BERNARDO MELLO FRANCO
FELIPE SELIGMAN
ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA
ENVIADOS ESPECIAIS A ROMA
Cotado como um dos favoritos para suceder o papa emérito Bento 16, o
cardeal brasileiro Odilo Scherer, 63, disse ontem que o conclave não é
uma "corrida política" e pediu orações para que a igreja consiga cumprir
sua missão num "tempo difícil".
Ele seguiu o protocolo e evitou se apresentar como candidato ao celebrar
sua última missa em Roma antes das votações secretas, que começam
amanhã e apontarão o novo líder do catolicismo.
O arcebispo de São Paulo foi recebido na igreja de Santo André do
Quirinale, da qual é o cardeal titular, por mais de 50 jornalistas de
vários países. Acenou para fotógrafos e cinegrafistas, mas só quis
falar, na sacristia, à TV religiosa Canção Nova.
"Não se trata de uma corrida política, não se trata de campanha.
Trata-se realmente de entrar num clima de oração e acolhida para aquilo
que Deus quer que seja para a sua igreja", afirmou.
"A gente pede que todos se unam a nós [cardeais] em oração pelo
conclave, pela escolha daquele que será o sucessor de Pedro",
acrescentou.
Na cerimônia, celebrada em italiano, o brasileiro pediu que os fiéis
confiem na igreja e citou um "tempo difícil", sem fazer referência
direta aos escândalos que atingiram o Vaticano durante o pontificado de
Bento 16.
"Convido a rezar para a igreja cumprir bem a sua missão neste tempo.
Seguramente um tempo difícil, mas também de muita alegria", disse.
Sorridente, só citou a eleição do papa ao afirmar que Roma vivia um dia
de festa com a visita dos cardeais às igrejas das quais são titulares
--tradição dos domingos que antecedem os conclaves.
"Hoje, todas as igrejas de Roma têm muita vibração, muita festa com a
presença dos cardeais que são titulares rezando pelo conclave."
Em tempo de quaresma, o cardeal concentrou o sermão na ideia de
reconciliação e disse que muitas pessoas estão vivendo "como se Deus não
existisse ou não fosse importante" em suas vidas.
A única menção ao papa emérito foi feita por uma fiel convidada a ler
trechos da Bíblia. Ela agradeceu a Bento 16 por ter "cuidado do povo de
Deus com caridade".
A missa atraiu poucos fiéis locais e muitas câmeras de TV à igreja, joia
barroca projetada por Gian Lorenzo Bernini e concluída em 1670. Scherer
só falou em português ao saudar a presença do embaixador do Brasil
junto à Santa Sé, Almir Barbuda.
O cardeal entrou em procissão, concedeu uma bênção especial e posou para
fotos com um casal de idosos italianos que festejava 70 anos de
casamento e deixou cair uma hóstia no chão na hora da comunhão. "Há 70
anos eu nem tinha nascido. Que belo", disse d. Odilo.
Um padre chegou a se posicionar para ajudá-lo, mas desistiu ao constatar
que a maioria queria aproveitar o momento para se aproximar do
candidato a papa.
Antes de ir embora, ele recebeu cumprimentos de religiosos brasileiros
que disseram torcer por sua escolha no conclave. "Deus já é brasileiro,
só falta o papa", disse na saída o padre potiguar João Maria do
Nascimento, 42.
O cardeal brasileiro dom Odilo Scherer celebra missa na Igreja Sant'Andrea al Quirinale em Roma |
POLARIZAÇÃO
Ontem os jornais europeus voltaram a apresentar a disputa como um duelo
entre Scherer, que teria o apoio da Cúria, e o arcebispo de Milão,
Angelo Scola, apontado como preferido de setores que cobram mudanças na
igreja.
O italiano "La Repubblica" estimou que Scherer chegaria à primeira etapa
da eleição com 25 a 30 votos, contra 35 a 40 de Scola. O conclave pode
ter várias votações e só termina quando um concorrente forma maioria de
dois terços --neste ano, 77 votos.
Em sua missa, Scola pediu que os fiéis rezassem para que o próximo papa
seja "um pastor santo", apto a enfrentar "um momento delicado de
passagem do milênio".
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