
são Pedro e são Paulo, com são João Batista e são João Evangelista, intercedei
por nós junto de Deus.
7. A Jesus Cristo, amabilíssimo Redentor nosso, Rei imortal dos povos e do
tempo, amor, poder e glória pelos séculos dos séculos. Assim seja! (AAS 54 (1962), pp. 785-795).
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