sexta-feira, 8 de março de 2013

Sem pressa para o conclave: cardeais querem conhecer uns aos outros

[uol]

Pablo Ordaz
Em Roma (Itália)
Em Roma para preparar o conclave, os cardeais americanos realizaram uma entrevista coletiva diária na sede do Pontifício Colégio Norte-Americano. Era possível fazer qualquer pergunta ao cardeal Daniel Di Nardo, arcebispo de Houston, ou ao sempre sorridente Patrick O'Malley, o cardeal capuchinho de Boston que também aparece em todas as apostas de papáveis.

 
O americano Timothy Dolan, 63, arcebispo de Nova York, é conservador em questões sobre o aborto e casamento gay, apareceu na lista dos cem mais influentes da "Time" e já acompanhou, em um jantar nas últimas eleições, os candidatos à presidência dos Estados Unidos:
Barack Obama e Mitt Romney Seth Wenig/AP
 
 
Não revelavam nada do outro mundo, mas era um fato novo, refrescante, um detalhe que junto aos outros --o cardeal francês Philippe Barbarin chegando de bicicleta ao Vaticano ou o ugandense Emmanuel Wamala, de 86 anos, partindo em um ônibus lotado-- dava um contraponto de naturalidade à ancestral rigidez estética da cúria italiana. Até quarta-feira (6).
Por volta das 13h, como todos os dias, o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, compareceu diante da imprensa credenciada, que já tem cerca de 5.000 almas. Ao contrário do esperado, Lombardi não anunciou a data do conclave. Disse que o colégio cardinalício "não tem pressa" de escolher o sucessor de Bento 16, mas sim a determinação de manter uma discussão "séria e em profundidade" sobre de que a igreja necessita e quem é o candidato mais adequado.
Só então os 115 cardeais eleitores --ainda faltam chegar o polonês e o vietnamita-- decidirão entrar na Capela Sistina e tentar reunir os dois terços de votos necessários para que a fumaça seja branca. "O colégio cardinalício", disse o padre Lombardi, "pensa que definir já a data do conclave poderia forçar de alguma maneira a dinâmica da discussão".No mesmo sentido se manifestou o alemão Walter Kasper. "Este conclave é diferente do de 2005 [havia um favorito claro, Joseph Ratzinger]. Os cardeais quase não nos conhecemos. Não há pressa."O cardeal Kasper também ofereceu pistas muito valiosas sobre o rumo da discussão. Disse que, além do assunto Vatileaks --o vazamento de documentos privados de Bento 16 que revelaram conflitos internos--, a igreja tem que discutir a fundo uma renovação da cúria vaticana."É uma reforma prioritária, porque falta diálogo interno, os ministérios não se falam, não há comunicação." As palavras de Kasper vêm a confirmar a ideia de que os cardeais italianos queriam ir já ao conclave, enquanto os estrangeiros preferiam realizá-lo com mais calma. Um tempo que também querem empregar para escutar uns aos outros --muitos pediram a vez de falar-- e sobretudo para conhecer o conteúdo do relatório confidencial elaborado por três cardeais a pedido de Ratzinger.Mas a parte mais surpreendente da declaração de Lombardi foi a confirmação de que as entrevistas coletivas dos americanos estavam suspensas. O porta-voz, sempre comedido, parecia contrariado quando disse que as congregações gerais --as reuniões preparatórias do conclave-- não são "um sínodo nem um congresso" sobre os quais se tenta dar a maior informação possível, senão "um caminho conjunto de maturação para chegar à decisão de eleger o pontífice romano".Ou seja, que os cardeais americanos receberam o amável convite de manter silêncio. Se é preciso comunicar algo, para isso existe Lombardi.Os americanos aceitaram o veto com esportividade, mas sem chegar a entender totalmente por que em um momento crucial da vida da igreja é melhor encerrar-se no mistério do que abrir as janelas.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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