5 março 2013
Luis Dufaur
Em uma das maiores cartas conjuntas do gênero, mil sacerdotes
católicos britânicos denunciaram que a liberdade de praticar e falar
sobre a sua fé será “severamente” limitada, caso seja aprovado o
“casamento” homossexual no país.
O projeto já foi aprovado pela Câmara dos Comuns (deputados) e deverá
ser votado pela Câmara dos Lordes (senadores). Os sacerdotes repudiam
como “sem sentido” as garantias oferecidas pelo governo do político
conservador David Cameron.
Eles comparam a tentativa de redefinir o casamento com o golpe dado
pelo rei Henrique VIII, que tirou a Inglaterra do seio da Igreja para
poder divorciar-se da rainha Catarina de Aragão.
Henrique VIII deu assim origem à igreja anglicana atual, hoje em fase de desfazimento moral e de organização.
Como muitos católicos não aceitaram o cisma, o mau rei começou
repressões que duraram séculos, trouxeram a guerra civil, arruinaram o
país e o separaram de Roma.
Para os mil sacerdotes, os planos favorecedores dos homossexuais da
coligação que governa a Grã-Bretanha impedirão os católicos e outros
cristãos que trabalham em escolas, instituições de caridade e organismos
públicos, de falar livremente sobre suas crenças e o significado do
casamento.
Até a liberdade de falar no púlpito pode estar sob ameaça, dizem.
Os fiéis que acreditam no sentido tradicional do casamento seriam
efetivamente excluídos de alguns postos de trabalho, do mesmo modo como
até o século XIX os católicos foram alijados de muitas profissões pela
Reforma protestante.
Até 1829, os católicos na Grã-Bretanha e Irlanda foram impedidos de
exercer diversas profissões, ou mesmo de se reunirem para rezar quando
da vigência de um corpo de restrições conhecidas coletivamente como as
leis penais.
Os professores poderão enfrentar medidas disciplinares caso se
recusarem a promover o casamento homossexual, uma vez implementada a
alteração.
Capelães de hospitais, de prisões e do Exército também poderiam ser
perseguidos se pregarem que o casamento somente entre um homem e uma
mulher.
Os sacerdotes escrevem:
“Depois de séculos de perseguição, os católicos foram capazes nos últimos tempos de exercer profissões e participar plenamente na vida deste país.
“Se promulgada, a legislação sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo terá muitas consequências legais, restringindo a capacidade dos católicos de ensinar a verdade sobre o casamento em suas escolas, instituições de caridade ou locais de culto.
“Não tem sentido argumentar que os católicos e outros ainda podem ensinar suas crenças sobre o casamento em escolas e outras esferas, se ao mesmo tempo se espera que também defendam o ponto de vista oposto”.
Argumentando que o casamento tradicional é “o fundamento e o alicerce
fundamental da nossa sociedade”, acrescentam: “Exortamos os membros do
Parlamento a não terem medo de rejeitar esta legislação, agora que suas
consequências são mais claras”.
O bispo de Portsmouth, Dom Philip Egan, um dos signatários, insistiu
em que a comparação com as leis penais não foi um exagero. “É muito
orwelliano tentar redefinir o casamento”, acrescentou.
O Reverendíssimo Dr. Andrew Pinsent, proeminente teólogo da Universidade de Oxford, que também assinou a carta, disse:
“Nós somos muito sensíveis a isto historicamente, porque naturalmente a reforma começou na Inglaterra como uma questão de casamento. Henrique VIII poderia ter sido perdoado por seu adultério, mas ele não o quis, ele quis controlar o casamento e redefinir o que era e o que não era um casamento.
“Estou muito ansioso de que, quando estivermos pregando na igreja ou ensinando em nossas escolas católicas ou testemunhando a fé cristã sobre qual seja o casamento que não seremos capazes de fazer, possamos ser presos por fanáticos ou homofóbicos.
“Porque a Igreja não iria admitir aquele ponto que lançou três séculos de grande agitação na sociedade inglesa, e da perspectiva católica a vida era muito difícil.
“Tememos que o que está acontecendo agora seja a colocação em prática de uma rede de leis, o que violaria a liberdade de consciência”. E acrescentou: “Eu acho que as pessoas na bolha Westminster subestimaram o nível de preocupação no país ¬– há em nível local uma grande preocupação sobre essas coisas”.
Um porta-voz do Departamento de Educação tentou dissipar os temores,
mas o fez naqueles termos que soem usar os políticos para ludibriar a
oposição e que depois não são cumpridos.
A carta foi uma iniciativa de sacerdotes locais. Nela infelizmente os
bispos estão ausentes, quando o razoável seria que estivessem à testa
em razão de sua alta condição.
Nas últimas semanas, o arcebispo de Westminster, Dom Vincent Nichols,
e outros líderes católicos da Grã-Bretanha fizeram críticas dialéticas
aos planos de David Cameron. Na opinião de muitos, os termos
intermediários e as concessões ao “casamento” sodomítico abrem espaços
para a avançada da agenda homossexual.
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