Redação - Nova Friburgo (RJ) (Sexta-feira, 19-04-2013,Gaudium Press) -
Dom Edney Gouvêa Mattoso, Bispo de Nova Friburgo, no Estado do Rio de
Janeiro, sob o título " O legado do Pecado", publicou em sua coluna "Voz
do Pastor", do jornal "Voz da Serra", o artigo que, por sua atualidade,
publicamos a seguir:
Caros amigos, no domingo da
misericórdia, data tão querida e valorizada pelo beato João Paulo II,
nosso pensamento se dirigiu ao grande amor que Deus tem por nós, pois
"Deus nunca se cansa de perdoar", mas encontra novos caminhos para estar
conosco, apesar do pecado, que é fonte de desencontro e escravidão.
Ele nos criou em liberdade e para
liberdade, aptos de tomar decisões e cumulados de dons que superam em
muito nossa atual condição, entretanto, o demônio seduziu nossos
primeiros pais convencendo-os de que Deus seria um ser invejoso e
receoso de rivalidade com as criaturas, e, por isso o homem almejaria
uma vida livre da tirania criadora.
Esta tentação ainda ressoa nos ouvidos
dos homens quando erradamente entendem o pecado como um ato de
liberdade, ou até como algo que os engrandece e singulariza. Como estão
enganados os que pensam assim! O pecado só tem um efeito: a destruição
da imagem do Criador nos corações. Na expressão do livro do Gênesis,
depois da queda impõe-se uma desarmonia do homem com Deus (cfr. Gn 3,
10), com o semelhante (cfr. Gn 3, 12), consigo mesmo (cfr. Gn 3, 16) e
com a criação (cfr. Gn 3, 17). Em um instante toda a harmonia perde-se
pelo orgulho das criaturas.
Entretanto, movido por amor
misericordioso, o Onipotente encontrará um meio de resgatar sua criatura
da mentira diabólica, que implantou a inveja e a rivalidade no coração
da humanidade: A solução perfeita é Jesus Cristo.
Para livrar-nos das "aparências de
poder" que nos levaram a perdição, Deus manifestou sua força de forma
inversa: sentando-se à mesa de nossa miséria, fazendo-se homem conosco,
menos no pecado (Hb 4, 15), falando a Verdade e agindo segundo a Verdade
de tal maneira que assumiu o ônus da mentira primordial engendrada em
nossos corações: acusado de soberba e blasfêmia - "Sendo apenas homem tu
te fazes Deus" (Jo 10, 33) - ; condenado a uma morte humilhante para
por a prova sua fé e paciência e ver na sua face desfigurada pela nossa
violência, o horror do nosso pecado de desconfiança e ingratidão. Em
Cristo, vemos este Deus-homem que não nos julga, não nos trata com
rancor, mas nos ama com um amor que supera as nossas expectativas e
nossos limites, indo até o extremo (Jo 13, 1), a fim de nos conquistar:
Tal é a misericórdia de Deus que nos liberta!
Somente nesta misericórdia "que deu ao
mundo o seu Filho" (Jo 3, 16) a criação alcança sua perfeição e
liberdade verdadeira; e fora dela somos pobres escravos de nossa
pusilanimidade.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
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