Uma
prova de que Deus não deseja o sofrimento, e não o manda como castigo a
alguém, são as curas, os milagres, os exorcismos, etc., que Jesus
realizava (vitórias sobre o mal e sobre o sofrimento), sinal forte de
que o Reino de Deus já estava no meio de nós.Veja, Cristo não enviou
aquela enfermidade que fez Lázaro morrer (Jo 11), mas permitiu que
acontecesse, como Ele disse, “para a glória de Deus”.
Sofrimento não é castigo imposto por
Deus, e a prova mais clara disto é que ninguém sofreu tanto como Jesus, o
mais belo e santo dos Homens. Não é possível para nós explicar porque
uma pessoa sofre deste ou daquele modo, por que uma mãe de família morre
deixando filhos pequenos, ou um pai desaparece antes de educar os filhos. Mas, na fé,
cremos que cada caso deste está contido nos sábios desígnios de Deus,
dos quais não podemos duvidar, pois Ele nunca se engana. Somente quando
estivermos na visão face-a-face de Deus é que poderemos, então, com
alegria, compreender todas essas coisas, bem como o sentido dos
acontecimentos trágicos da história da humanidade.
Por enquanto, na fé, cabe a cada um de
nós adorar em silêncio as sábias disposições da Providência divina,
pois, como disse o Apóstolo “tudo concorre para o bem dos que amam a
Deus” (Rom 8,28).
Veja como a Igreja, pelo Catecismo, nos ensina a questão do mal no mundo:
“Mas por que Deus não criou um mundo tão
perfeito que nele não possa existir mal algum? Segundo seu poder
infinito, Deus sempre poderia criar algo melhor. (S. Tomás de Aquino, S.
Th. 1,25,6) Todavia, em sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis
livremente criar um mundo ‘em estado de caminhada’ para sua perfeição
última. (São Tomás de Aquino, S. Gentios, III,1).” (Catecismo, §310)
O Catecismo fala também da liberdade dos homens e dos anjos:
“Os anjos e os homens, criaturas
inteligentes e livres, devem caminhar para seu destino último por opção
livre e amor preferencial. Podem, noentanto, desviar-se. E, de fato,
pecaram. Foi assim que o mal moral entrou no mundo, incomensuravelmente
mais grave do que o mal físico.
Deus não é de modo algum, nem direta nem
indiretamente, a causa do mal moral. Todavia, permite-o, respeitando a
liberdade de sua criatura e, misteriosamente, sabe auferir dele o bem”.
Assim, com o passar do tempo, pode-se
descobrir que Deus, em sua providência toda poderosa, pode extrair um
bem das conseqüências de um mal, mesmo moral, causado por suas
criaturas: Foi da vergonhosa venda do irmão caçula para os mercadores,
José, que Deus salvou a vida do povo judeu no Egito… Quem poderia
imaginar?! “Não fostes vós, diz José a seus irmãos, que me enviastes
para cá,foi Deus; … o mal que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio
de Deus o mudou em bem a fim de salvar a vida de um povo numeroso”.(Gn 45,8; 50,20)
Lembra-nos a Igreja que “do maior mal
moral jamais cometido, a saber, a rejeição e o homicídio do Filho de
Deus, causados pelos pecados de todos os homens, Deus, pela
superabundância de sua graça, tirou o maior dos bens: a glorificação de
Cristo e a nossa Redenção”. (Catecismo § 312)
Mas, apesar de Deus saber usar do mal, e
dele tirar um bem, o mal não se converte em um bem. O mal continua sendo
mal, seja físico ou moral, devendo ser evitado da melhor maneira
possível.O cristão não é um masoquista que ama o mal em si mesmo.Santa
Catarina de Sena diz àqueles que se escandalizam e se revoltam com o que
lhes acontece:“Tudo procede do amor, tudo está ordenado à salvação do
homem, Deusnão faz nada que não seja para esta finalidade”. (Diálogos,
cap IV, 138)
São Tomás More, condenado à morte por
Henrique VIII, pouco antes de seu martírio, consola sua filha:“Não pode
acontecer nada que Deus não tenha querido. Ora, tudo o que ele quer, por
pior que possa parecer-nos, é o que há de melhor para nós”. (The
Correspondence of S. Thomas More)
“Só no final, quando acabar o nosso
conhecimento parcial, quando virmos Deus ‘face a face’ (1Cor 13,12), é
que teremos pleno conhecimentodos caminhos pelos quais, mesmo por meio
dos dramas do mal e do pecado,Deus terá conduzido sua criação até o
descanso desse Sábado (cf. Gn 2,2) definitivo, em vista do qual criou o
céu e a terra”. (Catecismo § 314)
Muitas vezes não entendemos a forma como Deus age em nosso auxílio, vamos refletir um pouco…
Após um naufrágio, o único sobrevivente
agradeceu a Deus por estar vivo e ter conseguido se agarrar à parte dos
destroços para poder ficar boiando. Este único sobrevivente foi parar em
uma pequena ilha desabitada e fora de qualquer rota de navegação, e ele
agradeceu novamente.
Com muita dificuldade e restos dos
destroços, ele conseguiu montar um pequeno abrigo para que pudesse se
proteger do sol, da chuva e de animais e para guardar seus poucos
pertences, e como sempre agradeceu.
Nos dias seguintes a cada alimento que
conseguia caçar ou colher, ele agradecia. No entanto um dia quando
voltava da busca por alimentos, ele encontrou o seu abrigo em chamas,
envolto em altas nuvens de fumaça.
Terrivelmente desesperado ele se
revoltou, gritava chorando: “O pior aconteceu! Perdi tudo! Deus, por que
fizeste isso comigo?” Chorou tanto, que adormeceu, profundamente
cansado.
No dia seguinte bem cedinho, foi despertado pelo som de um navio que se aproximava.
“Viemos resgatá-lo”, disseram.“Como souberam que eu estava aqui?”, perguntou ele.
“Nós vimos o seu sinal de fumaça!”
É assim que Deus age.
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