Entrevista com ex-padre Alessander Capalbo
“Não sou mais padre, quero ser papai”
|
reporterdecristo - A sinceridade de Alessander Carregari
Capalbo alterou profundamente sua vida: há seis meses, ele largou
a batina e deixou de ser padre para se tornar apenas um dos fiéis da
Igreja Católica, quer casar e ter filhos. Capalbo era o líder da
Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá. Mas, uma profunda depressão
mudou o destino dele, após viagem à casa de parentes em São Paulo.
“Deixei de ser padre para ser um pai de família. Larguei o sacerdócio
para não cometer o pecado de ter uma vida dupla”, revela ele, em
entrevista ao Jornal das Cidades.
“Serei sempre fiel a Deus e sincero com a
população do Paranoá, que me acolheu quando lá cheguei há 7 anos, como o
novo padre da cidade. Foi um tempo difícil e de lutas, cheguei a morar
numa barraca de lona. Mas tivemos vitórias, com a ajuda de Deus e da
comunidade”, lembra ele, que já se considera um ex-padre. “Resolvi me
afastar da igreja quando percebi que não poderia mais exercer o
celibato. Então, cheguei à conclusão que preciso de uma mulher, de uma
companheira na minha vida”, conta Capalbo, que comunicou ao Vaticano sua
decisão de abandonar o sacerdócio.
Capalbo tem uma noiva, Keila, com quem ele se casará logo que tiver a
permissão do Vaticano, quando será oficialmente considerado um ex-padre.
“Me casarei com minha noiva em um templo católico”, avisa.
Somente depois que abandonou o
sacerdócio, Capalbo se aproximou de Keila, então passou a namorá-la. Ele
explicou que não deixou a batina por causa da noiva. “Eu já tinha
deixado a igreja quando me apaixonei pela Keila”, ressalta. “Ela é uma
bela morena”. A noiva de Capalbo trabalha em uma Faculdade.
Ainda considerado um importante líder
comunitário, atualmente Capalbo recebe cerca de 300 mensagens diárias de
pessoas diversas através do facebook ou de email, de gente do Paranoá
na maioria. Inclusive, Capalbo continua sendo cortejado por políticos e
agremiações partidárias.
Mas, a todos costuma dizer que não tem
qualquer afeição política/partidária. Também, não pensa em fazer
programa de rádio e nem continuar exercendo sua liderança comunitária.
“Num futuro, quem sabe. Mas, hoje não!” avisa.
Filho de família paulista de classe
média, Capalbo tem recebido apoio financeiro de parentes. Ele também
recebe ajuda da Igreja Católica. Se recuperando da depressão, ele está
desempregado. E para custear seu tratamento médico teve de vender um
carro particular, que tinha ganhado de presente dos parentes.
Mas, Capalbo quer arrumar trabalho e tem
batido na porta de empresas de Brasília a procura de emprego. Hoje, ele
busca condições para assumir o futuro compromisso como pai de família.
Honesto, Capalbo agradece e recusa dinheiro quando amigos lhe oferecem
por telefone. Ele reside numa casa de fundos, pequena e modesta, em
Taguatinga.
Entrevista com Alessander Capalbo |
Jornal das Cidades - Por que você abandonou a batina?
Alessander Capalbo – No total, fui padre
por 11 anos, após curso de 9 anos como seminarista. Já como padre fui
professor no próprio seminário. Depois fui estudar no Vaticano. Na volta
ao Brasil, fui designado como padre no Paranoá pelo próprio Dom João
Braz de Aviz, que na época era o bispo de Brasília. Quando cheguei ao
Paranoá, encontrei a paróquia da cidade em estado muito precário, havia
pouca coisa e muito a ser feito. Arregacei as mangas e comecei a
trabalhar, com a ajuda de Deus e da comunidade. Mas, meu começo ali foi
difícil, sim! Numa ocasião, quase fui agredido. Mas, aprendi amar as
pessoas daquela comunidade, não apenas os católicos.
JC – Você deixou sua marca no Paranoá?
Alessander – Busquei recursos junto a
empresários de Brasília e do Paranoá para consegui ampliar a paróquia e
construir as capelas. Logo, consegui ajuda de muita gente e a situação
da paróquia foi melhorando. Quando inauguramos o salão principal da
igreja muita gente da comunidade chorou comigo. Na missa de inauguração,
em 2007, estavam presentes na paróquia, junto ao povo, diversas
autoridades, inclusive conseguimos juntar na ocasião forças políticas
antagônicas. Eu me lembro que lá estavam, sentados nos bancos da igreja,
o então governador José Roberto Arruda, o então vice-governador Paulo
Otávio, o ex-governador Joaquim Roriz, a ex-governadora Maria Abadia, o
então deputado federal Tadeu Filippelli, também o então senador Adelmir
Santana e muitos outros…
JC – Você deseja voltar a morar na cidade?
Alessander – Sim! Quem sabe um dia eu
voltarei a morar no Paranoá, pois mesmo depois que deixei de ser padre
continuo recebendo muito apoio de gente daquela cidade. Tive uma
experiência muito importante porque, quando era padre, nos sete anos de
convivência com a população senti muito carinho, como se eu fosse filho
daquela terra. Nunca recebi salário da igreja, todo dinheiro era
revertido em benefício da paróquia. Quando cheguei ao Paranoá reformamos
e melhoramos a paróquia da cidade, através de doações de grandes
empresários de Brasília. Lembro-me da invasão na Quadra 32, junto do
povo morei durante quatro meses numa barraca de lona, em situação de
muito sofrimento.
JC – É verdade que existe muita gente do Paranoá que deseja vê-lo comandando a Administração Regional da cidade?
Alessander – Olha! Isso, não partiu de
mim. Um dia passei a receber mensagens de moradores com essa conversa de
que meu nome estava sendo muito cotado junto à comunidade como futuro
administrador. Também, sei que existem pessoas daquela localidade se
movimentando neste sentido. Fiquei até surpreso quando recebi
telefonemas nesse sentido, de lideranças comunitárias do Paranoá. Uma
questão primordial, entre outros problemas da cidade, é a construção da
Feira Permanente da cidade, do jeito que está não pode ficar. Toda a
comunidade perde com a atual precariedade da feira. Inclusive, nos
telefonemas, eu tenho colocado que os feirantes precisam ser ajudados.
Essa seria uma das minhas primeiras missões, buscar apoio para os
feirantes, caso viesse ser o administrador da Paranoá.
JC – Se você fosse o administrador, como poderia ajudar a resolver os problemas do Paranoá?
Alessander – Quando era padre, eu
trabalhei muito pela comunidade do Paranoá, inclusive pelos pobres. Para
isso sempre tive muito apoio, inclusive das autoridades. Agora, como
ex-padre, quem sabe um dia eu volte a morar na localidade, viver e lutar
para resolver os problemas da cidade. Meu coração está no Paranoá! Até
hoje, às vezes choro ao telefone quando falo com pessoas da cidade. Eu
tinha um rebanho de quase 12 mil fiéis, na paróquia e demais capelas.
Continuo tendo muitos amigos no Paranoá, inclusive o atual padre da
cidade, Jorge, quando ele foi meu aluno era seminarista.
JC – É verdade que você deixou a batina para se casar e constituir família?
Alessander – No início, não foi assim.
Tudo começou com uma crise depressiva. Um dia, fui a São Paulo visitar
meu irmão mais novo. De repente, não consegui pegar no colo e abraçar a
filhinha dele, comecei a chorar e tive uma crise existencial. Doente,
passei a tomar remédios, até dezoito comprimidos diariamente. Fui para
Portugal como diretor de um Seminário naquele país, mas a doença piorou.
Voltei ao Brasil. Entrei em depressão profunda. Durante o tratamento,
após eu contar minha história a um especialista, ele disse que tinha
99,9% de certeza que eu deixaria de ser padre. Depois disso, comecei a
ver que realmente minha vida estava indo para outro cominho. Não foi
nada planejado, pois não larguei a batina por causa da minha noiva, a
Keila. Aliás, não deixei o sacerdócio por mulher alguma, sai para
constituir uma família. Também, essa não é uma questão contraditória,
porque quando eu era padre sempre preguei em nome de Cristo, continuo
sendo um católico fiel. Nunca preguei sobre a minha vida pessoal, mas
sobre a palavra de Deus.
JC – Você era padre, então teve acesso a segredos confessados?
Alessander – É verdade, mas também
recebi muitas graças de Deus, inclusive o esquecimento. Nunca liguei
pessoas aos problemas que eu ouvia. Logo depois procurava me esquecer de
tudo. Às vezes, gente da comunidade me congratulava na rua e comentava
que eu tinha ajudado a resolver seus problemas familiares. Eu as
cumprimentava e parabenizava, mas na verdade não me recordava mais de
nada.
JC – Você é um homem político?
Alessander – Nunca estudei política. Não
sou filiado a partido nenhum. Mas, a questão da liderança é uma coisa
quase nata comigo, já nasci assim, de falar em público, trabalhar pelo
bem da comunidade, buscar recursos etc. Continuo tendo amigos na
política. Por exemplo, até hoje tenho a amizade do atual vice-governador
do DF, Tadeu Filippelli.
Fonte: Jornal das cidades DF
Nenhum comentário:
Postar um comentário