[uol]
Pablo Ordaz
Em Roma (Itália)
Em Roma (Itália)
Em Roma para preparar o conclave, os cardeais americanos realizaram uma
entrevista coletiva diária na sede do Pontifício Colégio
Norte-Americano. Era possível fazer qualquer pergunta ao cardeal Daniel
Di Nardo, arcebispo de Houston, ou ao sempre sorridente Patrick
O'Malley, o cardeal capuchinho de Boston que também aparece em todas as
apostas de papáveis.
O
americano Timothy Dolan, 63, arcebispo de Nova York, é conservador em
questões sobre o aborto e casamento gay, apareceu na lista dos cem mais
influentes da "Time" e já acompanhou, em um jantar nas últimas eleições,
os candidatos à presidência dos Estados Unidos:
Barack Obama e Mitt
Romney Seth Wenig/AP
Não revelavam nada do outro mundo, mas era um fato novo, refrescante,
um detalhe que junto aos outros --o cardeal francês Philippe Barbarin
chegando de bicicleta ao Vaticano ou o ugandense Emmanuel Wamala, de 86
anos, partindo em um ônibus lotado-- dava um contraponto de naturalidade
à ancestral rigidez estética da cúria italiana. Até quarta-feira (6).
Por volta das 13h, como todos os dias, o padre Federico Lombardi,
porta-voz do Vaticano, compareceu diante da imprensa credenciada, que já
tem cerca de 5.000 almas. Ao contrário do esperado, Lombardi não
anunciou a data do conclave. Disse que o colégio cardinalício "não tem
pressa" de escolher o sucessor de Bento 16, mas sim a determinação de
manter uma discussão "séria e em profundidade" sobre de que a igreja
necessita e quem é o candidato mais adequado.
Só então os 115 cardeais eleitores --ainda faltam chegar o polonês e o
vietnamita-- decidirão entrar na Capela Sistina e tentar reunir os dois
terços de votos necessários para que a fumaça seja branca. "O colégio
cardinalício", disse o padre Lombardi, "pensa que definir já a data do
conclave poderia forçar de alguma maneira a dinâmica da discussão".No mesmo sentido se manifestou o alemão Walter Kasper. "Este conclave é
diferente do de 2005 [havia um favorito claro, Joseph Ratzinger]. Os
cardeais quase não nos conhecemos. Não há pressa."O cardeal Kasper também ofereceu pistas muito valiosas sobre o rumo da
discussão. Disse que, além do assunto Vatileaks --o vazamento de
documentos privados de Bento 16 que revelaram conflitos internos--, a
igreja tem que discutir a fundo uma renovação da cúria vaticana."É uma reforma prioritária, porque falta diálogo interno, os
ministérios não se falam, não há comunicação." As palavras de Kasper vêm
a confirmar a ideia de que os cardeais italianos queriam ir já ao
conclave, enquanto os estrangeiros preferiam realizá-lo com mais calma.
Um tempo que também querem empregar para escutar uns aos outros --muitos
pediram a vez de falar-- e sobretudo para conhecer o conteúdo do
relatório confidencial elaborado por três cardeais a pedido de
Ratzinger.Mas a parte mais surpreendente da declaração de Lombardi foi a
confirmação de que as entrevistas coletivas dos americanos estavam
suspensas. O porta-voz, sempre comedido, parecia contrariado quando
disse que as congregações gerais --as reuniões preparatórias do
conclave-- não são "um sínodo nem um congresso" sobre os quais se tenta
dar a maior informação possível, senão "um caminho conjunto de maturação
para chegar à decisão de eleger o pontífice romano".Ou seja, que os cardeais americanos receberam o amável convite de
manter silêncio. Se é preciso comunicar algo, para isso existe Lombardi.Os americanos aceitaram o veto com esportividade, mas sem chegar a
entender totalmente por que em um momento crucial da vida da igreja é
melhor encerrar-se no mistério do que abrir as janelas.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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