Ao
contemplar a história das aparições de Nossa Senhora de Lourdes, na
gruta de Massabielle, nossos olhos se voltam para a menina a quem Ela
falou. Sua vida, transcorrida em acrisolada virtude, expressa com
eloquência porque Deus "escondeu estas coisas aos sábios e prudentes, e
as revelou aos pequeninos" (Lc 10, 21).
Lourdes! Onde encontraremos os termos
que alcancem exprimir tudo quanto esse nome significa para a piedade
católica no mundo inteiro? Quem poderá traduzir em palavras o ambiente
de paz que envolve a gruta sagrada na qual, há 153 anos, a Santíssima
Virgem apareceu à humilde Bernadette e inaugurou, de modo definitivo, um
novo vínculo com a humanidade sedenta de refrigério e paz? Por desígnio
da Divina Providência, a esse lugar associou-se uma ação intensa da
graça, especialmente capaz de transmitir aos milhares de peregrinos,
vindos de longe, a certeza interior de serem suas preces benignamente
ouvidas, seus dramas apaziguados, e suas esperanças fortalecidas.
Com efeito, ao longo deste século e
meio, as ásperas rochas de Massabielle tornaram-se palco das mais
espetaculares conversões e curas, legando à Santa Igreja Católica um
tesouro espiritual de valor incalculável.
Em Lourdes fatos se revestem de uma
grandiosidade peculiar, diante da qual nossa língua emudece. Ali está,
diante de nós, a sublimidade do milagre. Entretanto, não se pode falar
de Lourdes sem nos lembrarmos com veneração da personagem ligada de modo
indissociável a essa história de bênçãos e misericórdias.
A modesta pastorinha a quem Nossa
Senhora apareceu é o primeiro e maior prodígio de Lourdes: ela simboliza
a íntegra fidelidade aos apelos de conversão e penitência, que naqueles
dias foram lançados pela Rainha dos Céus, os quais haveriam de chegar
aos mais longínquos recantos da Terra.
Infância marcada pela Fé
Bernadette nasceu num século de
profundas transformações. Animada, de um lado, pelo surto de devoção
mariana que o pontificado do Beato Pio IX estava suscitando, a segunda
metade do século XIX presenciava o avanço insolente do ateísmo e do
materialismo.
Santa Bernadette Soubirous |
Os espíritos estavam divididos e, a fim
de agir precisamente nessa encruzilhada da História, Maria Santíssima
quis servir-se da filha primogênita do casal Soubirous.
Quão distantes, porém, desta sorte de
considerações, estavam François e Louise, em 7 de janeiro de 1844!
Nascia-lhes a filha Bernadette, no Moinho Bolly, nas cercanias de
Lourdes, durante os dias felizes de fartura ali transcorridos. A menina
foi batizada, recebendo o nome de sua madrinha Bernard, ao qual se
acrescentou o da Senhora que haveria de lhe aparecer. Marie- Bernard,
eis como se chamava Bernadette, sem escapar do diminutivo carinhoso que a
acompanharia para o resto da vida.
No Moinho Bolly transcorreu sua primeira
infância, marcada por uma religiosidade autêntica e sincera. Além da
freqüência aos Sacramentos, a oração em conjunto aos pés do crucifixo e
uma exímia prática dos princípios cristãos correspondiam a um dever
moral para aquele casal de camponeses. Bernadette cresceu, por assim
dizer, respirando a santa Fé Católica do mesmo modo que respirava o puro
ar da montanhosa região dos Pirineus.
A miséria visitou o lar dos Soubirous
A época era difícil e os negócios de
François Soubirous iam mal. Quando Bernadette tinha 8 anos, mudaram-se
para um moinho mais simples, e ao cabo de três anos alugaram uma cabana à
beira da estrada. Já crescida, ela acompanhava os progressivos
insucessos dos pais e enfrentava, com admirável resignação, a situação
de indigência a que se viram reduzidos em 1856, a ponto de terem de
mudar para o antigo cárcere da rua Petits- Fosées: um cubículo úmido e
pestilento, que as autoridades locais haviam julgado inadequado até
mesmo para os presos.
A pobreza era ali completa. O cômodo
media menos de 20 m² e a família não possuía absolutamente nada, além da
mobília mais indispensável e das roupas. A luz do Sol nunca penetrava
no recinto, marcado pela grade da janela e pelo ferrolho da pesada porta
- reminiscências do antigo calabouço. Ali vivia o casal Soubirous e as
quatro crianças, constantemente atormentados pela fome. Quando conseguia
comprar pão, a mãe o dividia entre os pequenos, que ainda assim se
sentiam insaciados. Bernadette, não raras vezes, privava-se de sua
pequena porção em favor dos mais novos, sem nunca demonstrar o menor
descontentamento por isso.
À noite, sem conseguir dormir,
atormentada pela asma, Bernadette chorava. A causa principal daquele
desafogo, porém, não eram a doença ou as duras privações materiais.
O único desejo da angelical menina era
fazer a Primeira Comunhão, mas a necessidade de cuidar dos irmãos e da
casa a impedia de freqüentar o catecismo, de aprender a ler e escrever e
até de falar francês. De fato, quando a Santíssima Virgem lhe dirigiu a
palavra, o fez em patois, o dialeto da região de Lourdes. Se Bernadette
desejou algo para si, nos dias de sua infância, foi apenas receber o
Santíssimo Sacramento, o Senhor ofendido pelos pecados dos homens, que
ela aprendera tão cedo a consolar.
Dias de pastoreio em Bartrès
As poucas vezes que Bernadette
freqüentou as aulas de catecismo em Lourdes foram malogradas, porque não
conseguia acompanhar as demais crianças, bem mais novas e adiantadas
que ela. Louise Soubirous preocupava-se com a filha, de treze anos, que
ainda não fizera a Primeira Comunhão, e resolveu pedir à amiga Marie
Lagües que a recebesse em Bartrès - vilarejo não muito distante de
Lourdes - a fim de que Bernadette lá pudesse freqüentar as aulas de
catecismo.
Por consideração e amizade, Marie Lagües
a recebeu em sua casa, mas não foi tão fiel à promessa quanto seria de
se esperar. Logo ocupou Bernadette nos serviços da casa e no cuidado das
crianças. E seu marido encontrou nela a pastora ideal para seu rebanho
de cordeiros. Foi nesse período que Bernadette solidificou-se na oração,
durante as longas horas transcorridas no mais completo silêncio em meio
ao privilegiado panorama pirenaico. Contemplativa, ela montava um
pequeno altar em honra da Santíssima Virgem e aí passava horas de grande
fervor recitando o Rosário, a única oração que conhecia.
Um fato passado com Bernadette por essa
época demonstra a pureza cristalina de seu coração. Certo dia, quando
François Soubirous foi visitar a filha, encontrou-a triste e cabisbaixa.
Perguntou-lhe o que a afligia.
- Todos os meus cordeiros têm as costas verdes - respondeu ela.
O pai, percebendo tratar-se da marca
posta por um negociante, fez um ameno gracejo: - Eles têm as costas
verdes porque comeram muita erva.
- E podem morrer? - perguntou assustada Bernadette.
- Talvez...
Penalizada, ela começou a chorar no
mesmo instante. O pai, então, contou-lhe a verdade: - Vamos, não chores.
Foi o negociante que os marcou assim.
Mais tarde, quando a chamaram de boba
por ter acreditado em semelhante brincadeira, sua resposta constituiu
uma demonstração involuntária de sua elevada virtude: - Eu nunca menti;
não podia supor que aquilo que o meu pai me dizia não era verdade.
Os dias se escoavam lentamente na
pequena aldeia, havendo completado sete meses que Bernadette lá chegara.
Quanta esperança de aproximar- se da Mesa Eucarística trazia na
chegada, e que decepção experimentava agora, após poucas aulas de
insignificante instrução! Aquela espera interminável a afligia, mas,
como tudo na vida do homem, foi permitida por Nosso Senhor.
"Sofre as demoras de Deus; dedica-te a
Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida
se enriqueça" (Eclo 2, 3). Essas palavras, desconhecidas para
Bernadette, significam exatamente o modo como Deus procedeu a seu
respeito. Ao mesmo tempo que a graça inspirava em sua alma um ardente
desejo das coisas do alto, estas pareciam ser-lhe tiradas. Com isso, seu
anseio se robustecia, e tudo o que era terreno ia se afigurando como
pouca coisa aos seus olhos, cada vez mais aptos para compreender as
realidades sobrenaturais.
Gruta das aparições |
Como costuma ocorrer com as almas que Deus prova por meio de longas esperas, estavam-lhe reservadas grandes graças.
Celestial surpresa
De volta à casa paterna, Bernadette
retomou os antigos afazeres. Na manhã inolvidável de 11 de fevereiro de
1858, saiu com a irmã Toinette e a amiga Jeanne Abadie para o bosque, a
fim de recolherem gravetos para a lareira e ossos para vender a fim de
comprarem algum alimento. Andaram bastante até chegarem à gruta de
Massabielle, onde Bernadette nunca havia estado. Enquanto as vivazes
meninas atravessavam a água gelada do rio Gave, Bernadette se preparava
para fazer o mesmo.
Eis sua própria narração do que então
sucedeu: "Escutei um barulho, como se fosse um rumor. Então, virei a
cabeça para o lado do prado; vi que as árvores absolutamente não se
mexiam. Continuei a descalçar-me. Escutei de novo o mesmo barulho.
Levantei a cabeça, olhando para a gruta. Avistei uma Senhora toda de
branco, com um vestido branco, um cinto azul e uma rosa amarela sobre
cada pé, da cor da corrente do seu terço: as contas do terço eram
brancas" 1.
Era a Santíssima Virgem sorrindo-lhe, e
chamando-a para se aproximar d'Ela. Temerosa, Bernadette não se
adiantou, mas puxou o terço e começou a rezar. O mesmo fez a "linda
Senhora", a qual embora sem mover os lábios, a acompanhava com seu
próprio terço. Após o término do Rosário, Ela desapareceu.
A impressão causada por essa primeira
aparição em Bernadette foi profunda. Sem reconhecer nEla a Mãe celeste, a
menina sentia-se irresistivelmente atraída por figura tão amável e
admirável, na qual não podia parar de pensar. Quando uma freira lhe
perguntou, anos mais tarde, na enfermaria do convento, se a Senhora era
bela, ela respondeu: - Sim! Tão bela que, quando se vê uma vez,
deseja-se a morte só para tornar a vê-la!
Dezoito encontros em Massabielle
Por mais que Bernadette tivesse pedido
segredo às suas duas companheiras, às quais contou o que vira, elas não
se mantiveram caladas por muito tempo. Logo, dezenas de pessoas
comentavam na vizinhança o sobrenatural acontecimento. E era apenas o
começo: a impressionante popularidade das aparições assumiram proporções
tais, que no dia 4 de março, estavam junto a Bernadette nada menos que
vinte mil peregrinos.
Antes de cada visita de Nossa Senhora,
Bernadette sentia irresistível desejo de ir a Massabielle. Assim
aconteceu nos dias 14 e 18 de fevereiro, quando um pressentimento
interior a conduziu até a gruta. Na segunda aparição, a Virgem
Santíssima permaneceu novamente em silêncio; disse algo apenas no dia
18, conforme no-lo narra a obediente menina: "A Senhora só me falou na
terceira vez. Ela perguntou-me se eu queria ir lá durante quinze dias.
Eu respondi que sim, depois que pedisse licença a meus pais" 2.
O Santuário de Lourdes é um dos maiores centros de peregrinação do mundo católico, acolhendo cerca de 6 milhões de peregrinos todos os anos |
A quinzena de aparições, que se deu
entre 18 de fevereiro e 4 de março, com exceção dos dias 22 e 26,
constituiu o cerne da mensagem confiada a Bernadette. A cada dia
multiplicava- se o número dos assistentes que empreendiam penosas
viagens, atraídos pelos celestiais colóquios. Embora mais ninguém além
de Bernadette visse a "Senhora", todos sentiam Sua presença e se
comoviam com os êxtases da camponesa.
- Ela não parecia ser deste mundo - disse uma testemunha.
As palavras de Nossa Senhora não foram
muitas, mas de expressivo significado. Disse a Bernadette no mesmo dia
18: "Não prometo fazer-te feliz neste mundo, mas sim no outro". E nas
outras vezes: "Eu quero que venha aqui muita gente". "Pede a Deus pelos
pecadores! Beije a terra pelos pecadores!". "Penitência, penitência,
penitência!" "Vá e diga aos padres que construam aqui uma capela. Quero
que todos venham em procissão".
Ainda durante a quinzena, a Rainha dos
Céus confiou três segredos e ensinou uma oração a Bernadette, a qual ela
recitou com insuperável fervor todos os dias de sua vida. Após um longo
silêncio a respeito de sua identidade, a Senhora revelou seu nome a
Bernadette na 16ª aparição, em 25 de março de 1858: "Eu sou a Imaculada
Conceição". Era uma solene confirmação do dogma proclamado pelo Beato
Pio IX, quatro anos antes; a pureza da doutrina seria coroada, daqui por
diante, pela beleza dos milagres.
Transformada por Nossa Senhora
Um dos critérios de prudência adotados
pela Santa Igreja para verificar a autenticidade de revelações como as
que recebeu Bernadette, consiste em observar atentamente a conduta dos
videntes. Neles, se reflete invariavelmente a veracidade e o teor do que
dizem ver: seu testemunho pessoal é decisivo.
Na gruta de Massabielle, onde Maria pediu a Bernadette que rezasse pelos pecadores, operam-se verdadeiros milagres da graça |
No caso de Lourdes, tal como depois
sucedeu com os pastorinhos de Fátima, a mudança operada em Bernadette
pode ser considerada um milagre da graça. Seus gestos, modos, palavras
e, sobretudo sua piedade adquiririam indescritível brilho pelo contato
com a Rainha dos Céus: "Na sua atitude, nos seus traços fisionômicos,
via-se que a sua alma estava arrebatada. Que paz profunda! Que
serenidade! Que elevada contemplação! O olhar da criança para a aparição
não era menos maravilhoso que o seu sorriso. Era impossível imaginar
algo tão puro, tão suave, tão amável..." 3.
Após os êxtases, ela mantinha a clave de
sublimidade que a pervadira: o modo como fazia o sinal-da-cruz, sua
compostura durante a oração e sua fineza de trato, aliados à
simplicidade, eram mais distintos que os de qualquer dama que tivesse
passado a vida inteira exercitando-se na arte do "savoir-plaire".
"Não escapa aos pais que se operou nela
uma transformação no decorrer deste último mês. Não foram vãs para ela a
contemplação e as lições celestes. [...] Tendo visto chorar a Senhora
de Massabielle pelo pecado e pelos pecadores, esta criança analfabeta
compreendeu o grande dever da penitência e da oração" 4.
Até mesmo o Pe. Peyramale, o pároco de
Lourdes, célebre pela desconfiança em realção a todos os fatos ocorridos
com Bernadette, confessou: "tudo nela evolui de maneira impressionante"
5.
Respondendo aos magistrados
Os espíritos céticos estavam à espreita
dos acontecimentos. Sumamente irritados pela afluência multitudinária à
gruta, diziam: "É incrível quererem fazer-nos crer em aparições em pleno
século XIX". Tais homens colocavam suas esperanças mais em seus
"modernos" inventos que na onipotência de Deus: "É estupidez e
obscurantismo admitir a possibilidade de aparições e milagres na época
do telégrafo elétrico e da máquina a vapor" 6.
Foi diante de autoridades com essa
mentalidade que Bernadette teve de depor três vezes no curto período de
uma semana, ainda durante a quinzena das aparições. Durante os
intermináveis inquéritos em que a crivaram de perguntas capciosas,
Bernadette ouviu coisas brutais: "Vamos prender-te! O que é que vais
procurar à gruta? Por que fazes correr tanta gente? Vamos meter-te na
prisão! Matar-te-emos na prisão!" 7. Chamaram-na de mentirosa,
visionária, louca. A tudo isso ela apenas respondia com a verdade,
suportando esses sofrimentos com humildade e doçura. Suas respostas
acertadas confundiram os magistrados, que nunca tiveram qualquer motivo
legal para prendê-la.
A opinião final que formaram a respeito
de Bernadette, e que enviaram ao Ministro da Justiça de então, foi esta:
"Segundo o reduzido número daqueles que pretendem ter a seu lado o bom
senso, a razão e a ciência, Bernadette Soubirous é portadora de uma
enfermidade mental conhecida: está sendo vítima de alucinações, apenas
isto!" 8. Teriam eles, como pretendiam, a razão do seu lado? A resposta
não demorou a se tornar clara.
A fonte milagrosa e o chamado à expiação
Na aparição de 25 de fevereiro, a
Santíssima Virgem disse a Bernadette: "Vai beber à fonte". Bernadette
foi ao rio Gave e bebeu. Contudo, não era ao rio que Ela se referia, mas
sim a um canto da gruta onde havia apenas água suja. A menina cavou e
bebeu.
Fonte milagrosa de Lourdes |
Daquela nascente obscura brotou
discretamente a água milagrosa, que dali a alguns dias borbulhava em
abundância para maravilhamento de todos.Os doentes não demoraram em
servir-se dela e as curas inexplicáveis se iniciaram em 1º de março.
Enfermos desenganados "pela razão e pela ciência" viam seus males
desaparecer num instante, e os argumentos de inúmeros corações
reticentes se transformavam em cânticos de fé.
Mas, quando Bernadette, mais tarde,
serviu- se da água para suas penosas doenças, ela não lhe foi eficaz.
Perguntaram, então: - Essa água cura os outros doentes: por que não te
cura a ti? - Talvez a Santíssima Virgem queira que eu sofra - foi a sua
resposta. De fato, a sua vocação era sofrer e expiar pela conversão dos
pecadores. A água da fonte não era para ela.
Essa filha predileta de Maria
compreendeu com profundidade sua singular missão. Tudo quanto haveria de
padecer física e moralmente dali em diante - o que não foi pouco - ela
desejava unir aos méritos infinitos do Redentor crucificado, para que
fosse pleno o efeito das graças derramadas na gruta. Nunca um murmúrio,
uma queixa ou um ato de impaciência se desprendeu de seus resignados
lábios, afeitos de modo heroico ao silêncio e à imolação.
No Asilo e em Nevers
Após o ciclo das aparições, todos
queriam ver Bernadette e tocá-la. Pediam-lhe bênçãos, roubavam
relíquias... Homens ilustres empreendiam longas viagens para conhecê-la e
altas figuras eclesiásticas não escondiam sua admiração diante dela.
Todavia, quanto a faziam sofrer por
causa disso! Em sua acrisolada humildade, Bernadette sentia-se
incomodada perante tantas manifestações de deferência. Seu maior desejo
era ser esquecida, queria que apenas a Virgem Santíssima fosse objeto de
enlevo e amor.
Em Lourdes, ela viveu ainda nove anos no
Asilo, administrado pelas Irmãs de Caridade e da Instrução Cristã, de
Nevers. Ajudava no atendimento aos doentes, nos serviços da cozinha, na
atenção às crianças. Aos 23 anos partiu para a Casa-Mãe da Congregação,
em Nevers, desejando avidamente a vida de recolhimento e oração: - Vim
aqui para esconder-me - disse ela.
Seus treze anos de vida religiosa foram
vincados pela prática de todas as virtudes. De modo especial, o
desprendimento de si mesma e o amor ao sofrimento. Desse período, passou
nove anos de ininterruptas enfermidades: a asma inclemente, um doloroso
tumor no joelho, que evoluiu até uma terrível cárie dos ossos. No dia
16 de abril de 1879, aos 35 anos de idade, ela entregou sua alma ao
Criador.
Os treze anos de vida religiosa de Santa Bernadette foram vincados pela prática de todas as virtudes e, de modo especial, o desprendimento de si mesma e o amor ao sofrimento Corpo incorrupto de Santa Bernadette Soubirous - Nevers, França |
"Encontrar-me-eis junto ao rochedo"
Seus restos mortais incorruptos
constituem um dos mais belos vestígios da felicidade eterna que Deus
tenha outorgado aos pobres mortais neste Vale de Lágrimas. Intocado,
puro, angélico é o corpo de Bernadette, diante do qual o peregrino
sente-se atraído a passar horas seguidas em oração, levantando-se depois
com a doce impressão de ter penetrado na felicidade eterna de que goza a
vidente de Massabielle.
Ali estão, cerrados, mas eloqüentes, os
olhos que outrora contemplaram a Santíssima Virgem, a nos ensinar que os
únicos a serem exaltados são os mansos e humildes de coração; a nos
lembrar que, para realizar Suas grandes obras, Deus não precisa das
forças humanas, mas sim da fidelidade à voz de Sua graça.
Sabemos que a missão de Bernadette não
terminou. A ação benfazeja de sua intercessão se faz sentir junto à
gruta, conforme ela mesma predisse: "Encontrar-me-eis junto ao rochedo
que tanto amo". Que ela nos obtenha, neste ano do jubileu das aparições,
uma confiança inquebrantável no poder dAquela que disse: "Eu sou a
Imaculada Conceição".
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