lumenrationis
12/12/2012
Desta vez enquanto aproxima o Natal trazemos um conto.
Não é medieval, mas se nós não avissásemos muitos poderiam crer que é mesmo.
Porém ele aconteceu há não muitos anos.
E é uma história verdadeira, ao menos garante o autor e testemunha dos fatos.
Mas por que parece tão medieval?
É porque no cerne desta história há uma presença do Lumen Christi, da Luz sobrenatural de Cristo, e uma atitude de alma das pessoas receptiva dessa Luz que é típica dos homens da Idade Média e que falta decididamente em tantos e tantos homens modernos.
Falta sim, mas não de todo. Porque no fundo de cada alma “moderna”, ainda que enchafurdada num mar de vício e de pecado, dorme um medieval com saudade dessa Luz sobrenatural de Cristo. Como?
Vejamos a história:
Paul está sentado nas pedras frias da escadaria da Igreja de São Tiago, numa pequena cidade da Baviera (Alemanha). Como sempre, encontra-se ali pedindo esmolas.
Antes das Missas, abre a porta da igreja para os fiéis e lhes sorri amavelmente, deixando ver uma boca já praticamente sem dentes.
Ele tem 50 anos e faz parte daqueles mendigos sem teto que lutam para sobreviver. Seu corpo está consumido não somente pelo frio e pela fome, mas também pelo excesso de álcool.
Parece muito mais velho do que é na realidade. Se ao menos tivesse forças para lutar contra este vício, pensa ele continuamente... E faz o firme propósito de parar de beber.
Mas quando a noite chega e com ela a lembrança de sua família, perdida num trágico acidente, ele não resiste e recorre ao consolo da garrafa. O álcool amortece então o vazio em sua alma, pelo menos por um curto espaço de tempo.
A garrafa de vinho é sua fiel companheira e a cirrose do fígado e outras doenças vão paulatinamente consumindo seu corpo. A cor de sua face levanta suspeitas nada boas.
Paul tornou-se parte integrante da escadaria da igreja na ótica dos habitantes do bairro, mais ou menos como se fosse uma estátua. E desta forma eles o tratam. A maior parte mal lhe presta atenção. E os que ainda se dão conta dele se perguntam até quando resistirá.
O pároco e a ajudante de pastoral ainda se preocupam com ele. Mas, sobretudo, a Irmã Petra, uma missionária jovem que vem todos os dias visitá-lo.
Ele se alegra com a visita da freira, que sempre lhe traz algo para comer. Porém até mesmo esta religiosa não consegue tirar Paul da rua.
Nem sequer na casa paroquial ele entra, seja para comer, seja para se lavar.
* * *
Todas as noites, quando escurece e ninguém mais o vê, Paul esgueira-se na igreja vazia e de luzes apagadas. Senta-se então no primeiro banco, bem diante do Tabernáculo.
E aí fica em silencio, quase sem se mover, por cerca de uma hora. Depois se levanta e sai arrastando os pés pelo corredor do centro, passa pela porta principal e desaparece na escuridão da noite.
Para onde? Ninguém o sabe. No dia seguinte, porém, lá está ele sentado novamente na escadaria, diante do portal da igreja.
E assim passavam os dias. Certa vez a Irmã Petra lhe perguntou: “Paul, vejo que você entra na igreja todas as noites. O que você faz aí tarde da noite? Você reza por ocaso?”
“Não rezo”, respondeu Paul.
“Como é que poderia rezar? Já não rezo desde o tempo em que era menino e ia às aulas de religião; esqueci todas as orações. Não me lembro mais de nenhuma. O que faço na igreja? É muito simples. Vou até o Tabernáculo, onde Jesus está sozinho em seu pequeno sacrário, e Lhe digo: ‘Jesus, sou eu, o Paul. Vim Te visitar’. E fico um pouquinho, a fim de que pelo menos alguém Lhe faça companhia”.
Na manhã do dia de Natal, o lugar que Paul ocupou durante anos a fio está vazio. Preocupada, a Irmã Petra começa logo a procurá-lo. E acaba por encontrá-lo no hospital que fica perto da igreja.
Nas primeiras horas da madrugada alguns passantes o haviam encontrado sem sentidos sob uma ponte e chamado a ambulância. Paul está agora no leito de doentes.
Ao vê-lo a missionária tem um choque. Paul está ligado a vários tubos, sua respiração é fraca. Sua face tem a cor amarelada típica dos moribundos. “A senhora é parente dele?”
A voz do médico arranca a Irmã Petra de seus pensamentos.
— “Não, mas vou cuidar dele”, responde ela espontaneamente.
— “Infelizmente não há muito que fazer, ele está morrendo”. O médico meneia apenas a cabeça e sai.
A Irmã Petra senta-se perto de Paul, toma sua mão e reza longamente. Depois, tristonha, retorna à casa paroquial.
No dia seguinte volta novamente ao Hospital, já preparada para receber a má notícia da morte de Paul...
— “Não, o que é isso?”
Ela não crê no que seus olhos vêem. Paul está sentado, ereto em sua cama, com a barba feita. Com olhos bem abertos e vivos, ele vê com alegria a freira que se aproxima. Uma expressão de inefável alegria cintila de sua face radiante.
Petra mal acredita no que está vendo e pensa:
— “É este realmente o homem que ainda ontem lutava contra a morte?”
— “Paul, é incrível o que se passou. Você está praticamente ressuscitado. Você está irreconhecível. O que aconteceu com você?”.
— “É, foi ontem à noite, pouco depois que você foi embora. Eu não estava nada bem. Porém, de repente, vi alguém de pé junto à minha cama. Belo, indescritivelmente esplendoroso... Você não pode nem imaginar! Ele sorriu para mim e me disse: ´Paul, sou eu, Jesus. Venho te visitar´”.
* * *
A partir desse dia Paul não tomou mais sequer uma gota de álcool.
A Irmã Petra lhe conseguiu um quartinho na casa paroquial e um emprego de jardineiro. A sua vida transformou-se inteiramente desde aquele Natal.
Paul encontrou novos amigos na paróquia. E, sempre que pode, ajuda a Irmã Petra em seus afazeres. Uma coisa, porém, permaneceu a mesma:
Quando anoitece, Paul esgueira-se na Igreja, assenta-se diante do Tabernáculo e diz: “Jesus, sou eu, o Paul. Vim Te visitar”.
(Autor: Jürgen Wetzel. Traduzido por Renato Murta de Vasconcelos.
Conto publicado in Wöchentliche Depesche christlicher Nachrichten, RU
50/2010, apud “Catolicismo”)
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