[ipco]
27 julho 2012
Índios
autênticos e falsos, internet, mega-organização, ONU e Rio+20 são
ingredientes jogados num caldeirão para produzir a desestabilização do
que ainda resta de civilização cristã no Brasil
Cid Alencastro
Primeira etapa. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ligado à
CNBB, em colaboração com a política indigenista do governo petista
representada pela FUNAI, procuram convencer-nos de que os índios
deveriam viver isolados da civilização, confinados em “reservas”
destinadas a preservar suas “tradições”. É o conluio da neomissiologia
com o indigenismo neopagão.
Segunda etapa. “Descobriram” que os índios precisavam de terras,
muitas terras, e que cabia ao governo demarcar áreas indígenas,
expulsando para isso legítimos proprietários, empregados, agregados e o
que mais fosse.
Agora começa a esboçar-se a terceira etapa do plano: juntar os índios
(autênticos ou fabricados, pouco importa) em organizações de caráter
nacional ou internacional, para reivindicarem seus “direitos”. Esqueçam o
arco, a flecha e o cocar. Isso é só para a fotografia. O instrumento
atual é a internet.
Não é preciso ser muito atilado para perceber que a etapa
seguinte será lançá-los contra o que resta de civilização cristã no
Brasil e na América Latina.
Não, leitor, não estamos sonhando. Oxalá fosse!
O plano já foi previsto em 1976 na profética obra Tribalismo Indígena
– Ideal Comuno-Missionário para o Brasil do Século XXI, de Plinio
Corrêa de Oliveira. As diversas etapas estão em curso.
Vejamos alguns lances esclarecedores dessa ofensiva.
Expulsando os fazendeiros
Depois de uma sequência bem orquestrada de invasões de propriedades
por indivíduos que se diziam índios, o Supremo Tribunal Federal,
atendendo um pedido antigo da FUNAI, anulou 186 títulos de propriedade
no sul da Bahia, alegando tratar-se de reserva indígena.
“Nunca houve índio aqui, mas agora dizem que tem, e eu e meus nove
irmãos perdemos tudo porque o título de terra na Bahia não vale nada”,
disse Paulo Leite, um dos líderes ruralistas do município de Pau
Brasil. “É um absurdo e uma injustiça muito grande. Foram terras que
foram compradas, ninguém é grileiro aqui”, reclamou o fazendeiro
Lissandro Resende.(1)
Alguns fazendeiros estão nas terras há mais de 40 anos, com títulos emitidos pelo governo do estado.
Ante o êxito obtido na Bahia o movimento se estendeu para o Mato
Grosso do Sul, onde fazendas passaram a ser invadidas na região do
Pantanal.(2)
Em artigo intitulado Contra as decisões subjetivas da FUNAI, o
deputado federal Rubens Moreira Mendes Filho (PSD-RO) afirma: “Sem ouvir
outros interessados e entes da Federação, a Funai sempre define terras a
serem demarcadas sem diálogo, sem controle e sem limitações, baseada
apenas em elementos cada vez mais subjetivos e sem o aval do Congresso
Nacional. O caso de terras indígenas é exemplo dos desmandos que se
tornaram frequentes nessas demarcações”.
Em outro trecho, referindo-se à ecologista Marina Silva, diz que os
argumentos dela “interessam a quem quer tornar ideológico o debate e
vencer longe das regras democráticas”.(3)
Articulação internacional usando o skype
Desafiando as fronteiras nacionais, indígenas de países
latino-americanos estão se articulando de forma inédita na oposição a
obras que afetam “seus” territórios, e adotam políticas transnacionais
de integração. Com o auxílio de tecnologias modernas e conexões
históricas, diferentes grupos de índios têm procurado unificar posições
em organizações internacionais como a ONU e a OEA (Organização dos
Estados Americanos). “Estamos mapeando todas as conquistas dos nossos
parentes (povos indígenas) no continente para aproveitarmos as
experiências deles aqui no Brasil”, afirma Marcos Apurinã,
coordenador-geral da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira).
Essa articulação tem sido liderada pelas grandes organizações
indígenas nacionais e por movimentos regionais, que agregam grupos do
Equador, Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Peru,
Suriname e Venezuela. Além de dialogar em reuniões internacionais sobre
desafios comuns, indígenas latino-americanos têm usado a internet para
alinhar posições.
Tashka Yawanawá, líder da Associação Sociocultural Yawanawá, que atua
no Acre, mantém um blog e usa a internet para fazer videoconferências
com povos de países vizinhos. Nos últimos dias, ele diz ter conversado
pelo skype com índios peruanos.(4)
Diplomacia para ganhar força
Índios agora usam diplomacia como nova arma em luta por
direitos. Para ampliar o arsenal dos índios em suas disputas com
governos e empresas, a maior organização indígena da bacia amazônica tem
estimulado movimentos afiliados a recorrer a organismos internacionais.
A estratégia motivou a criação de uma Oficina de Formação em Diplomacia
Indígena.
Segundo o coordenador técnico da Coordenação das Organizações
Indígenas da Bacia Amazônia (Coica), Rodrigo de la Cruz, “com uma
diplomacia unificada os indígenas ganham força e seus pleitos têm maior
ressonância em organizações internacionais simpáticas a suas causas,
como a ONU e a OIT (Organização Internacional do Trabalho)”.
Outro mecanismo apresentado aos líderes indígenas foi sua
possibilidade de acionar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
órgão vinculado à Organização dos Estados Americanos (OEA), quando
julgarem que os Estados nacionais não resguardaram seus direitos em
algum caso.(5)
Na Rio+20
Na chamada “Cúpula dos Povos”, evento paralelo à Rio+20, que se
reuniu no aterro do Flamengo, a presença de índios teve muito
propaganda.
Já em previsão dessa presença, Marcos Apurinã, coordenador-geral da
Coiab informava: ”Estamos nos articulando para que o mundo nos ouça,
através de estratégias de comunicação e da internet. Não estaremos tanto
na agenda oficial [da conferência], mas estaremos em salas, em
palestras, divulgando a nossa causa”.(6)
Durante o evento, “Bemok Txucarromae, da etnia caiapó operava uma
câmera Sony profissional, com lente, e cartão de memória. E ele era
apenas um dos vários ‘índios hi-tech’ que invadiram o aterro do
Flamengo. ‘Trabalho com edição de vídeo há dois anos, e hoje estou aqui
para fazer imagens para o Instituto Raoni’, explicou Bemok.
“Uma legião indígena empunhou câmeras e celulares para registrar o
ponto alto do evento: a chegada do cacique Raoni. Um dos que estavam
registrando ansiosamente o ídolo era Kawuã Pataxó: ‘A gente tem celular,
tem câmera, computador, a gente sabe mexer em tudo isso. É importante
registrar, até porque sou coordenador de uma escola indígena e vou
passar isso tudo para os alunos depois’”.(7)
O espetáculo da presença indígena faz as delícias da mídia: “A maciça
presença de índios na Rio+20 e as manifestações ocorridas no Centro da
cidade ganharam destaque nos sites dos mais importantes jornais
internacionais. O ‘Le Monde’, por exemplo, publicou fotos de índios no
metrô, e com seus arcos e flechas no meio do trânsito, protestando
contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. A página do ‘The
Guardian’ também destacou o protesto indígena e mencionou a Marcha das
Mulheres”.(8)
* * *
Tudo isso constitui o polo oposto da magnífica obra evangelizadora do
Beato Anchieta e de muitos outros missionários autenticamente
católicos, que se dedicaram aos índios com tanto esforço e tanto amor,
dos quais somos admiradores. Propugnamos o retorno à missiologia
católica tradicional, esteio fundamental de nossa gesta civilizadora,
que plasmou a nacionalidade brasileira. Só ela é verdadeiramente
favorecedora dos índios.
A nova missiologia quer usar os indígenas como massa de manobra para a
luta de classes ou, melhor dizendo, para a luta de raças, golpeando a
propriedade e a civilização cristã.
____________________
Notas:
1. Agência de Notícias da Policia Federal, 3-5-12.
2. “O Estado de S. Paulo”, 7-5-12.
3. “Folha de S. Paulo”, 26-4-12.
4. “Agência Estado”, 23-4-12
5. Idem, ibidem.
6. “O Estado de S. Paulo”, 25-4-12.
7. “Portal Terra”, 15-6-2012
8. “O Globo”, 19-6-2012
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