Dom William Lynn |
25/06/2012
UNISINOS - Pela primeira vez, um expoente da cúpula da Igreja Católica norte-americana foi condenado por encobrir padres pedófilos. Isso aconteceu na Filadélfia, onde – depois de quase duas semanas de deliberações – os 12 membros de um júri popular julgaram Dom William Lynn, de 61 anos, como culpado de "ter posto crianças em risco".
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada no sítio Vatican Insider, 23-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Lynn, de 1992 a 2004, foi o responsável pelo clero da Arquidiocese da Filadélfia e
caberia a ele apontar e investigar as acusações de abuso sexual contra
sacerdotes que estavam em contato com as crianças. Os jurados o
consideraram culpado – absolvendo-o de duas outras acusações, incluindo
de "conspiração" –, porque, embora estando a par de acusações confiáveis
contra dois sacerdotes, James Brennan e Edward Avery,
ele permitiu que eles continuassem exercendo o ministério e os
transferiu para paróquias onde os fiéis não tinham conhecimento do
risco. Os dois padres, nos seus novos cargos, continuaram molestando
crianças.
Ao longo do processo, a defesa argumentou que Lynn tinha apenas o poder de sugerir cargos e transferências dos padres da diocese, dirigida na época pelo cardeal Anthony Bevilacqua, falecido em janeiro passado aos 88 anos e a quem cabia, em última análise, a responsabilidade pelas atribuições de sacerdotes.
Ao cardeal, Lynn também havia apresentado, em 1994, uma lista com os nomes de 35 padres acusados de abuso sexual contra crianças. O cardeal Bevilacqua pediu
que a lista fosse destruída, mas uma cópia foi encontrada depois no
cofre da diocese. A acusação, porém, insistiu no fato de que Lynn optou
por proteger a Arquidiocese da Filadélfia, para evitar um escândalo que prejudicasse a imagem da Igreja, ao invés de proteger as crianças.
O veredicto contra Dom Lynn é uma vitória para o procurador distrital da Filadélfia,
que desde 2002 investiga a diocese e o seu envolvimento no escândalo
dos padres pedófilos, e para as associações das vítimas de abuso, que há
anos pediam que fossem reconhecidas as responsabilidades não apenas dos
sacerdotes molestadores, mas também daquelas pessoas que, na hierarquia
eclesiástica, os haviam protegido.
"O veredito de culpabilidade é
uma mensagem clara e forte segundo a qual proteger sacerdotes
molestadores é um crime hediondo que ameaça famílias, comunidades e
crianças, e deve, por isso, ser punido", afirmou Barbara Dorris, da associação Rede de Sobreviventes dos Abusados por Padres.
O caso da Filadélfia chega
ao fim justamente quando, em muitas dioceses norte-americanas, a Igreja
Católica está tentando evitar que os tempos da prescrição para o crime
de pedofilia – diferentes de Estado para Estado – sejam esticados ou
mesmo eliminados. Nos EUA, o escândalo da pedofilia
custou à Igreja 2,5 bilhões de dólares entre custos legais,
ressarcimentos e programas de prevenção, enquanto várias dioceses foram à
falência.
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