[bibliacatolica]
3 maio 2012
Por Carina Caetano*
Quem são os anjos?
Anjo: do grego, ággelos (???????); do latim, ângelus, mensageiro.
Anjos
são seres espirituais puros, que não possuem corpo nem nada relativo à
matéria. Além de glorificarem a Deus por meio de sua existência, os
anjos têm missões e funções específicas que lhes foram conferidas pelo
Criador conforme o grau de força e inteligência inerente à natureza de
cada um. A Tradição e o Magistério da Igreja nos ensinam serem nove as
categorias existentes na hierarquia angélica. As teses mais embasadas
provêm do Pseudo-Dionísio, o Areopagita (entre os séculos IV e V) e de
São Tomás de Aquino (século XIII). Em ordem decrescente, são estes os
nove coros dos anjos:
1º Serafins, 2º Querubins, 3º Tronos, 4º Dominações, 5º Virtudes, 6º Potestades, 7° Principados, 8° Arcanjos e 9° Anjos.
Em toda a Sagrada Escritura encontramos menções a respeito dos anjos. Logo no capítulo 3 do Livro do Gênesis lemos
que o Senhor, após expulsar Adão e Eva do paraíso, colocou dois
querubins ao Oriente do jardim do Éden para guardar o caminho da árvore
da vida (Gn 3,24).
Independentemente do coro ao qual
pertençam, todos os anjos têm uma função privilegiada em meio à criação,
sendo, como nós, servos do Deus Altíssimo, que têm seu prazer e glória
em glorificar o nome do Senhor por meio do cumprimento da missão que
lhes foi confiada desde o princípio, seja adorando a Deus, seja
auxiliando os homens no caminho da salvação, seja combatendo os
demônios.
O que é um demônio?
Um demônio é
um ser de natureza angélica condenado eternamente. Essa deformação
deu-se por conta de um afastamento de Deus ocasionado de modo voluntário
e irreversível, como nos ensina a Santa Igreja.
Tal rebelião por
parte de alguns anjos é, de fato, irreversível, pois, diferentemente do
que acontece conosco, o pecado cometido pelos anjos é totalmente isento
de paixões, de concupiscência, fazendo assim com que tal pecado se dê
numa decisão elevadíssima do intelecto, que já não está disposto, ao
atingir determinado grau de insistência no pecado, a retroceder à
obediência a Deus.
A queda dos anjos
Assim
como ocorre conosco hoje, os anjos foram submetidos também a uma prova
antes que pudessem ter a visão beatífica de Deus, isto é, antes que
pudessem ver a Deus tal como Ele é.
Essa prova ao qual foram
submetidos os espíritos angélicos é uma constatação da misericordiosa
justiça do Criador, pois por meio dela Deus permitiu que cada um dos
anjos criados, ainda que em diferentes hierarquias, pudessem determinar
por sua própria decisão e perseverança o grau de glória com que iria
contemplar eternamente o Criador, uma vez que esse tempo de prova teria
um fim.
Segundo tese do padre espanhol José Antonio Fortea,
renomado exorcista, os anjos, ao serem criados, viam a Deus como uma luz
que reluzia fortemente acompanhada de uma voz majestosa. Apesar de
nessa ocasião eles ainda não poderem ver a essência de Deus, sabiam que
estavam ali diante de seu Criador; sabiam que lhe deviam escutar e
obedecer. Mas isso segundo a escolha e intensidade de cada um.
Em
meio a essa prova, uns foram mais fiéis, perseverantes e intensos na
busca por um elevado agrado a Deus, outros menos, e outros ainda
recusaram-se a lhE adorar e prestar obediência, estando convictos que a
submissão a Lei Divina mais lhes faria vítimas de uma tirania do que
lhes daria a liberdade e a glória que almejavam.
É também quanto a este fato que se refere o texto de Apocalipse
“7.Houve
uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O
Dragão e seus anjos travaram combate, 8.mas não prevaleceram. E já não
houve lugar no céu para eles. 9.Foi então precipitado o grande
Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do
mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos” – Ap 12,7-9.
Essa
identificação com o trecho acima se dá por que essa batalha ocorreu
entre os anjos, de forma que aqueles que queriam rebelar-se contra Deus
usavam de seus argumentos para convencer os demais de que a rebelião
seria a melhor escolha. Os anjos que haviam optado pela fidelidade a
Deus por sua vez usavam de seus motivos para convencer os rebeldes de
que a obediência a Deus, além de justa, era o que realmente lhes faria
livres e gloriosos de verdade. Segundo o exorcista espanhol, em meio a
essa batalha, houve baixa de todos os lados.
Do que foi
apresentado até aqui, podemos verificar que de fato não se trata da
batalha entre os anjos de uma batalha com armas, espadas, correntes nem
nada do que possa ser material e corpóreo. Antes, foi uma batalha
certamente intensa, porém, uma batalha puramente espiritual.
Por
isso, apesar da boa intenção de alguns, não é coerente e nem
fundamentado na caridade querer rezar pela conversão do Diabo ou de
algum ser angélico condenado, pois visto que não possuem paixões que os
empurram ao pecado como os seres humanos, sua decisão em afastar-se de
Deus é irrevogável e, apesar de seu sofrimento atual, os demônios
quiseram decididamente esse fim.
Vale dizer também que, ao
contrário do que pensam alguns, os demônios não foram atirados por Deus
num inferno, nem os anjos foram elevados a outra esfera celeste. A
batalha narrada no Apocalipse, dado o contexto apresentado, teve seu fim
quando Deus, em sua Sabedoria que excede a tudo e a todos, percebeu que
cada anjo, fiel ou infiel iria permanecer imutável na escolha que cada
qual tinha feito durante o período de prova pelo qual passara. Então,
Deus mostrou-se tal como é aos anjos que perseveraram na fidelidade e,
por outro lado, ocultou-se totalmente dos anjos que haviam rebelado-se. E
isso fez, a partir de então, com que cada anjo vivesse o seu céu e cada
demônio o seu inferno.
Portanto, terminada a prova, os anjos
deformados não podem voltar atrás em sua decisão, assim como os anjos
que permaneceram fiéis a Deus não podem um dia vir a tornar-se demônios,
pois, uma vez que possuem a visão beatífica de Deus, sua razão e sua
vontade não podem desejar outra coisa que não estar na presença do
Criador, adorando-O e contemplando-O por todos os séculos dos séculos.
Referência:
“Summa Daemoniaca, Tratado de Demonologia e Manual de Exorcistas”, por Pe. José Antonio Fortea.*Colaboração:Caio C. Pereira.
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