segunda-feira, 15 de abril de 2013

AS INFILTRAÇÕES MAÇÔNICAS NA IGREJA - PARTE 1

[catolicosribeirao]

A Providência de Deus que vigia sobre a Igreja quis que o complô e o plano da Maçonaria fossem, em parte, autenticamente revelados por ela própria, apesar de seus cálculos mais hábeis. Hoje, estes são fatos bem conhecidos. Basta recordar em poucas palavras os documentos secretos atualizados, mostrando a unidade do objetivo perseguido por esta sinagoga de Satanás, seja no período em que se prepararam as agitações da Revolução, seja naquele que se abriu após estas catástrofes e tem se prolongado até nós. 
O Iluminismo, que teve por organizador Weishaupt, professor de direito na Universidade de Ingolstadt, era como uma Maçonaria no interior da Maçonaria.
Ele era uma seita ainda mais secreta que as outras, e tinha se apoderado delas. Na França, o Martinismo era como uma seção dele. Esta organização curiosa tinha rapidamente tomado uma influência considerável e oprimia particularmente a Baviera, onde ela tinha nascido. Odiada por todos e permanecendo intacta, graças às cumplicidades que ela soubera se assegurar e aos mistérios que a protegiam, foi preciso um incidente tão traumático quanto imprevisto para desvendá-la. Um dos cúmplices de Weishaupt, sacerdote apóstata, chamado Lanz, foi atingido por um raio em uma estrada, em 1785, enquanto ele carregava mensagens importantes de seu líder. Os papéis encontrados com ele apresentavam o traço dos principais culpados. Um processo se segue a isso, cujas peças foram tornadas públicas pelo eleitor da Baviera: "a fim de esclarecer as potências cristãs do complô tramado contra todas elas".
Estas peças foram reproduzidas na obra de Barruel, Mémoires pour servir à l'histoire du Jacobinisme. Ele mesmo as conhecia pela publicação feita em 1787 pela imprensa da corte de Munique sob este título: Escritos originais da ordem e da seita dos Iluminados.
"Os maçons, prescreve textualmente Weishaupt, devem exercer o império sobre os homens de todo estado, de toda nação, de toda religião, dominá-los sem nenhuma restrição exterior, mantê-los reunidos por laços duráveis, inspirar em todos um mesmo espírito, soprar por toda parte um mesmo espírito, no maior silêncio e com toda a atividade possível, dirigir todos os homens sobre a terra par ao mesmo objeto. É na intimidade das sociedades secretas que é preciso saber preparar a opinião". (Barruel, Mémoires)
Maurice Talmeyr, que eloquentemente aplicou uma parte destes documentos em uma excelente brochura: "Como se fabrica a opinião", descreve exatamente o poder terrível e eficaz do sistema: "Quando uns homens são ostensivamente de uma seita ou de uma escola, quando eles se reconhecem como parte dela, a opinião" está prevenida contra seu espírito de união, ela está atenta. Mas homens que nada mostra unidos entre eles..., mas que pensam e julgam da mesma forma sobre tudo, estes homens realizam precisamente o que se trata de realizar, ou seja, um consensus. Um consensus artificial, um consensus fabricado, mas que parece espontâneo e que impressiona de modo extremo".
Ao longo do século XIX, a Alta Venda parece ter tomado a sucessão do Iluminismo na direção geral das seitas secretas. Ela era formada por quarenta membros, talvez eles mesmos dirigidos por um Comitê mais restrito e desconhecido de todos os associados. É este o governo oculto do qual as obras notáveis de Copin-Albancelli colocam a ação em evidência.
Os papéis da Alta Venda caídos nas mãos do papa Leão XII abraçaram um período que vai de 1820 a 1846. Eles foram publicados baseados no pedido de Gregório XVI, depois de Pio IX, por Crétineau-Joly, em sua obra a Igreja Romana e a Revolução. Pelo breve de aprovação de 25 de fevereiro de 1861, que ele dirigiu ao autor, Pio IX consagrou por assim dizer a autenticidade dos documentos citados nesta obra; mas ele não tinha permitido a sua publicação com os nomes verdadeiros dos membros da Alta Venda. Destes, nós só conhecemos os pseudônimos maçônicos: Nubius, Piccolo-Tigre, etc.
Estes documentos foram novamente reproduzidos por Dom Delassus, no Problema da hora presente, onde o autor estuda com uma perspicácia admirável a marcha do complô e seus resultados assustadores para a perversão das sociedades contemporâneas, mas especialmente no seio do catolicismo. É somente este último ponto de vista que nos interessa aqui, ainda que ele trate apenas de indicar para nós o fio da trama, sem entrar em nenhum detalhe. Limitemo-nos, portanto, em rápidos extratos que oferecerão o pensamento mestre deste plano e os meios escolhidos para fazê-lo alcançar seu objetivo.
É ao coração e à cabeça da Igreja que visa este governo oculto. "O que devemos pedir antes de tudo, dizem as Instruções secretas, o que devemos procurar e esperar, como os judeus esperam o Messias, é um Papa segundo nossas necessidades". A principal personagem da Alta Venda, Nubius, escrevia a Volpe, em 3 de abril de 1844: "Carregaram nossos ombros com um fardo pesado, meu caro Volpe. Devemos chegar por pequenos meios bem graduados, ainda que muito mal definidos, ao triunfo da Revolução por um Papa".

As Instruções secretas dizem ainda: 

"O Papa, qualquer que ele seja, jamais virá às sociedades secretas: cabe às sociedades secretas realizar o primeiro passo rumo à Igreja, a fim de vencer ambos. O trabalho que iremos empreender não é obra nem de um dia, talvez nem de um século; mas em nossas fileiras o soldado morre e o combate continua. Não esperamos ganhar os Papas para a nossa causa, fazê-los neófitos de nossos princípios, propagadores de nossas ideias. Isto seria um sonho ridículo, e qualquer que seja o desenrolar dos acontecimentos, o fato de cardeais ou prelados, por exemplo, terem entrado com satisfação ou surpresa em uma parte de nossos segredos, não é em absoluto um motivo para desejar sua eleição à Cátedra de Pedro. Esta eleição seria a nossa perda. Somente a ambição os conduziria à apostasia, a necessidade do poder os forçaria a nos imolar".
Estes agentes de Satanás, dos quais vários têm exteriormente um pé na Igreja, não ignoram que o Espírito de Deus preserva seu Líder de toda fraqueza na fé. O que lhes é necessário, eles já disseram, é somente um Papa segundo suas necessidades, não um Papa escandaloso como Borgia, mas um Papa acessível às influências exteriores, como Ganganelli, que "se entregou, de pés e punhos amarrados, aos ministros dos Bourbons" ... Não duvidamos de que chegaremos a este resultado supremo de nossos esforços. Mas quando? Mas como? A incógnita ainda continua sem solução. Não obstante, nada deve nos separar do plano traçado, ao contrário, tudo deve tender para ele, como se desde amanhã o êxito  viesse coroar a obra apenas esboçada".
Mas deixemos a Jesus Cristo o cuidado de vigiar sobre seu vigário, e conduzamos nossa atenção sobretudo sobre os meios inventados por seu inimigo infernal para atingir seu fim. São estes meios que os católicos deveriam frustrar, e é aí que as Instruções secretas da Alta Venta tornam-se particularmente instrutivas.

"Ora, pois, para nos asseguramos um Papa nas devidas proporções, trata-se inicialmente de lhe preparar uma geração digna do reino que sonhamos.
Deixai de lado a velhice e a idade madura, procurai a juventude, e, se possível, até as crianças...É à juventude que temos que ir... Para avançar em passos contados nesta via perigosa, mas segura, duas coisas são necessárias. Deves ter o ar simples como a pomba, mas sereis prudente como a serpente... Uma vez vossa reputação estabelecida nos colégios, nos ginásios, nas universidades e nos seminários, uma vez que tiverdes captado a confiança dos professores e dos estudantes, faças com que aqueles que se empenham na milícia clerical amem procurar vossas entrevistas...
Esta reputação fará chegar nossa doutrina tanto ao meio do clero jovem, como no interior dos conventos. Dentro de alguns anos, esse clero jovem terá forçosamente ocupado todas as funções: ele governará, ele administrará, ele julgará, ele formará o conselho soberano, ele será chamado para eleger o Pontífice que deve reinar, e este Pontífice, como a maioria de seus contemporâneos, estará necessariamente mais ou menos imbuído dos princípios italianos e humanitários que começaremos a pôr em circulação... Que o clero marche sob nosso estandarte, acreditando ir sempre atrás das Chaves apostólicas (N.d.t.: Seria essa a falsa obediência da qual fala Dom Lefebvre no Golpe de mestre de Satanás?). Lançai vossas redes como Simão Barjonas; lançai-as não no fundo do mar, mas no fundo das sacristias, dos seminários e dos conventos; e, se não demorais, vos prometemos uma pesca mais milagrosa que a deles... Tereis pregado uma revolução em tiara e pluvial, marchando com a cruz e o estandarte, uma revolução que não precisará mais do que uma fagulha para colocar fogo nos quatro cantos do mundo".
E quais procedimentos eles empregarão para fazer com que a juventude católica e o clero "marchem sob nosso estandarte, acreditando ir sempre atrás das Chaves apostólicas?" "Para propagar a luz, escrevia Piccolo-Tigre, em 18 de janeiro de 1822, foi julgado bom e útil colocar em movimento tudo o que aspira a  se mover". O efeito desta instrução não se faz presente mais do que nunca em nossa época de alto a baixo da sociedade, especialmente entre a juventude, e também no clero? Não vimos surgir de todas as partes entre eles agitadores e agitados? Eles sabem exatamente o que eles fazem, e para qual finalidade?
Mas o plano esclarece. "É preciso, dizem as Instruções, transmitir e fazer passar de próximo em próximo; é preciso resvalar habilmente nos espíritos os germes de nossos dogmas". Estes dogmas, quais são? O fundo deles está claramente expresso por esta palavra de um membro da Alta Venda, que explica como pode acontecer de que numerosos leigos e sacerdotes se deixem seduzir pelo igualitarismo e o humanitarismo da Maçonaria: "Eles se persuadem de que o cristianismo é uma doutrina essencialmente democrática".
Weishaupt, de quem as sociedades secretas receberam sua impulsão definitiva, já tinha sabiamente preparado esta amálgama. No ritual que ele compôs para as iniciações nos altos graus do Iluminismo, lia-se: "Nossa doutrina é esta doutrina divina, tal como Jesus ensinava aos seus discípulos, aquela da qual ele desenvolvia o verdadeiro sentido em seus discursos secretos... Ele ensinou a todo o gênero humano o meio de chegar à LIBERTAÇÃO... Ninguém trilhou à LIBERDADE caminhos tão seguros quanto nosso grande Jesus de Nazaré..." Weishaupt, redigindo seu ritual, encarregava seus discípulos de espalhar esta persuasão de que a liberdade, a igualdade e a fraternidade, entendidas no sentido maçônico, tiveram por inventor Nosso Senhor Jesus Cristo. A lição não cessou de produzir seus frutos, e pode-se crer que o sucesso disso ultrapassou, sob este ponto de vista, todas as esperanças da Maçonaria. Seria preciso, para não ver isso, ignorar tudo o que se passa hoje, onde católicos perfeitamente sinceros, sacerdotes que creem pregar uma doutrina pura, turvando todas as noções, parecem falar e escrever apenas para estabelecer nos espíritos a confusão entre o igualitarismo social e os princípios da fraternidade cristã introduzidos no mundo pelo Evangelho. "O mundo está lançado sobre o declive da DEMOCRACIA", escrevia Gaëtan, em 23 de janeiro de 1844. O que seus sucessores diriam hoje?



Um elevado maçom italiano, do qual Dom Gerbet publicou as notas em 1832, escrevia: 

"A IGUALDADE e a LIBERDADE, prerrogativas preciosas! É por elas que temos que calar as fontes envenenadas de onde jorram todos os males dos humanosé por elas que devemos fazer desaparecer toda ideia importuna e humilhante de superior e fazer o homem retornar em seus primeiros direitosnão conhecer mais nem grau, nem dignidade, das quais a visão fere seu olhar ou choca seu amor próprio". 

Aqui se colocava uma teoria maçônica aplicando à história da humanidade aquela do Templo de Salomão, construído baseado na ordem de Deus para as cerimônias de seu culto, depois derrubado por um exército formidável de invasores, e, enfim, reconstruído por um príncipe idólatra, escolhido como instrumento da clemência divina. Esta era a imagem do estado primitivo do homem sob uma lei completamente natural, que foi agitada pelo orgulho, a avareza e a ambição dos poderes políticos e religiosos, até que enfim vieram os irmãos iluminados e maçons, "que devem devolver ao universo sua dignidade primeva por esta liberdade, esta igualdade, atributos essenciais do homem".

O autor explica com detalhe o modo de iniciar pouco a pouco os homens no sentido radicalmente revolucionário destas máximas, graduando esta iniciação segundo o que cada classe de espíritos pode carregar, e de lhes explicar que este é o verdadeiro culto devido a Deus. Mas ao se perceber que o iniciado experimenta qualquer perturbação, "devemos imediatamente erguer uma nova bateria: à força da astúcia e da alusão, dar uma jogada mais favorável, enfraquecer a força de cada termo até fazê-lo desaparecer, assim como nossa intenção. Então, este Templo de Salomão, esta igualdade, esta liberdade não olharão mais a sociedade maçônica, sem sonhar em estendê-la mais longe. Não se trata mais de revolta, de independência, de subtração de toda autoridade. Tudo deve se transformar com direção. Não existem mais deveres a serem cumpridos, um Deus para reconhecer, virtudes para se praticar, submissão e fidelidade invioláveis a serem observadas em relação a toda autoridade... Temos de saber incensar e adorar o colosso que nos esmaga para trabalhar mais seguramente para sua ruína".



Enfim, para não nos prolongarmos, lemos ainda em uma instrução de Piccolo-Tigre aos membros da Venda piemontesa de Turim sobre os meios a serem tomados para agenciar maçons:

"É sobre as lojas que contamos para dobrar nossas fileiras... Elas discorrem sem fim sobre os perigos do fanatismo, sobre a felicidade da igualdade social e sobre os grandes princípios da liberdade religiosa. Elas têm, entre dois banquetes, anátemas fulminantes contra a intolerância e a perseguição. Isso é mais do que suficiente para gerar para nós adeptos... A lei do progresso social está aí, e completamente aí; não se deem ao trabalho de procurar em outros lugares".
Pode-se dizer sem exagero que as ideias democráticas e as ideias maçônicas são dois termos equivalentes, e que a primeira destas fórmulas encerra, desenvolve frequentemente sem a ajuda daqueles que se servem dela, todo o espírito da outra, que consiste, em uma palavra, na libertação do sobrenatural, em um naturalismo absoluto. 

*****


Agora tomemos em mão o outro extremo da corrente, e para agarrá-lo de primeira de forma firme, vamos direto à constatação de um fato que revela indiscutivelmente, no seio do catolicismo contemporâneo, uma adaptação da Maçonaria, tendo por fim uma revolução interior na Igreja, provocada por seus próprios filhos. A semelhança dos traços será tão impressionante, que a luz jorrará, estamos convencidos disso, do simples paralelo.
Fogazzaro (N.d.t.: Fogazzaro é um dos pais do modernismo dentro do catolicismo) é um diretor de escola. Publicando seu famoso romance Il Santo, que muitos católicos, mesmo muito sinceros, saudaram com tão piedosa emoção, se entregou, e com ele, entregou o mundo que ele representava. Sem dúvida, ele julgou o momento oportuno para expor publicamente visões até então confinadas nos grupos de iniciados, com a seita se sentindo bastante poderosa para estender à luz do dia o círculo de suas operações. Independente de como seja, sua obra era tão reveladora que se podia deduzir dela a existência de sociedades secretas de católicos, mesmo antes que elas fossem constatadas pelas revelações que se seguiram, e sobre as quais nosso intuito é de insistir[1].
Manteremo-nos na primeira cena do livro, onde estão expostas as ideias mestras da obra. Giovanni Selva, o promotor da iniciativa, definiu o projeto nestes temos que, todos, chamam a atenção:

"Eis que, diz ele, somos certo número de católicos, na Itália e fora da Itália, eclesiásticos e leigos, que desejam uma reforma da Igreja. Nós a desejamos sem rebelião, operada pela autoridade legítimaNós desejamos reformas no ensino religioso, reformas no culto, reformas na disciplina do clero, reformas também no governo supremo da Igreja. Para isso, nós precisamos criar uma opinião que conduza a autoridade legítima a agir segundo nossas visões, e isso seria apenas em vinte anos, em trinta anos, em cinquenta anos. 
Ora, todos nós que pensamos assim, nós estamos dispersos. Não conhecemos uns aos outros, com exceção daqueles, e eles não são muitos, que publicam artigos ou livros. Muito provavelmente, há no mundo católico uma multidão de pessoas religiosas e instruídas que pensam como nós. Tenho acreditado que, para a propagação de nossas ideias, seria muito útil que pudéssemos ao menos nos conhecer. Nesta noite, nos reuniremos em um pequeno comitê para a primeira convenção".
Durante o jantar onde esta primeira abertura foi feita, isso foi tudo. Mas depois, a conferência teve início. Selva começou por desculpar duas ausências: "Ele diz que, em todos os casos, sua adesão era certa, e insistiu sobre o valor desta adesão. Ele acrescentou, com uma voz mais alta e mais lenta, os olhos fixos sobre o padre Marinier, que, por hora, ele julgava prudente não divulgar nada nem sobre a reunião nem sobre as resoluções que se tomariam nela; ele clamou para todos que estavam lá para se considerarem como obrigados ao silêncio por um compromisso de honra. Em seguida, ele expôs a ideia concebida, o objeto da deliberação, com um pouco mais de detalhes que ele não tinha feito durante o jantar".
O professor Dane, "asceta impetuoso", tomou a palavra. "No início de uma ação religiosa comum, disse ele, devemos fazer duas coisas. A primeira seria de se recolher e de orar". Seu conselho foi imediatamente posto em prática devotamente. "Segunda coisa. Nós nos propormos em obedecer a autoridade legítima. - Dom Paolo Faré se sobressalta: Tanto faz! - Dane continua com lentidão: ... exercida segundo as regras normais. - A emoção se acalma em um murmúrio de assentimento".
O padre Marinier, de Gênova, "elegante e mundano", não via o projeto sem inquietação. Parecia-lhe necessário, antes de ir mais adiante, precisar um programa. E depois, sua fineza natural e sua experiência lhe faziam temer as consequências que acarretariam para os membros a descoberta possível de uma associação organizada: 

"Mas, quanto a mim, eu não posso acreditar que estejamos todos de acordo sobre a qualidade, e sobre a quantidade dos remédios. Portanto, antes de fundar esta maçonaria católica, estimo que conviria se estender sobre o assunto das reformas. Diria mais: eu acredito que, mesmo se houvesse entre vós um acordo completo sobre as ideias, eu não vos aconselharia em se unirem por um laço sensível, como propõe Selva. Minha objeção é de uma natureza muito delicada. Vocês estimam sem dúvida que lhes será possível navegar em segurança sob a água, como peixes prudentes, e não sonham que o olho penetrante de um Soberano Pescador, ou Vice-Pescador, pode vos descobrir, que um bom golpe de arpão pode vos atingir. Ora, nunca aconselharia aos peixes mais finos, mais saborosos, mais procurados, de se ligarem em conjunto. Vocês entendem o que adviria, se um destes fosse pego e tirado da água. E, vocês não ignoram isso, o grande Pescador da Galileia colocaria os pequenos peixes em seu viveiro; mas o grande pescador de Roma os colocaria na frigideira".
Giovanni Selva respondeu que o padre se desconhecia: 
"Nós não sonhamos em suscitar uma ação coletiva, nem pública, nem privada, no intuito de realizar esta ou aquela reforma. Eu estou velho demais para me recordar do tempo da dominação austríaca. Se os patriotas lombardos ou venezianos se reuniam então para falar de política, isso não era certamente sempre a fim de maquinar, de empreender uma ação revolucionária: isso era a fim de trocarem notícias, de se conhecer, de manter viva a chama da ideia. É isso que queremos fazer no domínio religioso; e este acordo negativo, do qual falava a pouco o padre Marinier, pode muito bem bastar para isso. Façamos com que ele se amplie, que ele abrace a maioria dos fiéis inteligentes, que ele suba na hierarquia; e o padre verá que os acordos positivos aí amadurecerão interiormente, como os germes vitais no resto caduco dos frutos".
Mas uma resposta mais direta e mais inspirada explode sobre os lábios do professor Dane, apoderando-se de uma palavra de Dom Clemente, que acaba de dizer: não temos temores humanos
"É isso! Não temos temores humanos!... Queremos coisas muito maiores e as queremos muito fortemente para termos temores humanos! Queremos comungar no Cristo vivo, todos nós que sentimos que o conceito do Caminho, da Verdade e da Vida se... se... alarga, se dilata em nosso coração, em nossa inteligência, e que ele rompe todas estas... como diria?... todas estas ataduras das velhas fórmulas que nos comprimem, que nos sufocam, que sufocariam a Igreja, se a Igreja fosse mortal! 
Nós queremos comungar no Cristo vivo, nós que temos sede, senhor padre Marinier, que temos sede, que temos sede! 
Nós queremos que nossa fé, se ela perde em extensão, ganhe em intensidade, se multiplique ao cêntuplo, viva Deus! e possa brilhar fora de nós, e possa, digo, purificar, como o fogo, inicialmente o pensamento, depois a ação católica. Eis tudo! Nós queremos comungar no Cristo vivo, todos nós que sentimos que o Cristo prepara uma lenta, mas imensa transformação religiosa, no meio de profetas e de Santos, transformação que se operará por sacrifício, por dor, por divisão dos corações; todos nós que sentimos que os profetas são devotados ao sofrimento e que estas coisas nos são reveladas, não pela carne e pelo sangue, mas por Deus, que vive em nossas almas!... Comungar, nós todos queremos isso, de todos os países, e coordenar nossa ação. Maçonaria católica? Sim, maçonaria das Catacumbas! O senhor tem medo, senhor padre? O senhor tem medo de que se corte muitas cabeças em um único golpe? E eu, digo-lhe: Onde está o machado que daria um golpe parecido? Isoladamente, todos podem ser atingidos; hoje, o professor Dane, por exemplo; amanhã, Dom Faré; depois de amanhã, Dom Clemente. Mas o dia em que o arpão imaginário do padre Marinier pescasse, preso por um fio, leigos de distinção, sacerdotes, monges, bispos, talvez cardeais, qual será, diga-me, o pescador, grande ou pequeno, que, por terror, não deixaria recair na água o arpão e o resto?"
Estes traços bastam. Contudo, eles são apenas o esboço da obra cujo romance completo descreve o desdobramento. E não se pode esquecer que, alguns meses após sua colocação no index, Fogazzaro declarava em uma conferência feita em Paris: "Giovanni Selva pertence ao mundo da realidade assim como vocês e eu. Eu lhe forjei um nome falso. Seu nome verdadeiro é "Legião". Ele vive, ele pensa e trabalha na França, na Inglaterra, na Alemanha, na América como na Itália. Ele usa a batina e o uniforme, assim como a sobrecasaca. Ele se mostra nas universidades, ele se esconde nos seminários".

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