O encontro da imagem pelos pescadores no Porto de Itaguaçu não é uma mensagem para os pobres, nem para os negros como o foi até hoje.
Por Dom Rafael Maria, osb
RECIFE, 21 de Março de 2013 (Zenit.org)
- Circula no meio jornalístico especulações sobre a renúncia do
Papa Ratzinger no dia 28 de Fevereiro e que nos faz refletir sobre o
assunto à luz do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição
Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul e de sua mensagem. Redigimos
um artigo, o qual foi publicado em duas revistas e na internet com o
título: «Nossa Senhora da Conceição Aparecida e a CNBB»:
http://www.a12.com/santuario/academia/artigos
Neste artigo procuramos dar uma nova roupagem as interpretações da
mariofania de 1717, assim como dar um novo olhar constatando muitos
elementos eclesiológicos e mariológicos nos acontecimentos aparecidenses
nunca estudados.
A história que exige uma resposta divina
Tomamos como ponto de partida os fatos históricos, eclesiais
e políticos do séc. XVIII e finalmente chegamos a conclusão de que
o encontro da imagem pelos pescadores no Porto de Itaguaçu não é
uma mensagem para os pobres, nem para os negros como o foi até hoje. É
uma mensagem para a Igreja e para o mundo de ontem e de hoje. Fizemos
uma análise dos aspectos simbólicos da imagem quebrada procurando luzes
e sentido nas Escrituras, na Patrística, no Magistério e na
Liturgia, elementos basilares para um verdadeiro estudo mariológico.
Observamos que a imagem quebrada em duas partes de Aparecida
estava relacionada a falta de unidade na Igreja interna e na sua missão
no séc. XVIII, atacada por forças hostis à sua vocação de mensageira
do Evangelho, da Revelação Divina emanada por Jesus Cristo e a sua
vocação no mundo. O Iluminismo que deu asas a tantas ideologias, se
prestou a um mau serviço à sociedade produzindo o Absolutismo, o
Josefismo, o Jansenismo, o Galicanismo, o Deísmo, a Maçonaria, etc.,
onde atacaram com veemência a Igreja, sua mensagem doutrinal e a prática
religiosa ontem com resquícios hoje. Papas do séc. XVIII (cerca de 8 ou
9) não foram suficientemente hábeis, salvo exceções, na gestão
política internacional, assim como nas intrigas eclesiásticas internas e
que deixaram a Igreja no séc. XVIII em situações desagradáveis.
Aspectos simbólicos de eclesiologia e mariologia
A “cabeça da imagem”, originalmente encontrada “separada do
corpo” estava com os cabelos curtos (cortados) e, que nos recorda a
Sansão que perde suas forças quando fraquejou humanamente, isto é, não
foi fiel ao Senhor. A imagem/Igreja tirada das águas nos recorda a força
de Deus que salva Pedro das ondas revoltas, mas também Moisés que,
salvo da perseguição faraônica recebe uma oportunidade na mediação com o
Povo de Israel. O aspecto mariológico nos faz lembrar a Imaculada
Conceição de Maria (a imagem é da Imaculada); Maria salva por obra e
graça de Deus pelos méritos de Cristo para o serviço do Senhor e dos
irmãos. Em Aparecida toda sua mensagem é eclesiológica e mariológica.
Nela encontramos sinais do chamamento do Senhor, por meio de Maria,
imagem da Igreja, santa e imaculada à unidade, isto é, o que
interpretamos das duas partes da imagem (A cabeça = Cristo/o Papa e o
Corpo = o Povo de Deus). O encontro através de pescadores no rio, com
barcas, redes e os peixes nos levam ao Evangelho sobre a escolha do
Senhor Jesus e deste símbolo da Igreja. Mas é o povo que começa a
cultuar Maria e não a Igreja oficial que só depois de décadas que se
veem na obrigação de oficializar o culto mariano de Aparecida (1745).
Não houve uma «aparição» da Virgem, mas uma modalidade de mariofania
dentro de um contexto litúrgico e devocional. A liturgia da época com
seus textos eucológicos e bíblicos do Missal Tridentino utilizado na
época apresentam as advertências do Senhor com os falsos profetas e suas
doutrinas (onde podemos aplicar ao Iluminismo), chama-nos a atenção à
fidelidade a mensagem do Senhor (fidelidade na unidade comunitária,
entre irmãos).
Um outro fator é uma nova hermenêutica sobre a cor da Imagem.
Nossa interpretação é vinculada a dois aspectos: o primeiro, o
Mariológico, através do Ct 1,5, onde os Padres da Igreja aplicam a
Maria, a imagem da Esposa do Ct, a beleza da esposa; o segundo, o
Eclesiológico, a Igreja esposa, mas sua cor escura pode refletir seus
pecados, sua situação no mundo e a violência em que esta sujeita pelas
forças contrárias. Ora, o Papa Bento XVI nos faz refletir em seus
discursos sobre a falta de unidade na Igreja e os interesses pessoais,
contrários a mensagem do Evangelho. Tais discursos são ecos de um mau,
que parece ser incurável na Igreja. Permanece em alguns que relutam na
obstinação de rever e de se converter promovendo assim danos pessoais e
comunitários. Os escândalos morais e materiais da Igreja, isto é, dos
batizados (leigos e consagrados) de hoje, não são diferentes dos de
ontem, pois parecem ser fruto desta relutância dos membros e em que o
Santo Padre na qualidade de pastor e pai espiritual nos adverte. Nossa
Senhora da Conceição Aparecida deixou aqui no Brasil sua mensagem pouco
refletida e aprofundada para o mundo.
Aparecida é um convite de retorno às origens na Imaculada Conceição
da Virgem Maria. Maria, é o início para a Igreja, para todos os
batizados em Cristo. Olhando e imitando a Virgem Maria, a Igreja (leigos
e consagrados) podem se converter no seguimento fiel a Jesus,
Pastor eterno e Salvador de todos. Rezemos uns pelos outros, pois, assim
será sinal de começo de unidade e conversão.
Para ler o artigo anterior clique aqui.
Pe. Rafael Maria é formado em "Postulação para beatificação e
canonização para Causa dos Santos" e é doutor em Mariologia pela
Pontifícia Faculdade Teológica «MARIANUM» - Roma. Leciona um «Curso de Mariologia» via internet (cf. www.cursoscatolicos.com.br). Para maiores informações: d.rafaelmariaosb@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário