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24 julho 2012
Enigma: profecias falham, mas “profetas” seguem pregando que é preciso pôr fim à sociedade rica e produtiva |
Luis Dufaur
Quando jovem morei em Roma. Os imprevistos da vida me faziam passar com frequência diante de certo palazzo romano, não longe do Lungotevere.
Dentre as inúmeras peculiaridades dos palazzi romani, aquele entretanto me intrigava. Sobretudo uma placa junto ao pórtico de entrada. Nela estava escrito: Clube de Roma.
Em alguma parte, eu lera que esse Clube anunciara o esgotamento do petróleo para 1980
e a urgência de uma reformulação mundial do conceito de crescimento
para o planeta. Em verdade, eu não me preocupava muito se aquilo era uma
turma de esquisitos, se um boato jornalístico ou confusão minha.
Um dia, falando com um professor, comentei a placa, meu desinteresse e
minha interrogação sobre o tal clube. Ele me respondeu muito seriamente
que se tratava de algo de muito peso, sustentado por Cresos famosos
cujos nomes ele declinou como se fossem nomes sagrados. E eram
potentados mesmo!
Sempre que por lá passava, eu fitava fortuitamente aquela placa
misteriosa. Se os homens que comandavam então a economia e as finanças
achavam que o mundo não duraria muito, então o clube deveria estar
fervilhando de homens atarefados, carregando pesados relatórios com o
quadro de suas graves preocupações.
E sem embargo o palazzo dormia no dolce far niente romano.
Foi na Eco-92 que li alguma coisa do tal Clube. Sob o título “Limites do Crescimento”, ele anunciava o esgotamento
dos recursos da Terra em breve prazo e exigia o congelamento do
desenvolvimento econômico do mundo, além de um drástico controle da
natalidade visando deter o consumo de bens materiais. Editado em 1972, o livro vendeu mais de 30 milhões de exemplares em 30 idiomas.
Também fiquei sabendo que, aplicando a tese do livro, o presidente
americano Jimmy Carter profetizou: “Nós poderemos ter esgotado as
reservas de petróleo conhecidas no mundo todo lá pelo fim da próxima
década”.
Novas jazidas e tecnologias: futuro energético tranquilizador |
As predições do Clube de Roma revelaram-se
de tal maneira exageradas que achei que ele tinha fechado. Mas descubro
agora na Wikipédia que o mesmo segue com as velhas teses e conta com
uma equipe de patrocinadores de renome.
Ao mesmo tempo, leio em “Veja” que não só o petróleo não acabou como é obvio, mas que as reservas conhecidas estão aumentando de modo impressionante.
A quem serve o tão alarmismo, como o espalhado pelo Clube de Roma, sobre a extinção dos recursos da Terra, o qual contraria toda a verdade objetiva?
As razões não são de ordem econômica ou científica, mas de um
conjunto de ideias que ficam na penumbra e que aparecem cá e lá pela
boca de alguns arautos mais imprudentes: um socialismo utópico com muita
coisa de religião, desenvolvido de modo “sustentável” – é claro – numa
taba mais ou menos comunista.
Eis, entrementes, alguns excertos do artigo “Uma nova era do petróleo está a caminho”, da jornalista Clara Costa, da revista “Veja”, 15/07/2012, que desfazem esse alarmismo:
Um estudo recém-publicado sobre o volume das reservas de petróleo – e as novas descobertas no mar, nas rochas e nas areias – está causando alvoroço no mundo acadêmico.
Intitulada “Petróleo: A nova Revolução”, a pesquisa feita pelo pesquisador italiano Leonardo Maugeri afirma categoricamente que não só o fim da era do petróleo está longe, como o aumento da capacidade de produção alcançará quase 20% nos próximos oito anos – uma taxa de crescimento que não se vê desde a década de 1980.
Maugeri redigiu o relatório durante o ano sabático que tirou para estudar na Universidade de Harvard. Até então, o italiano era um dos altos executivos da petrolífera ENI, a maior empresa do setor em seu país.
“Ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, a capacidade de fornecimento de petróleo está crescendo mundialmente a níveis sem precedentes, e que poderão até superar o consumo”, diz em seu estudo.
A argumentação de Maugeri é calcada em dois pontos que se interligam.
Novas tecnologias tornam rentáveis
jazidas antes menosprezadas ou inacessíveis
O primeiro é a descoberta de novas reservas no mundo ocidental – não apenas de petróleo convencional, como é o caso do encontrado na camada pré-sal brasileira, mas também de jazidas de gás da rocha xisto, nos Estados Unidos, e as areias betuminosas do Canadá.
Segundo ponto defendido pelo pesquisador: que o surgimento de fontes não-convencionais fará com que o Ocidente transforme-se no novo “centro de gravidade” da produção e exploração de petróleo global, diminuindo a dependência da oferta proveniente do Oriente Médio.
Segundo o pesquisador, estima-se que haja no planeta 9 trilhões de barris de combustível fóssil não-convencional. O mundo tem capacidade para produzir, atualmente, 93 milhões de barris por dia – ou 34 bilhões de barris/ano.
Maugeri não sugere que o Iraque ou a Arábia Saudita terão queda em sua capacidade de produção. Muito pelo contrário. As perspectivas para ambos os países são de um acréscimo de 6 milhões de barris/dia de petróleo até 2020.
Contudo, graças ao avanço da oferta no Ocidente, ele argumenta que o mundo ficará menos sujeito à volatilidade de preço do barril trazida por questões geopolíticas que afetam os países árabes.
Para os Estados Unidos, Maugeri estima que a capacidade de produção passe, dentro de oito anos, dos atuais 8,1 milhões de barris/dia para 11,6 milhões de barris/dia.
Em outras palavras, o país deve desbancar a Rússia e se tornar o segundo maior produtor de petróleo – os sauditas seguirão na liderança.
Gás de xisto nos EUA
No caso do Brasil, Maugeri prevê que a capacidade de produção deverá sair de 2 milhões de barris/dia para 4,5 milhões de barris/dia em 2020 devido à exploração do pré-sal.
Avanços tecnológicos – O estudo do pesquisador italiano foi taxado de otimista por parte da comunidade acadêmica. A principal crítica de estudiosos está no fato de Maugeri ter minimizado os riscos e os desafios de investimento nos avanços tecnológicos necessários para extrair petróleo de fontes não convencionais.
Maugeri, contudo, fez a conta. Segundo ele, mesmo com um barril de petróleo cotado a 70 dólares – hoje o contrato para agosto do produto sai por 87,10 dólares o barril nos EUA e 102,40 dólares por barril no mercado europeu –, a extração de toda essa nova capacidade será lucrativa.
“É preciso pensar que o petróleo ‘fácil e barato’ de hoje não era tão fácil e barato quando foi descoberto”, diz ele.
O estudo que publicou em Harvard aponta que 2012 não encontra precedentes em aportes de recursos no desenvolvimento de novas tecnologias de extração e produção. Até o final do ano, serão 600 bilhões de dólares em investimentos – um recorde que deverá implicar melhora de eficiência nos próximos anos.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também cita o gás de xisto nos Estados Unidos como exemplo do que está por vir. Há dez anos, o uso deste produto como fonte de energia era praticamente inexistente no país e hoje representa mais de 23% da oferta de combustível.
Produção de gás poderá superar consumo
“Muitos acreditam que poderá até mesmo haver uma superoferta de gás em 2017”, explica Pires. Na edição desta semana, a revista britânica Economist discorre sobre o gás natural (em especial, o de xisto nos EUA) em 14 páginas de reportagem. O estado de Dakota do Norte, onde está localizada a reserva de Bakken, a maior fonte americana de gás, é considerado o eldorado do emprego no país.
Um lugar para os “verdes” – O peso das previsões alarmistas sobre o fim da era do petróleo tende, portanto, a perder força.
Mas é verdade também que toda a gama de fontes renováveis de energia – vistas como um contraponto ao uso de combustíveis fósseis – terá seu lugar garantido no futuro.
Os ambientalistas podem até exercer pressão pela prevalência dos combustíveis “verdes”, mas a continuidade dos investimentos no segmento está assegurada por uma combinação de fatores sociais, econômicos e geopolíticos.
Matriz diversificada – O fator mais relevante, contudo, chama-se legislação. Governos de diversas nações tanto podem, por força de lei, inibir determinados tipos de exploração quanto viabilizar fontes renováveis.
Se a natureza “não presta” para justificar ambientalismo, caia a lei sobre ela e os “consumistas”. Foto: Dia Mundial do Meio Ambiente, Wilson Dias-ABR |
Está fora de discussão que novas fontes energéticas mais limpas,
menos poluentes, alternativas eficazes, etc., devem ser bem-vindas desde
que se mostrem proporcionalmente rentáveis e não tragam danos ao
ambiente como as eólicas atuais na Europa.
Mas a frase final do excerto que acabamos de reproduzir explica muita
coisa do procedimento do “ambientalismo” radical. Tratar-se-ia para
eles de concentrar suas pressões sobre os governos para obter o que não
obteriam de outra forma.
Qual forma? A civilizada: mostrando os benefícios, argumentando, convencendo a sociedade livre. E não aterrorizando com boatos e outros artifícios de propaganda.
Mas convencer está ficando duro para o ambientalismo. É só ver como a
hipótese do “aquecimento global” perde adeptos, e dos mais graúdos!
Então, os ambientalistas passam por cima da sociedade e tentam introduzir leis que caiam como pedras sobre ela.
Isso me fez pensar no Código Florestal, levando-me a entender melhor o que está se discutindo em Brasília. O que acha o leitor?
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