Em
1998, os rockeiros do Cradle of Filth foram a Roma para uma
apresentação e decidiram fazer uma visita ao Vaticano. Nem um pouco
preocupados com a controvérsia, os integrantes usaram camisetas com os
dizerem "Eu amo Satanás". Em alguns instantes, foram cercados por
policiais armados que se sentiram insultados. O vocalista Dani Filth
mostrou suas credenciais do show para provar sua identidade mas
aparentemente colocou mais lenha na fogueira, já que as credenciais
apresentavam a figura de uma mulher sangrando, pregada na cruz. Eles
foram detidos por uma hora para serem interrogados, mas no final das
contas, foram liberados para se apresentar.
Gary
Numan já criticou e mostrou antipatia à religião em seus álbums
"Sacrifice", "Exile", "Pure" e "Jagged". Falando sobre as gravações, em
1994, de "Sacrifice", ele disse: "A primeira música que escrevi foi
sobre os perigos da fé cega. Quando refleti sobre minha própria falta de
fé, me surgiu a idéia de que Deus e o Diabo podem ser a mesma coisa."
Ele acrescenta: "Pessoalmente, eu não acredito nem um pouco em Deus, mas
se eu estiver errado e existir mesmo um Deus, que tipo de deus seria
esse, que nos dá esse mundo em que vivemos? Certamente não pode ser uma
divindade boa. Na melhor das hipóteses, Deus deve ser cruel e egoísta."
Quando
o clipe de Madonna para "Like A Prayer" foi lançado, em 1989, causou um
escândalo imediato. Mostra crucifixos pegando fogo, Madonna com os
estigmas de Cristo e o mais controverso, a cantora fornicando com uma
estátua viva de Santo Martinho de Porres, que muitos afirmam ser um
Jesus negro. O Vaticano e outros grupos cristãos repeliram a idéia, mas
isso só aumentou o interesse pelo clipe e garantiu seu lugar na história
do pop.
Em
uma entrevista para o The Observer, em 2006, Elton John mostrou-se a
favor de que a religião fosse "banida". Junto às farpas sobre o
tratamento dado pela igreja à homossexualidade desabafou: "Do meu ponto
de vista, eu baniria a religião completamente. A religião organizada
parece não funcionar. Transforma as pessoas em lemmings cheios de ódio e
não é misericordiosa." Também disse que líderes religiosos não estão
fazendo o suficiente para parar a guerra, ainda dizendo que: "O mundo
está quase rumando para a terceira guerra mundial, e aonde estão os
líderes de cada religião? Porque não estão em assembléia? Porque não
estão se unindo?" Podemos deduzir que o crucifixo que ele está usando na
foto é um mero enfeite!
Outro
que não se preocupa muito com controvérsia, Marilyn Manson (Brian
Warner), em seu segundo álbum, "Antichrist Superstar", de 1996, deixou
alguns religiosos tão revoltados que foram organizadas marchas de
protesto contra o disco. O álbum conceitual está cheio de conteúdo
anti-cristão, em faixas como "The Reflecting God" ("o Deus que pondera")
e em letras pesadas: "When you are suffering, know that I have betrayed
you" ("Quando você está sofrendo, saiba que eu o traí"). Anti-religião
em toda a sua carreira, Manson chocou mais com o álbum "Holy Wood (In
The Shadow Of The Valley Of Death)" ("Madeira Santa (da Cruz) [À Sombra
do Vale da Morte]") em que se via o rockeiro passando por Jesus na cruz.
"Imagine
there's no countries / It isn't hard to do / Nothing to kill or die for
/ And no religion too / Imagine all the people / Living life in peace"
("Imagine não haver países / Não é difícil / Nada pelo qual matar ou
morrer / E nenhuma religião / Imagine as pessoas / vivendo a vida em
paz"). Letras pungentes de uma das mais pungentes canções. "Imagine", de
John Lennon. Mas a parte "nenhuma religião" tem sido criticada por
grupos religiosos com o passar dos anos. Algumas covers da música
trocaram as letras para "e uma religião também" para manter os tementes
felizes, mas desrespeitando e minando o sentimento de Lennon no
processo.
Partidários
da repreensão à religião, o Slayer agravou o precedente, em 2001, com o
lançamento do controverso "God Hates Us All" ("Deus nos odeia a
todos"). Assustadoramente lançado em 11 de setembro, o título era uma
alusão à permissividade de Deus com relação a assassinatos, terrorismos e
coisas do gênero, fazendo nada para impedí-los. Além de músicas
esculhambando a religião, a capa ainda mostrava pregos em uma bíblia (o
guitarrista Kerry King queria os pregos em forma de um pentagrama, mas
isso foi reprovado pela gravadora) e foi rapidamente banida por muitas
lojas. Uma capa alternativa foi lançada em tempo.
A
banda de death metal Deicide é assumidamente anti-cristã em suas letras
e temas. O frontman Glen Benton tem uma cicatriz de cruz invertida,
feita à fogo, em sua testa, e durante 1990, prometeu cometer suicído
quando completasse 33 anos, a suposta idade em que Jesus morreu. Como
era esperado, quando completou 33 anos em 2000, não se matou. Resumindo a
posição da banda com respeito a religião, o baterista Steve Asheim
disse: "A única razão da música satânica é blasfemar contra a igreja. Eu
não acredito ou adoro um demônio. A vida já é curta o suficiente sem a
perda tempo desse negócio de oração organizada, perseverança, esperança
em algum ser superior".
Francis
Rossi, semi-calvo guitarrista e vocalista do Status Quo, deu uma
cutucada na religião, em 2003. Ele disse: "Eu não acredito mais em um
Deus que arrebenta todo mundo, eu não acredito no diabo, eu não acredito
em um ser supremo que tudo vê, tudo ama. É tudo besteira."
Um
dos maiores hits do XTC, "Dear God", de 1986 foi boicotado por várias
lojas que temiam uma revolta religiosa. De batida rápida (até o último
verso), suas letras são provocativas, com cada verso dedicado a Deus e
terminando com “Dear God, I Can't believe in you” ("Querido Deus, eu não
posso acreditar em você"). Na levada final ouve-se o vocalista Andy
Partridge declarar: “I wont believe in heaven and hell. No saints, no
sinners, No devil as well. No pearly gates, no thorny crown. You're
always letting us humans down. The wars you bring, the babes you drown”
("Eu não acreditarei em Paraíso ou Inferno. Nada de santos, pecadores ou
diabo também. Nada de portões perolados ou coroa de espinhos. Você
sempre desapontará a nós humanos. As guerras que traz, os bebês que
afoga"). Sobre a bíblia, ele canta: "Us crazy humans wrote it... I know
it ain't true and so do you" ("Nós humanos loucos que a escrevemos... Eu
sei que não é verdade e você também sabe").
A
lenda do Black Sabbath, Ronnie James Dio, causou um escândalo por conta
da capa de seu álbum de estréia, "Holy Diver", em 1982, que mostrava um
padre sendo chicoteado por um gárgula demoníaco. Pouco preocupado com a
questão, Dio respondeu às críticas sugerindo que as aparências enganam,
dizendo que poderia ser uma alegoria sobre um padre sendo corrompido
pelo mal ou simplesmente o diabo torturando um clérigo azarado.
Em
1991, Chris Cornell e sua banda Soundgarden lançaram a faixa "Jesus
Christ Pose". Embora sem atacar a religião propriamente dita, a música
condenava as pessoas que usam a religião para obter lucro ou dizer que
são perseguidos por suas crenças. O clipe elevou a discussão de alguma
forma, mostrando cruzes pegando fogo, um esqueleto crucificado e (o mais
chocante para os cristãos mais tementes), uma mulher crucificada.
O
vocalista Morgan Steinmeyer Hakansson, do Marduk, montou o grupo com o
objetivo de criar a "banda mais blasfemadora do mundo". Ele não estava
tão errado. A chocante "Jesus Christ... Sodomized" ("Jesus Cristo...
Currado") fala: “Eat his body, drink his blood and be a slave under the
yoke of god, Piss on Christ and kill the priest, follow nature - praise
the beast” ("Alimente-se de seu corpo, tome seu sangue e torne-se um
escravo sob o jugo de Deus, mije em Cristo e mate o padre, siga a
natureza e louve a besta"). Encantador. Perturbadoramente, as letras do
Marduk também lidam com o nazismo, embora a banda negue veementemente
ser partidária dos princípios do partido alemão. Talvez seu trabalho
mais perturbador seja a demo "Fuck Me Jesus".
Durante
a turnê inglesa de 1997 do Cradle of Filth, a banda de metal revelou
uma controversa camiseta em seus stands de merchandise. A estampa
mostrava uma freira de topless se masturbando e o slogan "Jesus Is a
Cunt" ("Jesus é um cabaço"), na parte de trás. Surpreendentemente, a
peça foi banida em vários países, incluindo a Nova Zelândia, em que fãs
encararam multas e sessões em tribunal por usá-la em público. Se esse
negócio de inferno existe, esses moleques estão danados pela eternidade.
Sem dúvida se sentirão à vontade, no entanto.
Assim
como o Deicide (a outra banda do vocalista Glen Benton), a banda de
death metal Vital Remains tem letras que, em quase a totalidade, são
anti-cristãs. A música "Dechristianize", de 2003 (uma faixa conceitual
sobre a "descristianização" da França durante a Revolução Francesa)
ataca selvagemente a religião: “I deny god and all religion... Turn up
the whites of their eyes... Dechristianize... Dechristianize!” ("Eu nego
Deus e toda a religião... Revirem os olhos deles... Descristianizem...
Descristianizem!"). As capas de seus álbuns tem o mesmo tom, notadamente
a chocante arte de "Icons Of Evil", de 2007, que mostra uma figura
gigante dando uma marretada no corpo de Cristo na cruz.
Aclamados
na Suécia, a banda de death metal pesado Aeon parece conter o suposto
espírito do próprio Lúcifer quando declamam suas letras. "God Gives Head
In Heaven", do álbum "Bleeding The False", resume o espírito em frases
venenosas como: "Forced to fuck your God, He wants it up his ass..."
("Forçado a foder seu Deus, ele quer na bunda...") "Biblewhore" é
igualmente chocante: “I laugh at you bible whores, Slave bastards you
are, Living a lie under god (sounds like living the life on the cock), I
laugh at your Jesus Christ, Open your eyes, He looks so pathetic weak
nailed to his cross” ("Vocês me fazem rir, putas-de-bíblia, escravas
bastardas que são, vivendo uma mentira por Deus (parece mais vivendo por
uma pica), seu Jesus Cristo me faz rir, abra seus olhos, ele parece tão
patético, fraco, pregado em sua cruz").
Apesar
do nome, o Bad Religion afirma não ser totalmente ateísta. Na verdade,
usam a religião como uma analogia a opressão. Greg Graffin comenta que:
"Fé no seu parceiro, nos homens, em seus amigos, é muito importante...
Mas fé em líderes religiosos ou políticos, ou mesmo em pessoas que sobem
ao palco, pessoas famosas, você não deve ter fé nessa gente." Mesmo
assim, a impactante letra “A bounty of suffering, It seems we all
endure, And what I’m frightened of, Is that they call it 'God’s love'”
("Um prêmio de sofrimento, parece que todos carregamos, e o que me
assusta, é que chamam isso de ‘amor divino’"), da música "God's Love",
por exemplo, parece contradizer totalmente esse comentário.
Do
álbum de 2001, "Land of the Free", do Pennywise, a música "My God" é
uma crítica pungente contra o Deus monoteísta. O vocalista Jim Lindberg
critica o pensamento religioso lançando “Your god is a mirage, a
conspiracy, you pray for forgiveness cause your sinnin', Scared to death
so your money you'll be givin'” ("Seu deus é uma miragem, uma
conspiração, você reza pelo perdão porque está pecando, morrendo de
medo, então dá o seu dinheiro"). Atacando diretamente as organizações
religiosas, Lindberg continua: “Organized religion pulls the blinds then
they pull the wool, they open up your head, they're fuckin' with your
mind, now you can't see because you're blind” ("As organizações
religiosas trazem os cegos, e puxam o novelo, abrem sua cabeça, eles
fodem com sua mente, e então você não entende porque está cego").
A
banda finlandesa de black metal ocultista Thy Serpent ridicularizou o
cristianismo de forma agressiva com sua música "Christcrusher" (do álbum
homônimo), de 1998. Não só rejeitam a religião, mas aparentemente, seu
ódio é bem mais enraizado do que isso. Cantam: "I can't follow Jesus
Christ, The biggest liar of the light, I don't need your fucking bread,
Share that with the sheeps... Thousands of heathens were murdered, By
Christian hands, And what they have told us, Bastards of Un-divine God,
Lies, Lies, Lies" ("Não posso seguir Jesus Cristo, o maior mentiroso da
luz, não preciso da merda do do seu pão, divida-o com as ovelhas...
Milhares de pagãos foram assassinados por mãos cristãs, e o que nos
disseram os os bastardos do Deus não-divino foram apenas mentiras,
mentiras, mentiras").
O
artista Larry Carroll, pintou a arte de capa para o disco de 2006 do
Slayer. Um Jesus Cristo com um olho só, com as mãos cortadas, sangrando,
em uma macabra paisagem de sangue e cabeças decaptadas. O membro Kerry
King gostou tanto que comprou a pintura original para sua coleção
pessoal. Vários líderes religiosos não compartilhavam do mesmo
entusiasmo pela obra, e, em coro, taxaram de "sacrilégio". Um grupo
cristão inclusive, prestou queixa na polícia. Pouco depois, foi lançada
uma desafiadora capa para a edição especial, que mostrava uma mão
sangrando, com o estigma de Jesus.
O
álbum clássico de metal "Arise", da banda Sepultura, lançado em 1991,
alude à religião indiretamente: "Face the enemy, Manic thoughts,
Religious intervention, Problems remain” ("Encare o inimigo, intervenção
religiosa, os problemas persistem"). Mas foi o clipe que causou o maior
estrago. Gravado no gelado Vale da Morte e estrelando personagens à
semelhança de Cristo na cruz usando máscaras de gás, é um clipe icônico.
Foi rapidamente (e supõe-se que previsivelmente) banido da MTV que
parecia preocupada em irritar os cristães conservadores.
A
criatividade de Glenn Danzig, da banda com seu nome, Danzig, funde
heavy metal extremo com letras pesadas que geralmente miram a religião.
Em "Snakes of Christ", de 1990, grita: “Serpent Jesus, Snake of Christ,
Nailed to a cross Of a holy design... Gonna build you A world of lies”
("Jesus serpente, cobra de Cristo, pregado à cruz de design divino...
Vou construir pra você um mundo de mentiras"). Apesar da acusação de ser
satanista, Danzig sempre negou. Ele diz que é espiritual mas rejeita
todas as organizações religiosas e, mesmo fascinado com o mal e Satanás,
não acredita nele também.
Em
uma entrevista para o Evening Standard, em 1966, John Lennon advertiu o
jornalista Maureen Cleeve:"O cristianismo vai sumir. Vai desaparecer e
encolher. Eu não sei o que vai primeiro, o rock n' roll ou o
cristianismo... (Os Beatles são) mais populares que Jesus agora."
Ninguém reparou nos comentários até que foram impressos na revista teen
"Datebook". A reação teve proporções bíblicas. Álbuns dos Beatles foram
queimados em público, rádios de circuitos cristãos baniram suas músicas e
shows foram cancelados. No fim das contas, Lennon foi forçado a pedir
desculpas em uma conferência para a imprensa.
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