Quando foi nomeado arcebispo de
São Paulo pelo papa Bento 16, em março de 2007, dom Odilo Pedro Scherer
diz ter sentido o peso da responsabilidade que estava assumindo. Ordenado bispo apenas cinco anos antes, dom
Odilo conta que chegou a pensar se daria conta do desafio de comandar a
maior arquidiocese do maior país católico do mundo.
Seis anos depois, o cardeal
brasileiro pode estar prestes a enfrentar um desafio ainda maior: nos
últimos dias, seu nome vem despontando nas listas de possíveis
sucessores de Bento 16, que deixou o cargo no mês passado.
Nascido em 1949 em uma família de imigrantes
alemães em Cerro Largo, no noroeste do Rio Grande do Sul, dom Odilo tem
um perfil apontado por alguns especialistas como ideal para comandar a
Igreja Católica em um momento em que cresce a pressão pela escolha de um
papa de fora da Europa.
"No nível simbólico, ele seria o primeiro papa
do mundo em desenvolvimento. Suas raízes germânicas, porém, dão a ele
uma ligação cultural e linguística com o Velho Mundo", escreveu o
vaticanista americano John Allen no site do jornal National Catholic Reporter.
"Então, de certa maneira, ele poderia ser
percebido por muitos cardeais como uma ponte 'segura' entre o passado e o
futuro da Igreja."
Experiência
Aos 63 anos, o cardeal brasileiro já foi
descrito pela imprensa italiana como "um homem de estilo moderado e
menos latino, que fala bem o italiano".
Fluente em português, italiano e alemão – que
era o primeiro idioma em sua casa, na infância –, ele fala também
inglês, francês e espanhol.
A atuação à frente da Arquidiocese de São Paulo –
terceira maior do mundo – e, antes, como secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), de 2003 a 2007, garantiram a
dom Odilo a fama de bom administrador, importante em um momento em que a
Igreja tenta se recuperar de escândalos e divergências internas.
"Ele gosta das tarefas bem feitas e, quando algo não fica do seu agrado, não pensa duas vezes em chamar a atenção dos envolvidos. Alguns até se assustam."
Padre Aparecido Pereira, que conhece dom Odilo há uma década.
"Ele gosta das tarefas bem feitas e, quando algo não fica do seu agrado, não pensa duas vezes em chamar a atenção dos envolvidos.
Alguns até se assustam", disse à BBC Brasil o padre
Aparecido Pereira, vigário episcopal para as Comunicações da
Arquidiocese de São Paulo, que conhece o cardeal há uma década.
Dom Odilo também tem a seu favor a experiência
adquirida durante os anos passados na Cúria Romana, onde trabalhou na
Congregação para os Bispos, considerada um dos mais importantes
departamentos do Vaticano, como ressalta Allen.
"Isso poderia sugerir a alguns cardeais que ele
pode executar uma tão desejada reforma na burocracia do Vaticano",
escreveu o vaticanista.
A proximidade com o Vaticano, porém, é apontada
por alguns como motivo para as duas derrotas subsequentes sofridas por
dom Odilo nas últimas eleições para a CNBB.
Carreira
A escolha do nome de dom Odilo no conclave que
se reúne em Roma seria a coroação de uma carreira já descrita como
meteórica, iniciada no seminário em Toledo, no oeste do Paraná, para
onde a família Scherer se mudou quando ele era criança.
Ele é o sétimo entre 13 irmãos. Duas meninas
morreram na infância, e, dos outros 11 irmãos, dez estudaram em
instituições religiosas, mas dom Odilo foi o único que seguiu a carreira
eclesiástica.
Foi ordenado sacerdote aos 27 anos, bispo aos 52
e elevado a arcebispo aos 57, pouco antes da visita do papa Bento 16 ao
Brasil. Poucos meses depois, em novembro de 2007, aos 58 anos,
tornava-se cardeal.
Com mestrado em filosofia e doutorado em
teologia cursados em Roma, dom Odilo não é considerado um religioso
conservador linha-dura e já se pronunciou sobre temas da política.
Por exemplo: apesar de criticar a inclinação
marxista da Teologia da Libertação, ele já elogiou os avanços que o
movimento trouxe ao pobres.
Também já manifestou preocupações ambientais, e chegou a pedir ao governo maior controle da expansão agropecuária na Amazônia.
Por outro lado, muitas de suas declarações ecoam
posições tradicionais da igreja. Ele é contra o fim do celibato para
padres, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o aborto, opiniões
próximas às do papa Bento 16.
Em 2012, quando o STF (Supremo Tribunal Federal)
julgava a descriminalização do aborto em caso de anencefalia, dom Odilo
ressaltou que a decisão não mudava a posição da Igreja, “de respeito
pleno à vida daquele ser humano, ainda que seja muito breve”.
"Se isso foi tornado legal, não significa que se tornou moral", disse, na época.
"Toda vez que falam de candidatura em Roma ele mesmo desvia. Ele instruiu a família a dizer que as chances são remotíssimas, exatamente para tirar essa perspectiva de que ele está disputando um cargo."
Ives Gandra Martins, um dos sete conselheiros da Arquidiocese de São Paulo.
Em 2009, em meio à polêmica gerada por declarações do arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, sobre o caso de uma menina de nove anos grávida de gêmeos após ter sido violentada pelo padrasto, dom Odilo falou à BBC em termos mais amplos sobre a posição da Igreja em relação ao aborto em casos de estupro.
"Eu entendo como uma mulher que carrega um bebê
após ter sido violentada se sente, mas sempre há a possibilidade de
ajudar essa mulher a lidar com a situação", disse na época.
No ano passado, dom Odilo foi alvo de protestos
na eleição para a reitoria da PUC-SP quando, usando seu poder como
grão-chanceler da universidade, nomeou para o cargo a terceira colocada
na votação, Anna Cintra.
Ele também provocou polêmica durante as eleições
para a prefeitura de São Paulo, ao criticar a campanha do candidato
Celso Russomanno, do PRB, partido liderado por integrantes da Igreja
Universal do Reino de Deus.
Renovação
Muitas das opiniões do cardeal são expressadas
em sua conta no Twitter, @DomOdiloScherer, uma das ferramentas usadas
por dom Odilo para se comunicar com os jovens.
O cardeal que gosta de fotografia, cinema e
viagens e trabalha ouvindo música erudita e MPB é considerado um
religioso moderno, uma aposta para os que acreditam que a Igreja
Católica precisa de renovação.
Apesar da movimentação em torno de seu nome, dom Odilo evita falar sobre a possibilidade de se tornar papa.
"Toda vez que falam de candidatura em Roma ele
mesmo desvia", disse à BBC o advogado Ives Gandra Martins, um dos sete
conselheiros da Arquidiocese de São Paulo.
"Ele instruiu a família a dizer que as chances
são remotíssimas, exatamente para tirar essa perspectiva de que ele está
disputando um cargo."
Caso seja escolhido no conclave, sua habilidade
de se aproximar dos jovens será colocada à prova já no início do
pontificado: um dos primeiros compromissos do novo papa será a Jornada
Mundial da Juventude, marcada para julho, no Rio.
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