03/10/2012
unisinos - A
menos que se seja fundamentalista ou ultraconservador, a questão de
como balancear ciência e religião não é nada nova. É algo que tem estado
sobre a mesa há décadas.
A opinião é de Thomas J. Nolan, estudante de teologia e ciências da religião da Universidade de San Diego, EUA, em artigo publicado no sítio do jornal National Catholic Reporter, 28-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
A opinião é de Thomas J. Nolan, estudante de teologia e ciências da religião da Universidade de San Diego, EUA, em artigo publicado no sítio do jornal National Catholic Reporter, 28-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Vivemos
em um mundo onde as mentes científicas continuam desvendando ideias
complexas de uma forma que a história nunca viu antes. Em meio a tudo
isso, a fé e a religião correm o risco de se banalizar já que, por
exemplo, a pesquisa mostra que grande parte da Bíblia não é historicamente precisa.
A
questão na vida de um crente, naturalmente, se torna: como pode haver
um Deus quando a ciência pode provar que as histórias tanto do Novo quanto do Antigo Testamentos contradizem
os fatos científicos? Em poucas palavras, como alguém poderia acreditar
em coisas como serpentes falantes ou pessoas que caminham sobre as
águas?
No livro Rescuing Religion: How Faith Can Survive Its Encounter With Science [Resgatando a religião: Como a fé pode sobreviver em seu encontro com a ciência], o psicólogo John Van Hagen aborda
o que alguns veem como falhas tanto da Escritura judaica quanto da
cristã. Ele demonstra como estes são menos erros, e mais uma forma
natural de as pessoas de um outro tempo e que viviam em uma tradição de
contar histórias diferente negociavam com as situações que encontravam.
Para Van Hagen, ex-padre católico com um doutorado em psicologia clínica pela Adelphi University,
não se trata de tomar a Bíblia como um relato preciso da história, mas
sim compreender e apreciar quando, onde e por que os textos foram
escritos.
Van Hagen usa três exemplos modernos
de jornadas de fé que ajudam os leitores a colocar em perspectiva a
forma pela qual a fé pode ser vivida em meio ao mundo da ciência. Ele se
concentra na próspera jornada de fé judaica de Viktor Frankl,
apesar de experimentar a vida em campos de concentração nazistas, onde
se poderia facilmente perder toda a esperança em qualquer significado
maior. O exemplo de Frankl demonstra a necessidade de buscarmos algum
tipo de sentido na vida, mesmo nas piores circunstâncias.
O autor usa o exemplo dos esforços do presidente Barack Obama quando jovem para encontrar uma comunidade. Pertencer a uma comunidade, pensa Van Hagen, é uma forma pela qual as pessoas de hoje também podem encontrar e viver dentro de um forte ambiente de fé.
Por fim, Van Hagen usa o exemplo da experiência pessoal de Mikhail Gorbachev de dissonância cognitiva. Gorbachev foi capaz de alterar o seu entendimento fundamental da situação da União Soviética, permitindo que as suas ações subsequentes contradissessem esse entendimento prévio.
Da mesma forma, diz Van Hagen,
temos que ser capazes de aceitar a ciência, mesmo em momentos em que
ela pode causar tal dissonância em nossas vidas de fé. Toda ciência do
mundo que afeta nossas vidas diárias não deve afetar as nossas próprias
jornadas religiosas. Ao contrário, deve ser parte integrante das nossas
vidas e complementar os nossos sistemas de crenças.
É através de
uma melhor compreensão da intenção e do propósito da Escritura que
podemos entender de onde as histórias vieram e a que finalidade elas
serviam quando foram escritas.
Olhando para nossas próprias mentes psicológicas e teológicas, assim como as mentes dos escritores do Antigo e do Novo Testamentos, podemos aceitar a verdade da ciência no mundo, enquanto crescemos em nossa fé. Van Hagen afirma que uma mudança em um processo de pensamento do histórico para o mítico não será simples nem rápido. No entanto, Rescuing Religion permite
pensar de uma forma diferente. Ele usa algumas das maiores mentes
psicológicas e teológicas do nosso tempo para começar a mudar a
compreensão da fé.
Van Hagen faz uma
interessante análise da psicologia dos autores da Bíblia para explicar
por que as histórias foram criadas, uma lente através da qual muitos
teólogos geralmente não olham.
Este livro definitivamente lança
luz sobre uma luta moderna, mas fala a um público já ciente e que já
abraça o que alguns chamariam de conflito. A menos que se seja
fundamentalista ou ultraconservador, a questão de como balancear ciência
e religião não é nada nova. É algo que tem estado sobre a mesa há
décadas.
Qualquer livro como este provavelmente indignaria os
extremistas que leem a Bíblia como um fato. Esse é o público que precisa
ler um livro como este no nosso tempo, mas não são eles que o pegariam
na prateleira. Este livro é um moderno Origem das Espécies: algo
realista e aceito pelos instruídos, mas nem mesmo uma opção para os
ultraconservadores.
Os fiéis duvidosos do mundo moderno mais do que se beneficiariam com Rescuing Religion.
- John Van Hagen. Rescuing Religion: How Faith Can Survive its Encounter with Science. Polebridge Press.
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