20/06/2012
Cardeal Bertone |
IHU - O cardeal Bertone fala com a revista Famiglia Cristiana sobre o Vatileaks e o caso IOR: "Não tenho nenhum sinal de envolvimento de cardeais ou de lutas entre eclesiásticos".
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 18-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado e principal colaborador de Bento XVI, volta a falar sobre o caso Vatileaks depois de voltar da viagem à Polônia, onde "vivi um clima totalmente diferente das mesquinhezas e das mentiras propaladas nos últimos meses". A afirmação foi feita em uma longa entrevista com o diretor da revista Famiglia Cristiana, Pe. Antonio Sciortino.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 18-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado e principal colaborador de Bento XVI, volta a falar sobre o caso Vatileaks depois de voltar da viagem à Polônia, onde "vivi um clima totalmente diferente das mesquinhezas e das mentiras propaladas nos últimos meses". A afirmação foi feita em uma longa entrevista com o diretor da revista Famiglia Cristiana, Pe. Antonio Sciortino.
"Encontramo-nos
em um momento difícil. Nenhum de nós pretende esconder as sombras e os
defeitos da Igreja. O Santo Padre continua convidando a todos nós,
começando por aqueles que desempenham papéis de responsabilidade, à
conversão da vida. Não só purificando os nossos comportamentos, mas
também aumentando a nossa dedicação à causa do bem".
Mas Bertone também
observa que "encontramo-nos em um contexto italiano, que é propalado
universalmente, onde a ressonância é muito atenuada. De fato, no
exterior, é difícil compreender a veemência de certos jornais
italianos".
No exterior, segundo o secretário de Estado,
"percebe-se melhor como a publicação de uma multiplicidade de cartas e
de documentos enviados ao Santo Padre, por pessoas que
têm direito à privacidade, constitui – como já reforçamos várias vezes –
um ato imoral de gravidade sem precedentes. E uma ofensa a um direito
reconhecido expressamente pela Constituição italiana, que deve ser
severamente observado e cumprido".
A esse propósito, o braço direito de Ratzinger se
pergunta se à tutela da privacidade do cidadão ainda é válida para a
sociedade civil: "Se quem escreve ao papa vê o seu próprio direito
constitucionalmente garantido na Itália ser violado, encontrará algum
problema. O livro publicado recentemente [Sua Santità, de Gianluigi Nuzzi]
e as cartas publicadas pelos jornais tornam mais do que nunca legítimas
diversas questões. A Constituição, o pacto que mantém um povo unido e o
torna capaz de objetivos comuns, prevê cidadãos de série A e de série
B? Se quem escreve é cristão, os seus direitos são constitucionalmente
menos garantidos do que uma outra pessoa?".
A propósito das motivações que estão por trás da operação Vatileaks, Bertone afirma: "A grande ação esclarecedora e purificadora de Bento XVI, desde quando era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em total sintonia com João Paulo II,
certamente incomodou e incomoda. A sua ação para acabar com os casos de
pedofilia no clero, para citar apenas uma temática dentre tantas,
mostrou que a Igreja tem uma capacidade de autogeneração que outras
instituições e pessoas não têm. É evidente que a Igreja é uma rocha que
resiste às tempestades. E um ponto de referência inequívoco para
inúmeras pessoas e instituições em todo o mundo. Por isso, tenta-se
desestabilizá-la".
Segundo o secretário de Estado, "muitos jornalistas brincam de imitar Dan Brown. Continua-se a se inventar fábulas ou a repropor lendas". E Bertone desmente como absolutamente falsa a notícia sobre "um monsenhor do Vaticano" que teria estado em Gênova "com o encargo de me dissuadir de aceitar a proposta do Papa Bento XVI, que me queria como secretário de Estado".
O cardeal reforça, contra a ideia da existência de lutas de poder, que, "na realidade, na Secretaria de Estado,
entre todos os colaboradores, há uma unidade de intenções, um
compromisso de colegialidade que não existe em outros lugares".
"Pessoalmente – acrescenta –, eu não tenho nenhum sinal de envolvimento
de cardeais ou de lutas entre personalidades eclesiásticas para a
conquista de um poder irreal". A dialética do debate é uma tradição da
Igreja desde os tempos dos apóstolos, que certamente não esquivavam de
defender suas próprias ideias. Sem, no entanto, se dilacerarem
reciprocamente, mas sempre reconhecendo o primado de Pedro".
Sobre o ajudante de quarto Paolo Gabriele, preso em maio passado, Bertone disse:
"Essa traição da confiança foi o fato mais doloroso... O Santo Padre
sentiu dor não apenas pela traição de uma pessoa da família e porque
documentos foram roubados, mas também porque a dialética normal e
legítima que deve existir na Igreja assume o rosto de uma contraposição
que parece querer dividir entre amigos e inimigos".
E revela: "O próprio papa pediu várias vezes, entristecidamente, uma explicação sobre as motivações do gesto de Paolo Gabriele, a quem ele amava como um filho". As investigações, lembra Bertone,
"ainda estão em andamento", e a instituição da comissão cardinalícia
que se reporta diretamente ao pontífice "demonstra a vontade de Bento XVI de oferecer toda clareza".
Quanto
a si próprio, o secretário de Estado afirma: "Eu estou no meio da
disputa. E vive esses eventos com dor, mas também vendo constantemente
ao meu lado a Igreja real, as pessoas de todos os âmbitos que me
manifestam o seu afeto e se reúnem em unidade. São inúmeras as cartas
que chegaram até mim de cardeais, prelados, simples fiéis, para me
testemunhar a sua solidariedade. Há uma tentativa obstinada e repetida
para separar, para criar divisão entre o Santo Padre e os seus
colaboradores. E entre os próprios colaboradores. Parece-me que se quer
atingir aqueles que se dedicam com maior paixão e também com maior
esforço pessoal ao bem da Igreja e da comunidade".
O Banco do Vaticano e seu diretor
Mas Bertone também aborda a questão da IOR e da demissão de Ettore Gotti Tedeschi.
"A questão do ex-presidente do IOR é clara", afirma o cardeal. "A
publicação das intervenções do Conselho de Superintendência mostra que o
seu afastamento não se deve a dúvidas internas com relação à vontade de
transparência, mas sim a uma deterioração das relações entre os
conselheiros, por causa dos posicionamentos não compartilhados, que
levou à decisão de uma mudança. Além disso, além dos escândalos passados
(que são muito enfatizados e retomados periodicamente para lançar
desconfiança sobre essa instituição vaticana), o IOR assumiu regras
precisas bem antes da lei antilavagem de dinheiro".
"O atual Conselho de Superintendência – continuou Bertone –,
composto por altas personalidades do mundo econômico-financeiro,
continuou e reforçou essa linha de clareza e de transparência, e está
trabalhando para recuperar, em nível internacional, a estima que essa
instituição merece. A função do IOR é de agir em favor
do Santo Padre, dos bispos e dos institutos religiosos, para ajudá-los a
concretizar todo o bem que a Igreja desenvolve em todo o mundo. Quando
enviamos ajudas às situações mais dolorosas, também devemos ter os
instrumentos técnicos para agir. Eu renovo a minha plena confiança nos
responsáveis do IOR. E convido a compartilhar essa confiança, porque a
vontade de transparência do IOR é inegável. Essa vontade sempre guiou de
modo particular a mim e a todos os meus colabores".
Por fim, falando do sentido desses dias difíceis, o secretário de Estado diz: "Jesus disse aos discípulos, como diz o Evangelho de Mateus:
'Bem-aventurados sois vós quando vos insultarem, vos perseguirem e,
mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim'. É isso
o que o papa e os seus colaboradores vivem. Estar cheios de alegria,
mesmo com as agressões e os sofrimentos, é uma das realidades que o
Senhor dá à Igreja e aos apóstolos hoje".
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