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Cork, Irlanda, 10 Jul. 2012 – CNA – Tradução: Fratres in Unum.com
– O Cardeal Raymond Leo Burke acredita que o uso “excessivo” da
concelebração — prática em que sacerdotes rezam a Missa coletivamente —
pode resultar no obscurecimento de seu papel único na sagrada liturgia.
“Não creio que deveria haver um excessivo estímulo à concelebração porque a norma é que o padre ofereça individualmente o Santo Sacrifício da Missa” , afirmou à CNA, em 9 de julho, o chefe do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica.
“Se isso se repete tão frequentemente,
pode-se desenvolver dentro dele um sentido de ser um dos participantes, e
não realmente o sacerdote que está oferecendo a Missa”.
Um dos mais importantes prelados
americanos da Igreja Católica falou à CNA instantes depois de discursar
em uma conferência litúrgica internacional na cidade irlandesa de Cork. O
evento de três dias, organizado pela Sociedade St. Colman para a
Liturgia Católica, aprofundou o assunto “Celebrar a Eucaristia:
Sacrifício e Comunhão”.
O Arcebispo emérito de St. Louis se preocupou com o fato de, considerando que a ação do sacerdote é distinta, ele “poder parecer estar participando da Missa da mesma maneira que a assembléia” se concelebra muito frequentemente. “Esse é o perigo que vejo na excessiva concelebração”, declarou.
As palavras de advertência do cardeal ecoam os comentários feitos recentemente pelo responsável pela Congregação vaticana para o Culto Divino, o Cardeal Antonio Cañizares. Ele afirmou em um encontro na Universidade da Santa Cruz, em Roma, no dia 5 de março, que a “ampliação da faculdade de concelebrar precisa ser moderada, como podemos ver quando lemos os textos do Concílio (Vaticano II)”.
O Cardeal Cañizares explicou que a
concelebração “é um rito extraordinário, solene e público, normalmente
presidido pelo bispo ou seu delegado”, cercado por seus padres e por
toda a comunidade. Mas “a concelebração diária exclusivamente por padres, que são praticadas ‘privadamente’… não fazem parte da tradição litúrgica latina“, disse.
Em uma ampla entrevista, o Cardeal Burke também resumiu as razões pelas quais o padre não
deve improvisar suas próprias palavras ou orações durante a Missa, uma
vez que ele “é o servo do rito” e “não o protagonista — Cristo o é”.
“Então, é absolutamente errado para um
padre pensar, ‘como posso fazer isso mais interessante?’ ou ‘como posso
fazer isso melhor?’”, afirmou.
Ele também observou favoravelmente como o Código de Direito Canônico de 1917 — posteriormente substituído por um novo código promulgado em 1983 — explicitamente afirmava que o padre deveria “acurada
e devotamente observar as rubricas de seus livros litúrgicos, tomando
cuidado para não acrescentar outras cerimônias ou orações segundo o seu
próprio juízo“.
“Que tipo de pensamento é esse de nossa parte para que eu ache que posso melhorar a liturgia que foi transmitida na Igreja ao longo dos séculos? Isso é absurdo“, disse o Cardeal Burke.
Igualmente, o Cardeal elogiou o Código de 1917 por sua clara determinação de que o padre em estado de pecado mortal deveria se abster de celebrar a Missa
“sem antes se beneficiar da confissão sacramental” ou, fazê-lo o quanto
antes, “na ausência de um confessor”, quando a Missa é “um caso de
necessidade” e ele “fez um ato de contrição perfeita”.
“Bem, esse cânone que estava no Código de 1917 foi eliminado e creio que deveria ser reintroduzido, porque a idéia de dignidade pertence de maneira preeminente ao sacerdote que está oferecendo o sacrifício”, afirmou.
O prelado de 64 anos, de Wisconsin (EUA),
agora reside em Roma, onde é um próximo colaborador do Papa Bento XVI.
Como o atual pontífice, o Cardeal Burke também crê que toda reforma da
sagrada liturgia “tem de ser enraizada nos ensinamentos do Concílio Vaticano II” e “devidamente unida à Tradição” da Igreja.
Isso significa evitar ou remover várias inovações, inclusive o uso regular das “Celebrações da Palavra” conduzidas por leigos ou religiosos quando uma paróquia não tem padres para oferecer a Missa dominical.
“Não é bom para o povo participar
repetidamente desse tipo de celebração no domingo, porque eles perdem o
sentido de que o Santíssimo Sacramento, a Sagrada Comunhão vem do
sacrifício“, explicou.
Ele recordou seus primeiros anos como
bispo, quando insistiu para que as paróquias reestabelecessem a Missa
semanal e foi respondido por paroquianos de que eles preferiam “a Missa do diácono” ou a “Missa da irmã”.
O uso excessivo de tais celebrações, sugeriu, também pode desencorajar as vocações sacerdotais,
na medida em que a separação da Eucaristia “da vocação e missão do
padre, que é primeiramente a de oferecer o Santo Sacrifício da Missa”,
significa que um jovem que é chamado ao sacerdócio “não vê mais
diante de seus olhos a identidade da vocação à qual está sendo chamado”.
Em consequência, o número de vocações “despenca”.
O ministro da justiça da Igreja também acredita que há uma direta correlação entre “a
hesitação” em aplicar penalidades canônicas nas últimas décadas e “os
abusos e a violação da lei da Igreja” que ocorreram no âmbito litúrgico.
Tais penalidades, explanou, são
“primeiramente medicinais”, voltadas para “chamar a atenção da pessoa
para a gravidade do que está fazendo e chamá-la de volta”.
“As penas são necessárias” , disse ele.
“Se nos 20 séculos de vida da Igreja sempre houve necessidade de sanções, por que em nosso século deveríamos repentinamente pensar que elas não são necessárias? Isso é um absurdo“.
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