Redação (Quarta-feira, 20-03-2013, Gaudium Press) Publicamos
hoje considerações feitas por Monsenhor João S. Clá Dias sobre os
efeitos do sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo:
Afirma São Tomás ter o homem necessidade
do sacrifício por três motivos: para obter a remissão dos pecados, a
graça necessária à santificação e a união perfeita do espírito com Deus,
o que se verificará, sobretudo, na glória eterna.[1] O sacrifício de
Cristo produziu os efeitos mencionados:
"Ora, tudo isso chegou até nós mediante a
humanidade de Cristo. Em primeiro lugar, porque os nossos pecados foram
apagados: ‘Foi entregue pelos nossos pecados', diz a Carta aos Romanos.
Em segundo lugar, porque por ele recebemos a graça que nos salva: ‘Ele
se tornou causa de salvação eterna para todos aqueles que lhe obedecem',
diz a Carta aos Hebreus. Em terceiro lugar, por ele alcançamos a
perfeição da glória, como nos diz a Carta aos Hebreus: ‘Temos confiança,
pelo sangue de Jesus, de entrar no santuário', isto é, na glória
celeste".[2]
Assim, ao Se encarnar o Verbo e assumir a
natureza humana, pode enquanto homem ser o mediador sumamente agradável
a Deus. Por Seu sacerdócio, por Sua oferenda como vítima de expiação,
sela com Seu Sangue a nova e definitiva aliança, da qual todas as
anteriores eram uma mera figura: "Jesus se tornou o fiador de uma
aliança melhor" (Hb 7, 22). É diante deste mistério de amor com o qual
se opera nossa redenção, que o Apóstolo exclama: "Tal é precisamente o
sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mancha, separado dos
pecadores e elevado acima dos céus" (Hb 7, 26). Para São Tomás, essas
cinco características de Cristo sacerdote marcam a diferença entre o
novo sacerdócio e o da Lei Antiga, o qual era figurativo daquele que
viria.
Com efeito, explica o Aquinate,[3]
Jesus, no respeitante à santidade "reunia as perfeitas condições",
porque "foi consagrado a Deus desde o início de Sua concepção: ‘Por isso
mesmo, o Santo que há de nascer de Ti será chamado Filho de Deus'" (Lc
1, 35); Sua inocência foi suma, "visto que Ele não cometeu pecado"; não
teve mancha, como muito bem é simbolizado pelo cordeiro sem defeito da
Antiga Lei (Êx 12, 5); "foi de maneira absoluta a peccatoribus
segregatus - separado dos pecadores", pois embora tenha vivido entre
eles, jamais trilhou suas vias (cf. Sb 2, 15); e, por fim, "está sentado
à direita da majestade de Deus" (Hb 1, 3), ou seja, acima de todas as
criaturas celestes; "n'Ele a natureza humana é sublimada", e havendo Se
sentado à direita de Deus (cf. Hb 1, 3), "é um sacerdote extremamente
adequado".
Em Cristo é eliminado tudo quanto era
imperfeito no sacerdócio do Antigo Testamento. A Lei constituía no
sacerdócio homens frágeis e de vida breve (cf. Sb 9, 5) que deviam, com
frequência, oferecer sacrifícios por seus próprios pecados e pelos do
povo (cf. Lv 16, 5-7), enquanto que "contra a Sabedoria, o mal não
prevalece" (Sb 7, 30), pois Cristo não teve de oferecer por Si,[4]
devido à sua inocência e santidade. "O Seu único sacrifício bastou para
apagar os pecados de todo o gênero humano".[5]
Monsenhor João S. Clá Dias, EP
______________
[1] Cf. S Th III, q. 22, a. 2.
[2] S Th III, q. 22, a. 2, resp.
[3] Super Heb. cap. 7, lec. 4.
[4] "A prefiguração não se pode
equiparar à verdade. Por isso, o sacerdócio prefigurativo da antiga lei
não podia atingir um grau tal de perfeição que não precisasse mais do
sacrifício de satisfação. Ora, Cristo não teve essa necessidade;
portanto, a razão não é a mesma para ambos. É o que diz o Apóstolo: ‘A
lei estabeleceu, como sacerdotes, homens sujeitos à fraqueza, mas a
palavra do juramento, posterior à lei, estabeleceu o Filho perfeito para
sempre'(Hb 7,28)" (S Th III q. 22, a. 4, ad 3).
[5] Super Heb. cap. 7, lec. 4.
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