Coluna do Pe. Antonio Rivero, L.C., professor de Teologia e Oratória no seminário Mater Ecclesiae de São Paulo
Por Pe. Antonio Rivero, L.C.
SãO PAULO, 01 de Março de 2013 (Zenit.org) - Depois de ter analisado os diferentes tipos de ouvintes que temos, dediquemos umas linhas para a figura do pregador.
A figura do pregador
Nenhum pregador pode pregar-se a si mesmo, mas tem que dar testemunho
da Palavra de Deus, que se fez homem e habitou entre nós. A dupla
tarefa do sacerdote de acordo com Orígenes será: “aprender de Deus
lendo as Escrituras divinas, meditando-as frequentemente e ensinando-a
ao povo. Mas, que ensine o que aprendeu de Deus, não do seu próprio
coração ou num sentido humano, mas o que ensina o Espírito” (In Num hom., 16, 9).
O pregador é servidor da Palavra para que se realize o grande
encontro não só entre ele mesmo e os ouvintes, mas, principalmente,
entre Deus e os ouvintes através dele. A pregação tem que ser um meio
para que uma comunidade, e cada um dos seus membros em especial, seja “ouvinte da palavra”.
Tem que falar disso envolvido pessoalmente e não distante, indicando
um caminho e não somente informando. Não basta proporcionar frases
corretas teologicamente. Entre uma teologia bem aprendida e uma profunda
convicção pessoal há uma grande diferença.
Características do pregador
O pregador da mensagem cristã é um enviado. Recebeu a
incumbência desse ministério, como aconteceu com os profetas; não é uma
distinção mas uma responsabilidade, da qual não podemos escapar, como
alguns profetas gostariam[1].
Por isso tem que ser um administrador fiel (cf 1 Cor 4, 2), porque não
anuncia a sua própria mensagem, mas a do outro. Neste caso, a de Deus e
da Igreja. A missão permanece em nós apesar da nossa debilidade.
O pregador da mensagem cristã é uma testemunha. Exige-se
do pregador não somente a fidelidade externa ao conteúdo da mensagem,
mas também a entrega pessoal à Palavra. Não pode haver uma contradição
entre a sua palavra e a sua vida. O pregador tem que ser sempre
testemunha da sua fé pessoal, se não quer que a sua palavra seja ao
final uma palavra vazia, não digna de crédito. A primeira testemunha que
se requer do pregador é a da sua lealdade absoluta da sua humildade
diante de Deus, da sua renúncia a si mesmo para ser porta-voz de uma
verdade que não lhe pertence. A pregação é a interpretação e a
transmissão do ouvido. Por isso, a testemunha dará aos seus ouvintes
parte do que para ela significa a Mensagem e da sua experiência pessoal
com esta. O pregador transmite a mensagem cristã não somente com as suas
palavras, mas principalmente com as suas obras[2].
O pregador da mensagem cristã é um tradutor. A
mensagem de Deus proferida num outro tempo, em outras circunstâncias
sociais e culturais em uma determinada situação histórica, e a alguns
ouvintes historicamente determinados... essa mensagem o pregador tem que
traduzir para o mundo de hoje. Tem que traduzí-la com toda exatidão,
porque em toda tradução existe o perigo da traição
(“traduttore...traditore”). Não pode ajustar o conteúdo da fé, mas a
forma de transmití-la. João Paulo II nos convidava a novos métodos, nova
expressão, nova força, novo entusiasmo... mas não novos conteúdos.
O pregador da mensagem cristã é um comentador. O
pregador tem que comentar, explicar, aplicar às necessidade
correspondentes, à situação histórica do mundo, aos fieis concretos que
tem pela frente. O pregador é um humilde servidor da palavra revelada. O
melhor que pode fazer é apresentar aos fieis a palavra revelada da
Escritura de um modo que a possam entender. Não usá-la como apoio e
trampolim para os próprios pensamentos e ideologias, ou até mesmo como
ornamento da eloqüência do pregador.
O artigo da semana passada pode ser lido clicando aqui.
Padre Antonio Rivero tem licenciatura e doutorado em Teologia
Espiritual pelo Ateneu Pontifício Regina Apostolorum em Roma.
Atualmente exerce seu ministério sacerdotal como professor de teologia e
oratória, e diretor espiritual no Seminário Maria Mater Ecclesiae do
Brasil.
Caso você queira se comunicar diretamente com o Pe. Antonio
Rivero escreva para arivero@legionaries.org e envie as suas dúvidas e
comentários.
[1] Por exemplo Jonas (Jon 1, 2), ou Jeremias (Jer 20, 8), ou Elias (1 Re 19, 4).
[2]
São Gregório Magno dirá: “Que qualquer pregador seja mais escutado nas
obras do que nas palavras; e vivendo ele deixe as pegadas para serem
seguidas; ou seja que, mais obrando do que falando, mostre por onde se
deve caminhar” (Regula Pastoralis III, 40).
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