O
profeta Isaías mostra-nos que Jesus foi para a cruz “como um cordeiro
que se conduz ao matadouro (Ele não abriu a boca)” (Is 53,7). Mas o
Senhor quis deixar-nos as suas últimas palavras, já pregado na Cruz.
Sabemos que as últimas palavras de alguém, antes da morte, são aquelas
que expressam as suas maiores preocupações e recomendações. A Igreja
sempre guardou essas “Sete Palavras” com profundo amor, respeito e
devoção, procurando tirar delas todo o seu riquíssimo significado.
1- “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Com essas palavras Jesus selava todo o
seu ensinamento sobre a necessidade de “perdoar até os inimigos”( Mt
5,44) . Na Cruz o Senhor confirmava para todos nós que é possível, sim,
viver “a maior exigência da fé cristã”: o perdão incondicional a todos.
Na Cruz Ele selava o que tinha ensinado: “Não resistais ao mau. Se
alguém te feriu a face direita, oferece-lhe também a outra… Amai os
vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos
maltratam e perseguem. Deste modo sereis filhos do vosso Pai do céu,
pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons” (Mt
5,44-48). “Se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos
perdoará”( Mt 6,14). Certa vez Pedro perguntou-Lhe:“Senhor, quantas
vezes devo perdoar meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete
vezes?” “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,
21-22).
2- “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43).
Com essas palavras de perdão e amor ao
“bom” ladrão, Jesus nos mostra de maneira inequívoca o oceano ilimitado
de sua misericórdia. Bastou Dimas confiar no Coração Misericordioso do
Senhor, para ter-lhe abertas, de imediato, as portas do Céu.
Não é à toa que a Igreja ensina que o
pior pecado é o da desesperança, o de não confiar no perdão de Deus, por
achar que o próprio pecado possa ser maior do que a infinita
misericórdia do Senhor. Uma grande tentação sempre será, para todos nós,
não confiar na misericórdia de Deus. Santa Teresinha do Menino Jesus
dizia: “como a misericórdia e a bondade do coração de Jesus são pouco
conhecidas!” “Jesus, eu confio em Vós”.
3- “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46).
Estas palavras, que também estão no Salmo
21, mostram todo o aniquilamento do Senhor. É aquilo que São Paulo
exprimiu muito bem aos filipenses: “aniquilou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo” (Fil 2,8).
Jesus sofreu todo o aniquilamento
possível de se imaginar: moral, psicológico, afetivo, físico,
espiritual, enfim, como disse o profeta: “foi castigado por nossos
crimes e esmagado por nossas iniquidades…” (Is 53,5).
Depois de tudo isto “ninguém tem mais o
direito de duvidar do amor de Deus”. Será uma grande blasfêmia alguém
dizer que Deus não lhe ama, depois que Jesus sofreu tanto para assumir
em si o pecado de todos os homens e de cada homem. Paulo disse aos
Gálatas: “Ele morreu por mim”(Gal 5,22).
4- “Mulher, eis aí o teu filho”… “Filho, eis aí tua Mãe” (Jo19,26).
Tendo entregado-se todo pela nossa
salvação, já prestes a morrer, Jesus ainda nos quiz deixar o que Ele
tinha de mais precioso nesta vida, a sua querida Mãe. E como Jesus
confiava nela! A tal ponto de querê-la para nossa Mãe também. Todos
aqueles que se esquecem de Maria, ou, pior ainda, a rejeitam, esquecem e
rejeitam também a Jesus, pois negam receber de Suas mãos, na hora
suprema da Morte, o seu maior Presente para nós.
5. “ Tenho sede! ” (Jo 19,28).
Dizem os Padres da Igreja que esta “sede”
do Senhor mais do que sede de água, é sede de almas a serem salvas, com
o seu próprio Sacrifício que se consumava naquela hora. E esta “sede”
de Jesus continua hoje, mais forte do que nunca.
Muitos ainda, pelos quais ele derramou o
seu sangue preciosíssimo, continuam vivendo uma vida de pecado,
afastados do amor de Deus e da Igreja. Quantos e quantos batizados,
talvez a maioria, nem sequer vai à Missa aos domingos, não sabe o que é
uma Confissão há anos, não comunga, não reza, enfim, vive como se Deus
não existisse…
6- “Tudo está consumado” (Jo 19,30).
Nos diz São João: “sabendo Jesus que tudo
estava consumado…”, isto é, Jesus tinha plena consciência que tinha
cumprido “toda” a sua missão salvífica, conforme o desígnio santo de
Deus. Enquanto tudo não estava cumprido, Ele não “entregou” o seu
espírito ao Pai. Assim, fica bem claro que a nossa salvação depende
agora de nós, porque a parte de Deus já foi perfeitamente cumprida até
às últimas consequências.
7- “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
Confiando plenamente no Pai, que Ele
fizera também nosso Pai ao assumir a nossa humanidade, Jesus volta para
Aquele que tanto amava. É o seu destino, o coração do Pai; e é o nosso
destino também. Ao voltar para o Pai, Jesus indica o nosso fim; o seio
do Pai, o Céu. “Vós sois cidadãos do Céu” (Fil 3,20), grita o Apóstolo;
por isso, como diz a Liturgia, é preciso “caminhar entre as coisas que
passam, abraçando somente as que não passam”.
Prof. Felipe Aquino
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