[catolicismo]
Embora
o dogma do Purgatório seja um dos mais genuinamente católicos, ele está
hoje muito esquecido, até mesmo nos sermões. De onde uma meditação
sobre o mesmo ser de muita utilidade prática para todos nós. Não só para
nos lembrarmos de rezar por nossos parentes e amigos que ali se
encontram, mas também para nos incitar a expiar nesta vida o débito que
pelos nossos pecados contraímos com Deus, a fim de não termos de pagá-lo
na outra vida.
Plinio Maria Solimeo
Está na Sagrada Escritura: “Pensa nos teus Novíssimos [isto é, na Morte, no Juízo, no Inferno e no Paraíso] e jamais pecarás eternamente” (Eclo. 7,40). A isso poderíamos acrescentar o Purgatório.
Esquecemo-nos com frequência da única coisa certa nesta vida, ou seja,
de que um dia morreremos. O que acontecerá então? De acordo com a
doutrina católica, no momento da morte somos submetidos a um juízo
particular, no qual todos os nossos pensamentos, atos e omissões
passarão diante dos olhos do Supremo Juiz. Se tivermos a felicidade de
nos apresentar então impolutos, ou de termos expiado nossas faltas
durante a vida por meio da penitência e dos outros meios que a Igreja
põe a nosso dispor, iremos diretamente para a felicidade sem fim no Céu.
Se morrermos impenitentes, em estado de pecado mortal, seremos
condenados. Se, entretanto, como acontece com a maior parte dos que se
salvam, tivermos ainda que expiar pelo que a Igreja chama de “relíquias
do pecado”, isto é, pela pena temporal devida a eles, então iremos para o
Purgatório, onde pagaremos “até o último centavo” (Mt 5, 26).
Débito da culpa dos pecados mortais ou “relíquias do pecado”
Quando a pessoa comete um pecado mortal, a este corresponde uma pena
eterna. Por ser uma injúria gravíssima contra a infinita majestade de
Deus, o pecado mortal possuiu uma malícia que em certo sentido é
infinita. A alma então perde a graça santificante, as virtudes infusas e
os dons do Espírito Santo, ficando assim privada da inabitação da
Trindade Santíssima.
Por isso, além da pena eterna, o pecado mortal merece também uma punição temporal, a ser paga nesta vida ou na outra. Pois “a
reparação deve ser em razão direta com a gravidade da ofensa. [...]
Ora, é um princípio admitido que a gravidade de uma injúria se mede ao
mesmo tempo pela dignidade do ofendido e a baixeza do ofensor. Em outros
termos, quanto maior [for] a distância entre o ofensor e o ofendido,
mais grave [será] a injúria. É evidente que, considerando sob esse
aspecto, a malícia do pecado é infinita”.(1)
O pecado mortal é perdoado pelo batismo, pela confissão individual —
ou, não sendo possível esta, por uma contrição perfeita unida ao desejo
sincero de confessar-se — e excepcionalmente pela Extrema Unção ou Unção
dos Enfermos. Por estes meios nos tornamos novamente amigos de Deus e
herdeiros do Céu. Entretanto, se a confissão apaga a pena eterna de
nossos pecados, não apaga a pena temporal a ele devida. É o que diz
Santo Tomás: “Se é verdade que a contrição apaga os pecados, não
tira todo o débito de pena que por eles se deve. Nem tampouco se perdoam
sempre os pecados veniais, se bem que desapareçam os pecados mortais.
Pois bem, a justiça de Deus exige que uma pena proporcional restabeleça a
ordem perturbada pelo pecado. Logo, deve-se concluir que todo aquele
que morre contrito e absolvido de seus pecados, mas sem ter satisfeito
plenamente por eles à Justiça Divina, deve ser castigado na outra vida.
Negar o Purgatório é, pois, blasfemar contra a justiça divina. É um
erro, e um erro contra a fé” (Suma Teológica, Suplemento, q.71, a.1).(2)
Quanto aos pecados veniais, além da confissão, “podem ser remidos pelos sacramentais [p.ex., água benta], pela
prece, pelo jejum, pela esmola, pela assistência à Missa, pela Santa
Comunhão, e em geral por todas as boas obras, contanto que sejam
acompanhadas de arrependimento”.(3) Como dissemos, se esses pecados
não forem pagos neste mundo, sê-lo-ão no além. De onde a existência do
Purgatório. Nossas preces por essas almas sofredoras são atendidas pela
misericórdia de Deus, sobretudo se feitas por meio da Medianeira de
todas as graças, a Virgem Santíssima.
Isto, que até algumas décadas atrás era doutrina corrente e sabida, no
mundo de hoje — tão corrompido pela amoralidade e imoralidade reinantes —
está praticamente esquecido. É por isso que pouco se reza e pouco se
faz pelos nossos falecidos com vistas a mitigar-lhes as dores que sofrem
no Purgatório. E não se pensa em expiar a pena temporal devida aos
próprios pecados.
O Purgatório segundo as Sagradas Escrituras
Proclamado como dogma de fé, isto é, que não se pode negar sem cair em
heresia, o Purgatório tem base na própria Sagrada Escritura. Com efeito,
lemos no segundo livro dos Macabeus: “No dia seguinte [a uma batalha], Judas
e seus companheiros foram tirar os corpos dos mortos, como era
necessário, para depô-los na sepultura ao lado de seus pais. Ora, sob a
túnica de cada um encontraram objetos consagrados aos ídolos de Jânia,
proibidos aos judeus pela lei: todos, pois, reconheceram que fora esta a
causa de sua morte. Bendisseram, pois, a mão do justo juiz, o Senhor,
que faz aparecer as coisas ocultas, e puseram-se em oração, para implorar-lhe o perdão completo do pecado cometido.
O nobre Judas falou à multidão, exortando-a a evitar qualquer
transgressão, ao ver diante dos olhos o mal que havia sucedido aos que
foram mortos por causa dos pecados.Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para
que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de
agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não
julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar
por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (2 Mac. 12, 39-46).
“Sem dúvida, Judas Macabeu tem em vista, antes de tudo, a
ressurreição de seus soldados que pecaram. Mas ele subordina essa
ressurreição à expiação, na outra vida, do pecado cometido na pilhagem
de Jânia. Esses soldados deveriam ressuscitar um dia; de outro modo, a
prece pelos mortos seria vã. Ressuscitados, eles teriam parte na
recompensa reservada àqueles que dormiram no Senhor. Mas antes deveriam
ser libertos de seu pecado: é o resultado que procurava o sacrifício
expiatório oferecido em Jerusalém”.(4) Isso é tão meridiano que,
não podendo negar este texto, Lutero — que nega a realidade do
Purgatório — simplesmente o excluiu da sua bíblia...
O dogma do Purgatório também encontra fundamento no Novo Testamento. Em sua obra De Purgatório,
São Roberto Belarmino invoca nove textos do Novo Testamento em favor da
existência do Purgatório. Citaremos apenas alguns deles.
São Paulo, na primeira Epístola aos Coríntios, diz: “Quanto
ao fundamento, ninguém pode pôr outro diverso daquele que já foi posto:
Jesus Cristo. Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro,
ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com
palha, a obra de cada um aparecerá. O dia[do julgamento] demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo” (11-15).
“Em suas diferentes explicações sobre o fogo,
instrumento da salvação anunciado por São Paulo, Santo Agostinho
considera sempre que a madeira, o feno, a palha, simbolizam os apegos
culpáveis [...]. Há, pois, fiéis que, embora guardando o essencial dos
preceitos de Jesus Cristo, estão muito apegados aos prazeres dos
sentidos e às afeições permitidas [...]. São esses cristãos que
necessitam de misericórdia, da qual não são indignos [...]. Esses
cristãos, manchados de uma culpa que, no entanto, não é suficiente para
levar à danação, deverão expiar, antes do último julgamento, seja neste
mundo, seja no outro, seu muito apego aos bens terrestres”.(5)
Também sobre o fogo mencionado por São Paulo, comenta Santo Tomás: “Isto
não pode entender-se do fogo do Inferno, porque os que o padecem, não
se salvam. É necessário, pois, entendê-lo do fogo que purga” (De rationibus Fidei, 9 ed. Marietti, n. 1020).(6)
Segundo o que se deduz do Evangelho de São Mateus, quando Nosso Senhor diz: “Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro”
(Mt 12, 32), está afirmado que certos pecados podem ser perdoados no
outro mundo. Portanto, no Purgatório. Isso também é meridiano.
O Purgatório na Tradição católica
Já nos primeiros tempos da Igreja havia o costume de se rezar pelos mortos. Conforme argumenta um teólogo, “o
texto do II livro dos Macabeus devia exprimir uma prática já corrente:
nada de espantar, pois, que essa prática encontre seu lugar no
cristianismo nascente. Ela aí constituiria um elemento essencial da
crença no Purgatório, paralelamente à expiação de além túmulo”.(7)
Sobre isso muito escreveram os Santos Padres da Igreja. Há também
testemunhos arqueológicos na Igreja primitiva, como epitáfios e
inscrições funerárias, nos quais se mostra a fé em uma purificação
ultraterrena. Também nos séculos II e III encontramos testemunhos
explícitos de que se rezava pelos defuntos.
Um pouco mais tarde, São Cirilo de Jerusalém (c.315-386), falando no século IV do caráter propiciatório da Missa, diz que a “oferecemos a Cristo, imolado por nossos pecados, desejando tornar propícia a clemência divina em favor dos vivos e dos defuntos” (Catequesis Mistagógicas 5, 9; PG 33,1116-1117).(8)
Já São João Crisóstomo (c. 347-407), falando um pouco mais tarde do socorro que podemos dar aos falecidos, comenta: “Pensamos em procurar-lhes algum alívio do modo que podemos [...]. Como? Fazendo oração por eles, e pedindo a outros que também orem [...]Porque não sem razão foram estabelecidas pelos mesmos Apóstolos estas leis; digo que em meio dos venerandos mistérios se faça memória dos que morreram [...]. Bem sabiam eles que os defuntos tiram disto grande proveito e utilidade”.(9)
Ao que acrescenta Santo Agostinho: “Durante o tempo que
medeia entre a morte do homem e a ressurreição final, as almas ficam
retidas em lugares recônditos, segundo é digna cada uma de repouso ou de
castigo, conforme ao que tiver merecido quando vivia na carne. E não
se pode negar que as almas dos defuntos recebem alívio pela piedade de
seus parentes vivos, quando por elas se oferece o sacrifício do
Mediador, ou quando se fazem esmolas na Igreja” (Enquiridión, 109-110: PL 40,283). (10)
Bem mais tarde, a doutrina do Purgatório foi expressamente
definida pelos Concílios II de Lyon (1274), de Florença (1439) e de
Trento (1545-1563). Neste último, a Igreja definiu não somente o dogma
do Purgatório — quer dizer, a existência de uma expiação e purificação
pela qual devem passar as almas que não foram purificadas inteiramente
na Terra —, mas ensinou também que elas podem ser ajudadas pelos fiéis
por suas orações e boas obras (No. 141), pela aplicação de indulgências
(No. 417) e, sobretudo, pelo Santo Sacrifício da Missa (No. 388). Além
disso, estabeleceu na Liturgia um dia especial para as almas do
Purgatório, o dia 2 de novembro.
Finalmente, na sua 25ª. Sessão, o mesmo Concílio de Trento definiu: “Desde
que a Igreja Católica instruída pelo Espírito Santo tem ensinado, em
Concílios e muito recentemente neste Ecumênico Sínodo (Sess. 22 cap.ii,
iii), o que é das Sagradas Escrituras e da antiga tradição dos Padres,
que há um Purgatório e que as almas nele são auxiliadas pelos sufrágios
dos fiéis, mas principalmente pelo aceitável Sacrifício do Altar, o
Santo Sínodo ordena que os bispos diligentemente empenhem em ter a sã
doutrina dos Padres nos Concílios com relação ao Purgatório, por toda
parte ensinado e pregado, mantido e crido pelos fiéis” (Denzinger, Enchiridon, 983).(11)
O Purgatório e os heresiarcas protestantes
O dogma do Purgatório tem como corolário várias verdades de fé as quais
não se é obrigado a aceitar sob pena de pecado por não serem dogmas;
mas negando-as com temeridade, acaba-se negando a própria essência do
Purgatório.
A primeira verdade de fé relacionada com o Purgatório é a da
justificação. Esta é uma operação divina que apaga o pecado original e
os pecados atuais — se os houver —, e faz passar o pecador do estado de
pecado ao estado de graça e de justiça.
Desde o princípio, a Igreja tem ensinado que não somente a fé, mas
também uma sincera conversão do coração, efetuada com caridade e
contrição, é requerida para a justificação; ou seja, para nos tornar
novamente justos aos olhos de Deus. “Segundo os protestantes [Lutero, Calvino],
o homem tendo sido, depois do pecado original, privado do livre
arbítrio e, por consequência, incapaz de toda boa obra, somente a fé, e a
fé sem obras, é a única condição da justificação; mas é a fé entendida
no sentido dos inovadores, que não é a fé propriamente
dita pela qual cremos, pela palavra do próprio Deus, em todas as
verdades que revelou à sua Igreja, mas a confiança que nos faz crer que nossos pecados são apagados pela imputação; ou, se quiser, pela aplicação dos méritos de Jesus Cristo”.(12)
Pois “Lutero, afirmando que o homem está intrínseca e
essencialmente corrompido pelo pecado original, não admite renovação ou
regeneração possível; e, portanto, diz que a justificação consiste em
uma não imputação da corrupção em atenção aos méritos de Cristo. O
homem, pois, justificado legalmente, permaneceria pecador em seu
interior. Se isto fosse assim, o juízo de Deus deveria recair ou apenas
sobre a realidade interna do homem, em cujo caso deveria condená-lo ao
Inferno, ou sobre os méritos de Cristo, em cujo caso deveria levá-lo ao
Céu imediatamente. Em qualquer caso, resultaria absurdo que Deus
oferecesse a possibilidade de uma expiação ultraterrena que, de acordo
com a lógica luterana, seria intrinsecamente impossível. Daí a urgência
com que Zwinglio exige de Lutero que negue a existência do Purgatório; e
daí também que o Concílio de Trento, como vimos, se refere
especialmente ao Purgatório no decreto da justificação, e depois de ter
definido seu caráter extrínseco”.(13)
A doutrina protestante leva assim a excluir o Purgatório. Com efeito,
Lutero, depois de alguns ataques iniciais, nos quais ainda não negava a
existência do Purgatório, mas punha em dúvida o seu fundamento bíblico,
acabou negando-o mais tarde.
Efetivamente, a doutrina de uma purificação ultraterrena não podia
coexistir com as afirmações de que o homem é intrinsecamente perverso e
de que se justifica pela fé sem obras. Daí a negação do Purgatório ser
comum a todos os protestantes.
Com efeito, na chamada “Confissão Galicana”, da Igreja reformada, é dito: “Temos
o Purgatório como uma ilusão que procede da mesma butique da qual
procedem também os votos monásticos, as peregrinações, a proibição de
casamento (para sacerdotes) e o uso das carnes (nos dias de abstinência), a
observação cerimoniosa dos dias, a confissão auricular, as indulgências
e todas outras coisas pelas quais pensa-se merecer graça e salvação.
Coisas que rejeitamos não somente pela falsa opinião do mérito a elas
ligado, mas também porque são invenções humanas, que impõem jugo nas
consciências”.(14) É chegar às últimas nefastas consequências na negação do Purgatório em particular e da doutrina católica em geral.
A crença na imortalidade da alma
Crendo na imortalidade da alma e na ressurreição dos corpos, a Santa
Igreja sempre tratou com grande respeito os restos dos fiéis defuntos.
Com efeito, é “com o corpo que a alma faz muitas boas obras como
jejum, abstinência, continência etc. O corpo é também santificado pelos
Sacramentos, e torna-se o templo do Homem-Deus pela comunhão. Como não
admitir então que Deus o faça participar, com a alma, da recompensa e da
felicidade?”.(15) E, a contrario sensu, a também sofrer com a alma, pelos seus pecados?
Além dos materialistas e dos racionalistas, estas verdades são negadas
também pelos protestantes liberais como contrárias à razão e à ciência.
Quem crê na imortalidade da alma, crê também que esta recebe, no termo
desta vida, o prêmio ou o castigo merecido. Crê, portanto, que ao morrer
ela passa por um juízo particular no qual serão julgadas suas ações,
recebendo o que lhe for devido por elas. E que, entre o juízo particular
e o Juízo Universal, todas as almas dos justos que morreram com
“relíquias do pecado” serão purificadas. Portanto, a crença na
imortalidade da alma leva-nos também a crer no Purgatório.
Em que lugar está o Purgatório?
A Igreja nada definiu sobre a localização do Purgatório. Mas a opinião
mais comum, mais de acordo com a linguagem da Sagrada Escritura e bem
aceita pelos teólogos, coloca-o nas entranhas da Terra, não longe do
Inferno.
“Os teólogos são quase unânimes, diz São Roberto Belarmino,
ensinando que o Purgatório, pelo menos o lugar de expiação ordinário,
está situado no interior da Terra, e que as almas do Purgatório e os
réprobos estão no mesmo espaço subterrâneo, no profundo abismo que a
Escritura chama de Inferno”.(16)
Com efeito, foi das entranhas da Terra que Santa Teresa viu subir a alma de um falecido, como conta no livro de sua vida: “Eu
recebi notícias da morte de um religioso que tinha anteriormente sido
Provincial desta província, e, depois, de uma outra. Eu o conhecia, e
ele me prestou grande serviço. Isso me causou grande preocupação. Se bem
que esse homem fosse recomendável por muitas virtudes, eu estava
apreensiva pela salvação de sua alma, porque ele tinha sido Superior
pelo espaço de 20 anos, e eu temo muito por aqueles que estão
encarregados da cura de almas.
“Muito aflita, fui a um oratório. Lá conjurei nosso Divino Senhor
que aplicasse a esse religioso o pouco de bem que eu tinha feito durante
a vida e suprisse o resto com seus méritos infinitos, de modo que ele
pudesse ser livre do Purgatório.
“Enquanto eu pedia essa graça com todo o fervor de que sou
capaz, vi, ao meu lado direito, essa alma vir das profundezas da terra e
ascender ao Céu com transportes de alegria. Se bem que esse sacerdote
fosse avançado em anos, ele me apareceu com as feições de um homem que
não teria ainda atingido a idade de 30 anos, e com um semblante
resplandecente de luz”. (17)
Quanto tempo uma alma passa no Purgatório?
Diz Santo Agostinho: “A duração das penas do Purgatório
não pode ser concebida além do Juízo Final. A sentença final não
compreende senão os eleitos e os réprobos. [...] E vimos que, se certas
almas têm ainda necessidade de purificação nesse momento, serão
purificadas completamente pelo fogo do julgamento”.(18)
Quais são as penas do Purgatório?
É doutrina comum que existem no Purgatório dois tipos de sofrimentos: a pena de dano e a pena de sentido.
A pena de dano consiste em “que se lhes atrasa a visão de Deus” (Santo Tomás, Suma Teológica, Suplemento, q.71, a.2). É, no entanto, uma privação temperada pela esperança e pela certeza da salvação.
A pena dos sentidos, segundo boa parte dos teólogos, seria a mesma do Inferno, só que sem o desespero e sua eternidade.
Embora não seja verdade de fé, a crença de que no Purgatório há um fogo
semelhante ao do Inferno é defendida por grandes teólogos. São Roberto
Belarmino a qualifica de “probabilíssima”; Suárez, de “certa, dentro da comodidade da opinião teológica”, e Siuri de “certa e comum”.(19)
De acordo com Santo Tomás, essas penas são “tão intensas que a pena mínima do Purgatório excede à maior desta vida” (Suma Teológica, Suplemento, q.71, a.3).
(Continua...)
(Continua...)
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