Maria é a graça criada com uma finalidade específica nos planos de Deus
Por Pe. Rafael Maria, osb
RECIFE, 26 de Abril de 2013 (Zenit.org)
- Em 1936 na localidade do Sítio Guarda (Cimbres), município de
Pesqueira, interior do estado de PE aconteceram algumas aparições da
Virgem Maria a duas meninas. Tais mariofanias são desconhecidas por
parte dos católicos brasileiros por motivos vários. Nestas supostas
aparições, com o nosso olhar de especialista no campo mariológico,
detectamos que parece possuir todas das características de veracidade,
porém muito se deve estudar.
Assinalamos alguns elementos importantes: o
representante eclesial, isto é o pároco da época, em nome da Igreja
local, procurou fazer um diálogo com a aparição e as videntes
(analfabetas), utilizando estratégias que nunca foi realizada antes em
uma mariofania. Ele dialogava em alemão e latim com a visão e as
videntes respondiam em português. Outro feito extraordinário é a
denominação que a aparição se atribui. Nossa Senhora diz as meninas: «EU
SOU A GRAÇA», e deseja ser invocada com o título «DAS GRAÇAS» naquele
local. Seria aqui uma imitação das aparições da Medalha Milagrosa?
Diríamos: Não. Tudo revela algo novo, dinâmico e teológico. A Virgem
Maria aparece com o menino Jesus nos braços e envolta em um nicho com
colunas revestidas de pedras preciosas, segundo o relato das videntes.
O
nome «Cimbres» de origem francesa que quer dizer: “armação para molde
de madeira de arco ou abobada” (ou Cambota), isto é, um nicho? Condiz
então com o modo como a Virgem aparece no Sítio Guarda, dentro de nicho.
Interessante é que Cimbres, nome da cidadezinha onde se localiza o
Sítio Guarda é de origem portuguesa, onde existe uma cidade do mesmo
nome com um santuário de Nossa Senhora da Graça (Sic!).
Um outro detalhe é que, no Brasil recém-descoberto, duas igrejas
consideradas as mais antigas, foram dedicadas a Nossa Senhora da Graça:
na Bahia datada de 1535 e o Seminário de Olinda de 1551. Portanto, as
matrizes da devoção mariana no Brasil é GRAÇA?
Entre as aparições de Paris e as de Cimbres existe diferenças
singulares. Lá em Paris, Maria aparece de mãos estendidas, disponível a
distribuir graças, aqui no entanto ela tem o menino Jesus nos braços que
é a GRAÇA por excelência. É Dele que Maria alcança tudo para nós.
O que nos interessa aqui é fazer um estudo teológico para se
compreender um título tão inusitado que a Virgem maria se atribui no
Sítio Guarda: «Eu sou a Graça».
Como sabemos, é salutar sempre uma formação adequada e continuada
quando se fala da Virgem Maria, pois em torno a mesma surgem equívocos
devocionais que desvirtuam, seja o culto mariano seja a doutrina. Para
isto temos que voltar a dois mil anos do início do cristianismo, à
Bíblia. O fundamento bíblico que atesta o que Maria é se pode tomar de
Lc 1,26 na saudação angélica, onde o anjo saúda a Virgem com um novo
nome «kaire kekarithoméne» (Regozija-te Agraciada). O anjo substitui o
nome próprio de “Maria” com um outro, «Agraciada/Graça». Dai por diante,
ela será chamada «Graça». Maria é a “graça criada” com uma finalidade
específica nos planos de Deus, sendo assim instrumento ativo na obra da
salvação (cf. Lumen Gentium 56), quando gera e dá a luz “o Filho do
Altíssimo” (cf. Lc 1,35). Maria, é “graça criada” e não a “graça
incriada”, pois a graça incriada é Deus mesmo. Estejamos sempre atentos a
esta diferença!!!
A saudação angélica é uma programação de vida para Maria que não tem
origem naquele momento, mas já existia na eternidade de Deus.
Como vimos acima, o nome da Virgem de Nazaré será de hoje em diante
«Graça/Imaculada». É como se uma senhora se apresentasse e lhe
perguntasse seu nome. “Como se chama, senhora?” E ela me responderia
aquilo que é, “Eu sou a Graça” ou, “eu sou a Antônia” ou, “eu sou a
Rosalva”, etc. Portanto, o título que o anjo Gabriel dá à Virgem de
Nazaré, revela o que é, e o que faz, distribuir/interceder aquilo que
recebeu de Deus, a Graça ou as Graças, em uma só palavra: Jesus Cristo. A
nossa reflexão até aqui não é suficiente, se faz necessário algo mais: a
força da Palavra de Deus. Ora, tal função de intercessora e
distribuidora das graças do Senhor, é um eco do que encontramos na 1Pd
4,10: “Cada um viva segundo a graça recebida, colocando-a ao serviço
dos outros, como bons administradores de uma multiforme graça de Deus”.
A natureza humana de Maria, cumulada pela Graça de Deus, não exerce
uma função para si mas para o serviço e crescimento da Igreja, como nos
indica Mt 10,8: “Gratuitamente recebestes, gratuitamente dai”.
Com esta gratuidade, buscamos ainda com o testemunho da Palavra divina o
que nas atitudes de Maria nos revelam o mistério do seu serviço a favor
da humanidade. Na sua visita a Isabel (cf. Lc 1,39-56), onde cumulada
pela Graça/Espírito Santo, vai distribui-la a sua parente necessitada e
Lucas afirma depois da saudação de Maria a Isabel, «…Isabel ficou repleta do Espirito Santo» (Lc
1,39-41). A continuidade deste serviço no amor é nas Bodas de Caná que
Maria mais uma vez revela o seu papel de “Agraciada/Intercessora”,
consola os necessitados da festa do Esposo/Jesus (cf. Jo 2,1-11),
colaborando assim no aumento da fé no Senhor (cf. Jo 2,11).
Aprendamos com Maria a distribuir as graças que recebemos!
Pe. Rafael Maria é diplomado para "Postulação para
beatificação e canonização” pela Congregação para Causa dos Santos
(Cidade do Vaticano) e doutor em Mariologia pela Pontifícia Faculdade
Teológica «MARIANUM» (Roma). Leciona atualmente um «Curso de
Mariologia» via internet, cf. www.cursoscatolicos.com.br
Para maiores informações e comentários: d.rafaelmariaosb@hotmail.com
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