[fratresinunum]
Lombardi explica a “oportunidade” do gesto em uma comunidade pequena como a Casal do Marmo
Por Alessandro Speciale | Tradução: Fratres in Unum.com
– Alguns alarmes soaram imediatamente após sua eleição, quando o Papa
Francisco se apresentou ao mundo, no Balcão das Bênçãos, com a sua cruz
de ferro e vestido de forma extremamente simples. Os tradicionalistas
católicos, ligados à missa pré-conciliar em latim, fizeram uma careta.
Por outro lado, o “currículo” do Papa argentino provocou muitas críticas dentre os “fãs” da missa tridentina. “O Horror”, resumiu um periodista sul-americano em uma análise publicada no sítio tradicionalista Rorate Caeli. «Dentre todos os candidatos impensáveis, Jorge Mario Bergoglio é, talvez, o pior. Não porque professe abertamente doutrinas contra a fé e a moral, mas sim porque, julgando por seu trabalho como arcebispo de Buenos Aires, a fé e a moral parecem ser irrelevantes para ele».
Por outro lado, o “currículo” do Papa argentino provocou muitas críticas dentre os “fãs” da missa tridentina. “O Horror”, resumiu um periodista sul-americano em uma análise publicada no sítio tradicionalista Rorate Caeli. «Dentre todos os candidatos impensáveis, Jorge Mario Bergoglio é, talvez, o pior. Não porque professe abertamente doutrinas contra a fé e a moral, mas sim porque, julgando por seu trabalho como arcebispo de Buenos Aires, a fé e a moral parecem ser irrelevantes para ele».
Sobretudo, o novo Papa foi descrito como
«um inimigo da missa tradicional», aquela que é celebrada em latim, e
havia impedido em sua arquidiocese que se colocasse em prática o Motu
Proprio “Summorum Pontificum”, com o qual Bento XVI permitia a missa
tridentina como «forma extraordinária» do Rito Romano.
Outro exemplo. Um comentador católico
conservador, Michael Brendan Dougherty, definiu a eleição de Bergoglio
no “National Post”, apressadamente (apenas a três dias da “fumaça
branca”), como mais uma das «novidades recentes e mediocridades
católicas», porque segue a linha que foi seguida em meio século do
Concílio Vaticano II, marcado por «experimentações desconsideradas»,
como a celebração da missa em línguas vernáculas, os gestos «drásticos»
de João Paulo II ou a renúncia de Bento XVI.
Porém, a hostilidade explodiu somente
depois de ontem à tarde, quando o Papa Francisco lavou e beijou os pés
de duas meninas (e uma muçulmana) durante a liturgia da Quinta-Feira
Santa, que ele celebrou no instituto penal para menores Casal do Marmo.
O Papa Francisco foi acusado de dar um
mau exemplo e de violar a lei da Igreja; o sítio “Rorate Coeli” declarou
imediatamente que a «reforma da reforma», que muitos esperavam de Bento
XVI, havia acabado.
Ed Peters, um canonista e blogueiro muito
conhecido nos Estados Unidos, não acusou o Pontífice, naturalmente, de
«violar qualquer indicação divina», porém, sobretudo, de «dar um exemplo
discutível, ignorando a sua própria lei».
Em 1988, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos publicou a carta circular “Paschales Solemnitatis” sobre a celebração dos ritos pascais. Nesse texto, no número 51, se lê que a lavagem dos pés deve envolver apenas homens escolhidos. O original em latim, “viri selecti”, não deixa dúvidas a esse respeito.
Em 1988, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos publicou a carta circular “Paschales Solemnitatis” sobre a celebração dos ritos pascais. Nesse texto, no número 51, se lê que a lavagem dos pés deve envolver apenas homens escolhidos. O original em latim, “viri selecti”, não deixa dúvidas a esse respeito.
Nos Estados Unidos, a Conferência
Episcopal decretou, um ano antes, a prática de incluir também as
mulheres na cerimônia, embora não esteja previsto nos livros litúrgicos,
pois tinham a «intenção de realçar o serviço ao lado da caridade no
rito», porque era uma «forma compreensível de acentuar a ordem
evangélica do Senhor, que veio para servir e não para ser servido».
A questão voltou a surgir em 2005, quando
o arcebispo de Boston, o cardeal Séan O’Malley desencadeou as polêmicas
por sua vontade de abrir o rito também às mulheres. Nessa ocasião, a
Congregação para o Culto Divino explicou que, embora permanecia a
«obrigação litúrgica» de lavar os pés somente dos homens, o bispo local
podia ter a liberdade de decidir se existia uma necessidade pastoral na
diocese.
Até esta “ruptura” humilde de Francisco. O
porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, explicou à Associated Press
que se em uma «grandiosa celebração solene» seria lógico lavar os pés
somente dos homens, porque se comemora a Última Ceia de Jesus com os
apóstolos, «em uma comunidade pequena e única, composta também por
mulheres», como a de Casal do Marmo, havia sido «inoportuno» excluir as
mulheres, «à luz do simples objetivo de comunicar uma mensagem de amor a
todos em um grupo que não incluía a refinados peritos em normas
litúrgicas» [nota do Fratres: ou seja, se estás em uma "comunidade"
pequena, "faze o que tu queres pois é tudo da lei!"].
* * *
O Padre Adolfo Ivorra, doutor em teologia
litúrgica pela Universidade São Dámaso, de Madri, e professor de
metodologia de investigação e de livros litúrgicos modernos na Espanha, explica em seu blog o que determina o Missal de Paulo VI:
“Os varões designados, acompanhados pelos ministros, ocupam os assentos preparados para eles em um lugar visível aos fiéis. O sacerdote (deposta a casula, se necessário), aproxima-se de cada uma das pessoas designadas e, com a ajuda dos ministros, lava e seca os seus pés” (Missal Romano: reimpressão espanhola atualizada de 2008, p. 263).Em latim: “Viri selecti deducuntur a ministris ad sedilia loco apto parata. Tunc sacerdos (deposita, si necesse sit, casula) accedit ad singulos, eisque fundit aquam super pedes et abstergit, adiuvantibus ministris. (Missale Romanum, a. 2002)
Prossegue o douto sacerdote: “O que me
preocupa muito é que o primeiro a não obedecer as rubricas seja o
‘patriarca’ de nosso rito, o romano. Temos um sério problema, sobretudo
no catolicismo latino, em relação à correta apreciação dos sinais
litúrgicos [...] O grande problema que recai sobre nós é o relativo ao munus regendi, ou
dito em uma linguagem secular: o caos litúrgico, onde tudo vale porque
tudo é “relativo”. O relativismo está dentro de nossa casa. Por favor,
Santidade, peço-lhe que siga fielmente as rubricas de seu próprio rito, o
romano, e dê exemplo aos demais sacerdotes e bispos de fidelidade às
normas da Igreja. O Papa não é um monarca absoluto ao modo dos
governantes seculares, mas alguém que reconhece, como dizia Bento XVI,
que a liturgia é uma realidade que nos é dada e que não se reconstrói
segundo os gostos. O primado do bispo de Roma não é tarefa fácil.
Roguemos ao Senhor para que o próprio Papa Francisco ou alguns de seus
colaboradores façam que Sua Santidade veja a importância destes sagrados
ritos”.
E o blog Rorate Caeli questiona: “Uma vez que há normas em vigor a respeito do lava-pés (viri,
homens), todavia, mesmo a Suprema Autoridade está obrigada a
humildemente obedecê-las, ao menos que ele formalmente as altere de
antemão. Não é realmente tão complicado entender esta matéria básica de
lógica legal, não é mesmo?”.
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