27/02/2013
'Papa Emérito' vai ficar na residência papal de verão após renúncia. A 30 km de Roma, ele vai ficar resguardado durante a escolha do sucessor.
Bento XVI, cuja renúncia deve ocorrer nesta quinta-feira (28), vai
partir imediatamente de helicóptero para Castel Gandolfo, a residência
de verão dos papas, uma suntuosa casa a 30 quilômetros de Roma . Isso
permitirá que o "Papa Emérito" fique distante do alvoroço midiático que
cercará a escolha de seu sucessor, no Vaticano.
"O Papa viverá no apartamento que ele sempre ocupou (...) durante quase
dois meses", explicou o diretor das Vilas pontificais, Saverio
Petrillo, ao longo de uma visita organizada para a imprensa em 22 de
fevereiro.
Essa casa de veraneio, propriedade pontifical desde 1596, se beneficia
de uma posição muito particular: construída inicialmente sobre o cume
rochoso que domina o Lago de Albano, a cidadela cresceu ao longo dos
séculos para virar uma verdadeira residência de férias encrustada em
Castel Gandolfo, um povoado de 9.000 habitantes e que figura na lista
dos mais belos vilarejos da Itália.
Hoje, a residência e seus jardins se estendem por 55 hectares, 11 hectares a mais do que o Estado do Vaticano, o menor do mundo. A casa de Castel Gandolfo se beneficia também da extraterritorialidade.
O
Papa Bento XVI abençoa os fiéis da janela da residência de verão de
Castel Gandolfo, próximo a Roma, em 6 de julho de 2008 (Foto: AFP)
A propriedade, que de um lado goza de uma vista para o mar e de outro
de uma vista para o lago, encontra-se a 426 metros de altitude, o que
garante a seus hóspedes um certo frescor nas quentes noites de verão.
Normalmente, os Papas vão para a casa na Páscoa e no verão para escapar
das altas temperaturas romanas. "O Papa, que vem na Páscoa (que cai
este ano em 31 de março), antecipou sua estada em um mês", disse Saverio
Petrillo, que evoca "uma situação de rotina quanto à logística, mas
excepcional quanto às circunstâncias."
"A demissão de Bento XVI nos pegou de surpresa, foi como um raio no
meio de um céu calmo", reconhece Petrillo, que diz compreender a decisão
do Papa de partir imediatamente para Castel Gandolfo.
"Aqui, o Papa se encontra em um ambiente familiar. Não há grandes obras
de arte, nem grandes salões", explicou acompanhando jornalistas aos
cômodos de recepção, de proporções modestas se comparadas à
monumentalidade do Vaticano.
Os jardins, nos quais se sucedem alamedas de ciprestes e terraço estilo
francês onde arbustos formam motivos de elegantes volutas e favorecem
longas caminhadas. Uma oportunidade raramente aproveitada por Bento XVI:
"é um homem de estudos reservado, que não gosta da vida ao ar livre",
disse Saverio Petrillo.
Bento XVI, acompanhado de seus dois secretários particulares e de
quatro laicos consagrados que o assistem cotidianamente, deve passar a
maior parte de seu tempo em seus apartamentos privados, que ocupam a ala
da casa com vista para o mar.
Em 2011, o Papa declarou sobre Castel Gandolfo: "aqui eu encontro tudo.
Montanha, lago, e vejo até mesmo o mar (...) as pessoas são gentis".
Uma placa com estas palavras elogiosas foi colocada na fachada da
prefeitura logo em frente ao imponente palácio apostólico, que domina a
praça principal da cidade, ornada por uma fonte.
A fachada atual da residência é de autoria de Carl Maderno, que
inteveio depois que Urbano VIII decidiu, em 1626, transformar
oficialmente Castel Gandolfo em casa de veraneio dos Papas.
Em 1773, Clemente XIV estendeu a superfície da casa incorporando a casa ao lado, do cardeal Camillo Cybo.
Em 1929, com a assinatura dos acordos de Latrão entre a Santa Sé e a
Itália de Mussolini, a casa aumentou ainda mais suas dimensões graças a
aquisição da Villa Barberini, que compreende as ruínas de um palacete
que pertenceu ao imperador Domiciano (51-96 d.C.)
Enfim, Pio XI comprou durante seu pontificado (1922-1939) novas terras
para criar uma pequena produção agrícola, onde ainda hoje pastam vacas,
contribuindo para a atmosfera bucólica deste reduto de paz.
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