Papa Francisco |
IHU - Nos ensinamentos do Papa Francisco, o diabo
tem planos mais cruéis do que apenas convencer as pessoas a romper com
um dos Dez Mandamentos: “o inimigo” quer que o povo se sinta fraco, sem
valor e sempre pronto para reclamar ou fofocar.
A reportagem é de Cindy Wooden e publicada por Catholic News Service, 18-04-2013. A tradução é de Ana Carolina Azavedo.
Em seu primeiro mês de papado, o Papa Francisco
pregou continuamente o amor e a misericórdia de Deus, mas também
mencionou com frequência o diabo e o prazer cafajeste dos promíscuos em
situações em que o povo se desvia de Jesus e se foca apenas no que está
errado a sua volta.
No livro On Heaven and Earth [Sobre o Paraíso e a Terra, em tradução livre], originalmente publicado na Espanha em 2010, o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio disse: “Acredito que o diabo exista” e “sua maior conquista nos dias de hoje foi fazer-nos acreditar que não existe”.
“Seus frutos sempre são de destruição: separação, ódio e calúnia”, disse no livro.
Como Papa, seus comentários sobre o diabo refletem conhecimentos
pastorais das tentações e injustiças que oprimem o povo, além de ecoar a
espiritualidade inaciana que o formou como jesuíta, disse o padre
jesuíta norte-americano Gerald Blaszczak, Secretário para Promoção da Fé da Sede Geral da Companhia de Jesus em Roma.
O Papa Francisco vem de uma tradição — a tradição
jesuíta — em que a presença do espírito mau ou do “inimigo de nossa
natureza humana” é mencionado com frequência”, disse o Padre Blaszczak.
O jesuíta contou que, em quase todas as homilias do Papa Francisco,
o pontífice fala sobre “a batalha” que as pessoas enfrentam entre
seguir Jesus, crucificado e renascido, e “tornar-se presa da
negatividade, cinismo, desapontamento, tristeza, letargia”—e a tentação
da “felicidade negra” em fofocar ou queixar-se de outros.
Nos Exercícios Espirituais do Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e também em suas Regras para Discernimento dos Espíritos, semear pessimismo e desespero “é o modus operandi ‘do inimigo’”, disse o Padre Blaszczak.
Santo Inácio acreditava que seguir Cristo resulta na
paz e harmonia dos sentidos, mesmo frente a desafios, disse o Padre. O
inimigo não gosta disso e tenta romper com essa paz e harmonia,
particularmente ao colocar os cristãos em tentação para focar sua
atenção inteiramente em si mesmos e seus próprios problemas—reais ou
percebidos—e fazendo-os duvidar de sua própria capacidade ou
possibilidade de serem capazes de seguir o Senhor.
“Nestas várias homilias do Papa Francisco, em que
adverte o povo para que evite o desencorajamento, para que se agarrem à
esperança, para que sigam com coragem e não se deixem cair na tentação
da negatividade ou do cinismo, ele está utilizando essa ideia
fundamental de Santo Inácio”, disse o Padre.
A explicação dos jesuítas para “o inimigo” na espiritualidade de Inácio pode ser vista em muitas das declarações do Papa sobre o diabo, incluindo:
· Em sua audiência geral semanal, em 17 de abril, o Papa falou
sobre Jesus estar sempre próximo, pronto para defender e perdoar. “Ele
sempre nos defende do ardil do diabo, defende-nos de nós mesmos, de
nossos pecados!”, disse o Papa. “Ele nos perdoa sempre, é o nosso
advogado... Nunca nos esqueçamos disso”.
· Em uma reunião com os Cardeais, em 15 de Março, o Papa falou
sobre como o Espírito Santo unifica e harmoniza a Igreja. "Não cedamos
nunca ao pessimismo, nem à amargura que o diabo nos oferece a cada dia",
disse o Papa. Ao invés disso, estejam certos de que o Espírito dá à
Igreja “a coragem para perseverar”.
· Em sua homilia no Domingo de Ramos, o Papa Francisco
disse: “Um cristão não pode nunca se entristecer.” A alegria cristã vem
de saber que Jesus está próximo, mesmo em tempos de prova, em que os
problemas parecem insuperáveis. “Nesse momento, o inimigo — o diabo —
vem, geralmente disfarçado de anjo, e sorrateiramente fala suas palavras
a nós”.
Padre Blaszczak disse que a ideia de que o diabo possa se disfarçar como anjo também se encaixa nos ensinamentos de Santo Inácio,
que disse que “o inimigo” frequentemente tenta corromper atrações e
inclinações geralmente positivas — incluindo os desejos por amor ou
conquista e uma atração pela beleza — para criar desespero ou “relações
desordenadas”, que destroem a paz interior e acabam levando a pessoa a
se distrair de servir e amar apenas a Deus.
Nos ensinamentos de Inácio, e naqueles do Papa Francisco,
“há uma particularidade”, uma seriedade sobre “a campanha, a oposição
ao mal”, e sobre a força e graça para resistir e fazer o que é certo,
disse ele. As pessoas precisam discernir para onde Deus as chama, e
seguir o chamado requer coragem e “uma disposição a aceitar o sofrimento
e a rejeição”.
Inácio “nunca se afasta da cruz, o que significa que
não há nada fácil quanto a isso. A tarefa envolve colocar-se em
situações de dificuldades e tensão. Há um chamado contínuo para nos
alinharmos à causa de Jesus, à causa do reino”, disse o jesuíta.
O fundador da Companhia estava convencido de que “seria o diabo
aquele que tentaria dissuadir-nos, que diria: ‘Isso é bobagem. Isso não
pode ser feito. Você não é bom o bastante. Você não poderia ser
convocado a isso. Você não tem o que é preciso. Você não tem as
características necessárias para fazer diferença na construção do
reino’”.
Por outro lado, de acordo com Padre Blaszczak, o Papa Francisco — assim como Inácio
— diria que o que Deus diz às pessoas é: “Sim, você é fraco. Eu sei
quem você é, e eu convoco cada um de vocês para emprestar seus talentos e
sua energia, seu compromisso, amor e dons para a causa do reino dos
Céus”.
Apesar das aparências, disse o padre, o Papa Francisco
não estava focado no poder do diabo; mas as tentações são o lado
realista da parte principal da mensagem do Papa sobre “um mundo que está
repleto da misericórdia, presença e fidelidade de Deus”.
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