segunda-feira, 4 de março de 2013

O Purgatório Lugar de expiação pelo qual quase todos os que se salvam devem passar (Final)


As penas do Purgatório podem durar séculos?
         Como o Purgatório vai perdurar até o Juízo Final, suas penas podem durar séculos. E como estas, de acordo com o comum dos teólogos, são semelhantes às do Inferno (com exceção do dano e da eternidade), algumas revelações dizem que um minuto de sofrimento no Purgatório equivale a muitos anos de atrozes sofrimentos na Terra.
         Por isso, diz São Roberto Belarmino: “Não há dúvida de que as penas do Purgatório não são limitadas a 10 ou 20 anos, e de que elas duram, em muitos casos, séculos. Entretanto, mesmo aceitando como certo que sua duração não exceda a 10 ou 20 anos, poder-se-ia tomar como nada o ter que sofrer por 10 ou 20 anos os mais dilacerantes sofrimentos sem o menor alívio?
“Se um homem estivesse seguro de que deveria sofrer uma dor violenta em seu pé, cabeça ou dente pelo espaço de 20 anos, e isso sem dormir ou ter o menor repouso, não preferiria mil vezes morrer a viver em tal estado? E se lhe fosse dada a escolha entre isso e uma vida miserável, com a perda de todos os seus bens temporais, hesitaria ele em fazer o sacrifício de sua fortuna para ver-se livre de tal tormento? Teremos então qualquer dificuldade em abraçar trabalhos e penitências para livrar-nos dos sofrimentos do Purgatório? Temeremos fazer os mais dolorosos sacrifícios como vigílias, jejuns, esmolas, longas orações, e especialmente a contrição acompanhada com soluços e lágrimas?”.(20)
A par dos sofrimentos, consolações e alegrias
         Isso, entretanto, não nos deve atemorizar mais do que o razoável. Pois, além do auxílio da Santíssima Virgem e das promessas que Ela fez do privilégio sabatino (vide quadro ao lado ou abaixo), temos outras consolações.

Breves Religiosas

“A Mãe das Almas do Purgatório”

       Como acontece com todos os fiéis, nossa grande esperança no Purgatório será a Santíssima Virgem. Não devemos nos surpreender de que, nas Revelações de Santa Brígida, a Rainha do Céu dá-se o belo nome de Mãe das Almas do Purgatório: “Eu sou a Mãe de todos aqueles que estão no lugar de expiação. Minhas preces mitigam os castigos que lhes são infligidos por suas faltas”.(*)

       Esperança maior, contudo, têm aqueles que usam o escapulário do Carmo em virtude do privilégio sabatino. Aos que o usarem piedosamente, Nossa Senhora prometeu que viria libertá-los no primeiro sábado após a morte.

       Um exemplo do amparo de Nossa Senhora a seus devotos que estão no Purgatório foi o sucedido com a Venerável Irmã Paula de Santa Teresa, religiosa dominicana do convento de Santa Catarina, em Nápoles.

       Tendo sido raptada em êxtase num sábado e transportada em espírito ao Purgatório, ela ficou muito surpresa de o encontrar transformado em um Paraíso de delícias, iluminado por uma luz brilhante em vez das trevas costumeiras. Enquanto a Irmã Paula cogitava sobre qual teria sido a causa dessa mudança, percebeu, rodeada por uma multidão de anjos, a Rainha do Céu que lhes ordenava libertar e conduzir ao Céu as almas que A tinham honrado de maneira especial.

       Se isso acontece num sábado ordinário, é difícil duvidar de que o mesmo não ocorra nos dias de festa consagrados à Mãe de Deus. Entre todas suas festas, a de sua gloriosa Assunção aos Céus parece ser o dia principal de libertação.

São Pedro Damião (1001-1072) nos diz que nesse dia a Santíssima Virgem livra vários milhares de almas do Purgatório.(**)

       Por isso, concluímos com Santo Afonso de Ligório: “Ó Mãe de Deus, se em vós puser minha confiança, serei salvo. Se estiver sob a vossa proteção, nada tenho a recear, porque a devoção para convosco é uma arma segura de salvação, por Deus concedida só aos que deseja salvar”. (***)

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(*)Revel. S.Brig., lib. IV, C. 50.apud Schouppe, p. 83.

(**) Rossign., Merveilles, 50; Marchese, tom. I, p. 56. apud Schouppe, p. 84.

(***)Santo Afonso de Ligório, Glórias de Maria, Editora Vozes, Petrópolis, 1964, p. 148.
A esse respeito, diz o grande Doutor da Igreja São Francisco de Sales: “Nós podemos tirar do pensamento do Purgatório muito mais consolação do que apreensão. Grande parte daqueles que temem tanto o Purgatório pensa mais em seus próprios interesses do que nos interesses da glória de Deus. Isso vem do fato de que eles pensam somente nos sofrimentos, sem considerar a paz e a felicidade que lá são desfrutadas pelas santas almas.
“É verdade que os tormentos são tão grandes, que não têm comparação com os sofrimentos mais agudos desta vida. Mas a satisfação interior que lá se goza é tanta, que nenhuma prosperidade nem contentamento desta terra a podem igualar.
“No Purgatório, as almas estão em contínua união com Deus e perfeitamente resignadas com sua vontade. Ou melhor, sua vontade está tão transformada na de Deus, que elas não podem querer senão o que Deus quer. Isso de tal modo que, se o Paraíso lhes fosse aberto, elas se precipitariam no Inferno antes que aparecer diante de Deus com as manchas com que se vêem desfiguradas. Elas se purificam voluntária e amorosamente, porque esse é o bom prazer divino.
“Elas lá querem estar no estado que agrade a Deus, e tão longamente quanto Lhe apraza. Já não podem mais pecar, nem experimentar o menor movimento de impaciência, nem cometer a menor imperfeição. Amam a Deus mais que a si mesmas e mais que a qualquer outra coisa. Amam-no com um amor perfeito, puro e desinteressado. São consoladas por anjos e estão certas de sua salvação eterna, cheias de uma esperança que jamais poderá ser desapontada em seus anseios. Sua angústia mais amarga é suavizada por uma certa paz profunda.
“Se o Purgatório é uma espécie de Inferno no que diz respeito aos sofrimentos, é um Paraíso no que se refere ao deleite infundido pela caridade nos corações das almas dos que ali estão. Caridade que é mais forte que a morte e mais poderosa que o Inferno; caridade cujas luzes são todas de fogo e chamas. Feliz estado! Mais desejável que assustador, uma vez que suas chamas são chamas de amor e de caridade”.(21)
É de certo modo o que afirma também Santa Catarina de Gênova: “A alma do justo, ao sair de seu corpo, vendo em si mesma alguma coisa que empana sua inocência primitiva e opõe-se à sua união com Deus, experimenta uma aflição incomparável; e como sabe muito bem que este impedimento não pode ser destruído senão pelo fogo do Purgatório, desce ali de repente e com plena vontade [...] Sabendo que o Purgatório é o banho destinado a lavar estas espécies de mancha, corre para ele [...] pensando muito menos nas dores que a esperam do que na dita de encontrar ali sua primitiva pureza”.(22)
Sobretudo, em meio das penas purificadoras, as almas do Purgatório têm gozo e paz que provêm não só da certeza de sua salvação, da plena conformidade com a vontade divina, do gozo da purificação, mas também da assistência espiritual de Santa Maria, Consoladora dos aflitos.(23).
 
Dever da Igreja Militante de orar pelos membros da Igreja Padecente
Sabemos que a Santa Igreja divide-se em Militante (da Terra), Padecente (do Purgatório), e Triunfante (do Céu). “Há entre todos os membros do Corpo Místico, do qual Jesus Cristo é a Cabeça, um vínculo que os une uns aos outros, e graças mediante o qual eles participam dos mesmos interesses e bens espirituais: é o que se chama Comunhão dos Santos.
“Em toda sociedade bem organizada, os membros são solidários uns com os outros; eles dividem as riquezas, as alegrias, e também os reveses e as tristezas da comunidade. Assim também é com a Igreja, que é uma sociedade mais perfeita que qualquer outra”.(24)
A Igreja Militante considera um dever de caridade, e frequentemente de reconhecimento, aliviar as penas das almas do Purgatório, abreviando-lhes a duração.
A Igreja Padecente sempre implorou os sufrágios da Igreja Militante. E esse comércio espiritual — levando a marca da tristeza, mas, ao mesmo tempo, cheio de ensinamentos — é de um lado uma fonte de inesgotável alívio, e de outro, um poderoso incitamento à santidade. (vide quadro ao lado ou abaixo)

Igreja Trifuante e Igreja Militante

Adoração da Santíssima Trindade - Albrecht Dürer, séc. XVI. Kunsthistorishes Museum, Viena(Áustria)
Voto Heróico  

     Algumas almas heroicas, levadas pela imensa caridade para com as benditas almas do Purgatório, fazem o que é chamado deato heroico de caridade. Este consiste em“uma voluntária oblação que faz um fiel vivo à Divina Majestade em favor das almas do Purgatório, de todas as obras satisfatórias que fará durante a vida, e de todos os sufrágios que pode ter depois da morte”. Esse ato é geralmente conhecido sob o nome de voto heroico. Aliás, ele não obriga sob pena de pecado, podendo ser revogado quando se quiser. Além disso, o voto heroico não é contrário aos interesses de nossa alma, porque os sacrifícios que fazemos devem ser compensados por outras vantagens, a primeira e a mais aparente das quais se encontra nas preces que as almas liberadas por nossos cuidados fazem em nosso favor tão logo entram no Céu. E, depois, não prometeu Nosso Senhor aplicar a nós a mesma medida com as quais servimos os outros?(*)

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(*)L’Ami du Clergé, année 1907, in A. Boulanger, La Doctrine Catholique, Première Partie, Le Dome, p. 176.
Sufrágio dos fiéis em prol das almas do Purgatório
         Deus Nosso Senhor, desejando executar com clemência a severa sentença de sua Justiça, concede diminuição e mitigação das penas das almas do Purgatório. Mas faz isso de maneira indireta, através da intervenção dos vivos. Por meio da oração — isto é, da impetração e da satisfação — Ele dá aos membros da Igreja Militante muito poder para socorrer os aflitos falecidos. O Concílio de Trento declara que as almas do Purgatório são assistidas pelos sufrágios dos fiéis. Isso inclui, em geral, tudo o que se pode oferecer a Deus pelos falecidos.
 
Podemos, assim, oferecer a Deus não somente nossas preces, mas também as nossas boas obras, desde que elas sejam impetratórias ou satisfatórias.
         O que são obras impetratórias ou satisfatórias? Cada uma de nossas boas obrasfeitas em estado de graça tem ordinariamente um tríplice valor aos olhos de Deus: é meritória, isto é, aumenta nosso mérito, dando-nos direito a um novo grau de glória no Céu; é impetratória, isto é, como uma prece, ela tem a virtude de nos obter algumas graças de Deus; e é satisfatória, quer dizer, tem um valor como que pecuniário para satisfazer à Divina Justiça e pagar as dívidas da punição temporal diante de Deus.    
         O mérito é inalienável e permanece propriedade da pessoa que faz a ação. Já os valores impetratórios e satisfatórios podem beneficiar outros, em virtude da Comunhão dos Santos.
         Desse modo, podemos oferecer às almas do Purgatório o fruto de nossas orações, esmolas, jejuns e penitências de qualquer gênero, indulgências e, sobretudo, o Santo Sacrifício da Missa.(25)
         É bom lembrar que indulgência é o apagamento da pena temporal devida pelos pecados perdoados. Ela é concedida pela Igreja em virtude dos méritos infinitos de Nosso Senhor, superabundantes da Santíssima Virgem e abundantes dos Santos, sendo aplicável geralmente às almas do Purgatório.
Santa Teresa fala de uma religiosa que dava o maior valor às menores indulgências concedidas pela Igreja e empenhava-se em ganhar todas ao seu alcance. Sua vida, entretanto, era muito ordinária, e sua virtude muito comum. Ao falecer, para sua grande surpresa de Santa Teresa, esta viu sua alma subindo ao Céu quase imediatamente depois da morte, de modo que quase não teve, por assim dizer, Purgatório. Quando Santa Teresa expressou seu espanto diante disso, Nosso Senhor lhe fez saber que era por causa do grande cuidado que aquela alma tinha tido em ganhar todas as indulgências possíveis durante a vida: “Foi desse modo que ela descarregou quase todo seu débito, que era bem considerável, antes da morte; e apareceu assim com grande pureza diante do tribunal de Deus”.(26)
Altar representando o alívio dos sofrimentos das almas, do Purgatório como fruto do Santo Sacrifício da Missa
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Notas:
1. A. Boulanger, La Doctrine Catholique, Librairie Catholique Emmanuel Vitte, Paris-Lyon, 1930, Première Partie, Le Dogme, p.191.
2. Apud L.F.Mateo Seco, Purgatório, Gran Enciclopédia Rialp, Ediciones Rialp, S.A., Madri, 1974, p. 510.
3. A. Boulanger, op. cit. Seconde Partie, La morale, p. 143.
4. A. Michel, Purgatoire – L’Ancien Testament, Diccionnaire de Théologie Catholique, Librairie Letouzey et Ané, Paris, 1936, tomo XIII, col. 1166.
5. Id. col. 1221.
6. Apud Mateo Seco, op. cit. p. 508.
7. A. Michel, op. cit. col. 1197.
8. Mateo Seco, p. 508.
9. Id.ib.
10. Id.ib.
11. Edward J. Hanna, Purgatory, The Catholic Encyclopedia, CDRom edition.
12. A. Boulanger, op.cit. Troisième et Quatrième parties, Les Moyens de Sanctification, La Liturgie, p. 18.
13. Mateo Seco, op. cit. p. 509.
14. A. Michel, op. cit. col. 1271.
15. A. Boulanger, op. cit., Première Partie, p. 181.
16. Cathec.Rom. 6, par. 1. Apud Pe. F.X.Schouppe, S.J., O que é o Purgatório, Editora Artpress, São Paulo, 2005, p. 19.
17. Schouppe, op. cit., pp. 20-21.
18. A. Michel, col. 1223.
19. Cfr. Mateo Seco, op. cit. p. 510.
20.De Genitu, lib. Ii, c. 9., in Schouppe, op. cit., p. 45.
21.Esprit de St. François de Sales, chap. ix, p. 16., in Schouppe.
22.Tratado del Purgatório, Barcelona, 1946, n. 12, apud Mateo Seco, p. 510.
23. Cfr. Royo Marin, Teologia de la salvación, BAC, Madri, 1956, pp. 444-449.
24. A. Boulanger, op. cit., Première Partie, p. 174.
25. Cfr. Schouppe, op. cit., pp. 93-94.
26. Id.ib., p. 109.

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