ipco
8 julho 2012
Luis Solimeo
“Católicos passam de 93,1% para 64,6% da população em 50 anos − Entre 1960 e 2010, o Brasil viu a parcela de sua população que se declara católica cair de 93,1% para 64,6%”. [1]
“Em uma década, católicos perdem mais espaço para os evangélicos. − Entre
2000 e 2010, fatia de católicos cai 12% no total da população
brasileira; parcela dos evangélicos cresce 43% e de pessoas sem religião
sobe 10%”. [2]
Notícias alarmantes, que, entretanto, parece não terem alarmado os Srs. Bispos do Brasil, como veremos.
Essa queda não é algo que aconteceu da noite para o dia, a ponto de
pegar os Bispos brasileiros de surpresa; nem algo imprevisível, mas
resultado de um processo longo, embora se tenha acelerado nas últimas
décadas.
Detenhamo-nos um pouco na análise dos números, para depois investigar as causas desse declínio.
“A maior nação Católica do mundo”
O Brasil foi descoberto e colonizado por Portugal, uma nação
católica. Os primeiros missionários foram os Padres Jesuítas ainda
cheios do zelo inicial de sua fundação. O catolicismo marcou toda a vida
do país, fazendo dele a maior nação Católica do mundo, não só em
números absolutos, como também em termos percentuais, em relação às
demais religiões.
O crescimento do protestantismo, do espiritismo, de religiões
orientais ou afro-brasileiras, bem como do número de pessoas sem
religião, foi lento no país até algumas décadas atrás. Em cem anos,
segundo os dados do primeiro censo realizado no Brasil em 1872, até os
dados do censo de 1970, verifica-se que a proporção de católicos variou
apenas 7,9 pontos percentuais, reduzindo de 99,7%, em 1872, para 91,8%
em 1970.[3] E ainda assim, segundo sugerem estudos acadêmicos, pelo menos parte desse aumento de não-católicos se deveu à imigração.[4]
A partir dessa última data (1970), o crescimento das demais religiões
e a diminuição do numero de católicos acelerou-se de modo acentuado e o
último censo que acaba de ser divulgado, correspondente a 2010, revela
que a porcentagem dos católicos caiu para 64,6%. Portanto, nos últimos
40 anos, a Igreja teve uma perda de fiéis de quase 30% (precisamente,
27,2%).
Acresce a esse quadro que o número de católicos praticantes nesse mesmo período oscilou entre 5 e 10%.[5]
Ao mesmo tempo, o protestantes passaram de 6,6% em 1980 para 22,2%, sendo que o maior crescimento foi o do Pentecostalismo.
Embora se apresentem razões sociológicas para explicar tal mudança no
quadro religioso do Brasil (migrações maciças da zona rural para as
periferias urbanas e maior facilidade nos últimos anos de formação de
núcleos pestecostais para acolher os desenraizados), tais explicações
são superficiais e não pegam o fundo do problema. Tanto mais quanto o
aumento protestante pentecostal deu-se também nas zonas rurais do país:
em termos percentuais, a maior concentração protestante se verificou em
Rondônia (33,8%), um Estado do noroeste do país, típicamente rural.
Teologia da Libertação: simples coincidência?
É bem evidente que as razões mais profundas que explicam a perda de
fiéis pela Igreja Católica são de caráter religioso e devem ser
procuradas na crise que abala a Igreja no Brasil (como por quase todo o
mundo).
Não é simples coincidência que a aceleração da perda dos fiéis pela
Igreja, na década de 1970, se tenha dado ao mesmo tempo em que se
disseminavam entre o clero e o episcopado os princípios da Teologia da
Libertação. Como essa “teologia” confunde a libertação espiritual com a
libertação política, e o estabelecimento do “Reino de Deus” na terra com
a implantação uma sociedade socialista e igualitária, os sermões nas
igrejas, em sua maioria, assim como os temas das Campanhas da
Fraternidade promovidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), referem-se mais a luta de classes e reformas político-sociais e
econômicas do que ao Evangelho.
Tomemos um exemplo concreto. O boletim da Conferência Episcopal assim descreve a Campanha da Fraternidade de 2010 :
“Lema: Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6,24)
Tema: Economia e Vida
Objetivo Geral:Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão”.[6]
Objetivo Geral:Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão”.[6]
Como se vê, não se econtram referências à vida eterna, à salvação das
almas, ao pecado, Céu e Inferno. É um linguajar puramente político, de
luta de classes, que espanta os fiéis desejosos de ouvir falar das
verdades eternas. A referência a “uma sociedade sem exclusão” baseia-se
no conceito marxista de que a riqueza dos ricos é constituída mediante a
exclusão ou opressão dos pobres. (Sem querermos nos aprofundar, notemos
de passagem o caráter “ecumênico” dessas campanhas, que colocam a
Igreja Católica não como a única Igreja de Cristo, mas apenas como uma
das “Igrejas Cristãs”, entre outras. Isso não facilita o proselitismo
das seitas protestantes?).
O hino da Campanha dos Bispos para este ano tem a seguinte estrofe:
“Levem a todos meu chamado à liberdade (Cf. Gl 5,13)
Onde a ganância gera irmãos escravizados.
Quero a mensagem que humaniza a sociedade
Falada às claras, publicada nos telhados. (Cf. Mt 10,27).”[7]
Onde a ganância gera irmãos escravizados.
Quero a mensagem que humaniza a sociedade
Falada às claras, publicada nos telhados. (Cf. Mt 10,27).”[7]
Em suma, a Teologia da Libertação é um veículo religioso a serviço da
revolução, conforme a apresentava o Pe. Gustavo Gutierrez, considerado o
“pai” dessa corrente, em seu livro Teologia da Libertação, de 1971:
“O homem latino-americano … na luta revolucionária liberta-se de algum modo da tutela de uma religião alienante que tende à conservação da ordem.”[8]
Considerarando a Santa Igreja uma “religião alienante” (conceito marxista: “A religião é ópio do povo”, na frase de Marx), os teólogos da libertação e seus seguidores procuram construir uma igreja “desalienada”, que tende, não “à conservação da ordem” mas à sua subversão.
A consequência é que os fiéis, cansados dessa “religião desalienada”,
revolucionária e materialista, centrada em questões econômicas e
sociais, acaba muitas vezes apostatando tragicamente, da única e
verdadeira Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vão procurar alhures as
palavras de conforto da religião e de guia para sua vida moral: “A quem
iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).
Acordarão, por fim, os Senhores Bispos brasileiros e se darão conta
de que a missão precípua da Igreja não é oferecer solução para os
problemas econônicos e sociais, menos ainda procurar estabelecer uma
sociedade igualitária, mas sim salvar as almas? Ou continuarão eles
enfeitiçados pela miragem utópica da Teologia da Libertação?
[1] Denise Menchen-Fabio Brisolla, “Católicos passam de 93,1% para 64,6% da população em 50 anos, aponta IBGE” in Folha de S. Paulo, 29/06/2012 edição on line. http://www1.folha.uol.com.br/poder/1112382-catolicos-passam-de-931-para-646-da-populacao-em-50-anos-aponta-ibge.shtml
[2] Artigo “A fé dos brasileiros” In O Estado de São Paulo, 26 maio 2012, edição online. http://estadaodados.com/html/religiao/
[3] Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangélicos, espíritas e sem religião,
[4] Ver, p. ex., Narcizo Makchwell Coimbra ((Universidade Federal de Goiás)), O protestantismo de imigração no Brasil: “Um
dos principais fatores que contribuiu para a propagação da ideologia
protestante no país foi o surto de imigração no século XIX ….
Constatamos que uma das conseqüências mais importantes do protestantismo
de imigração é o fato de que esse ajudou a criar condições que
facilitaram a introdução do protestantismo missionário no Brasil.”
[5] “Censo revela que católicos permanecem maioria no Brasil”, O SÃO PAULO, 03 Julho 2012, http://www.arquidiocesedesaopaulo.org.br/?q=node/142144. (Note-se, de passagaem, o tom ainda otimista do órgão da Arquidiocese de São Paulo. )
[6] “Campanha da Fraternidade 2010 – Ecumênica”, http://www.cnbb.org.br/site/campanhas/fraternidade/2173-historico-das-cfs.
[7] http://cnbb.org.br/site/images/stories/Hinocf2013.pdf.
[8] G. Gutiérrez, Teologia da Libertação, Edição brasileira, Vozes, Petrópolis, 1975, p. 67.
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