Fernando Lugo |
24/06/2012
USINOS - Chamado de "bispo dos pobres", Fernando Lugo
entrou para a história do Paraguai ao enfrentar a cúpula católica para
se candidatar e se tornar o primeiro presidente de esquerda do país.
A reportagem é da BBC Brasil e reproduzida pelo página eletrônica do jornal O Estado de S. Paulo, 22-06-2012.
Lugo também fez história ao quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado à frente do poder no Paraguai (incluindo os 35 anos do regime autoritário de Alfredo Stroessner, entre 1954 e 1989).
Lugo também fez história ao quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado à frente do poder no Paraguai (incluindo os 35 anos do regime autoritário de Alfredo Stroessner, entre 1954 e 1989).
Na
Presidência, perdeu sua base de apoio, enfrentou oposição ferrenha e
virou personagem do folclore político, quando vieram à tona os "filhos"
do "presidente bispo".
O conflito agrário que resultou em 18 mortes (entre camponeses e policiais) selou o destino de Lugo, cassado em um processo relâmpago de impeachment.
Em pouco mais de 24 horas, Lugo foi apeado do poder, no que foi chamado de "golpe parlamentar" por analistas e lideranças políticas do Paraguai e da região.
Eleito
em abril de 2008, o paraguaio foi um presidente solitário. Governou sem
apoio do Congresso e sob a mira de setores empresariais que
questionavam sua capacidade de conter demandas reprimidas, como a dos
agricultores dos sem-terra.
Sina
Lugo acabou
repetindo a sina de outros presidentes paraguaios, que não conseguiram
completar seus mandatos ao longo da turbulenta história do país.
Com
pouco mais de seis milhões de habitantes, o Paraguai registrou, em sua
história recente, vários hiatos de democracia e de estabilidade
institucional.
Um deles levou o ex-presidente Raúl Cubas, destituído em 1999, a pedir asilo político no Brasil, onde Stroessner também viveu asilado.
Lugo,
um novato na política tradicional, deixou o Palácio de López, a
residência oficial do presidente paraguaio, a apenas oito meses das
eleições presidenciais, após perder o apoio decisivo dos liberais, do PLRA (Partido Liberal Radical Autentico), legenda do seu ex-vice e inimigo político, Federico Franco, agora seu sucessor.
Novato
Lugo chegou
à Presidência usando seu carisma como religioso. Sua única experiência
política até ser lançado pré-candidato em 2006 tinha sido a militância
junto a movimentos sociais em sua diocese de San Pedro, uma das regiões
mais pobres do país.
Segundo observadores paraguaios, Lugo "pecou" ao não fazer alianças políticas para tentar "sobreviver" à forte oposição dos congressistas.
Apesar
de ter sido derrotado nas urnas, o Partido Colorado tinha a maior parte
dos votos no Congresso e a simpatia da maioria dos 300 mil funcionários
públicos filiados à legenda.
Quando Lugo foi eleito pela Aliança Patriótica para a Mudança,
que incluía partidos da esquerda à direita, um diplomata brasileiro
alertou a BBC Brasil sobre os problemas que viriam pela frente.
"Ele
terá que ter muita cintura política para governar com este amplo perfil
político e sem base própria no Congresso. Vai ser difícil agradar a
todos e especialmente no Paraguai", disse, na ocasião.
Filhos e câncer
Lugo sobreviveu ao cargo mesmo quando surgiram informações, em 2009, de seu primeiro filho, fruto dos tempos em que era bispo.
A
notícia provocou comoção entre os paraguaios e virou motivo de deboche e
até hit musical. O grupo de cumbia Los Angeles ganhou fama ao cantar
que 'Lugo tem coração, mas não usou condón (camisinha)".
O
então presidente e ex-bispo foi acusado por quatro mulheres de ser pai
de seus filhos, mas reconheceu reconheceu a paternidade de apenas duas
das quatro crianças.
Na Presidência, Lugo também enfrentou um câncer que o levou várias vezes à São Paulo, onde realizou o tratamento.
Publicamente, Lugo aparecia
sozinho e era visto por seus colegas presidentes como um político
"tímido e afável", que mantinha hábitos da cultura paraguaia, como falar
em guarani e tomar 'tereré' (chimarrão).
Lugo deixa
a Presidência de um país que registrou forte crescimento econômico nos
últimos (apesar da desaceleração recente), favorecido pelo boom da soja,
mas com problemas sociais.
A expectativa é que ele volte para a casa onde morava, no município de Lambaré, na grande Assunção.
Na parede, quando ainda era candidato, Lugo mantinha um quadro com a frase de Paulo Coelho: "O mundo está nas mãos daqueles que têm a coragem de sonhar e de viver seus sonhos".
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