[reporterdecristo]
Fragmento de papiro copta |
Na
semana passada, uma estudiosa norte-americana, Karen King, da
Universidade de Harvard, apresentou em Roma um fragmento de papiro
copta, com uma antecipação em Nova York no jornal New York Times,
adquirida – segundo o que foi afirmado – de um colecionador que quer
manter o anonimato, em que Jesus dizia: “Minha esposa… e ela poderá ser
minha discípula”…
A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no sítio Vatican Insider, 26-09-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Naturalmente, só a alusão a uma possível esposa de Jesus,
nos EUA da era Obama, imediatamente se tornou interessante. Embora não o
fosse no tempo de Jesus: Pedro era casado, e havia também uma tradição
muito viva no judaísmo de célibes dedicados a Deus.
Mas agora um estudioso britânico, Francis Watson, da
Universidade de Durham, lança a hipótese de que nos encontramos diante
de uma falsificação, ou ao menos de um papiro “construído”. Francis
Watson, especialista no campo e que, aparentemente, tem no seu currículo
a descoberta de outros documentos supostamente históricos e que mais
tarde se revelaram falsos, defende que o texto foi construído. E o
argumenta em seis páginas de elaboração disponíveis aqui [em inglês].
“Karen King admite um ceticismo inicial – escreve Watson
–, mas agora está convencida de que esse fragmento de papiro deriva de
uma cópia do século VI de um texto do século II. Vou argumentar aqui que
o ceticismo é exatamente a atitude certa. O texto foi construído a
partir de pequenos pedaços – palavras ou frases – derivados
principalmente do evangelho copta de Tomé, seções 101 e 114, e postos em
um novo contexto. Mais provavelmente, trata-se do procedimento de
composição de um autor moderno que não é um falante nativo de copta”.
Obviamente, é impossível, por razões de espaço,
acompanhar Watson na análise passo a passo, que parte do Evangelho de
Tomé encontrado em Nag Hammadi, em 1945, cujo texto é acessível a todos.
Ele afirma que, no curto fragmento, estão presentes frases
(particularmente a fórmula: “Os discípulos disseram a Jesus”) que
morfologicamente não aparecem nos quatro evangelhos canônicos, mas
pertencem ao Evangelho de Tomé.
Permanecem, no entanto, sempre válidas todas as possíveis
interpretações dessa “minha esposa” que criou tanto interesse. A
“esposa” poderia ser a Igreja, como no livro do Apocalipse e na tradição
cristã de dois milênios. Poderia ser, como no Cântico dos Cânticos, a
alma do homem em busca de Deus. Poderia ser, na tradição gnóstica, o
discípulo que busca a perfeição. (Veja aqui também)
Em suma, não se pode afirmar que Jesus estava falando da
“senhora Jesus”, mesmo que – e Watson afirma que não – o fragmento do
século IV fosse um fragmento autêntico de sabe-se lá o quê. É preciso
lembrar ainda que, na realidade, essa tese de um Jesus casado está bem
presente na tradição Ahmadiya, que afirma que Cristo foi curado com
unguentos milagrosos depois da crucificação, fugiu com Madalena e se
estabeleceu definitivamente na Caxemira, onde ainda hoje pode-se ver o
seu túmulo e talvez encontrar os seus descendentes.
Fonte: Fratres in Unum
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