27. Clemente de Alexandria e Orígenes
Tito Flávio Clemente é possivelmente originário de Atenas, nascido
por volta de 150. Depois de se converter, viajou pela Itália, Síria,
Palestina e se estabeleceu em Alexandria, tornando-se aluno de Panteno.
Sucedeu o mestre como professor depois do ano 200. Durante a perseguição
de Sétimo Severo saiu do Egito e foi para a Ásia Menor, onde morreu
antes de 215.
Orígenes nasceu em Alexandria, em torno do ano 184. Leônidas, seu
pai, morreu como mártir em 202. Sentia um forte desejo de ir para o
martírio. Foi colocado à frente da Escola de Alexandria em 203, pelo
bispo Demétrio. Sua fama se espalhou por toda a parte, atraindo
inclusive pagãos para suas palestras. Em 212 visitou Roma. Passou em
seguida pela Grécia e pela Palestina, onde recebeu a ordenação. A mãe do
imperador Alexandre Severo o chamou até Antioquia, para ouvir seus
discursos. Por volta de 232 houve um desentendimento com Demétrio, que o
levou a se transferir para Cesaréia, na Palestina. Lá um de seus mais
fervorosos discípulos é o futuro São Gregório Taumaturgo. Morreu em 254,
por causa dos ferimentos que sofreu durante a perseguição de Décio.
Eusébio o apelidou de Adamántios (homem de aço) por causa do rigor de
seu ascetismo.
Depois de morto, Orígenes foi condenado várias vezes e teve sua obra parcialmente destruída.
O número de trabalhos e livros que escreveu é vastíssimo,
ultrapassando todos os Padres da antigüidade. Alguns exemplos: os
Hexapla, onde reunia em seis colunas diversas versões do Antigo
Testamento (hebraico, transcrição do hebraico para o grego, tradução de
Áquila, de Símaco, dos LXX e de Teodocião), Contra Celso (apologia
contra as acusações feitas pelo filósofo platônico Celso, no séc. II),
Da oração, Exortação ao martírio, Disputa com Heráclides.Orígenes imaginava a criação como um ato eterno. Era
subordinacionista. Afirmou que a fé na presença real de Cristo na
eucaristia é a "mais comum entre os cristãos". Atesta, sem dúvida
alguma, o caráter sacrifical e expiatório da Santa Missa. Para ele, as
almas dos pecadores, depois de algum tempo no Inferno, seriam
regeneradas e salvas (apokatástasis pánton).Inspirados em Orígenes e na Escola de Alexandria, muitos escritores
cristãos desenvolveram suas obras: Júlio Africano, Amônio, Dionísio de
Alexandria, o Grande, Gregório, o Taumaturgo, Firmiliano, bispo de
Cesaréia, na Capadócia, Teognostos, Pedro de Alexandria, Pânfilo e
Hesíquio.
28. São Cipriano de Cartago
Thascius Cecilius Cyprianus, nascido de uma família rica e pagã, em Cartago, entre os anos 200-210. Recebeu em 246 o batismo, sendo ordenado, dois ou três anos depois, bispo de sua cidade. Suas atividades pastorais foram interrompidas pela perseguição de Décio (250), que o forçou a se esconder. Quando muitos apóstatas começaram a ser facilmente readmitidos na Igreja surgiu um cisma.
Em 251, Cipriano volta para Cartago. Num sínodo excomungou os chefes
da dissidência laxista e determinou que os apóstatas passassem por
severas penitências antes de reingressarem na comunidade. A peste que
atingiu o Império em 252 provocou novos sofrimentos e perseguições na
África. Nos últimos anos de sua vida, teve de se preocupar com a questão
do batismo dos hereges.Cipriano considerava inválido o batismo ministrado por hereges. Mesmo
com a reprovação do papa Estevão, insistiu em manter seu ponto de
vista. Foi decapitado no dia 14 de setembro de 258, em Cartago, sob
Valeriano. Pelo martírio certamente foi perdoado de seu erro e foi para
junto de Cristo.Escritos de São Cipriano: De ecclesia unitate (c. 251, no qual fica
do lado do papa Cornélio contra Novaciano), De lapsis, De habitu
virginum, De mortalitate.No aspecto doutrinário, o bispo de Cartago ensinava que a unidade da
Igreja é garantida pela união de todos com o bispo. "Salus extra
ecclesiam non est", não há salvação fora da Igreja. "Quem abandona a
sede de Pedro, sobre a qual está fundada a Igreja, como pode afirmar que
está na verdadeira Igreja?" "Não pode ter Deus por Pai quem não tem a
Igreja por mãe". Os recém-nascidos devem receber logo o batismo e a
eucaristia. Uma tradição só é válida quando se apóia na "tradição
evangélica e apostólica", ou seja, aquela tradição que provém da
"autoridade do Senhor e do Evangelho, das prescrições e das epístolas
dos apóstolos". Na questão do batismo, ensina que se a verdade se desvia
é preciso retornar para as origens, a tradição consignada nas
Escrituras. A origem da verdade cristã é a Tradição, o ensinamento de
Jesus e a pregação dos apóstolos (observemos, no entanto, que Cipriano
dava muito crédito a revelações e visões particulares). O sacrifício do
sacerdote é a repetição do sacrifício de Jesus na ceia: ambos
representam o único sacrifício da cruz. A penitência consiste na
confissão pública dos pecados e na expiação. Todos os justos defuntos
(inclusive os não-mártires) recebem sua recompensa imediatamente após a
morte. O estado intermediário no Hades se aplica aos penitentes somente.
29. Os sacramentos no século III
Sobre a liturgia deste período, temos várias fontes. Hipólito, em sua
Tradição Apostólica, fala sobre o batismo, a eucaristia, a ordenação...
Vejamos como era:Batismo - Atestação claríssima do batismo de crianças. Logo ao
amanhecer, ora-se sobre a água que vai ser usada no batismo. O sacerdote
ordena a cada um dos catecúmenos que renuncie a Satanás. Os que
renunciam são ungidos com o óleo do exorcismo, consagrado pelo bispo.
Depois, na água, aquele que batiza pergunta ao catecúmeno se este crê no
Pai, no Filho e no Espírito Santo (profissão de fé já parecida com o
símbolo apostólico atual), mergulhando-o a cada resposta afirmativa.
Quando saem da água, os neófitos são ungidos com o óleo de ação de
graças. Todos se vestem e se dirigem para a igreja, onde recebem a
imposição de mãos do bispo e são ungidos (Crisma). Depois de marcar o
neófito na testa, o bispo lhe dá um beijo e diz: "O Senhor esteja
contigo". O que foi marcado responde: "E com o teu espírito". Todos
tomam parte na assembléia depois que recebem o sacramento da
Confirmação.Eucaristia - Os diáconos apresentam a oblação ao bispo, que impõe as
mãos sobre ela e diz, com o presbitério: "O Senhor esteja convosco". A
assembléia responde: "E com teu espírito". "Elevai vossos corações. -
Nós os temos voltados para o Senhor. - Demos graças ao Senhor. - É digno
e justo". O bispo prossegue dando graças a Deus e lembrando os feitos
da História da Salvação (oração eucarística). Invoca o Espírito Santo
sobre a oblação e repete as palavras de Jesus na última ceia.Ordenação - O bispo deve ser irrepreensível e é eleito pela
comunidade. Feita a escolha, o povo se reúne com o presbitério e outros
bispos presentes. Os bispos impõem as mãos sobre aquele que vai ser
ordenado, enquanto o presbitério fica imóvel. Todos ficam em oração
pedindo a descida do Espírito Santo. Um dos bispos, escolhido por todos,
impõe as mãos sobre o que está sendo ordenado e faz uma oração,
lembrando os sacerdotes da antiga Aliança e pedindo a vinda do Espírito
Santo.
Pede para o novo bispo o poder sacerdotal, o poder de oferecer a
eucaristia, perdoar os pecados, dirigir a comunidade, ligar e desligar,
pastorear com sabedoria e pureza o rebanho que lhe é confiado. O clero
compreende sete classes: bispos, diáconos, subdiáconos, acólitos,
leitores, exorcistas e ostiários. Esta divisão, porém, não é rígida, e
não exclui a possibilidade de uma pessoa desempenhar mais de uma função.
Penitência - A penitência é pública, e a reparação depende da gravidade do pecado cometido.A Didascália, documento dos primeiros decênios do século III prescreve um jejum de seis dias antes da Páscoa.
30. Celibato e virgindade
Na época da Igreja apostólica, o celibato possui um valor positivo e é
reconhecido como estado de vida ao lado do matrimônio. Tanto um como o
outro eram vistos como carismas particulares. É possível que tenham
havido casos de matrimônios "espirituais", em que homem e mulher viviam
juntos como irmãos (Paulo fala de uma situação como esta em sua primeira
epístola aos Coríntios, por volta do ano 57). No final do séc. I e no
séc. II existem muitos homens e mulheres celibatários (ascetas e
virgens) "em honra da carne do Senhor" (Inácio de Antioquia). A
princípio, havia uma ambigüidade entre a virgindade e o estado de viuvez
permanente. Por volta de 150, Justino se refere a homens e mulheres que
se conservaram "incorruptos", alcançando a idade de 60 ou 70 anos. O
mesmo diz Atenágoras, em torno do ano 177. Apesar disso, ainda não
existe no séc. II uma forma definida para o celibato cristão.Na virada do segundo para o terceiro século, sob influência da gnose e
do encratismo, surgem apologias a favor do celibato como estado de vida
melhor do que o matrimônio. Clemente de Alexandria defende a santidade
do casamento e ensina que a continência só é virtuosa quando vivida por
amor a Deus. Aos poucos começa a se impor um novo ponto de vista, que
considera a virgindade como uma forma de matrimônio místico com o
Senhor. Após o ano 200, as "virgines Deo devotae" usam véu para indicar
suas núpcias espirituais (Tertuliano, Sobre a oração, 22, escrito entre
200 e 206). Mas o voto de virgindade não possui caráter de ordenação,
como atesta Hipólito em sua Tradição Apostólica.Para Orígenes (que havia se castrado depois de ler Mt 19,12, detalhe
peculiar) a virgindade supera o matrimônio porque enquanto este é figura
da união de Cristo com a Igreja, aquela é sua realização mística e mais
perfeita. Novaciano compara a virgindade com o estado angélico e
Tertuliano leva ao extremo a sua exaltação, influenciado pelo
montanismo. Cipriano vê a consagração virginal como esponsais com
Cristo. Ele é o primeiro a usar o termo "virgindade" para se referir ao
celibato masculino. Metódio de Olimpo (+311) fala dos celibatários
Elias, Eliseu, João Batista, João Evangelista e Paulo, entre outros.A Igreja síriaca, até o séc. III, conserva o costume do celibato em
família (os filhos consagrados permaneciam com os pais). Efrém reagirá
contra esta prática. Hilário de Poitiers chamará de caelebs o não casado
por razões de fé e de coelibatus o seu estado de vida.Atanásio (295-373), que conhece o ideal monástico de Santo Antão,
define o matrimônio como "via mundana", enquanto a virgindade é o
caminho mais eficaz para alcançar a perfeição.
Quando se encerrar o terceiro século, o celibato terá finalmente
encontrado seu lugar na vida e na espiritualidade cristãs: estado
superior ao casamento, comparado com a condição angélica, esponsais com
Cristo, núpcias místicas, oferecimento total e perfeito a Deus. O
monaquismo lhe dará forte impulso.
No ano 300, o Concílio de Elvira, na Espanha, determina a
obrigatoriedade do celibato para os padres e bispos da província. Com o
passar do tempo esta disciplina se estenderá a toda a Igreja.
31. O cânone das Escrituras
a) O Antigo Testamento
Retrospecto histórico:
- Na época de Jesus, os hebreus não possuíam um cânone de livros inspirados. O primeiro esboço de um cânone se acha no prólogo do Eclesiástico: "A Lei, os profetas e os outros escritos". A Lei é certamente a Torá, ou Pentateuco, que provavelmente adquiriu sua forma definitiva no tempo de Esdras. Os profetas incluem Js, Jz, 1Rs, 2Rs, Is, Jr, Ez e os doze profetas menores. Sobre os "outros escritos" não se tem uma ainda uma definição precisa.
- A versão grega dos Setenta (LXX), feita por judeus em Alexandria entre o séc. III a.C. e o início da era cristã, incluiu os livros que hoje chamamos de deuterocanônicos, e alguns apócrifos. Não se pode dizer, no entanto, que a LXX estabeleceu um cânone normativo (os códices que nos chegaram apresentam diferenças).
- Na Palestina, por volta de 95, Flávio Josefo (37-100) escreve uma lista que coincide com o cânone hebraico, excluindo os deuterocanônicos. Apesar disso, encontram-se em seu trabalho citações de 1Mc, 1Esd e suplementos de Est. Portanto, não podemos concluir a partir do seu testemunho que o judaísmo já tivesse fixado o seu cânone no final do séc. I.
- Em Qumrã se encontram todos os livros protocanônicos, exceto Est. Dos deuterocanônicos foram encontrados Br 6, Tb e Eclo. Dos apócrifos, Jubileus, Enoc e o Testamento dos doze patriarcas. Aparentemente não havia uma distinção entre um cânone de livros sagrados e outros textos não-inspirados.
- Entre os anos 90-100 houve um sínodo de rabinos na cidade de Jâmnia. Uma tese tradicional propõe que a lista definitiva dos livros do Antigo Testamento foi fixada neste sínodo. Mas não há provas concretas de que isto realmente tenha acontecido. Mesmo depois de Jâmnia a canonicidade de alguns livros continuou a ser discutida (Ecl e Ct).
Baseado nessas considerações, Valério Manucci propõe a seguinte explicação para a formação do cânone hebraico:
- Depois da destruição do Templo, no ano 70, o judaísmo se tornou cada vez mais uma religião "do Livro", o que impôs a necessidade de determinar um cânone definitivo.
- Várias disputas entre os fariseus e outras seitas judaicas serviram de estímulo para a fixação de um cânone.
- Ainda que no primeiro século da nossa era houvesse uma aceitação popular de 22 ou 24 livros como inspirados, não existiu um cânone normativo até o final do séc. III.
- O fato de os cristãos terem adotado a tradução dos LXX pode ter influenciado decisivamente a definição de um cânone mais restrito no judaísmo, excluindo os deuterocanônicos.
De resto, se realmente houvesse um cânone já estabelecido antes do
nascimento de Jesus, certamente os judeus de Alexandria, fiéis às
orientações dos rabinos da Palestina, não teriam inserido os
deuterocanônicos na sua tradução.Entre os cristãos, no Novo Testamento, aparece a tríplice divisão
indicada no Eclesiástico (Lc 24,44). Há alusões a livros
deuterocanônicos: Sb (Rm 1,19ss; Hb 8,14), Tb (Ap 8,2), 2Mc (Hb 11,34s),
Eclo (Tg 1,19), Jt (1Cor 2,10) e nem todos os protocanônicos são
citados (Esd, Ne, Rt, Ecl, Ct, Ab, Na, Pr). Também há alusões a livros
apócrifos: Salmos de Salomão, 1 e 2 Esdras, 4 Macabeus, Assunção de
Moisés e o livro de Enoc.Jesus se serviu do Pentateuco para discutir com os saduceus (que
aceitavam apenas esta parte do AT como inspirada, cfr. Mt 22,23-33; Mc
12,18-27; Lc 20,27-40) e, ao que parece, usou a Bíblia hebraica em
debates com os fariseus (cfr. Mt 23,34-36; Lc 11,49-51). Esta "adaptação
aos interlocutores" não nos permite dizer que Cristo tenha reconhecido
um cânone para o AT, e muito menos que este cânone seja o da Bíblia
hebraica.Das 350 citações que o Novo Testamento faz do AT, 300 são da LXX.
Como não havia, porém, cânone definido no período neotestamentário, os
cristãos ainda não possuíam um cânone próprio.Os Padres Apostólicos citam a versão dos LXX. A Didaqué usa Eclo e
Sb. Clemente, em sua epístola aos Coríntios, se serve de Jt, Sb, Eclo,
Dn e passagens de Est grego. Policarpo cita Tb. O Pastor de Hermas cita
Eclo, Sb e 2Mc. Também há citações de apócrifos, como o livro de Enoc.O mesmo se dá com outros autores do fim do séc. II e começo do séc.
III, como Ireneu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Cipriano
e Dionísio Alexandrino. Á medida, porém, que os judeus determinavam a
sua lista, as igrejas que viviam em contato com a comunidade hebraica
sofriam sua influência. São Justino, quando entra em polêmica com os
judeus, prefere citações apenas dos protocanônicos, mas ensina que todos
os livros presentes na tradução dos LXX são inspirados, "mesmo aqueles
que os judeus suprimiram arbitrariamente". Melitão de Sardes, no
entanto, possui uma lista de livros do AT com quase todos os
protocanônicos e nenhum deuterocanônico.O Concílio de Laodicéia (360) defende o cânone hebraico. Mas a carta
do papa Inocêncio I a Exupério de Toulouse (405) inclui o cânone
completo. Mais tarde, os concílios provinciais de Hipona (393) e Cartago
(I e II, 397 e 419, respectivamente) aceitarão oficialmente os
deuterocanônicos como parte das Escrituras (mesmo que alguns padres,
como Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório Nazianzeno, Rufino e
Jerônimo, se sintam ainda atraídos pela Hebraica Veritas). No Concílio
de Trullo (692) a ambigüidade continua: os cânones de Laodicéia e de
Cartago são sancionados ao mesmo tempo!Só no século XV um concílio ecumênico se ocupará do assunto. O
Concílio de Florença (1441) enumerará o cânone aceito pela Igreja hoje, e
o Concílio de Trento, no século XVI, definirá solenemente o AT com os
deuterocanônicos.
b) O Novo Testamento
O desenvolvimento do cânone do Novo Testamento, embora complicado, foi menos tortuoso que o do AT.A segunda epístola de Pedro coloca as cartas de Paulo ao lado das
"outras escrituras" (2Pd 3,16). Logo, no final do século I algumas
cartas paulinas já são tidas como inspiradas. Em meados do séc. II, São
Justino fala dos Evangelhos que são usados nas assembléias litúrgicas e a
segunda carta de Clemente aos Coríntios (c. de 150) cita um versículo
do Evangelho de Mateus.A seleção que Marcião fez de 10 cartas de Paulo e do Evangelho de
Lucas, provavelmente, fez com que os cristãos procurassem reunir sua
própria coleção de escritos inspirados.Por volta do ano 170, Melitão de Sardes chama os livros da Bíblia
hebraica de "Antigo Testamento", em contraposição ao Novo Testamento da
Igreja. Mas o primeiro a usar o termo "Novo Testamento" foi Tertuliano,
em torno do ano 200.Nenhum autor do séc. II ou do séc. III cita todos os livros do NT, e
há livros que não são citados por ninguém (Fm e 3Jo). A lista mais
antiga do NT é o famoso Fragmento Muratoriano, que indica o NT usado
pela Igreja de Roma no final do segundo século. Nela não estão incluídos
Hb, Tg, 1 e 2Pd, e talvez 3Jo. A lista feita por Orígenes no séc. III
levanta dúvidas sobre a inspiração de 2Pd e de 2 e 3Jo. Por volta do ano
310, Eusébio distingue entre "os livros reconhecidos por todos"
(emologoumenoi), "os livros discutidos" (antilegomenoi) e "os livros
espúrios" (notha). Tg e Jd estão entre os discutidos.O Cânone Claromontano, datado do séc. IV, não menciona Hb. O Cânone
Momseniano, de mais ou menos 360, não fala de Hb e Jd. No Ocidente, só
com as listas do final do séc. IV, feitas por Atanásio, Agostinho, pelos
concílios de Hipona e de Cartago, é que se chega a um consenso. Elas
coincidem com o cânone definido do Concílio de Trento. O Códice
Sinaítico, do séc. IV, inclui também a carta de Barnabé e o Pastor de
Hermas. O Códice Alexandrino, do séc. V, traz 1 e 2 Clemente.As igrejas da Síria e de Antioquia usavam, no séc. IV, um cânone restrito do NT com apenas 17 livros.Alguns livros eram discutidos porque não se podia ter certeza de sua
autoria apostólica, por causa de aspectos doutrinários controvertidos ou
por sua brevidade.
c) A Igreja discerniu o cânone
Desde os primeiros esboços até a definição solene, a história da
evolução do cânone revela, antes de mais nada, a importância da
autoridade do Magistério da Igreja, guardião da Tradição Apostólica, que
soube discernir infalivelmente, entre inúmeros escritos espúrios,
aqueles que o Espírito Santo havia inspirado e que formam a Palavra de
Deus.
Escritura, Tradição, Igreja: elementos intimamente conectados e que não se deve separar nunca sem cair em grave erro.
(Continua...)
(Continua...)
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