quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Mais um ex-padre… Quantos mais irão desistir do seu chamado?

Entrevista com ex-padre Alessander Capalbo

“Não sou mais padre, quero ser papai”

reporterdecristo - A sinceridade de Alessander Carregari Capalbo alterou profundamente sua vida: há seis meses, ele largou a batina e deixou de ser padre para se tornar apenas um dos fiéis da Igreja Católica, quer casar e ter filhos. Capalbo era o líder da Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá. Mas, uma profunda depressão mudou o destino dele, após viagem à casa de parentes em São Paulo. “Deixei de ser padre para ser um pai de família. Larguei o sacerdócio para não cometer o pecado de ter uma vida dupla”, revela ele, em entrevista ao Jornal das Cidades.
“Serei sempre fiel a Deus e sincero com a população do Paranoá, que me acolheu quando lá cheguei há 7 anos, como o novo padre da cidade. Foi um tempo difícil e de lutas, cheguei a morar numa barraca de lona. Mas tivemos vitórias, com a ajuda de Deus e da comunidade”, lembra ele, que já se considera um ex-padre. “Resolvi me afastar da igreja quando percebi que não poderia mais exercer o celibato. Então, cheguei à conclusão que preciso de uma mulher, de uma companheira na minha vida”, conta Capalbo, que comunicou ao Vaticano sua decisão de abandonar o sacerdócio.
Capalbo tem uma noiva, Keila, com quem ele se casará logo que tiver a permissão do Vaticano, quando será oficialmente considerado um ex-padre. “Me casarei com minha noiva em um templo católico”, avisa.
Somente depois que abandonou o sacerdócio, Capalbo se aproximou de Keila, então passou a namorá-la. Ele explicou que não deixou a batina por causa da noiva. “Eu já tinha deixado a igreja quando me apaixonei pela Keila”, ressalta. “Ela é uma bela morena”. A noiva de Capalbo trabalha em uma Faculdade.
Ainda considerado um importante líder comunitário, atualmente Capalbo recebe cerca de 300 mensagens diárias de pessoas diversas através do facebook ou de email, de gente do Paranoá na maioria. Inclusive, Capalbo continua sendo cortejado por políticos e agremiações partidárias.
Mas, a todos costuma dizer que não tem qualquer afeição política/partidária. Também, não pensa em fazer programa de rádio e nem continuar exercendo sua liderança comunitária. “Num futuro, quem sabe. Mas, hoje não!” avisa.
Filho de família paulista de classe média, Capalbo tem recebido apoio financeiro de parentes. Ele também recebe ajuda da Igreja Católica. Se recuperando da depressão, ele está desempregado. E para custear seu tratamento médico teve de vender um carro particular, que tinha ganhado de presente dos parentes.
Mas, Capalbo quer arrumar trabalho e tem batido na porta de empresas de Brasília a procura de emprego. Hoje, ele busca condições para assumir o futuro compromisso como pai de família. Honesto, Capalbo agradece e recusa dinheiro quando amigos lhe oferecem por telefone. Ele reside numa casa de fundos, pequena e modesta, em Taguatinga.
       Entrevista com Alessander Capalbo                                                                    
Jornal das Cidades - Por que você abandonou a batina?
Alessander Capalbo – No total, fui padre por 11 anos, após curso de 9 anos como seminarista. Já como padre fui professor no próprio seminário. Depois fui estudar no Vaticano. Na volta ao Brasil, fui designado como padre no Paranoá pelo próprio Dom João Braz de Aviz, que na época era o bispo de Brasília. Quando cheguei ao Paranoá, encontrei a paróquia da cidade em estado muito precário, havia pouca coisa e muito a ser feito. Arregacei as mangas e comecei a trabalhar, com a ajuda de Deus e da comunidade. Mas, meu começo ali foi difícil, sim! Numa ocasião, quase fui agredido. Mas, aprendi amar as pessoas daquela comunidade, não apenas os católicos.
JC – Você deixou sua marca no Paranoá?
Alessander – Busquei recursos junto a empresários de Brasília e do Paranoá para consegui ampliar a paróquia e construir as capelas. Logo, consegui ajuda de muita gente e a situação da paróquia foi melhorando. Quando inauguramos o salão principal da igreja muita gente da comunidade chorou comigo. Na missa de inauguração, em 2007, estavam presentes na paróquia, junto ao povo, diversas autoridades, inclusive conseguimos juntar na ocasião forças políticas antagônicas. Eu me lembro que lá estavam, sentados nos bancos da igreja, o então governador José Roberto Arruda, o então vice-governador Paulo Otávio, o ex-governador Joaquim Roriz, a ex-governadora Maria Abadia, o então deputado federal Tadeu Filippelli, também o então senador Adelmir Santana e muitos outros…
JC – Você deseja voltar a morar na cidade?
Alessander – Sim! Quem sabe um dia eu voltarei a morar no Paranoá, pois mesmo depois que deixei de ser padre continuo recebendo muito apoio de gente daquela cidade. Tive uma experiência muito importante porque, quando era padre, nos sete anos de convivência com a população senti muito carinho, como se eu fosse filho daquela terra. Nunca recebi salário da igreja, todo dinheiro era revertido em benefício da paróquia. Quando cheguei ao Paranoá reformamos e melhoramos a paróquia da cidade, através de doações de grandes empresários de Brasília. Lembro-me da invasão na Quadra 32, junto do povo morei durante quatro meses numa barraca de lona, em situação de muito sofrimento.
JC – É verdade que existe muita gente do Paranoá que deseja vê-lo comandando a Administração Regional da cidade?
Alessander – Olha! Isso, não partiu de mim. Um dia passei a receber mensagens de moradores com essa conversa de que meu nome estava sendo muito cotado junto à comunidade como futuro administrador. Também, sei que existem pessoas daquela localidade se movimentando neste sentido. Fiquei até surpreso quando recebi telefonemas nesse sentido, de lideranças comunitárias do Paranoá. Uma questão primordial, entre outros problemas da cidade, é a construção da Feira Permanente da cidade, do jeito que está não pode ficar. Toda a comunidade perde com a atual precariedade da feira. Inclusive, nos telefonemas, eu tenho colocado que os feirantes precisam ser ajudados. Essa seria uma das minhas primeiras missões, buscar apoio para os feirantes, caso viesse ser o administrador da Paranoá.
JC – Se você fosse o administrador, como poderia ajudar a resolver os problemas do Paranoá?
Alessander – Quando era padre, eu trabalhei muito pela comunidade do Paranoá, inclusive pelos pobres. Para isso sempre tive muito apoio, inclusive das autoridades. Agora, como ex-padre, quem sabe um dia eu volte a morar na localidade, viver e lutar para resolver os problemas da cidade. Meu coração está no Paranoá! Até hoje, às vezes choro ao telefone quando falo com pessoas da cidade. Eu tinha um rebanho de quase 12 mil fiéis, na paróquia e demais capelas. Continuo tendo muitos amigos no Paranoá, inclusive o atual padre da cidade, Jorge, quando ele foi meu aluno era seminarista.
JC – É verdade que você deixou a batina para se casar e constituir família?
Alessander – No início, não foi assim. Tudo começou com uma crise depressiva. Um dia, fui a São Paulo visitar meu irmão mais novo. De repente, não consegui pegar no colo e abraçar a filhinha dele, comecei a chorar e tive uma crise existencial. Doente, passei a tomar remédios, até dezoito comprimidos diariamente. Fui para Portugal como diretor de um Seminário naquele país, mas a doença piorou. Voltei ao Brasil. Entrei em depressão profunda. Durante o tratamento, após eu contar minha história a um especialista, ele disse que tinha 99,9% de certeza que eu deixaria de ser padre. Depois disso, comecei a ver que realmente minha vida estava indo para outro cominho. Não foi nada planejado, pois não larguei a batina por causa da minha noiva, a Keila. Aliás, não deixei o sacerdócio por mulher alguma, sai para constituir uma família. Também, essa não é uma questão contraditória, porque quando eu era padre sempre preguei em nome de Cristo, continuo sendo um católico fiel. Nunca preguei sobre a minha vida pessoal, mas sobre a palavra de Deus.
JC – Você era padre, então teve acesso a segredos confessados?
Alessander – É verdade, mas também recebi muitas graças de Deus, inclusive o esquecimento. Nunca liguei pessoas aos problemas que eu ouvia. Logo depois procurava me esquecer de tudo. Às vezes, gente da comunidade me congratulava na rua e comentava que eu tinha ajudado a resolver seus problemas familiares. Eu as cumprimentava e parabenizava, mas na verdade não me recordava mais de nada.
JC – Você é um homem político?
Alessander – Nunca estudei política. Não sou filiado a partido nenhum. Mas, a questão da liderança é uma coisa quase nata comigo, já nasci assim, de falar em público, trabalhar pelo bem da comunidade, buscar recursos etc. Continuo tendo amigos na política. Por exemplo, até hoje tenho a amizade do atual vice-governador do DF, Tadeu Filippelli.
Fonte: Jornal das cidades DF

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