Conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando e o Pe. Paulo Ricardo
Por Thácio Siqueira
BRASILIA, quarta-feira, 5 de setembro de 2012 (ZENIT.org)
– São três os valores inegociáveis segundo Bento XVI – em discurso ao
Partido Popular Europeu no ano de 2006: vida, família monogâmica e
educação dos filhos.
Valores estes que não podem “seguir a arte da política e da
negociação”, - afirma Pe. Paulo Ricardo - em uma conversa organizada por
ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando Melo, vice-presidente Pró-vida e
pró-família e membro da comissão de bioética da arquidiocese de
Brasília, e o Pe. Paulo Ricardo Azevedo Junior, do clero da arquidiocese
de Cuiabá, e famoso pregador brasileiro.
Oferecemos aos nossos leitores a segunda parte dessa reflexão.
Prof. Paulo Fernando: diante desse quadro da cultura da
morte, o que, efetivamente, uma pessoa de bem, um cidadão católico, pode
fazer? Será que estaríamos na beira do abismo e realmente não tem mais o
que se fazer?
Pe. Paulo Ricardo: Devemos lembrar duas coisas
importantes. Primeiro, nós não somos uma minoria insignificante. Nós
somos uma maioria. Mas infelizmente somos uma maioria emudecida porque a
classe falante está toda contaminada com a mentalidade anticristã e uma
maioria mal articulada, não organizada. Nós então, precisamos, em
primeiro lugar, nos conscientizar. Depois, uma vez conscientizados
daquilo que é a situação que nós vivemos, estar dispostos a nos
articular e trabalhar concretamente para este tipo de política favorável
à vida. Nós precisamos crer no seguinte: a ação de Deus na história, é
sempre uma ação em que, aquele que era aparentemente somente um Davi,
pequenino, que lutava contra um Golias, termina alcançando a vitória.
Então, existe, em nós, uma consciência de nossa pequenez. Apesar de
sermos muitos, nós sabemos que qualquer vitória deve ser uma vitória de
Deus. Mas, a vitória de Deus só acontece quando nós agimos. Qualquer
pessoa que trabalha nesse campo, na evangelização, no meio da política e
na ação social, e trabalha a favor das coisas de Deus, já experimentou o
fato de que as nossas pequenas ações, de pequenos Davis, são
potenciadas enormemente por Deus, de tal forma que embora sejam poucos
os cristãos e católicos conscientes no âmbito da política, as nossas
ações são agraciadas. Deus nos dá a graça. Por isso podemos contar com
ela. Podemos contar com o fato de que uma pequena pedrinha pode causar
uma grande avalanche, de que o pequeno Davi pode sempre destruir o
exército dos Filisteus.
Prof. Paulo Fernando: o senhor falou que Deus nos pede a luta
e não a vitória, mesmo porque a vitória já é nossa, em Jesus. Agora,
qual o conselho que o senhor dá às pessoas que se sentem vocacionadas
para isso? Como o senhor falou, que sejam preparadas, que sejam
compromissadas, que tenham uma postura como pai de família, como patrão,
como empregado, como pessoa engajada na comunidade, na sua paróquia, na
sua igreja, na sua diocese; e por que muitas vezes, não há esse
estímulo para que as pessoas de bem possam ingressar também no mundo da
política?
Pe. Paulo Ricardo: O princípio da sabedoria é o
temor de Deus, diz a Sagrada Escritura. Nós temos que ter a plena
consciência de que não estamos nesse mundo para vivermos uma comodidade e
um paraíso aqui nessa terra. Nós estamos aqui para preparar o céu.
Estamos aqui para realizar a vontade de Deus que preparou para nós uma
felicidade no céu. Então, qualquer pessoa que entra nessa luta sem fé na
salvação que nos é dada por Deus e na esperança de alcançá-la, é uma
pessoa que tem uma grande probabilidade de perder a luta porque o
inimigo conta com isso. O inimigo – e nosso inimigo maior é Satanás, o
demônio, e não as pessoas – conta com o fato que nós, amedrontados,
vivamos um cristianismo, mas um cristianismo burguês, acomodado, onde
sim faço a vontade de Deus, desde que isso não me custe muito; desde que
isso não tenha um preço. A partir do momento em que a fidelidade a Deus
começa a exigir um preço, as pessoas desistem. Os conselhos que posso
dar bem concretamente aos cristãos leigos e aos sacerdotes inclusive, é
ter os olhos fixos em Deus, no céu, para não nos deixarmos distrair
pelas seduções do mundo, pela comodidade aqui desta terra. É uma luta a
vida do homem sobre a terra. Nós estamos aqui para lutar. E sabemos que
Deus irá vencer. Não há nenhuma dúvida de que Deus vencerá. A única
pergunta é: de que lado nós estaremos quando Deus vencer? De que lado
nós estaremos quando Ele proclamar a sua vitória. Então, precisamos
viver esse mundo com os olhos fixos no céu. Sabendo que é essa a nossa
missão. Estamos aqui na terra preparando o nosso céu. Qualquer coisa que
se distraia dessa realidade vai resultar numa traição. Nós precisamos
saber que um dia estaremos diante do trono da graça, seremos julgados
por Deus, e que precisamos ser fieis a Ele.
Prof. Paulo Fernando: e agora, nas considerações finais, o
senhor acha que nós devemos rezar pela conversão desses abortistas?
Quais são as nossas intenções nas nossas orações nessa luta contra a
cultura da morte?
Pe. Paulo Ricardo: Veja, a realidade espiritual deve
estar sempre ancorada também na ação. As duas coisas devem caminhar
juntas: rezar pela conversão deles, rezar também pelas famílias,
mulheres, crianças, pessoas que estão envolvidas nos crimes de aborto,
mas sobretudo precisamos ter em mente o fato de que no Brasil estamos
vivendo uma situação de extrema urgência. Nós temos nesse momento, duas
realidades extremamente urgentes nesse país. A primeira que é toda uma
ação do executivo, onde o ministério da saúde e a secretaria para a
defesa dos direitos das mulheres estão implantando uma série de
procedimentos para facilitar o aborto cometido através de medicamentos
por mulheres, e estamos também diante de um projeto do código penal que,
se não legaliza o aborto de fato, pelo menos o legaliza na prática
porque atenua enormemente a penalidade do aborto e o torna uma daquelas
infrações de menor importância e portanto não passíveis de punição.
Essas duas realidades são verdadeiro golpe na democracia brasileira. Nós
brasileiros somos, na sua maioria, contrários à prática infame do
aborto e gostaríamos que isso continuasse assim. O valor da vida humana é
um direito inegociável, é algo que nós não podemos ceder. Essa
realidade deve ser defendida por nós católicos, antes de tudo na oração,
na nossa confiança em Deus e entrega à Nossa Senhora, mas também na
ação, onde nós estejamos dispostos a pagar o preço pela nossa fidelidade
a Deus. Existe um livro escrito por um autor protestante, chamado C S
Lewis, “Cartas de um diabo ao seu aprendiz”. Nesse livro o demônio mais
velho ensina ao mais novo como levar uma alma ao inferno. E diz assim:
mantenha as orações dele, ou seja, da pessoa que você quer levar ao
inferno, muito devotas e espirituais, fazendo com que, no entanto, ele
não se preocupe nunca com as doenças das pessoas que estão ao seu redor,
das suas necessidades concretas e com a ajuda que ele poderia prestar
às pessoas que mais necessitam. Precisamos rezar, confiar em Deus, mais
precisamos também agir. Por mais que seja uma ação humanamente
irrisória, mas esta pequena ação de milhões de pequenos Davis serão
potenciadas por Deus, que pela sua graça dará vitória ao seu povo.

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