Por José Bonato
Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)
Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)
Padre Beto fala a jornalistas no último sábado (27) em sua casa, em Bauru (SP), quando anunciou o afastamento da Igreja Católica |
O padre Roberto Francisco Daniel, 48, que contrariou a Igreja Católica
com declarações a favor de homossexuais, foi excomungado nesta
segunda-feira (29) pela Diocese de Bauru (329 km de São Paulo), à qual
estava subordinado.
Com a decisão, padre Beto, como é conhecido, está proibido de celebrar
cultos e de receber a comunhão. Ele poderá receber a eucaristia somente
na condição de leigo, mas desde que recorra da decisão e demonstre
"verdadeiro" arrependimento pelos seus atos.
Um processo para a demissão de padre Beto, pela Santa Sé, foi aberto
nesta segunda-feira por um juiz instrutor cuja identidade é mantida em
segredo. O juiz proibiu também membros da igreja de falarem sobre o
assunto.
Em nota, a diocese de Bauru informa que o comportamento do pároco
caracteriza heresia e cisma, condutas que ferem o cânone 1.364 do Código
de Direito Canônico. A pena para esses delitos é a excomunhão.
"O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas
graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada
recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no
dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo
delito de heresia e cisma", informa a nota.
A reportagem do UOL apurou que padre Beto provoca
dores de cabeça nos superiores eclesiásticos há pelo menos dez anos.
Padre Beto frequenta choperias, usa piercing, imagens do guerrilheiro
Che Guevara e apresenta um programa de rádio AM no qual bebe e oferece
bebidas aos convidados. Sua participação em programas eleitorais também
irritava a cúpula da igreja. Ele foi ordenado sacerdote há 14 anos.
Diálogo
A diocese de Bauru informa na nota divulgada hoje que por inúmeras
vezes buscou o diálogo com o padre rebelde, sem sucesso. O último teria
sido na manhã desta segunda-feira. Padre Beto, segundo a nota, "reagiu
agressivamente" ao ser abordado pelo juiz instrutor.
A excomunhão de padre Beto ocorreu um dia depois de ele celebrar duas
missas de despedida da função. Ele optou por se afastar das celebrações
após ter sido intimado, pelo bispo dom Caetano Ferrari, na última
terça-feira (23), a se retratar pelas declarações contrárias à moral da
igreja. O prazo expirava nesta segunda-feira.
A reportagem apurou ainda que, dada a repercussão internacional da
polêmica em torno do padre, a situação dele se tornou insustentável na
igreja. Católicos de todo o mundo teriam enviado pedido de providências
contra o pároco ao Vaticano, à diocese de Bauru e à CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil).
Também foi um agravante o fato de o padre Beto, no prazo que recebeu
para se retratar de suas declarações, ter convocado uma coletiva de
imprensa, no sábado (27), para anunciar que deixaria de celebrar missas,
em vez de comunicar primeiro seus superiores.
A cúpula de Bauru também havia pedido para que seu subalterno retirasse
alguns vídeos na internet de teor supostamente ofensivo aos dogmas
cristãos, mas não foi atendida. Padre Beto admite, nos vídeos, que o
amor entre bissexuais seja possível mesmo que eles estejam vivam uma
condição de casamento heterossexual.
Nas duas últimas celebrações que realizou no domingo (28), na igreja de
Santo Antônio, padre Beto recebeu o apoio de centenas de fiéis, que
lotaram o templo, nos períodos da manhã e noite.
Outro lado
Padre Beto foi procurado para se manifestar sobre sua excomunhão, mas
não atendeu às ligações a seu celular. Nas missas de domingo, ele voltou
a defender seu ponto de vista. "Jesus amava os seres humanos
independentemente da condição social, da raça e da sexualidade", disse o
religioso.
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