O encerramento do pontificado de Bento XVI foi marcado por um ato que pôs em evidência um dos muitos personagens do Vaticano: a Guarda Suíça Pontifícia.
Coube a ela cerrar as portas do Palácio Apostólico de verão, em Castel
Gandolfo, onde o agora Papa Emérito passará os próximos dois meses. Após
esse gesto, depôs as armas e foi substituída pela Gendarmaria (Corpo de
Polícia do Estado do Vaticano). Mas, uma pergunta ficou no ar: quem são
esses homens cuja função é cuidar da segurança do Papa?
Por volta de 1505, o então Papa
Julio II pediu ao monarca da Suíça que lhe mandasse um grupo de homens
para fazer a sua segurança pessoal. Em 22 de janeiro de 1506, 150 homens
suíços, comandados pelo Capitão Kaspar von Silenem, escolhidos entre os
mais fortes, robustos e nobres representantes dos cantões de Uri,
Zurique e Lucerna, adentraram ao Vaticano e atravessaram a Praça do
Povo, onde foram abençoados por aquele Pontífice.
Encarregados de garantir a segurança
do Papa, enfrentaram em 06 de maio de 1527 a mais sangrenta batalha,
quando Roma foi invadida por cerca de dezoito mil homens pertencentes ao
exército de Carlos V, o qual guerreava contra Francisco I. Naquele dia,
um grupo de mil homens do exército inimigo batalhou contra a Guarda do
Papa, em frente à Basílica de São Pedro. Os
suíços lutaram bravamente e 108 deles morreram no combate, mas, para
comprovar sua coragem e dedicação, das fileiras contrárias tombaram 800
dos mil invasores. Além disso, fizeram uma espécie de cordão de
isolamento em torno do Papa Clemente VII, levando-o em segurança até o
Castelo de Santo Ângelo.
Recruta levanta os três dedos da mão, símbolo da Santíssima Trindade, durante a cerimônia de juramento.
Esta é a missão da Guarda Suíça
Pontifícia: dar a própria vida, se necessário for, para proteger a do
Sumo Pontífice. Assim, é evidente que para ser admitido ao corpo da
Guarda é necessário que o candidato passe por um rigoroso processo de
seleção. Os principais requisitos são:
- Ser católico: dado que a pessoa a ser protegida é ninguém menos que a autoridade máxima temporal da Igreja Católica Apostólica. Além disso, é dever do Guarda Suíço velar pelos peregrinos católicos, pela Cúria Romana e pelo próprio Túmulo do Príncipe dos Apóstolos. Por fim, ele deve participar cotidianamente das diversas celebrações litúrgicas no Vaticano. Nada mais justo, portanto, que professe a fé católica.
- Ter cidadania suíça: em honra aos 108 suíços que tombaram gloriosamente na batalha ocorrida em 1527, somente são admitidos homens dessa nacionalidade no corpo de segurança pontifício.
- Ter boa saúde: os candidatos passam por uma rigorosa bateria de exames físicos e psicológicos.
- Ser solteiro: exceção feita somente aos oficiais, sargentos e cabos. É proibido que durmam fora do Vaticano.
- Ter concluído o curso básico de preparação: ministrado pelo exército suíço. Além disso, devem obter um certificado de aptidão.
- Ter boa conduta: como a pessoa irá servir diretamente ao Papa, deve ter uma conduta irreprovável.
- Ter formação profissional: é desejável que o candidato tenha uma boa formação, além da vontade e eficiência. É esperado que ele demonstre capacidade de aprendizagem e um certo nível de maturidade.
- Idade: Para ser admitido, o candidato deve ter entre 19 e 30 anos de idade.
A Guarda Suíça tem diversas atribuições, dentre elas, prestar
segurança às inúmeras autoridades estrangeiras que visitam oficialmente
o Vaticano, assistir o Papa durante as suas viagens apostólicas e
também em suas aparições públicas na Praça de São Pedro. Por
isso, nem sempre estão trajados com o uniforme pelo qual são
reconhecidos. Muitas vezes estão à paisana, como guarda-costas e
misturam-se à multidão, utilizando equipamentos de segurança de última
geração. Tudo para garantir a segurança do Pontífice. Hoje ela é
composta por 109 membros, sendo cinco oficiais, 26 sargentos e cabos e
78 soldados.
O uniforme é outro aspecto
interessante da Guarda Suíça e pelo qual são reconhecidos. Imputa-se o
seu desenho original a Michelangelo, mas o modelo atual foi redesenhado
por Jules Répond, então Capitão da Guarda. Elaborado em malha de cetim,
nas cores azul-real, amarelo-ouro e vermelho-sangue, é composto de meias
que aderem às pernas e são presas na altura do joelho por uma liga
dourada e a parte superior também apresenta um corte inusitado. O
capacete é ornado com uma pluma de cor vermelha e as luvas são brancas.
Trata-se de um uniforme bastante
elegante, que simboliza a nobreza e o orgulho de servir ao Sumo
Pontífice. Embora, de maneira inegável, seja curioso para os tempos
atuais. Por causa disso, chama a atenção dos peregrinos católicos que
visitam o Vaticano. No site oficial da Guarda Suíça Pontifícia existe um
campo para que os peregrinos enviem suas fotos tiradas com os guardas
na Praça de São Pedro. No dia 06 de maio de 2006, o Papa Emérito Bento
XVI, presidiu uma Missa Solene celebrando os 500 anos da Guarda Suíça
Pontíficia. Em sua homilia afirmou:
"Entre as numerosas expressões da presença dos leigos na Igreja católica, encontra-se também a da Guarda Suíça Pontíficia, que é muito singular porque se trata de jovens que, motivados pelo amor a Cristo e à Igreja, se põem ao serviço do Sucessor de Pedro.Para alguns deles a pertença a este Corpo de Guarda limita-se a um período de tempo, para outros prolonga-se até se tornar opção para toda a vida. Para alguns, e digo-o com profundo prazer, o serviço no Vaticano contribuiu para maturar a resposta à vocação sacerdotal ou religiosa. Mas para todos, ser Guardas Suíços significa aderir sem limites a Cristo e à Igreja, prontos por isso a dar a vida. O serviço efetivo pode terminar, mas dentro permanece-se sempre Guardas Suíços."
A cena da qual a Guarda Suíça fez
parte no dia da renúncia de Bento XVI (28/02/2012) retrata perfeitamente
o espírito que a move e que deveria servir de exemplo para todos os
católicos:servir à Igreja e ao Sumo Pontífice até o fim. Até o último segundo.
Guarda Suiça se prepara para o final do pontificado de Bento XVI acompanhada pelos jornalistas do mundo inteiro
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