16. Vida de fé e sacramentos
Quem vai a Roma atrás de
atrações turísticas quase certamente vai querer conhecer as catacumbas,
cemitérios subterrâneos na periferia da cidade antiga. Lá os cristãos
enterravam seus mortos. Nessas galerias subterrâneas gerações de fiéis
oraram pelos seus entes queridos. Nas suas paredes existem várias
pinturas relembrando cenas bíblicas: Moisés batendo no rochedo, Daniel
na cova dos leões, Jonas saindo das entranhas do peixe ou o Bom
Pastor...
O rito de iniciação cristã, como já vimos, era o batismo, geralmente
ministrado para adultos (só quando o cristianismo se tornar religião
majoritária a prática do batismo de crianças será a praxe comum). Os
conversos tinham um período de preparação, o catecumenato, durante o
qual se preparavam para receber este sacramento.
Os que eram aprovados, recebiam o batismo nas correntezas de algum
rio. Quando não houvesse rio, era utilizada uma piscina. E, na falta de
uma piscina, batizava-se derramando a água sobre a fronte, como se faz
hoje em dia em nossas igrejas.
Ao receber o batismo o fiel já pode se aproximar da eucaristia, a
carne e o sangue de Jesus Cristo. Eucaristia é uma palavra grega que
quer dizer "ação de graças". Todos os domingos os cristãos se reuniam na
casa de alguém - podia ser a casa de um rico convertido - para celebrar
a Santa Missa (o termo missa parece ser oriundo do latim - "ite missa
est", "ide, é o fim", dizia o diácono, despedindo os fiéis - e é usado a
partir do século IV). Em tempos de perseguição ou no aniversário de
morte de um mártir, os fiéis se dirigiam às catacumbas, onde era mais
seguro. Faziam-se leituras do Antigo Testamento ou das cartas dos
apóstolos. Em seguida o presidente exortava a assembléia, com base na
Palavra proclamada. Após esta "homilia", os fiéis faziam suas preces e
ofertavam no altar o pão, o vinho e a água. O presidente então dizia
preces e ações de graças, repetia as palavras de Jesus na última ceia
(consagrando o pão e o vinho), e iniciava a distribuição da Eucaristia.
Os diáconos levavam parte do alimento consagrado para os ausentes. Os
fiéis mais generosos entregavam suas doações ao presidente, que as
dividia entre os orfãos, as viúvas, os doentes, os estrangeiros e
encarcerados.
Pouco a pouco começa a se organizar um ciclo litúrgico. No segundo século a festa da Páscoa era comemorada anualmente.
Jesus era o centro da fé. Orava-se várias vezes ao dia, erguendo-se
as mãos e voltando-se para o Oriente, ajoelhando-se, prostrando-se.
Orava-se antes das refeições, ao levantar, na hora de dormir, quando se
fazia alguma ação especial, enquanto se trabalhava ou antes de sair para
visitar alguém. Havia também o costume, herdado dos judeus, de rezar na
hora terceira, na hora sexta e na nona. Rezava-se o Pai Nosso, salmos
extraídos das Escrituras, hinos, como o Magnificat e o Benedictus, além
de orações espontâneas.
À medida que o cristianismo crescia em número, aumentavam os casos de
fiéis que cediam às tentações da cobiça, da luxúria, da apostasia...
A penitência era algo levado muito a sério. Quem pecasse gravemente
depois do batismo podia não mais voltar para a comunhão da Igreja. No
século II duas correntes se enfrentam: uma mais rigorista e outra mais
tolerante. A primeira recusava o perdão em todos os casos, deixando os
fiéis em pecado grave entregues à própria sorte. O poder de perdoar,
concedido a Pedro e aos demais apóstolos, era usado com muito critério
naqueles tempos.
No fim do século II, o cristão em pecado grave era obrigado a
oferecer algum tipo de reparação para a Igreja. Durante algum tempo era
excluído da liturgia eucarística e precisava fazer jejuns, dar esmolas,
submeter-se a severas mortificações até o dia em que o bispo lhe
concederia a absolvição.
O casamento era vivido pelos cristãos com um sentido inteiramente
novo. Para eles a relação entre marido e mulher devia refletir a relação
entre Cristo e a Igreja. O casamento era um sacramento no qual o
mistério do amor humano era assumido e elevado pela graça. Apesar deste
caráter sobrenatural, no entanto, não havia nenhuma cerimônia litúrgica
especial para o casamento. "Os cristãos se casam como todo mundo", diz a
epístola a Diogneto. O aborto e o abandono de crianças, práticas comuns
entre os pagãos, eram totalmente condenados. O matrimônio, para os
seguidores de Jesus, era indissolúvel.
Da maior parte dos papas deste século não restou senão o nome
(Evaristo, Alexandre, Sixto, Telésforo, Higino, Pio, Aniceto, Sóter,
Eleutério...). Mesmo assim, o primado da Igreja de Roma e do seu bispo, o
Sucessor de Pedro, era amplamente reconhecido e aos poucos ia ganhando
maior destaque.
Embora houvesse várias igrejas espalhadas pelo orbe, todos os fiéis
tinham consciência de pertencerem à grande Igreja, a Igreja de Jesus
Cristo.
17. As heresias
O apóstolo Paulo já tinha preocupações com a
integridade da fé das comunidades cristãs. Deixou advertências contra o
risco das práticas judaizantes, gnósticas e contra alguns que negavam a
ressurreição dos mortos.
O Apocalipse de João denuncia duas seitas gnósticas: a dos discípulos
de Balaão e a dos nicolaítas. Estes últimos amaldiçoavam o Deus do
Antigo Testamento e levavam uma vida libertina.
O que é gnose? A gnose é uma espécie de conhecimento superior,
adquirido de modo direto, intuitivo, das respostas de todos os problemas
que angustiam a alma humana. Todos os grupelhos gnósticos tinham alguns
princípios em comum: a maldade da matéria e da carne, a infelicidade do
homem, prisioneiro do seu próprio corpo, a existência de uma alma
inferior e manchada pelo pecado, e de uma alma superior, celestial, em
suma: um dualismo da pior espécie.
Os gnosticismo cristão (sim, porque havia também um gnosticismo judeu
- Simão o Mago à frente - e pagão) possuía uma doutrina bastante
complexa. Acreditava na existência de eões que emanavam de Deus e que
faziam o papel de mediadores entre o mundo e o Criador. Estes eões eram
organizados em classes, variando dos menos puros aos mais puros. Todas
as classes de eões constituíam o pleroma.
No meio da seqüência de eões, um deles tentou se igualar a Deus e
caiu em desgraça. Colocado para fora do mundo espiritual, teve de viver
com seus descendentes em um universo intermediário. Revoltado, criou o
mundo físico, essencialmente mal e contaminado pelo pecado. O éon
prevaricador era conhecido como Demiurgo e identificado com o Deus do
Antigo Testamento.
O homem, emanação do éon decaído, contém em si uma centelha da
divindade que aspira ser libertada da materialidade. Mal é estar vivo.
Os que querem viver estão condenados. São chamados de "hílicos" ou
"materiais". Os que buscam a gnose, os "psíquicos", têm a possibilidade
de alcançar a paz interior. Finalmente, os que renunciam à vida, os
"espirituais", são os únicos capazes de obter a salvação.
Jesus era um éon escondido em um invólucro de carne humana. A razão
de sua vinda era ensinar aos homens o verdadeiro conhecimento capaz de
libertar, a gnose.
Existiu um gnosticismo sírio-cristão, encabeçado por Saturnilo, e
depois por Cérdon. Também houve o gnosticismo de Basílides, hostil ao
deus dos judeus. Principalmente, em Alexandria e em seguida em Roma,
existiu o gnosticismo de Valentino, que tentava harmonizar o Evangelho
com especulações estranhas. Havia ainda os cainitas, que louvavam Caim,
os ofitas, que adoravam a serpente do Gênesis, e os seguidores de Judas
Iscariotes, que inventaram um novo evangelho. O número de seitas era
enorme.
Temos Marcião, gnóstico "híbrido". Entrou em conflito com as
autoridades da Igreja de Roma. Saiu e foi excomungado em 144. Tornou-se o
fundador de uma contra-igreja, na qual era dogma de fé a existência de
dois deuses, um bom e um mal. O primeiro, o Demiurgo, era o Deus do
Antigo Testamento: justiceiro, vingativo, impiedoso. O segundo, o Deus
verdadeiro, era o Deus pregado por Jesus Cristo: amor, perdão, bondade.
Doutrinas tão "amalucadas", às vezes ridículas e às vezes terríveis, atraíam muitas almas inquietas.
Marcião organizou sua igreja e estabeleceu seu próprio cânone de
livros inspirados, rejeitando tudo o que poderia contradizê-lo nas
Escrituras. Os marcionitas cresceram tanto que pareciam ter invadido
todo o mundo cristão. Mesmo com sua morte, em 160, suas comunidades
continuaram a existir. Seus sucessores serão irrelevantes, excetuando
Apeles, que diminuirá um pouco o rigor das teses do fundador. Parte dos
marcionitas passará para o maniqueísmo no século III.
Há ainda o montanismo. No final do século II, Montano, da Frígia,
acreditava ser o único depositário do dom da profecia. Ajudado por duas
visionárias, Maximila e Priscila, que tinham deixado os maridos para o
seguirem, começou um movimento de evangelização frenético pelas
províncias do Oriente Próximo. O fim do mundo estava próximo, o Espírito
Santo iria aparecer gloriosamente! Montano era o arauto da Era do
Espírito.
Tal loucura se espalhou rápido pelo Oriente, tradicionalmente
místico. A austeridade moral exigida por Montano não espantava em um
lugar que já tinha visto gauleses se castrarem na iniciação dos
mistérios frígios. O martírio era obrigatório no montanismo.
A partir de 170, mais ou menos, este movimento explosivo se espalhou
vigorosamente pela Ásia e depois pelo Ocidente. Comunidades montanistas
floresciam em muitos lugares.
A controvérsia quartodecimana, sobre a data da celebração da Páscoa,
gerou vários atritos dentro da Igreja. O papa Vítor (aprox. 189-198)
anunciou a ruptura da Igreja romana com as comunidades que celebravam a
Páscoa no dia 14 de Nisã. Muitos bispos não aceitaram o procedimento de
Vítor, e até Santo Ireneu pediu mais tolerância ao papa. Com o tempo,
porém, a posição de Roma prevaleceu. (para historiadores protestantes
racionalistas como Neander, Langen e Harnack, a atitude de Vítor na
questão quartodecimana indica que o bispo de Roma já possuía, no século
II, jurisdição sobre todas as igrejas).
O monarquianismo, inventado por Teódoto, ensinava um só Deus e uma só
pessoa divina. Noeto, da cidade de Esmirna, ensinava que o Pai padeceu
na cruz (patripassianismo).
Por fim, o milenarismo, que acreditava em um reinado de mil anos dos
fiéis com Cristo sobre a terra, no qual se usufruiriam de todas as
delícias imagináveis. Pápias era um pouco milenarista. Como veremos a
seguir, levou algum tempo para esta doutrina ser condenada.
18. Contra as heresias
O apóstolo Paulo já tinha preocupações
com a integridade da fé das comunidades cristãs. Deixou advertências
contra o risco das práticas judaizantes, gnósticas e contra alguns que
negavam a ressurreição dos mortos.
O Apocalipse de João denuncia duas seitas gnósticas: a dos discípulos
de Balaão e a dos nicolaítas. Estes últimos amaldiçoavam o Deus do
Antigo Testamento e levavam uma vida libertina.
O que é gnose? A gnose é uma espécie de conhecimento superior,
adquirido de modo direto, intuitivo, das respostas de todos os problemas
que angustiam a alma humana. Todos os grupelhos gnósticos tinham alguns
princípios em comum: a maldade da matéria e da carne, a infelicidade do
homem, prisioneiro do seu próprio corpo, a existência de uma alma
inferior e manchada pelo pecado, e de uma alma superior, celestial, em
suma: um dualismo da pior espécie.
Os gnosticismo cristão (sim, porque havia também um gnosticismo judeu
- Simão o Mago à frente - e pagão) possuía uma doutrina bastante
complexa. Acreditava na existência de eões que emanavam de Deus e que
faziam o papel de mediadores entre o mundo e o Criador. Estes eões eram
organizados em classes, variando dos menos puros aos mais puros. Todas
as classes de eões constituíam o pleroma.
No meio da seqüência de eões, um deles tentou se igualar a Deus e
caiu em desgraça. Colocado para fora do mundo espiritual, teve de viver
com seus descendentes em um universo intermediário. Revoltado, criou o
mundo físico, essencialmente mal e contaminado pelo pecado. O éon
prevaricador era conhecido como Demiurgo e identificado com o Deus do
Antigo Testamento.
O homem, emanação do éon decaído, contém em si uma centelha da
divindade que aspira ser libertada da materialidade. Mal é estar vivo.
Os que querem viver estão condenados. São chamados de "hílicos" ou
"materiais". Os que buscam a gnose, os "psíquicos", têm a possibilidade
de alcançar a paz interior. Finalmente, os que renunciam à vida, os
"espirituais", são os únicos capazes de obter a salvação.
Jesus era um éon escondido em um invólucro de carne humana. A razão
de sua vinda era ensinar aos homens o verdadeiro conhecimento capaz de
libertar, a gnose.
Existiu um gnosticismo sírio-cristão, encabeçado por Saturnilo, e
depois por Cérdon. Também houve o gnosticismo de Basílides, hostil ao
deus dos judeus. Principalmente, em Alexandria e em seguida em Roma,
existiu o gnosticismo de Valentino, que tentava harmonizar o Evangelho
com especulações estranhas. Havia ainda os cainitas, que louvavam Caim,
os ofitas, que adoravam a serpente do Gênesis, e os seguidores de Judas
Iscariotes, que inventaram um novo evangelho. O número de seitas era
enorme.
Temos Marcião, gnóstico "híbrido". Entrou em conflito com as
autoridades da Igreja de Roma. Saiu e foi excomungado em 144. Tornou-se o
fundador de uma contra-igreja, na qual era dogma de fé a existência de
dois deuses, um bom e um mal. O primeiro, o Demiurgo, era o Deus do
Antigo Testamento: justiceiro, vingativo, impiedoso. O segundo, o Deus
verdadeiro, era o Deus pregado por Jesus Cristo: amor, perdão, bondade.
Doutrinas tão "amalucadas", às vezes ridículas e às vezes terríveis, atraíam muitas almas inquietas.
Marcião organizou sua igreja e estabeleceu seu próprio cânone de
livros inspirados, rejeitando tudo o que poderia contradizê-lo nas
Escrituras. Os marcionitas cresceram tanto que pareciam ter invadido
todo o mundo cristão. Mesmo com sua morte, em 160, suas comunidades
continuaram a existir. Seus sucessores serão irrelevantes, excetuando
Apeles, que diminuirá um pouco o rigor das teses do fundador. Parte dos
marcionitas passará para o maniqueísmo no século III.
Há ainda o montanismo. No final do século II, Montano, da Frígia,
acreditava ser o único depositário do dom da profecia. Ajudado por duas
visionárias, Maximila e Priscila, que tinham deixado os maridos para o
seguirem, começou um movimento de evangelização frenético pelas
províncias do Oriente Próximo. O fim do mundo estava próximo, o Espírito
Santo iria aparecer gloriosamente! Montano era o arauto da Era do
Espírito.
Tal loucura se espalhou rápido pelo Oriente, tradicionalmente
místico. A austeridade moral exigida por Montano não espantava em um
lugar que já tinha visto gauleses se castrarem na iniciação dos
mistérios frígios. O martírio era obrigatório no montanismo.
A partir de 170, mais ou menos, este movimento explosivo se espalhou
vigorosamente pela Ásia e depois pelo Ocidente. Comunidades montanistas
floresciam em muitos lugares.
A controvérsia quartodecimana, sobre a data da celebração da Páscoa,
gerou vários atritos dentro da Igreja. O papa Vítor (aprox. 189-198)
anunciou a ruptura da Igreja romana com as comunidades que celebravam a
Páscoa no dia 14 de Nisã. Muitos bispos não aceitaram o procedimento de
Vítor, e até Santo Ireneu pediu mais tolerância ao papa. Com o tempo,
porém, a posição de Roma prevaleceu. (para historiadores protestantes
racionalistas como Neander, Langen e Harnack, a atitude de Vítor na
questão quartodecimana indica que o bispo de Roma já possuía, no século
II, jurisdição sobre todas as igrejas).
O monarquianismo, inventado por Teódoto, ensinava um só Deus e uma só
pessoa divina. Noeto, da cidade de Esmirna, ensinava que o Pai padeceu
na cruz (patripassianismo).
Por fim, o milenarismo, que acreditava em um reinado de mil anos dos
fiéis com Cristo sobre a terra, no qual se usufruiriam de todas as
delícias imagináveis. Pápias era um pouco milenarista. Como veremos a
seguir, levou algum tempo para esta doutrina ser condenada.
19. Santo Ireneu - o adversário da Gnose
Ireneu é considerado
o maior teólogo do século II. Nascido na Ásia Menor (entre 140 e 160),
chegou a conhecer São Policarpo de Esmirna, discípulo do apóstolo São
João. Era presbítero na cidade de Lyon durante a perseguição de Marco
Aurélio. Após o martírio de Potino, foi eleito bispo daquela cidade. Não
temos nada de exato sobre sua morte. Segundo uma tradição antiga, ele
teria sido martirizado por hereges depois do ano 200, com
aproximadamente 70 anos de idade. Outros, porém, afirmam que ele morreu
em um massacre de cristãos em Lyon, no reinado de Sétimo Severo (202?). A
Igreja o venera como mártir, no dia 28 de junho.
A sua maior obra, "Adversus haereses", "Contra as heresias", foi
escrita entre os anos 180 e 185. Trata-se de um ataque demolidor ao
sistema gnóstico. Depois de expor e refutar detalhadamente as doutrinas
da gnose (que conhecia muito bem), Ireneu revela a verdadeira doutrina: o
cristianismo.
Testemunha de grande autoridade, Ireneu fala, entre outras coisas:
- Do valor da Tradição como regra de fé.
- Do primado da Igreja de Roma: "Com esta Igreja, por causa de sua
autoridade principal, faz-se mister concordarem as demais Igrejas, a
saber, os fiéis do universo, na qual se manteve incólume sempre, esses
fiéis de toda a parte, a tradição apostólica"
- "...onde está a Igreja está o Espírito de Deus, e onde está o Espírito de Deus está a Igreja e toda graça".
- Da estada e do martírio de São Pedro e de São Paulo em Roma.
- Que Cristo é a encarnação de Deus. Nele Deus se faz homem para divinizar a humanidade.
- Que A Virgem Maria, por sua obediência, consertou a desobediência de
Eva. Maria é a "advogada de Eva" e "causa de salvação" para o gênero
humano.
- Da doutrina do pecado original.
- Do costume de se batizar também as crianças;
- Que a eucaristia é a carne e o sangue de Jesus. "Compõe-se de dois
elementos, um terreno e outro celeste". É o sacrifício novo, anunciado
por Malaquias (Ml 1,10s), celebrado pela Igreja no mundo inteiro.
Acompanhando muitos de sua época, Ireneu era milenarista. Como,
porém, o milenarismo não tinha sido condenado pelo Magistério, não faz o
menor sentido dizer que Ireneu é culpado de heresia. Não se pode falar
de culpa sem conhecimento de causa.
20. Símbolos, atas de martírio, epitáfios, literatura...
No
Novo Testamento existem numerosas profissões de fé (cfr. At 8,37; 1Cor
12,13; Rm 10,9; Fl 2,11; 1Cor 15,3s; 1Cor 8,6; 2Cor 13,14; 1Cor 12,4)
resumindo pontos essenciais do cristianismo. Os primeiros símbolos
datados da metade do século II se inspiram no mandamento de Jesus acerca
do batismo em nome da Santíssima Trindade (Mt 28,19). Antes do batismo
os catecúmenos eram interrogados pelo ministro, fazendo sua profissão de
fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
Inúmeras homilias e atas de martírios são conhecidas deste período.
Destaques: a Homilia de Melitão sobre a Páscoa, o Martírio de Policarpo,
a Carta das Igrejas de Viena e Lyon às igrejas da Ásia e da Frígia, as
Atas dos mártires de Scili.
O epitáfio de Abércio de Hierápolis, do final do século II, é o
monumento de pedra mais antigo que se refere à eucaristia. Abércio tinha
sido bispo de Hierápolis, na Frígia. Aos 72 anos de idade mandou fazer a
inscrição, na qual fala, entre outras coisas, do seu envio a Roma pelo
Pastor, encontrando por toda parte irmãos na fé, dos quais recebeu o
"peixe" (ICHTHYS, em grego, abreviação de "Jesus Cristo, Filho de Deus,
Salvador" - a iconografia cristã aproveitará esta simbologia), vinho
misturado e pão. Atesta o costume cristão de se orar pelos mortos.
O epitáfio de Pectório, para alguns do início do séc. II, para outros
do séc. III ou IV, fala do batismo, "fonte imortal das águas divinas",
da eucaristia, "alimento melífluo do Redentor dos santos", "peixe que
sustentas nas mãos". Pectório pede a seus pais falecidos que se recordem
dele "na paz do peixe".
A quantidade de evangelhos e epístolas gnósticas que circulavam no
segundo século é enorme: o Evangelho de Tomé, o Apocryphon de João, a
carta de Tiago, o Evangelho de Maria, a Sabedoria de Jesus Cristo, os
dois livros de Jeú, o Evangelho de Matias...
Também o número de apócrifos não-gnósticos (livros não-canônicos) é
elevado: O Testamento dos doze patriarcas, o Martírio e a ascensão de
Isaías, os Oráculos sibilinos, o Evangelho dos Nazoreus, dos ebionitas,
dos hebreus, dos egípcios, de Pedro, a epístola dos Apóstolos, o
Proto-evangelho de Tiago, a Narração da infância de Jesus, por Tomé, o
Kerygma de Pedro, os Atos de Pedro, os Atos de São Paulo, os Atos de
André, o Apocalipse de Pedro...
No meio de tantos livros, cada igreja possuía um esboço do que seria o cânone definitivo do Novo Testamento.
(Continua...)
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