À primeira vista pode parecer que, se Deus criou todas as coisas, então
deve também ter criado o mal. Entretanto, há aqui um pressuposto que deve ser
esclarecido. O mal não é uma “coisa”, como uma pedra ou a eletricidade. Você
não pode ter um pote de mal! Mas o mal é algo que acontece, como o ato de
correr. O mal não tem uma existência própria, mas na verdade, é a ausência do
bem. Por exemplo, os buracos são reais, mas somente existem em outra coisa. À
ausência de terra, damos o nome de buraco, mas o buraco não pode ser separado
da terra. Quando Deus criou todas as coisas, é verdade que tudo o que existia
era bom. Uma das boas coisas criadas por Deus foram criaturas que tinham a
liberdade em escolher o bem.
Para que tivessem uma real escolha, Deus deveria
permitir a existência de algo além do bem para escolher. Então Deus permitiu
que esses anjos livres e humanos escolhessem o bem ou o não-bem (mal). Quando
um mau relacionamento existe entre duas coisas boas, a isso chamamos de mal,
mas não se torna uma “coisa” que exige ter sido criada por Deus.
Examine o exemplo de Jó em Jó capítulos 1 e 2. Satanás quis destruir Jó, e Deus
permitiu que Satanás fizesse tudo, exceto matá-lo. Deus permitiu que isto
acontecesse para provar a Satanás que Jó era reto porque amava a Deus, e não
porque Deus o tinha tão ricamente abençoado. Deus é soberano, e no controle
máximo de tudo o que acontece. Satanás nada pode fazer a não ser que tenha a
“permissão” de Deus. Deus não criou o mal, mas Ele permite o mal. Se Deus não
houvesse permitido a possibilidade do mal, tanto a espécie humana quanto os
anjos estariam servindo a Deus por obrigação, não por escolha. Ele não quis
“robôs” que simplesmente fizessem o que Ele gostaria que fizessem por causa de
sua “programação”.
A resposta que a Bíblia nos dá é: Deus tem um propósito perfeitamente
bom para a existência do mal. Vejamos a seguir. A Bíblia não só ensina que Deus
sabe de todas as coisas, mas que Ele determinou, com precisão, o Seu plano para
toda a história do universo. Deus detalhadamente determinou a existência e
história para cada criatura desde antes da criação. Ele escreveu a história do
mundo para a Sua glória, de sorte que tudo ocorre de acordo com o Seu perfeito
plano e nada acontece sem ser previamente decretado por Deus. Em Isaías
46:9-10, Deus apresenta como evidência de Sua divindade o fato de que Ele tem
determinado e declarado o fim desde o início. Ele diz: “... Eu sou Deus, e não
há outro semelhante a mim... o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a
minha vontade” (Isaías 46,10).
Não existe um átomo sequer em todo o universo que não esteja a cada momento
sendo sustentado e guiado por Deus. Em Colossenses 1,16-17, Paulo diz: “... Tudo
foi criado por meio dele e para Ele... Nele, tudo subsiste.” Hebreus 1:3
explicitamente diz que Ele “sustenta todas as coisas pela palavra do Seu
poder.” Vimos então que Deus tem planejado e determinado o percurso de toda a
criação (incluindo Satanás e todas as suas ações, como sua queda e as tentações
que ele apresenta a nós, seres humanos). O mal que existe hoje não ocorre por
acidente, mas porque Deus tem determinado em Seu perfeito plano que deveria ser
assim. Isto pode ser surpreendente ou até vergonhoso para muitos, mas para
Deus, não. Ele diz: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal;
eu, o SENHOR, faço todas estas cousas (Isaías 45:7). É notável que neste
versículo Ele até usa o verbo mais forte (bara no Hebraico é a mesma palavra
usada em Gênesis 1:1) para referir-se ao Seu envolvimento intencional com o
mal. De fato, Ele até apresenta isto como evidência de Sua divindade, em
contraste com os ídolos que são incapazes de fazer bem ou mal (Isaías 41:23). O
inspirado profeta Jeremias apresenta a pergunta retórica: “Quem é aquele que
diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande? Acaso, não procede do
Altíssimo tanto o mal como o bem?”(Lamentações 3,37-38). É claro que a resposta
esperada é que nada de bom ou mau ocorre sem que proceda de Deus.
Semelhantemente, o profeta Amós pergunta: “Sucederá algum mal à cidade, sem que
o SENHOR o tenha feito?” (Amós 3:6).
Basicamente, não há uma resposta a estas perguntas que possamos
compreender totalmente. Como seres humanos limitados, jamais podemos
compreender inteiramente um Deus infinito (Romanos 11,33-34). Às vezes pensamos
que compreendemos por que Deus faz determinada coisa, e mais tarde descobrimos
que era para um propósito diferente daquele que havíamos pensado. Deus vê as
coisas sob uma perspectiva eterna. Nós vemos as coisas sob uma perspectiva
terrena. Infelizmente, por natureza, preferimos a nossa própria concepção de Deus
àquela do Deus verdadeiro.
Concluindo, a Bíblia ensina claramente que tudo que Deus criou era
“muito bom” (Gênesis 1,31). Semelhantemente, a Bíblia termina descrevendo em
Apocalipse 21 e 22 um período futuro quando tudo voltará a ser muito bom.
Apocalipse 21,4 diz: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não
existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas
passaram.” Isto significa que quase toda a Bíblia, de Gênesis 3 a Apocalipse
20, trata do tempo quando o mal existe. Este é o tempo em que nós vivemos.
Entretanto, é confortador, mesmo quando entendemos pouco do propósito de Deus
para o mal, saber que tudo começou “muito bom” e há de terminar assim também!
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