ihu - O Papa Francisco aborda o tema da comunhão aos divorciados. O pontífice encarregou Dom Vincenzo Paglia de redigir um texto.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 25-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
De pé, em círculo, como se fosse um encontro de escoteiros. Assim o Papa Francisco
recebeu nos últimos dias diversos bispos italianos em visita ad limina.
Das suas vozes, um pedido explícito: encontrar novas soluções para os
divorciados em segunda união, que, hoje, não são admitidos a receber a
Eucaristia.
Francisco escutou em silêncio e, depois, recebendo em audiência no sábado passado Dom Vincenzo Paglia,
chefe do "ministério" vaticano que se ocupa da família, dirigiu a ele o
pedido dos bispos. Isso significa que, nos próximos meses, o
"ministério" da família liderado por Paglia – que já
está trabalhando em um texto referente aos "namorados" – deverá
trabalhar na redação de um documento para encontrar "novas soluções para
os divorciados em segunda união", porque é demais o sofrimento das
famílias que perderam a unidade por causa de divórcios ou separações.O caminho parece ser o da avaliação "caso a caso", no rastro de uma abertura já desejada por Bento XVI em uma conversa com os padres da diocese de Aosta
em 2005: muitos daqueles que passaram para uma segunda convivência
provavelmente contraíram um primeiro matrimônio eclesiástico "sem fé".
Nulo o primeiro casamento, eles podem voltar à prática cristã e ser
admitidos à comunhão.Entre os prelados recebidos pelo papa, também estava Benvenuto Italo Castellani, arcebispo de Lucca, que explica que, com Francisco,
discutiu-se "a perspectiva de pôr em estudo, na busca de possíveis
novas soluções, a situação do sofrimento das famílias que perderam a
unidade, porque os cônjuges são divorciados ou recasados, assim como o
esforço por um compromisso renovado da comunidade cristã para a
iniciação à vida cristã das jovens gerações, associado ao zelo
missionário a ser encontrado por parte dos fiéis leigos, tudo sem cair
na tentação de clericalismo que pode afligir tanto os presbíteros quanto
os próprios fiéis leigos".A Igreja está firme em 1994. À época, a Doutrina da Fé, na Carta aos bispos da Igreja católica a respeito da recepção da comunhão eucarística por fiéis divorciados novamente casados, assinada pelo cardeal Joseph Ratzinger,
reafirmava o motivo da não admissibilidade para receber a comunhão:
"Por fidelidade à palavra de Jesus Cristo, a Igreja sustenta que não
pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro matrimônio foi
válido". Além disso, "se os divorciados se casam civilmente, ficam em
uma situação objetivamente contrária à lei de Deus".Agora, alguma coisa pode mudar. Senão nos conteúdos, ao menos na forma. Além disso, é o próprio Francisco que diz no livro Cielo e Terra que
"o tema do divórcio é diferente da questão do matrimônio entre pessoas
do mesmo sexo. A Igreja sempre repudiou a lei sobre o divórcio vincular,
mas também é verdade que esse caso se fundamenta em antecedentes
antropológicos diferentes". Em suma, enquanto sobre o casamento entre
pessoas do mesmo sexo a Igreja não transige, sobre o divórcio a
abordagem é diferente.Que novas medidas serão adotadas? É difícil responder. No início de fevereiro, Ratzinger ainda havia dado um sinal de abertura, assim comentado por Paglia: "O papa pediu para estudar, e os estudos continuam ou, melhor, estão até acelerados para ajudar pro veritate a compreender o que aconteceu no momento do matrimônio", ou seja, se foi contraído fielmente à Igreja e é, portanto, anulável."Não é bom que se prolonguem demais os processos de nulidade somente
por técnicas que poderiam ser abreviadas". Um desejo não por acaso
expressado por diversos prelados, também no Sínodo dos Bispos de outubro passado, em que o tema da família explodiu: "Mais de uma centena de intervenções – disse Paglia
– mostraram que na sensibilidade dos bispos essa questão está realmente
na pauta. Conforta-me ainda mais para acelerar o passo".Antes o querigma, depois os princípios. Primeiro, em suma, o anúncio
de que o cristianismo é acolhida e misericórdia, depois os ditames. Esse
parece ser o coração do novo pontificado. O que não significa negar a
doutrina, mas sim ter em mente que não pode haver regras sem amor. Bergoglio, quando arcebispo de Buenos Aires, havia escrito um Vademecum
para o acesso aos sacramentos, em que ele se mostrava mais
condescendente para com a possibilidade de que os divorciados em segunda
união se aproximassem da comunhão. E Ratzinger, no Dia Mundial das Famílias em Milão do ano passado, também dissera
que "a Igreja ama essas pessoas. A grande tarefa" das comunidades e das
paróquias é "fazer realmente todo o possível para que se sintam amadas,
aceitas e não se sintam 'fora'".
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