08/12/2012
unisinos - Notoriamente,
o comportamento das burocracias é muitas vezes guiado tanto pelo
compromisso, por um esforço de equilibrar agendas concorrentes, quanto
por uma lógica estrita. É uma regra de ouro que certamente se aplica à Igreja Católica, e provavelmente não há outro melhor exemplo recente disso do que a decisão do Vaticano de tirar do padre austríaco Helmut Schüller o título de "monsenhor".
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 06-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 06-12-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É
um golpe obviamente destinado a fazer uma declaração, mas ninguém em
posição de autoridade parece querer dizer em voz alta exatamente que
declaração é essa.
Além de confirmar que isso aconteceu, altos
porta-vozes vaticanos dirigiram questionamentos sobre a medida para a
arquidiocese de Viena. Enquanto isso, Michael Prüller, um porta-voz do cardeal de Viena, Christoph Schönborn, disse aos repórteres que a decisão "foi tomada em Roma" e que "não tem nada a ver conosco".
O resultado é que, enquanto o mundo fica sabendo que Schüller não é mais um monsenhor, não há nenhuma explicação oficial sobre o porquê.
Muitos observadores acreditam que o que está acontecendo é isto: as autoridades vaticanas queriam deixar claro que o status de Schüller como
monsenhor não deveria sugerir uma tolerância papal com relação à
revolta entre os padres austríacos que ele lidera, exigindo reformas
sobre questões como o celibato, a ordenação de mulheres e a Comunhão
para católicos divorciados e em segunda união.
Ao mesmo tempo, as autoridades também estão cientes de que Schönborn tem
trabalhado duro para manter abertas as linhas de comunicação com os
padres rebeldes, esforçando-se para evitar uma ruptura completa. Em uma
entrevista de outubro com o NCR, por exemplo, Schönborn disse: "Eu tenho confiança neles, porque eles são padres próximos das pessoas que compartilham as suas preocupações".
Assim,
a cautela em oferecer qualquer explicação pública pode estar
relacionada com um desejo de não tornar as coisas ainda mais difíceis
para Schönborn, um protegido do Papa Bento XVI que goza de um amplo respeito tanto em Roma, quanto no mundo católico.
Como o título honorífico "monsenhor" é concedido por um ato papal direto, o cálculo tradicional do Vaticano é
que permitir que alguém o continue usando quando está envolvido em uma
atividade percebida como contrária ao ensino ou à disciplina da Igreja
causa confusão sobre onde o papa realmente está com a cabeça.
(Por
uma questão técnica, há três graus de monsenhores: Protonotários
Apostólicos, Prelados Honorários de Sua Santidade e Capelães de Sua
Santidade. Schüller foi nomeado para a terceira categoria, a menor delas, em 1991, pelo seu trabalho com a instituição de caridade católica Cáritas.)
Embora
rara, a decisão de revogar o título de "monsenhor" não é sem
precedentes. Para ilustrar a lógica atual, os observadores apontam para o
caso do padre italiano Fernando Mariotti, que teve o título honorífico tirado em abril de 2010.
Mariotti é uma subcelebridade na Itália, uma personalidade colorida presa uma vez por armazenar ilegalmente um esconderijo de armas na sua casa de Ferrara –
um acusação pela qual ele ficou conhecido como o "padre rifle". As
acusações finalmente caducaram, porque os promotores disseram que o
estatuto das limitações havia expirado.
Mariotti também
é conhecido como um trapaceiro financeiro, tendo acumulado dívidas de
quase 1 milhão de dólares mediante inúmeros empreendimentos comerciais,
não apenas na Itália, mas também em várias outras partes do mundo. Em
2010, ele estava ligado até mesmo com a crise da Parmalat, porque alguns dos principais personagens da empresa italiana apoiavam instituições de caridade vinculadas a Mariotti.
Ao contrário do caso Schüller, o Vaticano ofereceu uma justificativa pública para a medida contra Mariotti. Uma nota na contracapa do L'Osservatore Romano em
outubro de 2011 dizia que, ao revogar o seu status de monsenhor, o
Vaticano queria deixar claro que seria "totalmente abusivo e ilegítimo
insinuar qualquer conexão entre as instituições da Santa Sé e as
atividades atribuídas ao Pe. Fernando Mariotti".
Em outras palavras, a ideia era distanciar Roma do
padre polêmico, que foi rotineiramente rotulado na cobertura da
imprensa como tendo fortes vínculos vaticanos, em parte porque ele
levava o título de "monsenhor".
Muitos observadores acreditam que a mesma mensagem básica esteja subjacente à decisão sobre Schüller. A diferença é que as autoridades também sabem que Schönborn está
caminhando sobre um campo minado ao tentar gerir a situação e,
portanto, parecem satisfeitas em deixar que a decisão fale por si mesma.
Nesse caso, em outras palavras, a compreensão não vem de quaisquer linhas oficiais, mas sim da leitura entre elas.
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