Leo Daniele
Ser calmo ainda é uma qualidade? Dir-se-ia que, para muitas pessoas,
não é mais. Elas julgam que ela difunde um odor de monotonia onde se
instala, e para fugir da sonolência é preciso fugir da calma. Calma é
“bobeira”. E assim, a agitação, a confusão e mesmo o nervosismo são
vistos como algo que deve ser procurado, ou pelo menos tolerado neste
ocaso da civilização cristã.
O curioso em muitos dos que assim pensam, é que frequentemente
criticam a falta de calma… nos outros. Enquanto isso, os consultórios
médicos e hospitais se enchem de pacientes queixando-se de nervosismo e
enfermidades conexas.
Fatal engano: a verdadeira calma não é monotonia. Muito pelo contrário, como diz Dr. Plinio:
Essa calma que estou descrevendo é cheia de frescor e de
mobilidade, com disposição para aceitar a variedade das coisas e não
ficar atarraxado viciosamente num determinado objeto, com exclusão de
outros. É uma espécie de flexibilidade de toda a alma, própria das
articulações e da vivacidade de um organismo vivo. Diante de tudo o que
vai acontecendo, ela vai aceitando, modelando, recusando, na alegria e
no bem-estar da vida. [1]
Calma não é monotonia. Pelo contrário, é movimentação acertada. A tal
ponto isso é verdade que na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o
Quartel General do Marechal Foch – generalíssimo das forças aliadas, –
foi comparado com nada menos que a placidez de uma abadia beneditina. A
calma em plena guerra! Assim se ganham as guerras! Assim se vence também
a minúscula, mas complexa luta, que é a vida quotidiana.
Calma é força, e quem não tem calma, não tem verdadeira força.
Mas eu não tenho capacidade para ser calmo, diz alguém. É possível
encarar o próprio nervosismo, com ainda mais nervosismo? É possível
contemplar com calma o nervosismo? A resposta é sim para ambas as
perguntas, mas este é um outro assunto.
‒ Bem, mas eu estou nervoso. Que faço?
‒ Este site não faz consultas emocionais que cabem aos psicólogos.
Mas, se aceita um conselho, comece por admirar quem é calmo. Pois, dizia
Dr. Plinio, que o que admiramos entra dentro de nós.
‒ Outra pergunta: neste site se fala muito sobre a desigualdade, mas isto nada tem a ver com a calma. Ou tem a ver?
‒ “Olhando-se para as estrelas do céu, percebe-se a ordem que
existe entre elas, a distância adequada que as separa e com isso o
equilíbrio que elas têm entre si pelo qual elas gravitam, e toda
ordenação que se estabelece entre os corpos celestes”. Percebe-se a ordem e a calma.
Transpondo esse exemplo para as almas, imagina-se que se todas as
almas correspondessem à graça, elas teriam uma posição umas em relação à
outras que estabeleceria uma gravitação adequada de todas entre si. A desigualdade é essa gravitação.
[1] 25-9-83.
Nenhum comentário:
Postar um comentário