Fonte: GaudiumPress
bibliacatolica - “É pelo amor entre Vós que o mundo conhecerá que sois meus discípulos”. Este axioma precioso e verdadeiro tem sido confirmado ao longo dos 2000 anos da história da Igreja de várias maneiras; por exemplo, através do comportamento dos santos, que são os modelos propostos pela sabedoria da Esposa Mística de Cristo para nossa própria vida.
Com o espírito
colocado nesse ponto luminoso da doutrina pregada por Nosso Senhor Jesus
Cristo, consideremos alguns fatos da vida dos santos. Já de início toda
a nova doutrina e consequente modo de viver ensinado pelo Divino Mestre
no que diz respeito ao relacionamento humano, transforma profundamente a
mentalidade do mundo antigo. Que deus da antiguidade chamava seus
adoradores de amigos? Ao contrário, os deuses pagãos sempre eram
concebidos pelos seus seguidores como seres prepotentes, egoístas e que
muitas vezes padeciam das mesmas e diversas paixões desregradas do ser
humano, tendo com seus seguidores um trato rude, exigindo-lhes
sacrifícios de sangue.
“É pelo amor entre Vós que o mundo conhecerá que sois meus discípulos”. |
Quando
Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu sobre a terra foi tal a
transformação que o mundo sofreu, que, até hoje, se torna difícil fazer
uma idéia de como era o mundo antes dEle. Só Ele, o verdadeiro Deus, é
que pôde dizer: “Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o
que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer
tudo o que ouvi de meu Pai.” Dando o exemplo mais sublime que se poderia
dar, o de um Deus que ama os seus adoradores a ponto de torná-los seus
amigos e até irmãos, dar sua própria Mãe para que fosse também Mãe de
cada um deles, e até dar sua vida pelos seus adoradores, era
compreensível e aceitável que Ele recomendasse como norma de conduta:
“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei.”
Esse exemplo divino
foi seguido com toda a integridade e brilho por Maria Santíssima. Os
evangelistas foram muito comedidos em comentar sua vida, mas sabe-se que
a visita a Santa Isabel foi um refulgir do amor de Deus que transbordou
do coração de Maria. A intervenção preocupada dEla nas bodas de Caná,
livrando os noivos de uma dificuldade, e muitos outros atos de amor ao
próximo que terão sido praticados por Ela e dos quais só na eternidade
teremos conhecimento, constituem as pegadas douradas deixadas por Ela
sobre as de Seu Divino Filho.
Felizmente para nossa edificação, a
vida de muitos outros santos que seguiram os passos do Jesus Cristo
Nosso Senhor é conhecida em detalhes. Por exemplo, a vida de São
Francisco de Assis.
São Francisco de Assis |
Conta-se
no “Fioretti”, livro com muitos fatinhos da vida do Poverello, que
estando ele no início da obra para a qual Deus o havia chamado, chorava
tanto durante a oração – por pura compaixão ao considerar os sofrimentos
do Divino Redentor – e esta era tão prolongada que, em consequência,
ficou quase cego. E um dia foi distrair-se com o irmão Bernardo, seu
primeiro discípulo.
Chegado ao local onde este costumava orar,
chamou-o por três vezes, sem obter resposta. Um pouco abatido, porque
considerou que o Irmão não queria falar-lhe, retirou-se. Estando a
caminho de volta, o Senhor lhe revelou que o Ir. Bernardo estava,
naquele momento, em alta contemplação conversando com Deus, e que, por
isso, não o havia ouvido. S. Francisco voltou então e chamando o Ir.
Bernardo confessou humildemente que havia pensado mal dele, pedindo-lhe
perdão.
Por seu lado, a admiração que este discípulo manifestava
por seu fundador era tão grande que ele nem queria ouvir o pedido de
perdão. Mas S. Francisco, radicalmente, ordena-lhe em nome da santa
obediência, que, por aquele mal pensamento, o Irmão Bernardo pisasse por
três vezes sobre seu pescoço e sua boca dizendo: “Aguenta aí, vilão,
filho de Pedro Bernardone, de onde te vem tanta soberba, sendo a mais
vil das criaturas?”
Obedecendo da maneira mais delicada possível o
Ir. Bernardo executa a ordem. A seguir pede ele a S. Francisco que, por
caridade, lhe prometesse algo: que sempre que estivessem juntos o
repreendesse e corrigisse asperamente por seus defeitos. S. Francisco,
que o tinha por homem muito virtuoso e santo, daí em diante passou a
falar com ele o mínimo possível, porque não queria corrigir aquele a
quem considerava maior e mais santo que si.
Santa Clara de Assis |
Um
outro fato muito edificante deu-se entre S. Francisco e Santa Clara. É
fato muito conhecido que ela foi atraída à vida religiosa por ele e
renunciou a uma situação cômoda no meio das riquezas, para abraçar a
vocação franciscana. Apesar de ter sempre palestras e reuniões com S.
Francisco para que ficar bem formada no espírito da Ordem, ela
manifestava o desejo de, um dia, partilhar uma refeição com seu pai
espiritual. Ele, por sua vez, por temor de dar-se a si mesmo esse
deleite, sempre o negava. Seus irmãos e discípulos intecederam a favor
dela e instaram que atendesse o pedido da pobre dama, uma vez que ela
tinha renunciado a tudo por amor a Deus e era tão santa. S. Francisco,
muito cordato, concordou: “Parece-vos que devo concordar? Se vos parece
que sim, também a mim parece.” Convidou-a então a almoçar com ele em
Santa Maria dos Anjos, a igreja onde ela havia feito seus votos e onde
tinha cortado seus cabelos, símbolo de sua entrega total a Deus. No dia
combinado, lá foi ela felicíssima, acompanhada de uma irmã. A pobre
refeição foi servida, sentando-se à mesa S. Francisco e Santa Clara, sua
irmã e um outro frade. Todos os demais frades da comunidade se
aproximaram da mesa para acompanhar a refeição. Tão logo os comensais
começaram a falar das coisas de Deus com suavidade, alegria e elevação,
eles mesmos e todos os que assistiam foram tomados pela abundância da
graça divina e ficaram extasiados em Deus. As pessoas de longe
perceberam que a casa e o bosque ao lado pareciam arder em chamas e
muitos ali acorreram, temendo que fosse um incêndio. Nada, porém,
encontraram que justificasse tanta luz, apenas um conjunto de santos
que, com fisionomias alegres e embevecidas, se entretinham num êxtase
comum e com isso glorificavam o Senhor.
A consideração desses
singelos episódios não nos trazem alívio e consolação? São manifestações
de personalidades inocentes, despretensiosas, tão distantes das
preocupações do mundo, que já vivem a atmosfera do céu.
Rir-se-á,
talvez, algum incrédulo materialista, dizendo: “Quimeras! O mundo não é
isso! É preciso trabalhar, ganhar dinheiro, progredir!” E de dentro do
quadro medieval, um dos castos personagens poderia lhe perguntar: “Mas, a
que preço?” E, se por um segundo o materialista tivesse a consciência
reta, resmungaria: “Ao preço de uma escravidão às paixões e vícios por
toda a vida, e depois uma eternidade desgraçada, de escravidão ao
demônio.”
Por Ângela Tomé.
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